Na casa de um homem só, que gosta de se rodear de velharias e coisas recolhidas aqui e acolá, há sempre objectos surpreendentes e inusitados, como estes três pequenos estojos de jóias, dois deles cheios de nada e o terceiro de coisa nenhuma. Só puxando um pouco pela nossa imaginação é que podemos ver ali a surpresa de uma jovem a abrir uma das caixinhas e encontrar ali um anel de noivado com um diamante, um cordão de ouro ou um broche de prata, incrustado de pedrarias.
Pertenceram à minha avó Mimi e julgo que terão contido jóias oferecidas por ocasião do seu casamento, no final da década de 20, provenientes de algum ourives do Porto ou de Guimarães, cidades que tradicionalmente abasteciam todo o Norte de Portugal de trabalhos de ouro e prata. Também não sei se não seriam coisas mais antigas ainda, que a Mimi terá guardado da sua mãe ou de uma qualquer velha tia, porque a minha avô era também uma mulher sentimental em relação aos objectos do passado e conservava-os com respeito. O que é certo, é que os anéis e os alfinetes de ouro foram retirados destas caixinhas há muito e actualmente devem estar nas mãos da minha irmã ou da minha tia paterna. Na partilha de bens, que houve a seguir à morte da minha avó calharam-me apenas os estojos vazios, que achei desde logo um pequeno encanto.
Ao contrário das jóias, que no passado foram consideradas pelas mulheres de todas as classes sociais como um investimento, um bem que elas poderiam vender em caso de aflição, estes estojos que agora pertencem a um homem e não tem qualquer valor comercial. Guardo neles pequenos nadas, como uma moeda romana ou um pin da Academia de Ex-Libris, de que a minha avó foi sócia.
Se os diamantes têm sido os melhores amigos das mulheres avisadas, os estojos de jóias vazios parecem entender-se muito melhor com homens solitários e sentimentais.
Talvez a surpreendente versão dos Diamonds are a Girl's Best Friend, interpretada por um homem, Jay Amstrong Johson, seja um remate curioso para este texto acerca de estojos, que uma jovem esvaziou de jóias há cerca de 80 anos atrás.
Caro Luís,
ResponderEliminarUma Jóia de postagem com uma prosa Brilhante, sem remorsos!
O puro Humanismo de "um homem só", como disse.
Parabéns!
Mais postagens!
Bom fim de semana,
Jorge Amaral
Jorge
EliminarTrês estojos de jóias vazios são uma coisa algo insólita, a partir do qual construi este texto ambíguo acerca do valor dos objectos.
Muito obrigado pelas suas palavras tão simpáticas e um grande abraço
Três estojos de jóias vazios com quantas histórias para contar? Sabemos lá nós. Mas o Luís teceu boas conjeturas e fez mais uma vez esta sua leitora ler o post de fio a pavio imaginando jóias faiscantes ou mais sóbrias elegantemente acomodadas nessas caixinhas. Enfim! Delírios.Ou não fossem os diamantes os melhores amigos das mulheres :) Beijos e boa semana
ResponderEliminarNa verdade. Eu não tinha nada para dizer acerca destas caixas, a não ser que foram da minha avó e que agora estão vazias. Mas, para nós que somos uns sentimentais, estojos de jóias vazio são qualquer coisa que nos fazem imaginar momentos especiais, como um pedido de casamento, uma reconciliação de um casal depois de uma grave zanga ou uma mulher aflita dirigir-se a uma casa de penhores com o seu alfinete de brilhantes. Porque de facto as jóias, que nunca perdem valor, são sempre associadas às mulheres, lembrei-me de terminar o post com um homem a cantar Diamonds are a Girl's Best Friend.
EliminarBjos e ainda bem que gostou deste post onde tentei criar uma pequena história para umas uma caixas insignificantes de papelão forradas a tecido.
Caro Luis
ResponderEliminarAfinal as caixas não estão vazias........tanta coisa cabem nelas, abre-se a tampa com tanto carinho e pronto...tantas memórias.
abraço
Vitor Pires
Caro Luis
ResponderEliminarAfinal as caixas não estão vazias........tanta coisa cabem nelas, abre-se a tampa com tanto carinho e pronto...tantas memórias.
abraço
Vitor Pires
Vítor
EliminarÉ verdade. Estes pequenos do objectos do passados, esvaziados do seu conteúdo original, mas com uma manufactura muito cuidadosa tem um encanto especial, para nós os sentimentais. São como aquelas senhoras idosas que guardam qualquer coisa da sua coquetterie do passado.
Um abraço
Como não guardar esses lindos porta joias?? Jogar fora, jamais! Vão-se os anéis e ficam as caixinhas vazias, porém cheias de lembranças.
ResponderEliminarAcho bem bonito deixá-las em exposição, o veludo azul, velho, deve estar mais lindo ainda.
Tenho uma caixinha de veludo verde que ganhei de um amigo, mínima....
Caixinhas vazias, cheias de nada, cheias de lembranças.
O vídeo ótimo, não conhecia o cantor. Só vejo a Marilyn cantando isto. É a cara dela.
Abraços, Luís.
Jorge
EliminarSempre senti um afecto especial por estas caixinhas e o facto de as ter fotografado, fez-me perceber que as tinha exposto de forma incorrecta, espalhadas por várias prateleiras de um louceiro. Agora resolvi empilha-las como na fotografia e o resultado é muito mais apelativo.
Um abraço
Isto de "Diamonds are a girl's best friends" só dá se for a Marilyn a cantar. Este não me convence, apesar da ideia ser original e até poderia ser interessante, não conhecesse eu a original.
ResponderEliminarAquela voz quente e trilante da diva é inconfundível e estou sempre à espera que ela cante ... e depois surge ele :-(
Estes estojos vazios dão-me sempre uma certa angústia. Tenho alguns também, pois creio que, gente que vive em parte no passado acabam por não se desfazer da tralha que acumulam.
Há sempre uma afetividade que nos liga e que fala mais alto na altura de fazer limpezas.
Tenho um "moto" ao qual tento ser fiel: se uma coisa que tenha não é usada nem procurada por mais de dois anos, vai fora ... no entanto há coisas que pura e simplesmente não consigo ... parece que estas coisas cada vez são mais numerosas (tendência para acumular .. hummm)
Manel
Manel
EliminarCaixas vazias de jóias são como os Diamonds are a girl's best friends, cantados por um homem, isto é, uma contradicção. Foi um só um remate bem humorado para um tema sentimental, que é este de guardar embalagens vazias sem qualquer valor comercial.
Um abraço
Ler estas tuas linhas, Luis, me levou a instantes tão queridos, com a minha nonna, minha mãe e tia. E até ao meu nonno, que ainda casado com a nonna, gostava de ficar só e, também, guardava moedas em um pequeno estojo, que imitava uma peça de cristal.
ResponderEliminarAcho que puxei o nonno, pois gosto tanto da solitude... então, veja que este post foi mesmo uma viagem direta as minha memórias familiares.
E, os três estojinhos são tão belos, feitos com tanto capricho.
Guardar e conservar embalagens antigas é sempre um acto sentimental. Já não servem para nada, não valem dinheiro, mas para os sentimentais são pequenas arcas de tesouros onde se guarda um bilhete antigo de viagem, o cabelo de uma criança, que há muito se fez homem ou uma conchinha apanhada na praia.
EliminarUm abraço
Penso como tu!
EliminarGuardo com estima a caixa que me deram na loja quando comprámos as nossas alianças de casamento e até a poderão achar feiosa, mas para mim representa um momento feliz da vida! Quem dera que neste século XXI ainda se usassem caixas tão belas como as da sua avó Mimi! Devem ter representado para ela momentos felizes, se as guardou!
ResponderEliminarGostei de passar por aqui, vou voltar!
Paula Lima
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Realmente neste período existiam estes pequenos requintes, em que até as embalagens onde se vendiam jóias eram bonitas.
No século XVIII os estojos de jóias ainda eram mais requintados. Eram feitos em marroquim com trabalhos a ouro. Em Lisboa, a Fundação Medeiros e Almeida tem no seu museu alguns conjuntos raros de jóias com os seus estojos originais. Vale a pena dar um pulo até lá só para ver os colares de pedras preciosas nos estojos de origem.
Um abraço e volte sempre
Já vistámos a Fundação e tudo o que vimos nos deixou encantados. Confesso que os relógios me fizeram esquecer um bocadinho tudo o resto que vi (adorei a mesa posta para os Pincipes do Mónaco e restantes convidados!) :)
EliminarNestes museus é difícil fixar tudo o que se vê, de tal forma são ricos.
EliminarTrabalho num museu há cerca de 5 anos e estou sempre a descobrir peças que nunca tinha reparado até então.
Um abraço