sexta-feira, 21 de abril de 2023

Uma base de um tocheiro



Como já aqui referi anteriormente tenho um certo gosto eclesiástico herdado da minha avó Mimi e sempre ambicionei ter um tocheiro, essa peça barroca, tão característica das nossas igrejas. Mas a minha casa é muito pequena para encaixar tocheiros de grandes ou médias dimensões e por outro lado, os que aparecem nos mercados de velharias são muitas vezes más cópias dos anos 50 ou 60 do século XX ou mesmo quando são antigos, foram pintados e repintados com dourados esgaivotados ou demasiado estridentes.

Recentemente comprei esta base de tocheiro, que me pareceu muito boa. A talha é de boa qualidade e o dourado é bonito. Creio que é antigo, do século XVIII, em estilo D. José, com aquelas curvas e contracurvas em CC e SS, mas é sempre complicado datar estas peças. Houve uma certa persistência do gosto barroco em Portugal, mesmo quando este passou de moda, e nos século XIX e XX com os revivalismos, os tocheiros barrocos voltarem a ser produzidos e muitos foram até electrificados.

Foto retirada de Colecção de mobiliário do Museu-Biblioteca Condes Castro de Guimarães / José António Proença. - Cascais : Câmara Municipal de Cascais : Museus Municipais, 2009


Sempre imaginei que estes tocheiros fossem só usados nas igrejas, mas recentemente ao folhear o catálogo da Colecção de mobiliário do Museu-Biblioteca Condes Castro de Guimarães encontrei reproduzido um tocheiro, não muito diferente do meu, onde o autor, José António Proença, na respectiva entrada descritiva explica, que foram também usados na iluminação das casas particulares. Surgiram na segunda metade do século XVII e eram por vezes encomendados conjuntamente, entre outros, com espelhos, credencias, formando mobílias de grande aparato e impacto visual, convertendo-se num excelente indicador da riqueza e opulência do proprietário. Gozaram, de grande aceitação durante a centúria de setecentos, acompanho as alterações formais e decorativas ao longo desse período

Este meu tocheiro é só um fragmento e como tal pouco valor comercial tem. Ultimamente tenho visto muitos programas da série francesa Jour du Brocante sobre compra e venda de velharias e antiguidades em França e com efeito tudo o que está partido, fragmentado, incompleto ou em mau estado vale imediatamente menos dinheiro. Estes programas franceses, que se podem ver no you tube, puseram-me a matutar neste meu hábito de comprar cristos sem braços, meninos jesus com as mãos partidas, restos de serviços de porcelana, pedaços de talha dourada, pratos gatados ou de catar azulejos antigos em tulhas de obras e que tudo isto no futuro, não valerá um caracol. Mas como sou um sentimental, esta caqueirada toda em casa cria um ambiente especial no qual me sinto bem.


Bibliografia consultada:

Colecção de mobiliário do Museu-Biblioteca Condes Castro de Guimarães / José António Proença. - Cascais : Câmara Municipal de Cascais : Museus Municipais, 2009

2 comentários:

  1. Esta base deve ter pertencido a um bom tocheiro dada a qualidade da talha.
    Está incompleto, pois, nada a fazer.
    Poderás sempre utilizar esta parte de tocheiro como base para uma escultura, pois parece-me que se adapta perfeitamente.
    Quanto ao facto de se ter peças partidas, restauradas, rachadas, gatadas, pois nada a fazer também. Ou se gosta de ter estas peças em casa ou não, e no último caso, deitam-se fora ou revendem-se a preços económicos.
    No entanto, se nos ligam razões sentimentais ou de gosto, podem-se sempre fazer decorações bem interessantes e inusitadas. Podem também utilizar-se estes bocados em composições que nos agradem.
    A não ser que queiramos fazer dinheiro com estas peças, e neste caso, realmente valem pouco, mantê-las conosco será porque nos prendem razões sentimentais ou de gosto.
    Manel

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    1. Manel

      Como bem escreveste, a qualidade da talha é muito boa e a peça vale por si, apesar de incompleta.

      Também pensei usa-la como plinto para alguma imagem religiosa, mas o que tenho é tudo muito pequeno e o conjunto ficaria desproporcionado. Por enquanto, fica numa mesa ao lado da do relógio francês. Quando tiver uma casa maior, compro também um santo maior para coloca-lo nesta base de tocheiro...e enfim, lá estou como a Mofina Mendes, aquela personagem do Gil Vicente, a imaginar tudo aquilo que comprará com o cântaro, que leva na cabeça.

      Um abraço

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