sábado, 1 de setembro de 2012

Azulejos: o mastim que afinal é um dragão



Já há quase dois anos achei uma série de azulejos, nos restos do entulho de uma obra, ali na calçada do Garcia, em Lisboa. Entre as coisas que encontrei, estava um azulejo magnífico, certamente o resto de um painel maior e que eu interpretei como se fosse a cabeça de um cão.



Esse azulejo que encastoei na parede, afinal não é um feroz mastim, como eu sempre pensei, mas sim, um ferocíssimo dragão e quem o descobriu foi um dos seguidores deste blog, o Pedro Freitas.



Com efeito, o Pedro descobriu num antiquário em Lisboa, o d’Orey & Cardoso, que esta cabeça era o corpo de um dragão e fazia parte de uma albarrada, que o referido antiquário tem completa. No centro dessa albarrada existiria um vaso com flores, que estava ladeado por dois dragões, cujas caudas se enroscavam no rabo de duas figuras femininas fantásticas, talvez esfinges ou quimeras, enfim seres híbridos parte mulheres, partes aves e outra parte sabe-se-lá-de-quê.
O meu dragão faria parte de uma Albarrada como esta do antiquário d’Orey & Cardoso. Uma albarrada é um painel de azulejos constituído pela representação de um vaso de flores, normalmente com uma figura de cada lado, dispostas simetricamente, representando pássaros, meninos, ou golfinhos ou figuras fantásticas.

Agradeço muito esta informação ao Pedro Freitas e fiquei a pensar que nisto das antiguidades não podemos ter certezas, mas se é inseguro vivermos na dúvida, ao mesmo tempo é fascinante a constante descoberta de coisas novas e eu fiquei muito contente de ter um afinal dragão a guardar a minha casa.


11 comentários:

  1. Muito bacana a descoberta do Pedro! Meus parabéns a ele!
    O melhor de mexer com velharias e antiguidades é isso mesmo; o fascínio das descobertas.
    Sobre sua sorte em achar azulejos em caçmabas de lixo: quando passei o mês de abril aí em Portugal, eu olhava o tempo todo nas caçambas, mas nunca encontrei nem um caco!
    Numa obra no Porto, eu por outro lado sofri vendo dezenas de azulejos antigos desabando da fachada ao chão, debaixo de marretadas dos operários. Era verdadeiramente uma chuva! Cheguei a fotografar e gravar um video. Eu queria chorar. E catar todos os cacos. Mas fiquei com vergonha, e com receio de ser atingido na cabeça por aquela chuva. E depois, também tive receio que isso me desse problemas na alfândega, poderiam me considerar ladrão de patrimônio nacional histórico.

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  2. Caro Fábio

    Hoje estou arrependido de não ter trazido para minha casa os sacos de ráfia onde se encontrava o entulho das obras. Talvez dessa maneira tivesse conseguido achar um número significativo das peças da albarrada.

    Abraços

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    1. Pois! Imagina se o resto do painel estava lá... Mas já é ótimo ter a cabeça dele. Preciso um dia te mostrar as fotos e o video da destruição da fachada do prédio no Porto. Partiu meu coração aquilo. Acho que também não peguei nada pois não aguentava mais ver e ouvir azulejos sendo partidos ao cair no chão.

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  3. É sempre agradável dar uma espreitadela para o seu refúgio cheio de tesouros... ;)
    Quanto ao cão que se transformou em dragão, foi um golpe de perspicácia por parte deste seu conhecido ter descoberto o enquadramento original. Não me parece fácil, no meio de toda a exuberância da albarrada.
    Eu tenho uma cabeça de golfinho(?) numa parede, mas não tive a sorte de a encontrar num contentor de obras... :)
    Tenha uma boa semana de regresso ao trabalho.

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    1. Maria Andrade

      Também me espantou o golpe de vista do Pedro Freitas.

      Ultimamente tenho apanhado menos azulejos, pois ando menos pela Baixa, mas os contentores das obras são uma surpresa. Para a casa nova do Manel apanhámos duas portas antigas, um bidé um forma de 8 e algumas portadas.

      Bjos

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  4. Olá Luís
    Sempre que olho para o seu mastim que afinal é um dragão gosto mais dele e o ar feroz tem algo de simpático,talvez, porque assim isolado, nunca o associei a um dragão, mas depois de ver esta albarrada, não restam dúvidas. É um dragão! As velharias têm esta coisa deslumbrante da descoberta e do espanto que esta nos causa, pois muitas vezes fazemos interpretações e deduções bem diferentes da realidade.
    Beijos e bom trabalho, que calculo, já tenha recomeçado.

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    1. Maria Paula

      Descobrir a que conjunto pertenceu este dragão foi fascinante é por isso que nunca podemos dar por definitivo o conhecimento que temos das peças.

      Bjos

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  5. Olá Luís,
    o teu azulejo ganhou um enquadramento (ainda que mental) fabuloso! Pena que não existam dragões capazes de afugentar a estupidez humana... Já custa perceber que se deite fora azulejos antigos mas, com esta qualidade, dá vontade de gritar. Nem têm inteligência para vender a um antiquário. Enfim, já não chegam os nossos (des)governantes.
    Bjs, Luísa

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  6. Luisa

    De facto as peças valem não só pelo que são, mas pela história que transportam consigo.

    As pessoas odeiam tudo o que é velho, pois recorda-lhes atraso, pobreza e tradição. Só assim consigo explicar esta incúria, este desprezo aos azulejos que forram o interior de muitas casas no centro de Lisboa.

    Para mim, 4 ou 5 azulejos antigos na parede dão a qualquer casa um apontamento de palácio setecentista, ainda que essa casa tenha apenas duas míseras assoalhadas.

    Bjos

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  7. Que perspicácia! Fiquei encantado por este achado.
    Por outro lado, percebi igualmente donde vinham os restos da cauda duma destas "sereias" ou "quimeras" que tenho guardadas, no meio de mais uma dezena de azulejos que formariam uma albarrada, e que transbordam dos sacos plásticos que pejam o chão da oficina! Provenientes de uma albarrada semelhante!!!! Finalmente também se me fez luz!
    Nada como ter pessoas com bom golpe de vista e que tenham a delicadeza e a simpatia de partilharem esse conhecimento connosco!
    Um agradecimento também ao Pedro Freitas
    Manel

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  8. Manel

    Passarei a andar mais atento às albarradas e talvez seja uma boa ideia para montares uma composição em casa, sugerindo um painel, com os fragmentos colocados nos lugares supostos, deixando os lugares em branco, das peças que faltam. Talvez esta ideia se possa realizar com alguma paciência

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