sábado, 10 de abril de 2021

Terrina de faiança de Alcobaça ou Coimbra


Já há muito tempo que ando para escrever um post sobre esta terrina ou melhor sopeira, que o meu amigo Manel comprou já há alguns anos, pois nunca consegui descobrir nada de muito definitivo acerca dela. Mas é tão encantadora, que ainda assim resolvi apresenta-la na mesma e passar a escrito aqui no blog umas quantas impressões pessoais.


É uma faiança algo rude, com um certo ar ingénuo e as peças com essas características parecem-nos sempre mais antigas do que aquilo que realmente são. O Manel e eu chegámos a pensar, que fosse até do século XVIII mas na verdade esta terrina aproximar-se das faianças produzidas em Alcobaça por José dos Reis (1875-1900) e Manuel Ferreira da Bernarda Júnior (1900 e 1930 ). O esponjado usado para definir o chão, o casario e a forma de tratar as árvores é muito semelhante aos desta fábricas.

Peças de José dos Reis e Manuel Ferreira da Bernarda: a continuidade. Foto retirada de Cem anos de louça Alcobaça / Jorge Pereira Sampaio e Luís Peres Pereira. [S. l.]: J.P.S. Sampaio, 2008

Com efeito, a 10 de Julho de 2014 apresentei aqui no blog uma bacia, que atribuí a Alcobaça, que não anda muito longe desta sopeira.



Mas há também que considerar a hipótese que esta terrina possa ser um fabrico coimbrão. António Pacheco reproduziu na sua obra Louça tradicional de Coimbra: 1869-1965. Coimbra: DGPC, 2015 uma terrina da Fábrica Alfredo Pessoa e Filho, firma activa em Coimbra entre entre os últimos anos 15 anos do séc. XIX e a  primeira década do século XX, com o mesmo ar de família da peça do meu amigo Manel.

Terrina da Fábrica Alfredo Pessoa e Filho. foto retirada de Louça tradicional de Coimbra: 1869-1965 / António Pacheco. – Coimbra: Direção-Geral do Património Cultural, 2015


Contudo, ao contrario das peças que vi atribuídas a José dos Reis (1875-1900) a Manuel Ferreira da Bernarda Júnior (1900 e 1930 ) ou o que conheço de Coimbra, em que o casario é representado como se fossem aqueles desenhos, que qualquer criança faz na escola, na terrina do Manel, o artista que a pintou conseguiu dar uma certa ideia de perspetiva. É como se fossemos caminhando por uma floresta e no meio do arvoredo, adivinhássemos um casario lá ao fundo. Talvez seja esta qualidade que diferencia um pouco esta sopeira de outras peças de Alcobaça e Coimbra, em que o casario é sempre representado de forma quase infantil.

Em suma, esta sopeira será uma produção de Coimbra ou Alcobaça, talvez do final do século XIX, mas não estou seguro. Posso apenas afirmar, que quem a pintou tinha sem dúvida talento e com uma grande economia de meios, conseguiu dar a ideia de perspetiva.



Alguma bibliografia:

Louça tradicional de Coimbra: 1869-1965 / António Pacheco. – Coimbra: Direção-Geral do Património Cultural, 2015

Cem anos de louça Alcobaça / Jorge Pereira Sampaio e Luís Peres Pereira. [S. l.]: J.P.S. Sampaio, 2008.

6 comentários:

  1. Eu já nem me lembro quando comprei esta pequena terrina, ou sopeira. Já lá vão 13 ou 14 anos.
    Numa bela tarde de sábado, na Feira da Ladra ela apareceu-me à frente por um preço que creio ter sido muito convidativo, e o dono, para me convencer a comprar (como se fosse necessário ... hehehehe) disse-me que tinha uma tampa e que a traria no final de semana seguinte - claro está que nunca mais o vi até hoje, nem eu o conhecia tão pouco, e, na altura, eu conhecia praticamente todos os vendedores habituais da Feira da Ladra, hoje já não poderia dizer o mesmo, afastado que estou deste mercado há já alguns anos.
    E claro que percebi imediatamente que não tinha a tampa e, se ele a tinha tido com ele algum dia, tê-la-ia partido ou perdido há muito.
    Eu já conheço a história do vendedor que tem a peça que falta lá em casa ...
    Mas eu nem quis saber da tampa, ela era bonita sem ela.
    Claro que preferiria que a tivesse, mas na falta dela, senti que tinha achado o meu tesouro nesse dia, pois é o tipo de peça que me preenche. É lindíssima!
    Ainda hoje, centenas de peças adquiridas depois, continuo a gostar imenso dela e tenho sempre guardado um lugar de destaque na casa.
    A sua ingenuidade, o desenho firme de quem sabe o que faz (porque deve ter feito muitas centenas delas) e o monocromatismo são coisas que me encantam sempre.
    É verdade que este tipo de desenho ingénuo dá à peça uma idade enganadora, pois parece mais velha do que realmente é, sabemos hoje - na altura pensei que fosse muito mais antiga do que me parece hoje.
    Eu estou perdido na classificação desta peça, no entanto, e tal como tu, penso que será um peça da região centro, depois de ter visto tantas outras classificadas, que se lhe assemelham.
    Há gente que não tem dúvidas (como a malfadada "múmia paralítica"), mas eu tenho, e cada vez que vejo mais coisas, continuo com elas ainda mais fortes.
    Seja de onde for, continuarei a dar-lhe um lugar destacado lá em casa.
    Manel

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    1. Manel

      Esta terrina, mesmo sem tampa é linda.

      Neste post, coloco a hipótese de ser uma produção de Coimbra ou Alcobaça, pois apresenta a cor amarelada e a mesma forma fazer uma paisagem desses centros de cerâmicos.

      Mas esta terrina tem a particularidade de conseguir dar uma certa ideia de perspetiva, ao contrários dos casarios infantis de Alcobaça. Talvez seja mais antiga do que as datas que eu proponho. Enfim, não há certezas em faianças sem marcas.

      Um abraço

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  2. É muito bonita. Gosto muito deste tipo de loiça. Boa tarde!

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    1. Margarida

      Peço desculpa pelo atraso da minha resposta, mas de vez em quando a nossa vida complica-se e deixamos de ter tempo para vir aqui.

      Esta louça de Coimbra ou Alcobaça é muito bonita, mas como as peças nunca estão marcadas, tudo o que escreva acerca delas é sempre marcado pela incerteza.

      Uma boa semana

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  3. Boa tarde Luis
    Bom trabalho, consegui identificar um prato da Olaria. -grato
    Vitor Pires

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    1. Caro Vítor

      Muito obrigado e ainda bem que este post foi útil.

      Um grande abraço

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