terça-feira, 16 de junho de 2015

Azeitoneiras e molheira Copeland

Para um coleccionador amador como eu, que vive numa espécie de casa de bonecas com uma assoalhada e meia, resta-me apenas a opção de comprar peças de pequenas dimensões, possíveis de encaixar nuns 20 ou 30 cm de parede livre, que ainda restam aqui e acolá, apesar de serem cada vez em menor número. Por isso, comprei há pouco tempo duas pequenas azeitoneiras de faiança inglesa de meados do século XIX, por um preço muito em conta na Feira de Estremoz. O Manuel comprou uma molheira do mesmo serviço e acabei por lhe oferecer uma das azeitoneiras. Esta minha peça irá juntar-se a um conjunto de azeitoneiras inglesas que tenho vindo a adquirir.
A marcas das azeitoneiras
As peças estão marcadas com o monograma da fábrica, a Copeland, que foi umas das marcas inglesas de cerâmica com mais prestígio. Teve origem na célebre Spode, fundada em 1770, a primeira casa a produzir o célebre padrão do salgueiro, e que foi em 1833 comprada por William Copeland e Thomas Garrett. A partir de 1847 o Sr. Copeland tornou-se o único dono e marca passou-a designar-se por W.T. Copeland & Sons, nome que manteve até 1976, ano em que voltou a designar-se por Spode. As marcas destas peças indicam-nos, que poderão ser tido executadas entre 1847-67
 
Tardoz da molheira. O diamond-shaped English Registry mark indica o ano, o mês e o dia, em que o padrão foi registado
As três peças deste conjunto, ostentam também no tardoz o chamado The diamond-shaped English Registry mark, isto é, um conjunto de sinais e códigos, definidos pelo serviço oficial de patentes do Reino Unido, que indicam o ano, o mês e o dia, em que o padrão foi registado e cuja chave de descodificação se encontra disponível em vários sites da net, como por exemplo no kovels.com. O padrão destas duas azeitoneiras e molheira foi registado no dia 17 de Agosto de 1849.

No entanto, julgo que esta data, se refere ao registo do padrão decorativo e não ao ano exacto do fabrico. Portanto, a execução destas três peças poderá ser sido mais tardia. Aliás encontrei num site de arqueologia, o Canadian Historic Sites, referência a que em 1882 este padrão ainda estava disponível num catálogo de vendas da W.T. Copeland and Sons.

Este site contem um artigo on-line, muito curioso de Lynne Sussman, intitulado Spode/Copeland Transfer-Printed Patterns Found at 20 Hudson's Bay Company Sites, que nos conta que em meados da década de trinta do século XIX, a Spode Copeland tornou-se o fornecedor oficial de loiça da Hudson Company, situação que manteve até ao início do século XX. Portanto, em todos postos da Companhia comia-se e bebia-se em serviços daquela loiça inglesa. Já no nosso tempo, os arqueólogos escavaram alguns postos comerciais da Hudson Company e compararam os achados de loiça com as chapas de cobre e os livros de padrões que ainda existem na fábrica Spode e o resultado foi a publicação de um trabalho impressionante, que cobre 109 padrões decorativos, muito útil para todos os coleccionadores de faiança inglesa
Imagem do livro de padrões da fábrica
Consegui descobrir neste site, numa das reproduções do livro de padrões, a imagem que esteve na origem do decoração estampada nestas três peças e que se conserva nos arquivos da fábrica Spode, onde surge designado por garland ou rose briar.
 
 
Em suma, este conjunto de azeitoneiras e molheira foi fabricado pela Copeland, entre 1849 e 1867, numa época em que Inglaterra era maior potência industrial do mundo e as suas produções invadiam o mundo inteiro e tão depressa chegavam às imensidões gélidas do Canadá, como à Ocidental Praia Lusitana.
A beleza do azul e branco da faiança inglesa
 

10 comentários:

  1. A última fotografia daria uma belíssima natureza morta. Esse local é perfeito para mergulhar numa penumbra todo o entorno, dando uma grande ênfase ao assunto principal.
    Não deixando, em simultâneo, de deixar ver alguns azuis e acinzentados em fundo. Muito bom.
    Bem, fizeste a pesquisa toda, pois na net a cerâmica inglesa é das melhores estudadas, raro deixando assuntos ao acaso.
    Mas também é de salientar que esta cerâmica está, quase na sua totalidade, marcada, o que facilita muito o trabalho dos que pesquisam.
    Bonito post
    Manel

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    1. Manel

      Com efeito a cerâmica inglesa está muito bem estudada e há imensos conteúdos na net, que nos permitem identificar uma produção muito rapidamente. E nós nem sequer temos muito acesso à bibliografia sobre a matéria. Por vezes, julgo que deveria comprar algum manual geral sobre faiança inglesa do século XIX.

      Este local da tua cozinha é perfeito para fotografias. Há a luz da janela que incide sobre os objectos, mas o fundo é escuro, características que dão um toque de uma pintura de natureza morta à fotografia. Tenho que arranjar um pano preto para tentar obter este fundo em minha casa.

      Um abraço

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  2. Olá Luís,

    Mais uma excelente aquisição de belas porcelanas.
    Gosto por demais de motivos azuis.
    Pela parte que me toca, tenho apenas três exemplares de loiças inglesas. Comprei-as em Alenquer, e foram quase dadas. São todas da Davenport, de datas que vão de meados de 1800 a 1900 e tal.
    Curiosamente, nesse mesmo dia, e no mesmo vendedor, consegui uns livrinhos de Ferreira de Castro. Vim para casa toda contente, e eis senão quando, me apercebo que, os dois livros estavam autografados, e um deles exibia uma dedicatória do escritor! Imagine o que eu ganhei!!
    Enfim..só não sai o Euromilhões... ;)

    Beijinho e boa-noite

    Alexandra Roldão

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    1. Alexandra

      A loiça inglesa não é muito valorizada no mercado das velharias e compram-se belas peças muito em conta. Não tenho muita coisa inglesa, porque falta-me espaço, mas o meu amigo Manel é que tem muita faiança inglesa, que prometo ir mostrando aqui, se ele não se importar.

      Embora seja bibliotecário, não tenho muito a noção dos preços do mercado alfarrabista, mas um autografado valoriza muito um livro. Há uns 10 ou doze anos, tratei da compra de um livro para oferecer à biblioteca do Congresso por ocasião dos seus 200 anos e fiquei parvo com os elevados preços pedidos por alfarrabistas por livros, que nas bibliotecas não ligamos pevas. Mas também foi no tempo das vacas gordas e é natural que os preços tenham baixado. Mas o valor comercial do livro varia consoante a edição, a raridade da obra, a encadernação e claro os autógrafos.

      bjos

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  3. Caro Luís
    Tal como o Manel, os meus olhos também se prenderam na última fotografia. Muito elegante e totalmente conseguida com presença subtil dos azulejos lá atrás, o contraste entre a tijoleira rústica e o requinte das peças.

    Ando com uma preguiça tremenda de escrever no blogue. Por vezes, até me sinto um pouco indelicada de nada dizer, mas sei que compreende que estas fases de altos e baixos motivacionais são, até certo ponto normais. Tenho há semanas um post alinhavado , precisamente sobre faiança inglesa, mas nada! Nada, absolutamente nada me sai. Nem boas fotos consigo :)
    Bjs e bom fim de semana

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    1. Maria Paula

      Percebo a sua preguiça. Nos últimos tempos também tenho sentido uma enorme inércia, mas enfim, faço um esforço, pois sei que este exercício de escrever para o blog é útil para o meu cérebro e também me tem aberto algumas oportunidades.

      Mas de facto há alturas da vida que não há mesmo motivação.

      Normalmente tiro uma boa trintena de fotografias, para escolher 3 ou quatro. Tremo muito com a mão e a minha máquina está meia estragada. Cheguei a pensar colocar a última foto a abrir o post, mas depois achei que ficava melhor no fim, para terminar em grande e deixar uma boa imagem na recordação das pessoas que leram o texto.

      Bjos e obrigado

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  4. Prezado e Querido Luis,

    Não sou eu apenas que ando capengando da saúde, minha máquina também. Daí a demora grande em dar um alô aos amigos.

    Sei que as louças,sobretudo as inglesas antigas, têm uma riqueza enorme a ser estudada e apreciada, Mas não sabia que chegavam a tanto, parece até coisa do Código Da Vinci, com a especial diferença de não serem mera ficção e oportunista exploração da (má) fama alheia...

    Faz algum tempo que adquiri um covilhete que bem parece, no molde (sem o pé) com este seu. Todo branco e sem marca que identifique. Estava destacado das demais peças do brechó e como custava um nada resolvi pegar. Ao levar até a vendedora soube o porque de estar bem fora do lugar das demais louças: serviu de pote de leite para um gatinho que por ali passou miando de fome no dia anterior...

    Por estes dias tive perdas e ganhos em meus achados de louças portuguesas.

    Perda: Uma bela travessa oferecida como Cia das Indias e que depois comparando vi que pode ser uma antiga Vilar dos Mouros...

    Ganho: Um maravilhoso e antigo vaso de jardim, inteiro . Com pegas em fora de cara de leão e parreiras em alto-relevo, ,azul e amarelo. Pena que sem marca. Pode ser tanto um SAVP ,Miragaia... ou algum outro. Depois vou postar.

    Um abraço.

    ab

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    1. Amarildo

      Ainda este fim-de-semana comentei com o Manel a sua ausência e de facto ficámos preocupados pensando que a sua saúde tinha piorado.

      A louça inglesa está de facto muito estudada e a tal ponto, que o resultado desses estudos está muito divulgado e disponível na internet e é muito fácil identificar uma peça produzida naquele País. Por vezes, num quarto de hora de pesquisa, obtém-se logo resultados significativos.

      Esta forma de azeitoneira é relativamente comum na faiança inglesa. Tenho várias deste formato todas britânicas. Também já encontrei azeitoneiras desta forma da Vista Alegre e da francesa Sarreguemines.

      Um abraço

      Luís

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  5. Luís,
    Também aqui, como nas anteriores peças da Vista Alegre, a decoração é feita à base de grinaldas de flores, para além do ramo central das azeitoneiras. A forma em concha é encantadora, e também a V. A. usou essa forma para as azeitoneiras no período de viragem do séc. XIX para o XX. Afinal as influências faziam-se sentir de vários lados e as modas comandavam as diversas produções.
    Conhecendo bastante a história da Spode, foi para mim novidade o relacionamento com a Hudson Company e gostei muito de aqui ler sobre isso.
    Escusado será dizer que também achei lindíssima a última foto e acho um piadão aos negócios que faz com o Manel na aquisição de velharias...
    Depois da azáfama com a visita dos meus "brasileiros" deu-me uma quebreira e preguiça que ainda não ultrapassei, daí a minha ausência da nossa blogolândia. Mas tenho que me forçar a sair do marasmo... devagarinho! ;)
    Beijos

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  6. Maria Andrade

    De facto a loiça inglesa está tão estudada que é quase difícil não encontrar boas informações na net e este site canadiano de arqueologia é precioso, pois tem um levantamento muito grande de padrões, muito embora cubra uma pequena percentagem de tudo aquilo que a fábrica fez.

    Julgo que estes acordos comerciais explicam em parte porque é por vezes uma marca é tão abundante num país e mais rara em outro. Estou-me a lembrar das peças da fábrica C & J. SHAW, que são comuns em Portugal e que nos sites ingleses aparece escassamente mencionada.

    Este formato de azeitoneiras foi de facto muito popular por toda a Europa e de facto são uma graça.

    Percebo a sua preguiça. Também sou atacado muitas vezes por esse mal.

    bjos

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