sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Uma ninfa a velar por um homem solitário


No tecto da minha casa, uma ninfa vela pelo quarto que me serve de sala de estar, impedindo certamente que as águas da chuva se infiltem nesta divisão amansardada ou talvez apenas esta figura mitológica me esteja proteger a mim. No entanto, nunca se sabe, porque as ninfas sempre gostaram de brincar e enganar os homens, especialmente os solitários.

Em todo o caso, esta Ninfa que um dia comprei na Feira-da-Ladra não é uma peça autêntica. Trata-se de uma excelente réplica de uma estatueta romana encontrada no Cerro da Vila, uma antiga povoação romana secundária, perto de onde é hoje aquele sítio, onde os portugueses adoram passar os seus Verões no meio do calor e de multidões e multidões e mais multidões, isto é, Vila Moura.




Cerro da Vila: foto de http://arqueo.org/


Entre os séculos II e III da nossa era o Cerro da Vila era muito diferente. Um braço de mar entrava pela terra dentro, criando um porto natural, onde prosperava uma pequena povoação, que vivia da pesca, do comércio e da agricultura. Há vestígios da produção de garum, a célebre pasta de peixe que romanos adoravam e que punham em todos os alimentos, mesmo nos doces, bem como de murex, o molúsculo que era usado na tinturaria, para fabricar tecidos na célebre cor púrpura.



O murex: http://arqueo.org/


Existiam algumas casas mais ricas e e esta estatueta deve ter sido achada numa delas ou talvez nalguma fonte pública. Provavelmente fez parte de um ninfeu. Na época romana, um ninfeu era uma fonte pública monumental, ornamentada de esculturas e jogos de água, mas também existiam em casas privadas de gente rica. Nessas moradias, estas fontes situavam-se a um canto dum pátio interior, na parte mais privada da casa e deveriam criar um ambiente muito agradável e fresco, com o barulho da água a correr.

Ninfeu privado em Herculano


As ninfas eram criaturas mitológicas subalternas, associadas às fontes, aos bosques e às montanhas.

5 comentários:

  1. Caro Luís,
    Afinal sou uma completa desconhecida mas o Luís já se deixou conhecer o suficiente para q eu ouse comentar o título deste seu post.
    É claro q percebo q o usou num tom humorístico mas sempre lhe digo q um homem q vive rodeado de tantas e tão belas peças, todas com as suas histórias, algumas associadas a vivências familiares,q revela ter conhecimentos profundos em diversas áreas e os transmite aos seus seguidores e amigos de um modo tão agradável e enriquecedor, não se pode considerar nunca um solitário, pelo menos no sentido triste da palavra.
    Alone but never lonely!
    Um abraço
    Maria A.

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  2. És nada solitário! Que exagero!
    Vais tendo montes de pessoas que passam a vida a requisitar a tua presença! Se chamas a isso solitário ...
    Não tens finais de semana livres, as semanas são terrivelmente ocupadas ... tens de me dizer o que entendes por solitário! Deve ser um adjectivo muito estranho no teu vocabulário!
    E para além desta ninfa (ou será vestal?) tens montes de outros seres a velarem por ti, humanos incluídos!
    Mas que a peça é bonita, é, e tem ar de antiga, apesar de cópia; talvez se a encastrasses na parede! Pensando melhor, talvez seja preferível que não, pois quando mudares de casa terás um problema acrescido!
    Manel

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  3. Obrigado pelos vossos simpáticos comentários.

    De facto, a Ninfa e os homens solitários era mais um jogo de palavras que outra coisa. Em todo o caso, o local onde a pendurei, confere-lhe um certo ar de divindade protectora da minha casa.

    Abraços

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  4. Eu diria antes, Luís, q se tratou de uma divagação poética q levámos demasiado à letra e q resultou numa fonte de dispersão em relação ao restante texto.
    Continuando nesse registo de faz-de-conta, eu também, se fosse homem, preferia usufruir da vigilância benfazeja de uma bela ninfa pagã do q gozar da protecção de uma Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de uma Senhora dos Aflitos ou da famosa Santa Bárbara, em casos de intempéries com raios e trovões...(LOL)
    Quanto à povoação romana de Cerro da Vila, não sabia da sua existência, pelo q achei muito interessante toda a informação q forneceu. Costumo passar férias em Albufeira (em Abril, note-se) e da próxima vez vou tentar fazer uma visita a esse local.
    Cresci muito próximo de Conímbriga e lembro-me de em miúda ir regularmente até às ruínas, de biciclete com o meu pai, ao fim da tarde. Nessa altura andava lá por cima dos muros e dos mosaicos, ainda sem grandes restrições, e depois fui assistindo aos sucessivos melhoramentos, ao alargamento da área de escavações e às medidas de protecção de todo o espaço. A construção do Museu Monográfico de Conímbriga, q dispõe de um importante acervo como certamente conhece, e as suas oficinas de restauro com equipas técnicas muito competentes têm contribuído para fazer daquele sítio uma referência em todo o país. E falo disto com uma pontinha de orgulho porq são terras da minha gente...
    Abraços
    Maria A.

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  5. Tenho um grande paixão por tudo aquilo que diga respeito a Roma e claro Conimbriga é daqueles sítios que me ajudou a formar-me intelectualmente, a mim e a milhares de portugueses, que aprenderem ali o que é a herança cultural de Roma

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