Já é quase uma tradição. Na Páscoa, o Manel e eu decidimos esburacar as paredes e colocar azulejos antigos na sua casa do Alentejo. Há uns que pintam ovos de Páscoa, outros, como nós, entretêm-se a brincar aos trolhas.
O antes |
Desta vez o desafio era grande. Tratava-se de colocar em duas paredes 81 azulejos, restos de três diferentes painéis historiados, isto é, conjuntos de azulejos que formam uma composição onde se conta uma história, por exemplo, episódios da vida de um santo, de Cristo, batalhas ou cenas mitológicas. Claro, das cenas narrativas propriamente ditas, o Manuel não tem os azulejos. Dos dois primeiros painéis, o meu amigo tem os restos das cercaduras, que rodeariam as cenas principais e do terceiro possui apenas o fragmento de um putti.
Tomámos a decisão de fingir, que se tratava de um único painel e formámos um conjunto, pretendendo sugerir a quem entra em casa, que um dia, quando se se removeu o estuque das paredes foram descobertos por acaso pequenos apontamentos de azulejos aqui e acolá, restos de um painel grandioso. O traço escolhido para os unir foi, além do mesmo azul e de uma certa familiaridade estilística, uma barra de azulejos marmoreados na base.
Durante os trabalhos |
Depois, de tomadas as decisões vieram os grandes trabalhos. Houve que remover a mobília, os quadros, as dúzias de pratos pendurados na paredes e as carpetes. Foi necessário tapar tudo com plásticos, desenhar a na parede a mancha da qual se ia retirar o estuque, usar uma rebarbadora para fazer os limites na parede e depois com martelos e maços picar a parede para retirar todo o reboco. Tudo isto fez uma sujidade alucinante, sobretudo a rebarbadora, que produziu umas nuvens de poeiras, que julgo serem em tudo semelhantes aquelas produzidas pela bomba de Hiroxima.
De seguida fez-se a massa, e começou a colocação dos azulejos. O trabalho arrastou-se ao longo de uma tarde e de uma manhã e a limpeza, que coube ao pobre Manuel, por mais um dia.
Na realidade, o que aqui se vê é a colagem de restos de três painéis diferentes |
Foi uma trabalheira inaudita, mas os resultados não nos desapontaram. A azulejaria portuguesa tem esta capacidade de transformar um cubo banal e sem graça, num espaço alucinante, onde se abrem perspectivas para outros mundos.
O resultado final |
Numa parede, em todos os jantares que o Manuel vier a dar, existirá um menino travesso, que do seu mundo do século XVIII, nos espreitará e talvez, no final da refeição, quando todos se tiverem levantado, ele saia furtivamente do seu refúgio para comer os restos do pudim.
Excelente trabalho, rapazes!! Eu adoraria a parte de quebrar e emassar os azulejos no lugar. Já a limpeza...
ResponderEliminarAgora parece que preciso voltar para ver isso de perto! ;-)
abraços
Fábio
EliminarAguardamos sempre o teu regresso ao País dos Azulejos.
Abraço
Prezados Luis e Manel,
ResponderEliminarPaz e Alegria.
Que bom saber que o Manel coleciona estes "retalhos" de muros e de histórias.
Por um comentário seu, não sei onde, havia imaginado que se rebelasse contra esses re-arranjos que são sempre advindos de um desarranjo de uma harmoniosa, requintada e bela arquitetura de outrora.
Mas quando a casa rui ou é transformada, nós, que prezamos tanto a arte do bem construir, ornar e viver, ficamos recolhendo e remendando estes pedaços de meninos, flores, santos e tanta coisa mais que no Céu ou na terra integram nossa vida e a enchem de sentido e alegria.
Uma feliz Páscoa para Vc Luis e pra Vc Manel.
Também para seus leitores.
Um abraço.
Amarildo.
Prezado Luis, prezado Manel,
ResponderEliminarFiz um comentário sobre o sentido de colecionar estes fragmentos e remeti-me a um antigo comentário do Manel, não sei em que post. E dizia que estava feliz por saber que o Manel são é refratário de modo absoluto a estes re-arranjos que se originam sempre de desarranjos de uma harmonia do bem construir, ornar e viver de outrora. Falo de reintroduzir um ornato em um outro suporte ou em partes sobrantes.
E que ao juntarmos esses fragmentos, neste caso pedacinhos de meninos, flores e tanta coisa mais entre o Céu e a terra damos sentido e alegria à nossa vida.
Era mais ou menos assim. Mas não sei se não publiquei ou se emiti alguma ideia não partilhada e foi excluído. Caso tenha sido isso peço desculpas a Vc e ao Manel.
Um abraço.
Amarildo
Amarildo
EliminarEu só não gosto de azulejos emoldurados em caixilhos de madeiras, como se fossem quadros decorativos. Os azulejos ficam bem é postos nas paredes, pois foram concebidos como material de revestimento.
Na minha casa, fiz algumas misturas com azulejos antigos, como as que foram aqui apresentadas. Digamos que foram ensaios para o que agora se fez em casa do Manel em larga escala.
O azulejo é um material de tal maneira versátil, que permite rearranjos como este, em que se misturaram 3 painéis diferentes. Claro, o ideal seria ter os painéis completos, mas ficaram apenas estes fragmentos de meninos travessos do século XVIII e de cercaduras barrocas.
Um abraço
A qualidade da pintura das sombras, do cabelo e cara no putti é incrível
ResponderEliminarCaro Pedro Freitas
EliminarMuito obrigado. Também adorei este putti, cujos fragmentos foram aqui colados com uma antiga cercadura barroca.
Um abraço
Caros Luís e Manel,
ResponderEliminarAntes de mais, que a vossa Páscoa seja óptima!
Fiquei atónita com estes vossos trabalhos. Nem quero imaginar a trabalheira que o Manel deve ter tido para limpar essa poeirada...mas valeu a pena!
O cantinho em causa já tinha um móvel espectacular, o qual julgo já não ser a primeira vez que se vislumbra, mas depois desta vossa intervenção com a colocação de azulejos ficou ouro sobre azul.
E sabem que mais? Conseguiram fazer com que esta vossa leitora, que se considera com olho de lince para os pormenores, ficasse meio à toa a tentar descobrir o puti..
Presumo que os azulejos em causa tenham sido adquiridos nalguma feira, ou então foram encontrados no entulho de uma qualquer obra de um solar... ;)
Seja qual for a sua origem, o bom gosto e o requinte continuam a dar cartas por aí!!
Um abraço aos dois
Alexandra Roldão
Alexandra
EliminarO contador já aqui tinha sido mostrado. Apesar de ser um móvel feito no século XIX ao gosto do século XVII, ganhou com este cenário de azulejos a nobreza de uma peça de museu.
Dois dos painéis já estão há mais de trinta anos com o Manel e estiveram sempre à espera da ocasião ideal, que desta vez se proporcionou. O Putti foi comprado na Feira-da-ladra.
Muito obrigado e uma boa Páscoa para si
Esqueci-me de incluir este miminho de Páscoa...
ResponderEliminarhttp://www.jacquielawson.com/preview.asp?cont=1&hdn=0&pv=3370146&path=98301
que trabalheira!!!! mas fica realmente um espaço lindo. os azulejos portugueses são demais.dá um realce incrível.
ResponderEliminaradorei a terrina embaixo do móvel e uma travessa encostada à parede. ótimas ideias! aliás, o móvel é um escândalo de bonito.
o recanto ficou lindo.distinto. chique. parabéns aos dois.
Caro Jorge Santori
EliminarAinda bem que gostou.Os contadores portugueses são peças emblemáticas do mobiliário português e este ficou muito enquadrado pelos azulejos do século XVIII.
A terrina que vê no chão deve ser uma faiança de Coimbra ou Alcobaça.
Um abraço
O contador sobressai no painel de azulejos.
ResponderEliminarParabéns pois o produto final é excelente.
Há trabalhos que nos deixam felizes. :))
Adoro os pútti e contadores, este menino travesso brilha.
Bom domingo!:))
Ana
EliminarMuito obrigado. A colocação destes azulejos deu um trabalho doido, mas ao mesmo tempo fez-nos sentir uns privilegiados, por manusear materiais com tanta história.
Um abraço
Realmente,só o Luís para romancear tão bem a história desses belos azulejos portugueses.Sem dúvida que o espaço,ganhou uma nobreza que antes não tinha.
ResponderEliminarA penúltima foto,não destoaria,num qualquer catálogo
De alguma exposição de arte antiga.Parabéns ao Manuel
e ao Luís pelo entusiasmo ,com que enfrentaram, todos esses trabalhos e sempre com uma pontinha de humor o
que torna a leitura sempre muito agradável. Continuação
de uma boa Páscoa,com melhor tempo do que nós temos aqui no centro,pois voltámos ao frio e chuva.
Cumprimentos,Graciete
Graciete
EliminarTirei cerca de umas trinta ou quarenta fotografias, para seleccionar as menos de uma dúzia que aqui mostrei. O móvel e os azulejos estavam em contra-luz o que estragava as fotografias todas.
Imagino que quem lê este blogue fá-lo num intervalo do trabalho, ou então cansado ao final do dia e não está com paciência para ler grandes testamentos. Por isso, procuro escrever textos curtos, linguagem acessível e com uma pitada de humor aqui e acolá.
Um abraço e obrigado pelas suas simpáticas palavras
Isto foi uma "trabalhêra", como se diria lá para os lados de Estremoz!
ResponderEliminarSei que o resultado é interessante e apelativo, não falando no facto de me ter livrado de mais 80 azulejos, mas ... é um teste à paciência de qualquer santo.
O que vale é que tu és muito mais calmo do que eu, e, talvez por isso, acabo por me acalmar também, mas no meio dos trabalhos fico sempre a pensar que nunca irei ter a minha sala de volta ... que vai ficar tudo um lixo, que se vão notar todas as imperfeições (que são muiiiiitas! o que vale é que as fotos não as mostram devidamente), enfim.
Depois as coisas começam a tomar o seu lugar e o aspecto geral começa a surgir de todo aquele caos em que me sentia mergulhado.
Estes três painéis, todos incompletos, foram recolhidos em dois momentos diferentes.
Dois dos conjuntos foram conseguidos nos idos anos setenta, provenientes de uma capela particular, de meados do século XVIII, e situada nos arredores de Braga.
Toda esta capela, com as paredes cobertas com silhares de azulejo historiados, que deveriam referir a vida de uma santa (julgo ter percebido na altura que se tratava de Sta. Catarina), estava a ser vandalizada, tendo-lhe sido retiradas as porções com figuras, pelo que, quando a dona resolveu intervir, já pouco restava.
O pouco restante deste conjunto azulejar fantástico foi retirado por amigos e conhecidos da proprietária, que, pouco depois, creio, mandou destruir a capela, da qual já só restavam as paredes e pouco mais.
Estes dois conjuntos de azulejo, uma cercadura e a porção baixa de um dos painéis laterais, encaixotados, andaram comigo durante quase 40 anos.
Finalmente, o último bocado, representando este anjo, incompleto, adquiri-o mais recentemente.
Quanto à integração destes três conjuntos coube ao Luís, pois reparou que os azuis tinham a mesma tonalidade, e que todos foram produzidos durante o mesmo período.
Ainda que, estilisticamente, o desenho seja diferente, o conjunto é harmonioso.
Eu confesso que me sentia perdido na forma de os casar, pois pareciam-me remendos que dificilmente se poderiam associar, tanto mais que eram só porções de composições mais vastas, as quais se tinham perdido.
Agradeço os comentários, que revelam a vossa simpatia e boa vontade ... mas que a colocação dos azulejos têm imperfeições, lá isso têm
Manel
Manel
EliminarOs azulejos oferecem possibilidades de combinações sempre surpreendentes e o resultado final que aqui conseguimos é a prova disso.
Conheci uma das cozinhas do Palácio Ludovice, aqui em Lisboa, onde durante obras já realizadas no século XX, revestiram completamente as quatro faces da divisão com os mais diversos azulejos, desde figura avulsa a restos de painéis, passando por albarradas e azulejos pombalinos e o produto final era uma coisa espectacular. Portanto, quando pegámos nestes 3 painéis tinha já uma ideia que estas misturas eram passíveis de ser realizadas e com resultados interessantes
Um abraço
Caro Cidadão,
ResponderEliminarÉ proibida pela legislação em vigor a aquisição de painéis azulejares ou azulejos avulso, cuja comercialização não se encontre devidamente certificada pelos organismos competentes (mais informação em www.policiajudiciaria.pt e www.sosazulejo.com). Ao adquirir estes objectos por via diversa, está a tomar parte numa rede de comércio contrária à lei, à ordem pública e aos bons costumes, que não garante a proveniência formal das peças, contribuindo para a destruição e dispersão do nosso património azulejar, que é um bem material, propriedade comum de Portugal e da memória colectiva portuguesa. Ainda que seja aliciado para tal, com propostas de aquisição convidativas em feiras, mercados ou antiquários, solicite sempre a certificação para venda do (s) azulejo (s).
Por favor ajude-nos a por cobro a este flagelo, que nos envergonha na cena internacional.
Pena é que se façam este tipo de advertências a cidadãos que se interessam, e cuidam do património que neste País tão mal tratado é. País esse que, na actual legislatura, nem um Ministro da Cultura se digna ter!
EliminarÉ curioso - se você vai nas feiras em Portugal, e já estive em diversas, em várias cidades, os azulejos estão aos montes, para quem quiser ver. Por que não agem nestes locais?
EliminarSó gostaria de saber o que significam as iniciais IGP-MC, e que tipo de criatura ou organismo é este, que, no mínimo, deveria identificar-se corretamente.
EliminarEstes tons de ameaça só me fazem lembrar outros tempos que, pelos vistos, estão de volta, depois de quatro décadas.
Será que esta criatura acha que se houvesse alguma coisa de pouco claro, ou menos legal na situação tu, ou eu, estaríamos a publicá-lo num meio de ampla divulgação?
Mas por quem se toma, ou nos toma esta criatura? Será que nos tenta colocar ao seu nível?
Há gente para tudo!
Que fez esta criatura para salvar o nosso património que, tantas vezes, reside nos contentores do lixo?
E nos edifícios devolutos e ampla degradação, que abundam nas nossas cidades, alguns ainda revestidos com azulejo antigo, pintura parietal fantástica (estou a lembrar o Palácio da Fonte da Pipa, em Loulé), ornamentos arquitetónicos únicos?
Que alerta público fez esta criatura para os serviços competentes? - um bem haja ao "Ruin'arte", que esse sim, contra ventos e marés, fazendo face mesmo ao poder instituído, tem feito ouvir a sua voz bem alto!
Isso sim é uma vergonha nacional (a internacional não me preocupa minimamente), e muita dela lhe caberá direta ou indiretamente!
Manel
Caro IGP-MC
EliminarEntendo muito bem que através de legislação adequada se tente combater a destruição sistemática do património azulejar. Todos temos consciência da delapidação constante de painéis de azulejos pelo País inteiro.
Contudo, já tenho mais dificuldade em entender o tom desagradável do seu comentário.
Todos nós sabemos que as feiras de velharias estão cheias de azulejos, porque as autarquias e os poderes públicos continuam a autorizar demolições de edifícios antigos e remodelações feitas à balda de edifícios históricos. Igualmente sabemos que a as paróquias, as autarquias, os ministérios, o Exército, a Igreja e os particulares são proprietários de edifícios, carregados de azulejos e que são deixados ao abandono. Basta consultar o excelente blog do Gastão Brito e Silva, o Ruínarte, para ver palácios, casas antigas e conventos, pejados de azulejos e todos entregues a Deus. Sugeria pois ao IGP-MC que consultasse o ruínarte e apresentasse queixa contra todas aquelas entidades públicas e privadas que deixam o património azulejar ao abandono. Mas protestar contra estas entidades envolve complicações, dissabores e imagino que o IGP-MC não se queira envolver em grandes chatices. É mais fácil aborrecer o cidadão anónimo da classe média
As Feiras de velharias são legais, os feirantes pagam taxas e nelas tudo pode se pode comprar e vender sem recibo. Naquelas bancas onde se vende tudo a um euro, pode muito bem encontrar um pratinho Ming, se tiver sorte e não me parece que isso seja crime.
Por último, em Portugal, todos já sabemos de cor, que quando os organismos públicos querem mostrar trabalho, atiram cá para fora um diploma legal feito à pressa. Dá para fazer uma conferência de imprensa, não tem custos, enche o relatório de actividades e faz-se um figurão. Depois claro, é mais uma Lei que fica no papel.
O problema do património azulejar é deixar os edifícios ruir, escancarados e ao abandono e julgo que é contra esse abandono que devíamos dirigir os nossos protestos, como faz o Gastão Brito e Silva, no ruinarte, cujo excelente exemplo o convido a seguir.
Um abraço
Ohhhhhhh! Acho que perdi o meu comentário.... :-(
ResponderEliminarDizia eu que adorei a ideia e o resultado do vosso trabalho... e imagino a trabalheira e a poeirada!!! Mas ficou lindo! O menino está mesmo muito engraçado a espreitar....
E também aproveitava para falar do meu regresso ao mundo das velharias com a abertura de uma Lojinha em Almeirim...
Não sei o que foi feito das minhas palavras... mas talvez ainda apareçam... De qualquer forma estou à sua espera e do Manel também...
Marília Marques
Marília
EliminarÉ sempre um prazer voltar a vê-la por aqui e desde já desejo-lhe as maiores felicidades para o seu negócio. Se um dia, passar por Almeirim, certamente que irei dar um pulinho à sua loja.
Bjo
Luis cá estou à espera...´será um prazer recebe-los! Dizia eu no comentário que perdi que a minha lojinha tem um nome nada original, talvez de conhecer tao bem o seu blog, o nome que me veio a cabeça foi "Velharias da Marília" e achei-o o mais apelativo possível para colocar no toldo publicitário... assim agora tenho uma loja chamada "Velharias da Marilia... a raiz de um povo"!, peço que não leve a mal a escolha do nome mas depois de pensar neste nome nada mais assentava bem nas letras do toldo! :-) São daquelas coisas que não têm explicação....directo, sucinto e apelativo!
EliminarBeijinho Luis, estou à vossa espera, quem sabe se não incluem no roteiro uma bela refeição por aqui e uma visita a Casa dos Patudos (José Relvas) que foi e está ainda a ser alvo de obras, mas à qual abriram mais um piso para visitas e acho que vale a pena!
Marília Marques
Marília
EliminarConsidero até o nome que escolheu para a sua loja uma espécie de homenagem a este blogue.
Já não me recordo bem como escolhi o nome para o blog. Mas julgo que o escolhi espontaneamente, pois dava uma ideia precisa do que eu queria fazer, isto é, escrever sobre velharias, mas de uma forma inteiramente pessoal, sem me restringir a convenções do tipo académico ou institucional.
Assim, que pudermos passaremos por Almeirim.
bjos
Acho muito curiosa esta intervenção do IGP-MC.
ResponderEliminarOs contentores das obras cheios de azulejo antigo, cujo caminho é, julgo, a destruição.
O azulejo a ser oferecido em todos os locais possíveis e imaginários, e uma grande parte dele de proveniência escusa mas, no entanto, a nossa legislatura está cheia de proibições e providências cautelares.
Como este país sente um prazer especial em legislar. Devemos ter o conjunto de leis mais vanguardista de toda a Europa, mas ...
Mas que este organismo esteja tranquilo quanto à proveniência destes azulejos em particular, os quais não foram, nem adquiridos à socapa, nem desviados criminosamente dos seus locais originais, nem tão pouco de proveniência escusa.
Foram todos provenientes de donos que foram livres, e generosos o suficiente, para mos oferecer ou vender.
No entanto, ninguém nesta cidade, neste país, e seguramente pelo estrangeiro, está livre de ter outros, cuja proveniência não poderá estar tão seguro.
Mas considero a lei muito correta, desde que se consiga aplicá-la.
E para aplicação da lei creio que a cidade está cheia de locais onde ela poderia ser posta em prática, bastaria para tanto que os serviços competentes saiam dos assentos confortáveis, na sombra dos seus gabinetes, e se coloquem em campo a fazer o trabalho para o qual são pagos pelo erário público.
Manel
Bem, estou boquiaberta com a intervenção do IGP-MC ... e que tal agirem nos sítios certos????!!!!
ResponderEliminarMarília Marques
Caro Luis e Manel
ResponderEliminarJuntar aquilo que o tempo dispersou.....dar forma ao sagrado.....arrepiar caminho na sentença ....juntar cuidadosamente sob lágrimas os cacos humilhados...é paixão.....é sopro de vida.....Bom trabalho!!!!, os espaços vazios entre os azulejos são gritos de revolta, o espaço guardado para a imaginação confinada...o descanso do vazio soa a esperança que nunca chegará.....Mãos abençoadas aquelas que na desordem criam a harmonia.
um abraço
vitor Pires
Caro Vítor
EliminarMuito obrigado pelo comentário. É uma experiência única voltar a insuflar vida nestes azulejos, colocando-os de novo na parede.
Um abraço
Caros amigos,
ResponderEliminarGostei imenso da solução que arranjaram para dar nova vida a esses azulejos setecentistas, que tanto nos encantam. Assim vão ser de novo admirados, estimados e preservados, em vez de estarem num qualquer entulho ou simplesmente empilhados e semi- esquecidos longe da vista de quem os aprecia. E essa figura de putto, recuperada dos mitos da antiguidade para uma arte bem portuguesa, deu de facto um toque especial a todo o conjunto.
Surpreendeu-me deveras o comentário desta entidade pública, o IGP- MC que eu sinceramente desconhecia, mas acho que tanto o Manel como o Luís já responderam convenientemente.
É que eu também me apercebo e lamento muito a degradação e delapidação do nosso património, mas penso que quando estes materiais chegam às feiras de velharias, não resta nada a fazer ao cidadão comum. Por exemplo, na Feira da Ladra já tenho visto clientes estrangeiros, com muito mais poder de compra do que nós, a pagarem sacadas de azulejos, provavelmente painéis completos. Eu, se pudesse, também os compraria e assim pelo menos assegurava a permanência desses bens artísticos entre nós. Sei que na Alemanha há feiras de antiguidades só de azulejos e imagino o sucesso que não farão por lá os azulejos portugueses pombalinos comprados ao preço da chuva... E há sites americanos a venderem metros e metros quadrados de azulejos portugueses antigos, que eu não sei como lá chegaram, já que temos legislação a proteger este património...
Enfim, mais palavras para quê?
Um grande abraço aos dois e obrigada por mais esta partilha.
Maria Andrade
EliminarObrigado pelo comentário.
Quando colocava estes azulejos senti uma espécie de emoção, como se tivesse a reconstruir uma igreja, ou a participar numa escavação arqueológica.
Tenho salvado muitos azulejos de contentores das obras aqui em Lisboa, que estão na minha casa, novamente na parede. Mas, muitas vezes, quando por lá passo só encontro fragmentos, pedaços e cacos. E isto passa-se em frente a obras de de recuperação de prédios pombalinos, destinados a hotéis e hostels, autorizadas pela CML. Talvez o IGP-MC devesse passear pelas ruas da Baixa e espreitar os contentores das obras. Eu tenho até ideia, que muitos desses empreiteiros tem esquemas já montados com negociantes, que revendem os azulejos aos antiquários, que depois os vendem ao preço do ouro com um tal "certificado de venda"...
Bjos
Maria Andrade, pedindo ao Luís que me ceda um pouco do seu espaço, quero agradecer-lhe muito o seu comentário, e a sua simpatia.
ResponderEliminarÉ sempre um prazer perceber a sua presença desse lado.
Manel