quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Paris par Laure Albin-Guillot


Passam-me muitos livros pela mão. Consigo estabelecer com eles uma relação impessoal, como os médicos fazem com os seus doentes. Mas, a semana passada, tive um verdadeiro choque, quando ao abrir um álbum luxuoso de 41 cm e deparei com estas fotografias a preto e branco de Laure Albin-Guillot. São imagens de uma beleza lancinante de Paris. Foram provavelmente tiradas nos finais dos anos 30, mas mostram uma Paris imemorial, cujas imagens já tinha na cabeça, muito antes ainda de visitar a cidade. Aliás, só com o tempo, consegui reencontrar em Paris estas imagens que alimentaram a minha infância e adolescência. As primeiras vezes que lá fui senti-me esmagado e intimidado pela grandeza da cidade. Depois aos poucos, com o auxílio da literatura, da arte, da história e do cinema consegui ter a maturidade suficiente para descobrir a elegância e a beleza da arquitectura e urbanismo parisienses, que Laure Albin-Guillot tão bem mostrou.


A livro onde estão estas imagens chama-se Les Splendeurs de Paris e abre com uma citação de Paul Valery, muito a propósito da fotografia a preto e branco de Laure Albin-Guillot, em que afirma que a obra reduzida à luz e à sombra toca-nos mais e torna-nos mais profundamente pensativos, que o registo a cores. Não resisto a transcreve-la na íntegra e em francês. Comment le blanc et le noir vont parfois plus avant dans l’âme que la peinture et comment, ne prenant au jour que ses différences de clarté, un ouvrage réduit à la lumière et aux ombres nous touche, nous rende pensifs plus profondément que ne fait le registre des couleurs.



Laure Albin-Guillot (1879-1962) começou a sua carreira de fotógrafa como auxiliar do seu marido, investigador num laboratório, ao executar fotografias de micro-organismos. Nos anos 20 já era uma artista consagrada e premiada, que realizou retratos de André Gide, Paul Valéry e Jean Cocteau entre outros. Nos anos 30, foi fundadora da cinemateca francesa e ilustradora dos livros Narcisse de Paul Valéry e Les Chansons de Bilitis de Pierre Louÿs. Foi também autora de nus muito simples e inspirados.


2 comentários:

  1. A beleza do preto e branco quando referida a fotografias deste calibre deixam qualquer um fora de si. Trazem-me à cabeça as fotos do livro que anda aqui por casa com fotografias dos castelos do vale do Loire, e que, igualmente, data de há muitos anos atrás.
    Paris, como sabes está-me indelevelmente ligada por várias razões que aqui não vêm ao caso, mas creio que uma das fotografias representa uma via situada na Île de Saint-Louis, e esta representa para mim um marco.
    Fiquei absolutamente boqueaberto quando a vi pela primeira vez, o luxo burguês, por vezes aristocrático, cuidadosamente velado sob fachadas de uma aparente classe média, ainda que se adivinhe, alta.
    As ruas bem arborizadas, de noite, deixam ver interiores de deixar qualquer um de boca aberta pela beleza que as enormes janelas e balcões deixam entrever - as boiseries, algumas delicadamente pintadas, os lustres em cristal e bronze dourado, os tectos primorosamente decorados com frescos ou belos estuques - isto o que se consegue perceber, pois para lá do que se descortina pelas janelas só posso adivinhar, mas pela amostra fica-se com uma ideia, ainda que pálida.
    Na altura, quando era ainda mais "pé-rapado", sonhei que ainda poderia ser hóspede de uma daquelas mansões.
    Fui hospedado em várias casas fora do comum por esse mundo fora, algumas, em Paris, dotadas de uma beleza fora do comum, mas nunca naquela famosa Île.
    Resta-me o sonho e a esperança ... ainda não morri, por issso ...
    Obrigado pelas memórias que relembram o meu desejo em regressar
    Manel

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  2. Muito obbrigado pelo teu comentário. Estas fotografias tb me recordaram a Île de Saint-Louis e os interiores das suas casas, decoradas com um gosto requintado, mas sóbrio, que entrevemos das janelas.

    A primeira imagem também me traz à memória alguns dos putti que adornam a baixela Germain, bem como outra peça do Museu de Nacional Arte Antiga, tb francesa, uma obra em madeira, que serviu de molde para uma pia baptismal em Inglaterra-

    Mais uma vez obrigado pelas tuas bonitas palavras

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