terça-feira, 13 de julho de 2010

Painel de azulejos seiscentista no Cercal, Concelho de Azambuja



No passado fim-de-semana andei pela zona de Alcoentre, Cadaval e Bombarral e no Cercal descobri na fachada da igreja paroquial este painel de azulejos do século XVII, com a inscrição Lovvado seia o Santicimo Sacramento, 1664. Achei os azulejos tão bonitos, que, entusiasmado fui para o google pesquisar sobre esta igreja paroquial, cujo orago parece ser S. Vicente e claro que não encontrei nada de nada. O site da Câmara Municipal da Azambuja é omisso e parece que ninguém nestas terras se importa muito com o seu património ou informar os raros turistas, que por aqui passam.
Encontrei informações mais pertinentes no site http://www.monumentos.pt/. A igreja foi toda ela erguida no século XVII, portanto é um conjunto coerente e no seu interior apresenta também estupendos azulejos do mesmo século, quer nas paredes laterais, quer no tecto abobadado, onde está também representado um Santíssimo Sacramento. Infelizmente não tive tempo para entrar e a foto é extraída do http://www.monumentos.pt/
No Museu Nacional do Azulejo existe um painel semelhante, com o nº de inventário 191 e intitulado Alegoria Eucarística, cuja imagem encontrei no http://www.matrizpix.imc-ip.pt/

Passei então para a Wikipédia procurar informações sobre o Santíssimo Sacramento e descobri que é o nome dado à eucaristia ou comunhão, que é um dos sete sacramentos reconhecidos pela teologia Católica e é em si mesmo objecto de um culto, com um dia especial.

Pela comunhão os católicos acreditam receber o corpo de Cristo, num milagre ou fenómeno que recebe o complicado nome de transubstanciação, que quer dizer mais ou menos, o seguinte, durante esse ritual, o pão e o vinho, mantêm a mesma aparência, porém a sua substância modifica-se, passando a ser o próprio corpo e sangue de Cristo.

No painel de azulejos vemos 6 anjos venerando o Ostensório, ou custódia, que é aquela peça de ourivesaria que está no centro, e que é usada para expor solenemente a hóstia consagrada sobre o altar ou para a transportar solenemente nas Procissões do Santíssimo.

Esta é a explicação iconográfica possível para este painel de azulejos e espero que não haja nenhum padre ou religiosa a ler-me, pois sou capaz de ter escrito alguma terrível incorrecção ou uma heresia qualquer.

A existência destes azulejos em azuis e amarelos, cores tão típicas do século XVII, nesta igrejinha no Cercal prova bem aquilo que venho dizendo há muito tempo. Qualquer igreja ou capela de uma aldeia perdida portuguesa tem um património digno de figurar em qualquer museu, ou porque tem imagens de grande qualidade, ou uma talha dourada fantástica, muito boa azulejaria e ourivesaria.

4 comentários:

  1. Julgo que as quatro figuras superiores representarão os arcanjos Miguel, Rafael, Gabriel (estes três são os que a igreja católica autoriza prestar culto) e possivelmente também Uriel, que também é citado em alguns textos como sendo da mesma ordem de importância dos outros três.
    Segundo as variantes, são considerados 4 ou 7 arcanjos, no entanto, os mencionados são os mais importantes e há quem os considere mesmo de ordem mais elevada, serafins ou querubins, daí que não são representados com corpo, mas somente com cabeça e asas (os serafins ou querubins, segundo as representações mais eruditas da Idade Média e Antiguidade Cristã, soíam ser representados com 6 asas, que posteriormente foram simplificadas para um par).
    Estas figuras aladas seriam o equivalente da representação das divindades mensageiras pagãs como Hermes ou Atena Niké (algumas possuem mesmo corpos de animais, onde se inserem as espantosas representações dos touros alados assírios, com um significado semelhante), pois os arcanjos são igualmente os arautos de Deus.
    As figuras mais em baixo pertencem à ordem dos anjos, representadas já com corpo, quase sempre andrógino, e um par de asas.
    Claro que esta teoria não passa disso mesmo, pois, ainda que o artista devesse obedecer a determinada ordem de representação icónica e generalizada, de acordo com a ortodoxia da religião cristã, não sei o que lhe iria na cabeça aquando da criação deste painel. Com certeza limitou-se a copiar de um modelo pré-estabelecido e poderá mesmo ter-lhe introduzido alterações de ordem estética pessoal. São estas alterações que acabam por criar obras de arte de originalidade invulgar.
    Basta olhar para este painel fantástico.
    Ainda bem que não mencionas o assassínio artístico cometido no pequeno átrio, ali mesmo ao lado ...
    Manel

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  2. Que painel belíssimo! Obrigado por compartilhar conosco este achado de seus passeios.
    Vou mandar o link deste post para a Sra Dora Monteiro e Silva de Alcântara, expert em azulejaria, respeitadíssima tanto aqui como em Portugal, certamente nossa maior estudiosa no assunto há muitas décadas, com a qual tive o privilégio de fazer um curso no Museu Nacional sobre azulejaria antiga no Brasil.
    Quem sabe ela não tem algo para nos contar.
    abraços!
    Fábio

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  3. Caro Manel, os teus comentários sobre os Anjos foram muito pertinentes. Também me interroguei sobre que hierarquia de Anjos estaria presente nesta representação, mas tu esclareceste-nos a todos.

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  4. Caro Fábio.

    Terei o maior gosto em ler os comentários de Dora Monteiro e Silva de Alcântara, pois eu sou um amador de azulejaria. Tenho é a sorte de viver num País onde há azulejos em todas as esquinas e posso por isso apresentar belíssimos paineis aqui no blog.

    Abraços

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