Troquei com o meu amigo Manel um bule de lamparina da Vista Alegre por uma leiteira, muito bonita, decorada com flores e dourados, muito típica da produção da Vista Alegre, no período entre 1860-1880, um dos mais felizes da existência da Fábrica. Faz par com outra que já aqui tinha mostrado, também gomada, mas com florinhas num tom mais azulado e que por acaso não está marcada, como esta.
Confesso que tenho sempre alguma dificuldade em entender-me com as marcas da Vista Alegre. Parece-me que as marcas nºs 8 (1852-1869), nº 11 (1852-1869) e a nº 20 (1870-1880) são muito idênticas. Em todo o caso, é mais provável que esta leiteira apresente a marca 20, até porque as peças antigas são sempre mais raras.
Além do monograma da fábrica de Ílhavo, esta leiteira revela uma segunda marca pintada a dourado onde eu leio, "X al". Interroguei-me se seriam as iniciais de um pintor da Fábrica, um Xavier Alberto por exemplo, mas não encontrei na bibliografia nenhuma referência a nenhum pintor na Vista alegre no Século XX cujo nome começasse por X. O mais provável é que seja uma marca realmente relativa a um pintor, mas que não traduza necessariamente o seu nome.
Caixa vista Alegre do Palácio Nacional da Pena, inv. PNP938, datada de 1869. Foto http://www.matriznet.dgpc.pt |
Realmente, quando se trata da Vista Alegre, sentimos que nos fazem falta, mais publicações, um catálogo raisonné com a produção da fábrica, não só com as marcas, mas com uma explicação dos n.ºos e outras sinalefas, que por vezes nos surgem no tardoz das peças. Julgo que na Fábrica deve existir um arquivo que permita a explicação destas marcas de uma forma sistemática.
Em todo o caso, a delicadeza das decorações florais desta segunda metade do século XIX fazem-nos esquecer que a bibliografia sobre a Fábrica acaba sempre por nunca ter grande fôlego e parece que os autores repetem as mesmas coisas de uns livros para os outros.
Alguma bibliografia:
Exposição Vista Alegre: porcelana portuguesa: testemunho da história. Lisboa: Estar Editora, 1998
Exposição Vista Alegre: porcelana portuguesa: testemunho da história. Lisboa: Estar Editora, 1998
Luís,
ResponderEliminarEsta sua nova leiteira da VA é simplesmente adorável!
Estas peças assim isoladas são uma tentação, mesmo para quem, como eu, que já começo a refrear os ânimos para as compras, pois o espaço dentro de casa não estica...
Se bem me lembro, o formato dessa leiteira é igual àquele seu açucareiro da VA, não é?
Enfim, estas peças são um mimo! Mas olhe que, o seu amigo Manel, não deve ter ficado a perder com a troca. Os bules lamparina são, quase sempre, maravilhosos!
Talvez pudesse fazer um post dedicado a esse bule, que tal? Estou mortinha de curiosidade ;)
Um abraço amigo,
Alexandra Roldão
Alexandra
EliminarA Maria Andrade já mostrou um bule e lamparina iguais http://artelivrosevelharias.blogspot.pt/2011/04/lamparina-de-quarto-ou-veilleuse-room.html. O Manuel tinha a lamparina e eu o bule, de modo que fizemos uma troca.
Bjos
Caro Luís,
EliminarEncontrei no MatrizNet uma caixa da VA, a qual apresenta uma pintura bastante semelhante à sua leiteira.
Ora veja:
http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=1013608
Abraço
Alexandra Roldão
Alexandra
EliminarMuito obrigado. Não há dúvida que o motivo decorativo é o mesmo e está datada de 1869, o que poderá significar que a marca é a nº 8 ou 11. Enfim, para atalhar, podemos afirmar que a leiteira foi produzida entre 1860-70.
Bjos e obrigado
Querido Luis,
ResponderEliminarMuito Bem,
Muito bela esta leiteira da VA.
A decoração manual livre alternada com o que parece ser um transfer dourado (ou será à mão livre também?) lhe confere aquele ar de louça bem personalizada, sem uma maçante produção. Se não fosse a marca remeteria por aqui ao que (tudo) chamam Vieux Paris... E na verdade as louças da VA quando antigas e sem marcas, onde se mesclam cores pinceladas com dourado são sim um VP português. Aliás Vc já postou sobre esta semelhança: um tipo famoso de xícara da VA (que esqueci o nome) que passa por Vieux Paris. Tenho uns pratos sem marca que se enquadram nesta questão. Qualquer dia posto no pobrezinho algumas dessas louças sem marca. Quem sabe alguém ajuda. Nestes dias comprei umas peças remanescentes de aparelho de jantar, sem marca alguma, nem nos pratos nem na sopeira. Ainda bem que encontrei uma travessa da mesma louça marcada em verde "D & Co" sobre traço e sem o "Limoges" ( mas nem precisava)...
Vc reclama da falta de registros mais precisos da produção da VA. Eu pensava que houvesse uma boa catalogação de marcas, tipos, etc, uma vez que esta parece ser a mais famosa louça portuguesa.
Outras coisas:
1- Aquele Menino que parece pousar na leiteira na última foto já foi mostrado?
2- O que é "bule de lamparina"?
3- Fiz um post com uma grande roca. Nem todo mundo gosta delas assim mais piedosas que decorativas. Se tivesse um número relativo dessas imagens e um bom e grande móvel até que as deixaria despojadas falando entre si. Mas só tenho esta bela e uma outra um pouco menor (muito repintada).
Um abraço.
ab
Amarildo
EliminarDe facto a produção da Vista Alegre deve muito à porcelana de Paris, aspecto que os manuais nunca referem, não sei porque motivo. Talvez devido a um certo nacionalismo, enfim não sei.
Existe bibliografia sobre a Vista alegre, descrevendo os vários períodos da Fábrica, as marcas e as peças mais significativas. Mas a Vista Alegre produziu tanta coisa em mais de 170 anos de existência e dispondo ainda dos seus arquivos e certamente de moldes e ainda peças de outras casas de porcelana, que já era tempo de se publicar um catálogo mais sistemático, abrangendo toda a produção e comparando-a com outras fábricas europeias.
Ainda não mostrei o Menino que está numa maquineta. Aguardo ocasião especial para o publicar para. É uma um Menino Jesus Salvador do Mundo já do XIX, mas a maquineta deve ser dos finais do XVIII.
Um abraço
É verdade, o Manel explica no seu comentário o que é uma lamparina
EliminarLuís,
ResponderEliminarEsta leiteira, para mim, ainda é mais bonita do que a primeira. As cores quentes são mais do meu agrado, embora goste de azul. Parece contraditório mas tenho meio serviço, que era da minha avó, azul mas não é com flores e é do princípio do século XX. [Tonterias fizeram com que o dividisse com a minha irmã].
Beijinho. :))
Ana
EliminarA foto da leiteira em tons de azul não é grande qualidade. Quando iniciei o blogue estava a dar os primeiros passos na fotografia e algumas imagens dos primeiros posts não tem grande qualidade. Algumas deles até já as substituí. Aliás, quando tiver tempo vou fotografar brevemente essa leiteira, que é um pouco maior que esta.
Eu e os meus irmão também fizemos verdadeiros disparates nas partilhas. Dividimos um faqueiro de prata de doze por 3 pessoas. Se soubesse o que sei hoje teria tentado que o faqueiro fosse para uma única pessoa, sendo os outros compensados com outras peças de prata ou louça. Mas, enfim, todos nós fazemos essas tonterias de desintegrar nas partilhas conjuntos que deveriam ser mantidos juntos.
Beijinho
Ao contrário da Alexandra, quem eu acho que ficou a ganhar com a troca foi o Luís, porque ando atrás de uma leiteirinha destas há anos e ainda não consegui nada. É verdade que a quero em branco e a um preço compatível ;) e embora ache estas das florinhas bem mais atraentes, dava-me jeito em branco para se juntar às outras peças “facetas” que já tenho.
ResponderEliminarBules de lamparina é que já encontrei três soltos e dois deles acabei por completar com lamparina “castelo”. Quem sabe se o Manel também conseguiu completar um conjunto?
Quanto às marcas, acho igualmente estes períodos de VA azul um pouco confusos. A distinção que é feita no livro da Vista Alegre é entre azul de mufla para o período de 1852-1869 e azul grande fogo para 1870-1880. Ora eu julgo que o azul de mufla é aquele tom de azul mais intenso, enquanto o azul grande fogo fica muito clarinho, (tipo azul cueca como lhe chama o Luís ) mas estas marcas deixam-me sempre cheia de dúvidas.
De qualquer forma, mais década menos década, é uma peça já muito antiga e muito graciosa, quer na forma quer na decoração, da Vista Alegre.
Bjos
Maria Andrade
EliminarO Manel tinha a lamparina em forma de castelo, mas faltava-lhe o bule e assim ficou com o conjunto completo.
Realmente, fica-se sempre confuso com estas marcas em azul da VA, mas como a Maria Clara refere, mais década menos década, a peça deve andar pelo período de 1860-1880. Também não encontrei nenhuma peça igual ou do mesmo serviço nos catálogos de leilões para confirmar a datação. Mas de facto este período da Vista Alegre é um charme.
Bjos
Querido Manel,
ResponderEliminarObrigado pela informação.
Espero que o Luis não se importe de usarmos seu precioso blog para tanta conversa e também para a autopromoção, que às vezes faço...
Mas se não for assim ficamos muitas vezes sem um alentador retorno, ainda que breve. Tenho amigo blogueiro que traz sempre postagens bem cuidadas, sobretudo para os vidros prensados ( http://tempoguaranaderolha.blogspot.com.br/ )
E muitas vezes comentamos sobre esta falta de retorno. O mesmo já disse o Fábio Carvalho, que tem não somente blogues e sites interessantes e muito bem apresentados de azulejos e louças brasileiras mas também uma formação artística acadêmica e vários trabalhos, publicações, projetos. etc.
Ainda bem que temos um blogue ou outros espaços da rede para um exercício ou para nos ajudar a dar sentido humano a esta mania ou tique de juntar velharias.
Voltando ao bule de lamparina e ao link do maravilhoso como Vc já disse, blog da querida M. Andrade. Já tinha visto dessas peças e não precisava de muita imaginação para saber seu uso. Mas nunca pensei que pudessem se chamar assim. Já tinha ouvido nos leilões o termo "veilleuse" mas nunca associei à lamparina ou velas. Obrigado. Ainda sobre estes bules: Você falava sobre o encaixe perfeito das duas partes para que que não caísse, etc. Pois bem, eu que procurava saber o que era um bule de lamparina tinha um bem ao meu alcance ou a metade de um, a parte do bule mesmo, deve ter acontecido um tal desastre noturno (mesmo com tanto perfeito encaixe) ou se separaram em tantas mudanças, Comprei sabendo que faltava uma parte, mas estava no chão da feira e era interessante, sem marca aparente, bem ao que chamam vieux paris que comentava acima. Compramos peças pela metade na esperança de encontrar seus complementos... E até acontece.
Que este meu abraço seja partilhado com o Luis e seus queridos leitores e leitoras.
Obrigado.
ab
Que bonita! Gosto de leiteiras. Tenho uma amiga que fazia colecção. Bom dia!
ResponderEliminarMargarida
EliminarMuito obrigado pelo seu comentário
Um abraço
Manel
ResponderEliminarDe facto o bule com que tu ficaste é um charme, com o bico numa forma zoomórfica, fazendo recordar a porcelana de Paris. Pela minha parte fiquei muito satisfeito com esta leiteira que se encaixa às mil maravilhas no meio das minhas peças Vista alegre com florinhas.
Um abraço
Amarildo
ResponderEliminarEstes blogues servem para trocar impressões e aprecio muito quando o velharias do Luís assume este aspecto de tertúlia virtual.
Veilleuse é o termo francês que em português se traduz por bule e lamparina. Hoje, o uso destas peças perdeu-se completamente. Quando as pessoas querem aquecer o chá, põe no micro-ondas e plimmmm, já está. Por isso a maioria não sabe identificar estas peças quando as vê. Não é muito fácil encontrar conjuntos completos. Ou bule se partia ou era a lamparina que se quebrava. Maior parte das vezes ou se apanha uma peça ou outra e raramente o conjunto.
Um abraço
Olá Luís , as coisas lindas que eu tenho perdido !!Mas agora estou de regresso .Tudo bem consigo?
ResponderEliminarAb.
Cara Quina
EliminarSentimos a sua falta!!
Eu cá no estou no período pós-férias, a tentar recuperar. Lol. Mas hoje em dia é uma bênção ter emprego e não nos podemos queixar.
Abraço
Na verdade Amarildo, tinha a certeza que deveria conhecer a peça, pois foi bastante comum, apesar de hoje estarem relegadas para o interior dos armários.
ResponderEliminarClaro que a nossa língua é a mesma, no entanto a diferença de vocábulos usados aqui e no Brasil é significativa, mas afinal é isso que faz a nossa língua mais rica e interessante.
Quanto à "veilleuse", foi, e continua a ser, um objeto que sempre me encanta, pois faz-me lembrar alguns presépios que via fazer na minha infância, com as casas iluminadas, o que, na altura, me parecia mágico. É este o meu encanto por estas peças, pelo que me entusiasmo sempre muito a falar delas.
Cumprimentos
Manel
Caro Luís
ResponderEliminarMuito bonita esta leiteira. Interessante é o tamanho da pega, que me parece muito maior do que a de qualquer outro modelo. Mas também é este pormenor que lhe dá uma elegância muito especial.
Um abraço
Maria Paula
EliminarDesculpe só agora lhe responder. A pega é de facto muito grande, porque a leiteira é de pequenas dimensões. Deveria talvez fazer parte de um serviço de chá para poucas pessoas, talvez de um tête-à-tête.
bjos
Ola luís
ResponderEliminarTenho uma do mesmo formato e da mesma época..
Tanto quanto sei existem 3 tamanhos de bule e acucareiro mas apenas 2 de leiteiras..
Flávio
Flávio
EliminarJá estranhava ainda não ter aparecido por aqui, pois sei que a Vista Alegre é sempre um chamariz para si.
Tenho outra leiteira da mesma época e formato, mas maior. Portanto julgo que este será o tamanho mais pequeno. A altura maior, da ponta da asa ao chão não ultrapassa os 12 cm e o diâmetro da zona mais bojuda anda pelos 9 cm (é difícil medir estas peças).
Espero que esteja tudo bem consigo, agora de regresso a Portugal.
Abraço
Ola Luis! Ahaha estive sem PC uns bons tempos!! Estes problemas informáticos passam-me muito ao lado.. Pelo que vi o seu post por telemovel.. Já agora agradeço os negócios que me tem passado.. Há uns tempos uma senhora contactou-me a respeito de um serviço de 1881-1921...
EliminarA minha leiteira é então do mesmo tamanho desta.. Linda, linda Luis!!
E sabe que facetas para mim é algo de muito interessante ahah
Muito obrigado! Estou de rumo ao Porto já no final deste mês..Período complicado e com louças atrás ainda se torna mais complicado!
Um imenso abraço