sábado, 3 de janeiro de 2015

Um espelho mágico achado no lixo

Os espelhos são sempre objectos fascinantes. Na decoração, por maiores que sejam, os espelhos vez de encher ou sobrecarregar um espaço, multiplicam-no. Fazem mais do que isso, recriam uma área da casa dando-nos ângulos ou visões que não existem na realidade. Os espelhos são como que uma porta para outro mundo.

Talvez por essa razão, os espelhos apareçam tão frequentemente nas fotografias deste blog, pois há cinco anos que ando a fotografar a minha casa e os espelhos servem como cenários sempre novos para as peças, que fotografo ou para recriar qualquer recanto da minha casa, que já mostrei anteriormente e que através do efeito mágico do espelho, surge modificado.
Por estas razões, quando vi este este espelho velho num contentor das obras, não lhe pude resistir e trouxe-o para casa. Terá pertencido a uma das muitas velhinhas que moram aqui no centro da cidade e que quando morrem, todo o recheio das suas casas é atirado para lixo, desde o mobiliário, às fotografias antigas, passando pelas panelas. Este espelho fazia parte de uma das aquelas antigas cómodas, com um tampo em mármore, no tempo em que as casas-de-banho ainda não estavam generalizadas nas casas mais remediadas e a a higiene diária fazia-se no quarto com o recurso a um jarro e uma bacia. Nestes bairros populares do centro histórico de Lisboa, as casa-de-banho são coisas novas, construídas nos últimos vinte ou trinta anos, normalmente numa parte da cozinha. No passado existia uma pia polivalente na cozinha ou varanda que servia literalmente para tudo.
O espelho que achei no lixo faria parte de um móvel deste tipo.
Este espelho estava em muito mau estado, tratei-o contra o caruncho, pincelando-o com cuprinol e depois revesti-o com película aderente e assim ficou durante duas semanas, como se estivesse numa câmara de expurgo. Depois passou pelas mãos mágicas do Manel, que o restaurou e lhe acrescentou um pináculo no sítio onde existiria um frontão. No final, foi a prenda de Natal para a minha filha Carminho. Talvez ela possa nele descobrir outros mundos sem sair do seu quarto.

O pináculo foi posto pelo Manuel em lugar do antigo frontão que se perdeu.

20 comentários:

  1. Lindíssimo.
    Que sorte, Luís.
    Feliz 2015 com muitos achados e tesouros desvendados.
    Beijinho. :))

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  2. Ana
    Muito obrigado pelo comentário e desejo-lhe também boas entradas.

    Bjo

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  3. Parece que a Maria do Carmo encontrou algum prazer nesta peça, ainda bem, pois da forma como se encontrava não augurava muito.
    Não está como gostaria que tivesse ficado, mas dado o tempo que tinha não consegui fazer melhor.
    Necessitava de preencher mais algumas partes com folheado de mogno, e de encontrar um frontão mais de acordo com o espelho, que era romântico.
    Mas ainda bem que a Maria do Carmo gostou.
    Manel

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    1. Manel

      Na Noite de Natal este espelho foi a prenda sensação. Toda a a minha família o admirou, inclusive a Carminho. Claro, ninguém imaginou foi o estado deplorável em que ele se encontrava antes de passar pelas tuas mãos. Julgo que estas prendas poderão inculcar-lhe o gosto pelo que é antigo.

      um abraço

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  4. Caro Luís,
    Antes de mais, desejo a si, e aos seus um excelente 2015!
    Nestas últimas semanas tenho andado arredada (mais uma vez...) destas lides. Foram umas férias de Natal que não deram para coisa alguma porque tive uma série de contratempos, felizmente já todos resolvidos.
    Quanto ao seu lindíssimo espelho, já me ri aqui sózinha só de o imaginar a "mergulhar" no contentor da obra e a"pescar" esse "peixe".
    Foi um excelente achado, e um ainda melhor restauro! A sua filha Carminho teve uma prenda bem diferente do habitual. Ainda bem que ela apreciou, e certamente lhe irá dar bom uso para fazer as maquilhagens.Suponho que ela já terá idade suficiente para gostar desse tipo de coisas bem femininas.
    Por sinal,esta sua amiga tem no quarto uma dessas cómodas de estilo romântico com espelho e frontão cheio de floreados. Sou fã incondicional desse estilo!
    Ainda bem que esse espelho arranjou novo lar!

    Um grande abraço extensivo ao exímio restaurador.

    Alexandra Roldão

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    1. Alexandra

      Muito boas entradas para si!!

      já sabe que tenho a lata necessária para vasculhar os contentores das obras. Só tenho pena de não o ter trazido logo quando o vi durante o dia, pois talvez ainda tivesse encontrado o frontão original. Mas só pude voltar lá de noite.

      Com o seu gosto decididamente vitoriano, imaginava que a Alexandra tivesse um destes móveis em casa e faz muito bem, pois tem imensa graça e ficam lindamente com um bonito jarro e bacia da Vista Alegre, Sacavém ou de faiança inglesa.

      Sim, a minha filha já põe lápis nos olhos e pinta as unhas. Hoje, as miúdas começam-se a maquilhar muito cedo.

      Bjos e obrigado

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  5. Obrigado Alexandra. Também lhe desejo um bom ano de 2015, que tenha sucesso nos empreendimentos que achar por bem realizar e que se sinta rodeada por pessoas com quem possa partilhar a vida.
    Um grande abraço
    Manel

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  6. Belo achado!
    É pena que tantas e tantas destas peças tenham sido condenadas a um fim inglório, depois de tantos anos de bons serviços aos seus donos originais.

    É triste saber que, hoje em dia, tanta gente gasta balúrdios em móveis de péssima qualidade (e gosto duvidoso) quando às vezes têm, bem perto delas (em casas de familiares, amigos - ou até nos contentores do lixo), móveis de boa qualidade e esteticamente bonitos, que lhes podiam sair por tuta e meia (ou de borla).

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    1. Caro Mike

      Concordo plenamente consigo. As pessoas enchem as casas com mobílias do IKEA, que se desfazem em três tempos ou pior que isso compram móveis design de gosto duvidoso, como bem referiu.

      E realmente os móveis desta época são baratíssimos e muitos deles de madeira maciça. Além disso, rejeitam os móveis herdados para comprar os monos modernaços. Sei que muitas vezes os móveis antigos são excessivamente grandes para os apartamentos modernos, mas há muitas peças com dimensões adequadas às nossas casas. E depois ter um móvel com história acrescenta um charme a uma casa, com o qual as peças modernas não podem competir.

      Um abraço

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  7. Parabéns pelo achado, eu também já tenho tido momentos de euforia junto a a alguns caixotes do lixo, a minha filha foge com vergonha e a família goza-me mas não me importo, tenho peças com história que adoro!
    Tenho pena é de não ter nos meus conhecimentos um restaurador habilidoso como o Manel... Que inveja! Um bom ano para ambos!
    Um abraço
    Ana Silva

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    1. Ana Silva

      Só não apanho mais coisas do lixo, porque a minha casa é muito pequena. Os meus filhos também tinham vergonha de mim quando me viam à cata de azulejos nos contentores das obras.

      Um abraço e boas entradas

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  8. Querido Luis,

    (E também Manel, sempre coadjuvando ou coadjuvado...)

    Realmente os espelhos são especiais. E há os preciosos, de cristal, bisotado, belas molduras, etc.

    Acho que quem aprecia velharias sofre de uma mania comum: catar coisas velhas que talvez sirvam.
    Quando morei em S.Paulo , ao passar por uma avenida e ver numa caçamba um genuflexório (?), puxei a campainha na hora. O ônibus parou bem longe (não havia ponto). Voltei mais ou menos meio Km para pegar um genuflexório muito quebrado. Só deu para aproveitar a cruz do centro. E tive que carregar aquela cruz até o ponto novamente.
    Voltando aos espelhos: Talvez o terminal deste seu espelho fosse um bilro mesmo. Mas, se não, ficou bem.
    Sabe para que faço uso de espelhos? Como sabe, minha primeira paixão é Arte Sacra, sobretudo pequenas e médias esculturas de madeira. Então quando recebo uma peça nova, após olhar por vários dias em todos os recantos, coloco a imagem em frente a um espelho. É incrível como descobrimos movimentos, escorços, detalhes que não havíamos notado.

    Um abraço.

    ab

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    1. Amarildo

      Quem tem este hábito de apanhar coisas no lixo ou abandonadas na rua tem sempre histórias engraçadas para contar. Por vezes, quem nos vê nessas figuras, pensam que somos pedintes, que andamos à procura de comida.

      Quanto, à peça que falta no espelho é mais natural que fosse um frontão concheado. Conheço várias mobílias desta época, roupeiros, aparadores, camas, etc e tem sempre frontões vagamente inspirados no mobiliário barroco.

      Uso também os espelhos para fotografar peças. Tal como o Amarildo notou conseguem-se sempre ângulos novos e desconhecidos de uma peça de loiça ou de uma imagem religiosa. Neste caso usei o espelho para obter uma imagem surpreendente de todas as gravuras que estão afixadas no quarto dos meus filhos.

      Um abraço

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  9. Gosto muito de espelhos e este é muito bonito. Feliz Ano Novo!

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    1. Margarida Elias

      Muito obrigado e mais uma vez um bom ano novo para si.

      abraços

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  10. Luís
    Este seu poste sobre um espelho mágico e sobre as virtudes dos espelhos em geral acaba também por espelhar o que é este nosso gosto por aproveitar e reabilitar velharias.
    Também já me aconteceu levar para casa objetos que outros atiraram para o lixo e nem sequer compreender como é que ali foram parar. O que me surpreendeu mais até hoje foi um caixote cheio de livros, alguns de bons autores portugueses que foi depositado ao lado do contentor. Como é que foi possível e como é que eu lá podia deixar uma coisa daquelas?!
    Este espelho com a moldura recuperada pelas mãos de ouro do Manel - e eu sei bem do que falo porque já me foi dado apreciar muita da arte e engenho deste querido amigo - tornou-se uma prenda muito original e, quanto a mim, muito adequada para a sua filhota adolescente. Disto não se compra nos centros comerciais!
    Curiosamente, em parceria caseira, também já recuperámos a moldura de um espelho, toda dourada, tipo talha. Deu trabalho, trabalho muito amador, claro, mas gostamos do resultado. Só de saber que veio de outra época, que foi feito com tempo e com técnicas já desusadas faz-me atribuir-lhe um valor e um encanto que um novo nunca teria. Este não foi encontrado no lixo, mas foi comprado muito barato numa loja de usados. ;)
    Beijos e parabéns para si, para o Manel... e para a feliz beneficiária! ;)

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    1. Maria Andrade

      Concordo consigo. Um espelho é sempre uma prenda adequada a uma jovem adolescente e julgo que este foi o presente de Natal, que mais entusiasmou a minha filha.

      Fotografei-o antes de lho oferecer, porque me encantei com ele e queria apresentar aqui o trabalho fantástico do Manel e demonstrar que não é necessário estarmos sempre a comprar objectos novos. Reciclar e reutilizar podem ser a via para decorarmos uma casa sem gastar muito dinheiro.

      Também tenho um belo espalho lavrado do séc. XIX, mas é feito com gesso e tem algumas falhas, que não me atrevi a repara-lo. Foi tão barato, que gastei mais no táxi para leva-lo da Feira-da-Ladra até casa do que na sua compra propriamente dita.

      Bjos

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    2. Agradeço-lhe muito as suas simpáticas palavras Maria Andrade.
      É verdade que vou tendo paciência para o restauro, uma das condições principais para este tipo de atividade, mas é necessário também muita formação complementar à qual não consigo aceder, porque ou a profissão ou ... estes prazeres.
      E não tenho a sorte da minha profissão estar relacionada com este tipo de prazer.
      Não que não goste do que faço, pois é algo que tem aspetos muito interessantes e revigorantes, mas, pelos dias que correm, as desvantagens são em maior número.
      Espero que tenha também muitas ocasiões de se dedicar ao seu hobby do restauro do livro, pois os resultados são muito bons e precisamos urgentemente deste tipo de atividade ... há muita coisa doente por aí, a necessitar urgentemente das suas mãos competentes.
      Manel

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  11. Luís
    Espelhos antigos, memórias esquecidas de belezas passadas. Uma jovem de hoje que aprecia e quer um objecto antigo. Em casa de uma pessoa de família existe um toucador igual ao que nos mostra. Só a cor é diferente: preto. No entanto, integrado numa decoração mais actual, não destoa.
    Tenho, para restaurar, um daqueles que se colocam em cima das cómodas e que tem o espelho movível. Não tem nenhuma característica especial, simplesmente conta a história da Tia, cuja fotografia encontrei entre papéis antigos, e que me remete para a casa de Vilarinho, onde ainda existe a mobília da Tia Adelaide.
    São recordações que, qualquer dia, deixam de existir na lembrança de quem nos segue.
    Um abraço
    if

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    1. Ivete

      Estas cómodas com espelho movível eram muito comuns nos finais do século XIX, inícios do XX, pois correspondiam a um tempo em que a higiene diária era feita no quarto. As casas de velharias e de objectos em segunda mão estão cheios deles e ninguém lhes liga nada. Também conheço esses espelhos movíveis que se colocam em cima das cómodas, normalmente com duas gavetinhas do lado.

      Pelo dado da família da minha mãe, existe uma grande casa no Norte, com muitos quartos e muita mobília desta época e quando a casa se vender vai ser difícil dar destino a tanta cómoda, cadeiras, aparadores, mesas e mesinhas e louceiros. Era uma casa desenhada para acolher uma grande família e hoje vivemos todos em cochichos em Lisboa.

      Um abraço

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