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Uma travessa do Manel |
Já há muito que tempo que andava a congeminar apresentar uma tentativa de arrumação dos tipos de cantão popular fabricados no século XIX. Enquanto que para o século XX já sabemos o nome de uns quantos fabricantes deste motivo decorativo, a Lusitânia, em Lisboa ou Coimbra, o Cavaco, em Gaia e as Louças da Pinheira, Faianças Vitória e S. Roque na zona de Aveiro, no século anterior só conhecemos Santo António do Vale da Piedade como fabricante de Cantão popular. Claro, essa fábrica nortenha não deve ter sido a única, a julgar inúmeras variantes que apresento de seguida. Presumimos que outras manufacturas na zona de Gaia e Porto e talvez também em Coimbra se tivessem dedicado igualmente à produção desta decoração, mas não temos a certeza, não temos provas.
Neste trabalho de classificação, não vou incluir as paisagens com casario, também pintadas a azul e branco. Apenas tratarei as espécies de faiança com uma decoração derivada do Willow Pattern, isto é, o padrão do salgueiro
Tentarei aqui classificar por grupos algumas peças minhas e do Manel e estabelecer tipos e subtipos, designados por números e letras do alfabeto. Esses tipos corresponderão a fabricantes distintos ou talvez a diferentes períodos da vida de uma fábrica ou simplesmente ao pincel de diferentes artistas da mesma casa. Portanto, o que vão ler de seguida não é nenhuma classificação com pretensões a definitiva.
Para esta classificação, podia ter tomado as pastas e os vidrados como critério principal, mas como não sou químico, nem ceramista, usei a decoração para separar o trigo do joio e descobri algumas coisas engraçadas. O original Willow pattern apresenta três árvores, o salgueiro, que deu o nome ao padrão, uma árvore de fruto, cuja qualidade varia consoante a lenda (umas vezes é uma macieira, outras uma pereira e ainda outras vezes uma laranjeira) e por fim uma conífera. Os ceramistas portugueses irão representar no cantão popular o salgueiro ou a árvore de fruto ou o pinheiro. Por vezes, estes artistas anónimos derrapam completamente da representação dos motivos originais e pintam aquilo que me parece ser uma palmeira.
1 Grupo do Salgueiro
1.A:
A este subgrupo pertencem a salva de aguardente e uma tampa de terrina do Manel e um pequeno prato que me pertence. Das três árvores representadas no willow pattern, o salgueiro, a árvore de fruto e pinheiro, só se representa a primeira. Os corações que a Maria Isabel vê como típicos de Coimbra, mais não são que a estilização das flores do salgueiro, que estão no original padrão inglês. O topo do palácio do mandarim parece uma maçã cortada ao meio.
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Salva de aguardente do Manel |
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Tampa de Terrina do Manel |
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Um dos meus pratos |
1.B:
Nesta subcategoria inseri uma travessa do Manel, representando, o palácio do mandarim, o salgueiro e a ponte com as figurinhas. Esta travessa apresenta um vidrado muito brilhante e uma cercadura absolutamente invulgar no cantão popular, o que justificou a sua inclusão numa subcategoria à parte.
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Travessa do Manel |
1.C:
O Palácio do Mandarim parece um prédio pombalino com um andar nobre e tudo e as duas árvores são estilizações do salgueiro. O vidrado e a cercadura são semelhantes ao 1.A
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Travessa do Manel |
1.D:
A cercadura e o vidrado são iguais aos subgrupos 1.A e 1.C, mas são pintadas três árvores, talvez três salgueiros, e o palácio do mandarim assenta numa escarpa rochosa. Os passarinhos que simbolizam os dois amantes mortos são tratados com grande evidência.
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Travessa do Manel |
2 Grupo da árvore de fruto
2.A:
Aqui incluo a terrina que apareceu no catálogo do leilão da colecção de faianças António Capucho, Parte III, Abril de 2005, no Palácio do Correio Velho e que está marcada Santo António Vale da Piedade. A árvore retida do original do padrão do salgueiro foi a macieira ou pereira, que foi completamente estilizada.
2.B:
Subgrupo constituído por representações da árvore de fruto muito estilizadas, que quase se assemelham a composições feitas de apóstrofes. As cercaduras são típicas do cantão popular.
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Uma das minhas terrinas |
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Uma travessa do Manel |
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Outra travessa do Manel |
2.C:
Subgrupo constituído por representações da árvore de fruto também muito estilizadas, mas dos ramos pendem pequenas esferas. Não sei se serão todos do mesmo fabricante. Na terrina, que me pertence o palácio do Mandarim tem um coroamento em forma de metade de uma maça, como o 1.A
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Terrina do Luís |
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Travessa do Luís |
3 Grupo da Conífera
3.A:
A conífera é representada quase como um pinheiro nórdico, como neste bule.
3.B:
A conífera é pintada como se fosse um paraquedas e o azul do cantão popular ganha cor aqui e acolá.
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Terrina do Manel |
3.C
Tal como o anterior, a árvore conífera é pintada com um paraquedas. A disposição dos motivos irá ser usada até à exaustação no século XX. Cercaduras características do cantão popular imitando uma corda.
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Prato do Luís |
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Prato do Luís |
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Prato do Manel |
4 Grupo da Palmeira
Algum pintor, artista ou ceramista mais criativo aborreceu-se com os salgueiros, árvores de frutos e coníferas e muito criativamente resolveu pintar uma palmeira estilizada, como nesta terrina do Manel.
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Terrina do Manel |
Esta foi a sistematização possível. É natural que regresse a este assunto, criando novos grupos e eliminando outros, à medida que apareceram mais pratos, terrinas ou travessas. Por último, espero, que me perdoem por ter apresentado tantas peças de uma assentada. Temo que tenham ficado a pensar, que este post parece um daqueles estendais da Feira-da-Ladra, em que se vende tudo a um Euro.