quinta-feira, 17 de junho de 2010

Tentando fazer as pedras falar sem êxito: o brasão dos Montalvões


Como referi anteriormente, o verdadeiro brasão dos Montalvões esteve em tempos numa casa em Vila Meã, aldeia do Concelho de Chaves e depois, andou por ali perto, em Outeiro Seco. A certa altura houve partilhas e nos anos 40 a pedra de armas encontrava-se no jardim duma vivenda na linha do Estoril, em casa de Maria Alda Montalvão Santos Silva (nº 327). Esta história é contada por José Timóteo Montalvão Machado nas obras os Montalvões e o Capitão de Vila Frade e é repetida por Firmino Aires no artigo O Solar dos Montalvões, publicado pela revista Outeiro Seco, da Casa de cultura de Outeiro Seco, Novembro de 1990.


A minha primeira pergunta é porque é que houve um brasão dos Ferreira Montalvão em Vila Meã, se a família parece ter vivido quase sempre em Vila Frade e depois também em Outeiro Seco. Consultei o site http://www.montalvao.xpg.com.br/, uma coisa estupenda feita por uns primos do Brasil, que digitalizaram integralmente livro dos Montalvões e fiz uma pesquisa por Vila Meã, para tentar perceber que antepassados viveram na casa dessa aldeia e o resultado foi decepcionante.

O único parente que lá residiu seguramente foi um tal António Vicente Ferreira Montalvão(1776-1838). Com o nº 31 da árvore genealógica da família, este senhor era o filho benjamim daquele celebre matrimónio entre o Capitão de Cavalos Álvares Ferreira, proprietário de Outeiro Seco e a Antónia Maria Maria de Montalvão Morais. Como o era o mais novo foi destinado a padre e a certa altura da sua vida passou a residir em Vila Meã, propriedade legada pelo seu pai, o referido capitão de cavalos. Terá vivido nesta povoação, naquilo que hoje se designa na aldeia por “casa dos padres”. Ao que parece Vila Meã foi um curato e paróquia no princípio do século XVIII e seria aqui que residiu António Vicente Ferreira Montalvão, até 1838, data em que faleceu.

Mas porque motivo um cura mandou por pedras de armas na sua casa?
Era muito frequente os bispos e altos dignatários da Igreja encomendarem pedras de armas para os seus palácios. Mas um simples padre, ainda que de uma família fidalga, parece-me um exagero.

Segundo o mesmo livro, os Montalvões, nos anos 40, a propriedade de Vila Meã estava nas mãos duns sobrinhos, os Montalvões Machados (n° 400 e 402). Portanto, presumo que o António Vicente, quando faleceu sem filhos deixou os seus bens ao filho do irmão João Manuel (28), que tinha exactamente o seu nome, António Vicente (nº 395), o que nos leva a crer que deveria ser seu afilhado. Este seu sobrinho tornou-se conhecido por Capitão Vila Frade (1809-1894) e era um tipo curiosíssimo, já que não deixava matar animais de qualquer espécie nas suas terras e ele era riquíssimo proprietário. Teve também carreira política considerável, que se desenrolou em parte durante as lutas liberais, mas segundo o que nos apercebemos terá vivido em Vila Frade e foi sepultado em Outeiro Seco, na Igreja da Senhora da Azinheira. Este Capitão Vila Frade é o antepassado dos Montalvões Machados, que toda gente conhece da televisão e dos jornais, por causa do político e advogado do Porto com esse apelido, que faleceu no passado dia 11 de Maio

A casa de Vila Meã ainda está de pé e o nosso Humberto foi fotografa-la. Apesar de alguns pormenores abastardados, como as cantarias pintadas de branco e uma marquise nojenta, aqui censurada, a casa conserva aquela dignidade intemporal das boas construções de granito, com grandes blocos bem emparelhados e ainda um relógio de sol, que fará as delícias do meu amigo Manel. Segundo informações que o Humberto recolheu na aldeia, entre as pessoas mais velhas, a casa seria maior do que é na actualidade. Estender-se-ia para onde hoje se vê um feio anexo em cimento.

No entanto, as sólidas pedras de granito, não respondem à pergunta Porque saiu o Brasão da casa de Vila Meã?
Em 1948, quando o livro os Montalvões é publicado, o brasão está no jardim da casa duma Senhora, Maria Alda Montalvão Santos Silva (nº 327). Esta senhora não é descendente do capitão de Vila Frade. É neta duma irmã do Padre António Vicente Ferreira Montalvão (1776-1838), a Rita Maria Ferreira Montalvão (nº 176). Portanto, a Sr. Dª Maria Alda não fazia parte do ramo familiar proprietário da casa de Vila Meã.
Talvez o capitão de Vila Frade tenha mandado retirar a pedra de armas e a tenha cedido aos seus parentes em Outeiro Seco e por lá sido posta no parede, apeada novamente e desprezada no chão, até que alguém, com mais gosto pelo passado, a tivesse mandado transportar para a sua casa

A Sra. D. Maria Alda Montalvão Santos Silva (nº 327) nasceu em 1877 e já terá falecido há muito. Será que os descendentes conservaram o brasão? Será que um dia, algum deles fará uma pesquisa na Internet e venha ter a este blog e nos esclareça mais? Sei lá, o Google faz milagres ou talvez S. Rita, advogada dos impossíveis, padroeira da capela do Solar dos Montalvões, nos ajude a encontrar respostas a estas dúvidas.
Todas as fotos são do Humberto Ferreira, excepto a do relógio de sol, gentilmente roubada em http://chaves.blogs.sapo.pt/

Para ver os desenvolvimentos posteriores deste assunto, clique aqui

6 comentários:

  1. Realmente, o relógio de sol faz as minhas delícias, apesar do inúteis que são, em termos práticos, e este até mais que os outros, pois encontra-se num cunhal, a uma altura fora do alcance do olho de águia mais perspicaz!
    Mas como também não lêem mais horas, nem a hora que lêem é a correcta, tanto faz!
    Mas como peças de arte são espectaculares e lindas de morrer!
    Ainda terei de construir um relógio de sol, analemático, mas prático, que dê uma hora regida por algum rigor.
    Quanto ao edíficio em si, tenho pena pelos elementos espúrios que lhe formam adicionados ou alterados, pois o respeito que esta peça inspira é de uma beleza intemporal. É difícil conseguir estragar um edíficio destes, mas há gente que o consegue!
    Os blocos de granito aparelhado, os cunhais escorreitos, salientes, o concluir das fachadas numa cimalha moldurada e o beiral bem tradicional, as cantarias singelas, mas imponentes na sua racionalidade de elementos estruturais (mau grado a cor que as reveste! e os estores de plástico que as desfeiam), os óculos ovais (quiçá elípticos) que dão alguma, pouca, luz ao piso térreo, tudo isto se congrega numa sinfonia construtiva muito apelativa.
    No entanto, ainda que abastardado, continua de pé a exercer a função para a qual foi criado, e isso é que importa afinal!
    Bem, eu encontrei o brasão dos Montalvões, mas ao invés de ser em pedra de granito bem aparelhada e trabalhada, ornamentando uma fachada ou um outro qualquer espaço exterior, encontra-se encastoado num anel de sinete em aço, ornamentado com um aro em ouro, que se vende num antiquário próximo de mim. E até nem está caro!
    Manel

    ResponderEliminar
  2. Olá boa noite,
    Só queria acrescentar uma coisa, pois o Luís, como sempre explica tudo muito bem. Na primeira fotografia, do lado esquerdo, onde se vê um pequeno anexo em verde, disse-me o meu amigo que me conduziu até à "casa dos padres" (como sempre foi conhecida), que contavam as pessoas mais idosas e que possivelmente já viriam das histórias ao serão dos seus antepassados, que a casa teria continuação naquele sentido, mas que teria sido derrubada.
    Agora existem uns anexos que não consigo qualificar, tal como na parte frontal, onde está o relógio, onde também fizeram "algumas" barbaridades.
    Como nota final, soube-se que o relógio de sol esteve vendido, mas quando tentaram retirá-lo não conseguiram e o negócio ficou "desfeito", no meu entender ainda bem.
    Um bom fim de semana para todos,
    Berto

    ResponderEliminar
  3. Ai, ainda bem que o relógio não saiu de lá!
    Que susto quando o Humberto referiu que o relógio esteve vendido.
    Se houver justiça neste mundo espero sinceramente que esta peça esteja cravada a "ferro e fogo", e que só a extinção da casa leve ao derrube dela, pois nada a poderia substituir!
    Sei que não serve para a função para que foi criado, mas que é lindo de morrer, lá alcandorado onde está, não há dúvida!
    Um bem haja à Providência!
    Manel

    ResponderEliminar
  4. Obrigado pelo teu comentário, Caro Humberto, que foi devidamente registado e já actualizei o post.

    O relógio de sol tem uma graça doida. É curioso que vi na net quem em Vila Frade também há um relógio de sol.

    Abraços aos dois

    ResponderEliminar
  5. Boa tarde.

    O meu nome é Rita Montalvão e sou bisneta de Maria Alda Montalvão e portanto tetraneta de Rita Maria Ferreira Montalvão. A pedra de brasão encontra-se na cada de João neto de Maria Alda. E encontra-se perservado dentro do possível face ao facto de a pedra ter uma doença.

    Também o nosso ramos gosta de perservar o culto do clã Montalvão. No meu caso o José Luís Ferreira Montalvão é como se fosse meu tio de sangue, embora seja apenas primo afastado. Na fotografia do Darrap o meu pai é quem enverga a Bandeira.

    Cumprimentos,

    Rita Montalvão

    ResponderEliminar
  6. Cara prima

    Muito obrigado pelo seu comentário. Infelizmente não tenho recebido muitos comentários da família, embora saiba que alguns dos nossos parente me lêem assiduamente.

    Posteriormente a este post localizei essa pedra de armas na casa do nosso primo comum João, que foi muito simpático, que me autorizou a fotografa-la. Veja, o post http://velhariasdoluis.blogspot.com/2011/02/novamente-as-historias-da-familia.html

    Pertencemos ainda ao mesmo ramo Ferreira Montalvão.

    Volte sempre, pois o facto de ter aqui outros primos de outros ramos poderá ser muito enriquecedor

    Abraços

    ResponderEliminar