quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Jarra em faiança do Norte ou acerca do pouco que ainda sei sobre faiança


A maldita crise, que aflige toda a gente em Portugal, ou pelo menos, aqueles que não estão ligados à administração de empresas públicas e ao governo, tem também as suas vantagens e uma delas é baixa do preço das velharias, sobretudo das faianças. Hoje, compram-se peças a 10 ou 15 euros, que no passado se conseguiam a 30 ou 50 e depois de muito regateio. Foi o caso desta jarrinha de altar, que comprei muito barata na Feira de Estremoz. O facto de estar mal restaurada também ajudou a descer-lhe o preço.


Alguém com pouco jeito e gosto andou a esconder as esbeiçadelas da jarrinha com uma espécie de massa e devia ter ficado quieto. Por vezes temos que aceitar as feridas de uma faiança, como se fizessem parte da história da peça.

Também não sei nada sobre o seu fabrico. Talvez, por intuição me incline para que seja produto de uma Fábrica do Porto ou Gaia, dos finais do XIX ou inícios do século XX. A pintura já é de estampilha, o vidrado é baço não tem nem de perto nem de longe a qualidade da jarra, mostrada no passado dia 27 de Janeiro , que será talvez de Sto. António Vale da Piedade, feita à volta de 1830 ou 1850.

Jarra possívelmente de Sto. António da Piedade
Eventualmente a jarrinha estampilhada poderá ser de Coimbra. No Leilão do António Capucho, Parte III, Palácio do Correio Velho, 2003 aparecem dois pratos com uma decoração com ares de família a esta jarra. O primeiro está dado como se fosse de Gaia e o segundo como de Coimbra ou Gaia. A Maria Andrade postou também uma terrina, cuja tampa, revela um padrão ainda mais semelhante ao meu, que o destes pratos.
Leilão de antónio Capucho. O primeiro está dado como se fosse de Gaia e o segundo como de Coimbra ou Gaia.
Tenho dificuldades em ter certezas na faiança portuguesa, que raramente está marcada. Há quinze dias, durante uma vista à Casa-Museu José Régio, que tem entre outras coisas uma belíssima colecção de loiça portuguesa, o Manel e eu fizemos uma visita acompanhada pela Conservadora e claro demoramo-nos sempre na faiança e os três acabámos por confessar a nossa dificuldade em identificar algumas produções cerâmicas. A este propósito, a Conservadora contou-nos que o grande especialista português em cerâmica, o Rafael Salinas Calado molhava o dedo, punha-o na faiança, depois na boca e dizia de imediato se era de Coimbra, Porto ou Lisboa.
o tardoz da jarrinha

Não sei se é verdade ou lenda. Penso que talvez pela acidez ou alcalinidade perceptível no sabor, o Rafael Salinas Calado conseguisse avaliar rapidamente a sua proveniência, claro com a ajuda também de longos anos de experiência de manuseamento de cerâmicas e obviamente de muito estudo.


Também já ouvi contar que o António Capucho identificava o fabrico das peças pelo peso e sei que a Ivete Ferreira pesa sempre os Ratinhos, faiança na qual se especializou. Eu próprio já me apercebi que diferenças de peso podem indicar períodos distintos de produção de uma fábrica. Tenho uma travessa de Sacavém Cavalinho 1870/80 muitíssimo mais pesada do que uma outra, da mesma fábrica, com as mesmas dimensões, mas feita umas décadas mais tarde.

Talvez haja uma chave, ou várias chaves para identificar o segredo da identificação destas faianças, mas eu não as conheço. Limito-me a andar à volta, tentando somar o que te tiro daqui e dacolá, mas sem certezas.

6 comentários:

  1. Olá,Luis
    Sem duvida uma bela jarra
    Tem razão quando diz que mais vale estar quieto,quando não se sabe restaurar uma peça
    Mas a pessoa em questão também queria salvar a sua linda jarrinha,de certeza absoluta.
    Abraço
    Um beijinho ao Manel.

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  2. Cara Grace

    Normalmente restaura-se porque se quer prolongar a vida da peça ou porque não se suporta a imperfeição. Mas, há que ter um certo bom senso e perceber, que se não se dominam as técnicas de restauro, é melhor estar quieto. Há também que ter em conta, que as marcas que o tempo vai deixando numa escultura ou num móvel ou numa outra qualquer obra de arte fazem parte da sua história e que há que respeita-las.

    Enfim, o assunto tem pano para mangas.

    Beijos

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  3. A jarrinha é uma graça!
    Já vais tendo uma pequena coleção destas jarrinhas de altar.
    Se eu a tivesse visto primeiro .... lol ... sorte a tua!
    Mas a origem dela, bem, isso é uma adivinhação dentro de balizas ditadas pela experiência, mas sem certezas.
    Manel

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  4. Manel

    De facto esta já é quinta jarra de altar. Quando tiver uma casa maior, talvez no dia em que o País sair da crise, consiga junta-las num conjunto agradável.

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  5. Luís
    Esta jarrinha de altar surpreende-me pelo formato, nunca tinha visto nenhuma com a boca assim larga, mas quanto à decoração aposto em Gaia. As duas tonalidades de azul que também se notam no prato da coleção Capucho levam-me para esses lados e não para Coimbra. Aqueles arabescos por estampilha e o quadriculado lembram-me até a tampa de uma sopeira que tenho azul e branca e já mostrei no blogue em Julho de 2011, embora a sua jarra me pareça ter um azul mais intenso.
    Mais uma vez fez uma boa compra na Feira de Estremoz e assim vai aumentando a coleção... Aqui para os meus lados estas coisas continuam carotas, mas de vez em quando não lhes resisto…
    Beijos

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  6. Maria Andrade

    Fui espreitar o seu post e de facto quem fez a tampa da terrina terá feito também esta jarrinha. Agora quem terá sido?

    A boca da jarra é mais larga que o habitual. Terá sido resultado da fantasia do ceramista ou destinar-se-ia a flores cortadas com um pé mais curto?

    Tantas perguntas e poucas respostas.

    Beijos

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