terça-feira, 20 de outubro de 2009

Casa de Souto Covo em Vinhais




Julgo que as casas em que fomos criados ou passámos a nossa infância moldam o nosso gosto, sobretudo se lá fomos felizes. A Casa de Vinhais é um desses sítios mágicos, onde passei férias estupendas na minha meninice. Para mim, criado num apartamento de cidade, aquela casa grande era um espaço fantástico de brincadeiras e depois tinha uma propriedade à volta, onde os meus irmãos e eu experimentávamos uma liberdade completamente desconhecida em Lisboa. A minha tia Maria Adelaide que tomava conta de nós nessas temporadas era também uma pessoal muito especial, que só agora que sou pai, dou o devido valor. Não se zangava connosco por andarmos sujos das brincadeiras nem se incomodava por andarmos o dia inteiro à solta numa propriedade que ainda era grande. (Nos dias de hoje, imaginaríamos um pedófilo escondido atrás de cada árvore a ameaçar os nossos filhos, estradas perigosas cheias de transito e as criancinhas caídas em falésias abruptas, etc).

Além dessa liberdade, havia também uma paisagem magnífica, com montes desertos de gente e a perder de vista e castanheiros, carvalhos, e lameiros num verde tão viçoso, que anunciavam já o Norte da Europa.

Os anos correram, continuei sempre a passar férias em Vinhais. As pessoas foram morrendo. Ninguém já vive na casa, que está decadente e só é aberta nas férias pelo meu pai. Mas, tenho tido a sorte de proporcionar aos meus filhos férias em Vinhais e os miúdos adoram.

Em todos os apartamentos que fui tendo ao longo da vida, tomei sempre por referência a Casa de Vinhais. Houve sempre uma cortina, um móvel, uma janela ou loiças, que evocaram aquela casa, aquele tempo feliz de infância e as pessoas que ali viveram e que já quase que morreram todas.
O meu gosto pela faiança dita de Miragaia ou cantão popular começou naquela casa, onde existe uma travessa e uma terrina daquele motivo, aliás muito bonitos. Coleccionar aquela loiça tem sido a minha forma de evocar Vinhais, de reconstituir um gosto português, de província, que existiu naquela casa.

Souto Covo: a minha filha Carminho e uma travessa de Cantão popular

1 comentário:

  1. Que bonitas fotos!
    Entendo aquilo que referes, pois, como sabes, também tive/tenho uma casa com o mesmo tipo de memórias e encantos, espaços onde crescem almas nos nossos corpos desenraízados da cidade.
    Manel

    ResponderEliminar