Elina Bravo Borges de Ferreira Montalvão. Foto de Vidal & Fonseca, na Calçada do Combro 29, Lisboa |
Já aqui tinha apresentado este retrato de Elina Bravo Borges de Ferreira Montalvão (1884-1912) e contado alguns fragmentos da história desse ramo familiar.
Esta jovem de ar tão doce era filha de um irmão da minha trisavó, o General António Vicente Ferreira Montalvão (1840-1919), que fez uma carreira brilhante nas armas e casou muito bem, com uma senhora da boa sociedade lisboeta, Mariana das Mercês Bravo Borges (1858-1888). Aliás, este general foi o irmão mais acertado da ninhada. A minha trisavó, Maria do Espírito Santo (1856-1902), envolveu-se com um padre, relação da qual nasceram dois filhos e outro irmão, o Miguel (1838-1890), nunca casou e morreu louco rodeado de livros.
General António Vicente Ferreira Montalvão (1840-1919) |
Mas em 1902, à data deste retrato da doce Elina, estes assuntos já eram um pouco águas passadas, a Maria do Espírito Santo tinha morrido em Março deste ano e o General António Vicente Ferreira Montalvão sentiu-se mais à vontade para regressar a Chaves, sem ter que lidar com a situação incómoda de encontrar a irmã a viver em mancebia com um padre. Na época, estas situações não eram raras, mas em todo o caso não eram socialmente as mais desejáveis. Seja como for, a filha do general, que teve uma educação esmerada, com o curso superior de piano, discípula de Viana da Mota, travou conhecimento com o primo, o José Maria Ferreira Montalvão (1878-1965), filho bastardo do padre e da fidalga e entre eles terá nascido uma amizade. Assim em Dezembro desse ano de 1902, a Elina ofereceu o seu retrato ao meu bisavô e numa caligrafia elegante de quem recebeu a melhor das educações, escreveu esta dedicatória: José, envio-te o meu retrato accedendo ao teu pedido e para te provar que te estimo como a um irmão. Tua prima Elina. 19-12-902.
O verso do retrato de Elina. José, envio-te o meu retrato accedendo ao teu pedido e para te provar que te estimo como a um irmão. Tua prima Elina. 19-12-902 |
Na altura, em que apresentei este retrato, o meu amigo Manel, comentador residente deste blog, achou que o meu bisavô teria tido uma paixoneta pela prima Elina. Mas achei isso um exagero. Contudo, a minha prima Ana Paula Montalvão Vasques ofereceu-me mais uma resma de fotografias antigas e entre elas estava um retrato do meu bisavô, no momento da sua formatura em direito, na Universidade de Coimbra. Tenho outro exemplar dessa fotografia, tirada no estúdio do Pinho Rodrigues de Coimbra, mas esta foi dedicada à prima Elina e o texto é o delicioso: À sua adorada Elina, modelo de virtudes, com a graça das nymphas crystallinas, oferece com juramento de eterno amor, o seu primo e adorado José. Coimbra, 24-6-902.
.José Maria Ferreira Montalvão no momento da sua formatura. Foto de Pinho Rodrigues, Coimbra |
O verso do retrato. À sua adorada Elina, modelo de virtudes, com a graça das nymphas crystallinas, oferece com juramento de eterno amor, o seu primo e adorado José. Coimbra, 24-6-902. |
Esta dedicatória naquela linguagem arrevesada da época, prova que o meu bisavô sentiu efectivamente uma paixoneta pela prima. Mas, o mais curioso, é que a fotografia nunca foi entregue à suave Elina e ficou nos arquivos da família até aos dias de hoje. Talvez o José Maria Ferreira Montalvão tenha pensado duas vezes e concluído que o namoro com uma prima direita não era o mais adequado ou a própria Elina o tenha desencorajado nalguma carta.
Esta terna afeição entre os primos não teria passado de uma troca de fotografias e talvez de uma ou outra carta e logo no ano seguinte, o José Maria casou em 17 de Julho de 1903 com a Ana da Conceição de Morais Alves e a Elina casou a 14 de Julho de 1910 com Leopoldo de Montalvão de Lima Barreto Pereira Coelho, também primo, mas mais afastado.
Sei que talvez esteja a ser um pouco indiscreto, revelando a intimidade dos meus antepassados, mas quem não perdoará ao meu bisavô ter experimentado uma paixoneta por esta jovem, que ainda hoje, passados 120 anos, nos parece tão doce.
A doce Elina |
Linda
ResponderEliminarCaro António
EliminarMuito obrigado pelo comentário. Este é o retrato de uma daquelas jovens do passado, bem educada, prendada, sabendo tocar piano e falar francês e com ar talvez demasiado doce, para estar preparada para a vida. Talvez seja esse último aspecto, que me encanta mais neste retrato.
Um abraço
Boas memórias!
ResponderEliminarO que mais irás descobrir!
Abraço
Caro(a) anónimo (a)
EliminarAs fotografias e as cartas revelam um mundo tão diferente do nosso, com códigos, formas de estar, que nos surpreendemos sempre.
Um abraço e obrigado
Esta fotografia é uma graça.
ResponderEliminarRevela uma jovem com um ar muito doce, parece ter sido uma pessoa tranquila, e ainda por cima com uma educação muito especial, o que não era assim tão comum entre pessoas da mesma classe social.
Pena que não tenha casado com a pessoa adequada, de acordo com o que soube sobre o marido da senhora - de qualquer maneira casou tarde, dada a idade que era considerada normal para as jovens daquela época.
E faleceu muito jovem, com apenas 28 anos, só dois anos depois de casada. E teve apenas um filho.
Quando vi o falecimento da senhora com esta idade, pensei que tal se tenha devido ao parto, como era, infelizmente, hábito na época. O parto era uma das causas frequentes de morte.
A fotografia é realmente belíssima.
Não admira que o teu bisavô tenha ficado muito impressionado com esta jovem.
Claro que o facto de serem primos direitos tornava difícil o casamento entre ambos, e, em simultâneo, as relações entre os dois irmãos, pais destas duas pessoas, não teriam sido as melhores, dado, em parte, à situação marital da tua trisavó.
Entendo toda esta conjuntura à luz do que esta jovem escreveu na parte de trás da carte de visite. Como que a chamar à razão o primo (teu bisavô), para a impossibilidade de tal união vir a verificar-se.
Um final triste para uma jovem que tão bem tinha sido educada e, supostamente, bem preparada para a vida. Um futuro que nunca chegou a concretizar-se
Manel
Manel
EliminarEstas fotografias antigas têm a capacidade de nos fazer sempre imaginar uma história e são uma fonte de fascínio.
No fundo sei pouco acerca do flirt entre estes jovens no ano de 1902, tirando o que nas dedicatórias está escrito. Talvez no espólio, encontre uma ou outra carta trocada entre a Elina e o José Maria.
Isto é como uma história em vários capítulos, só que não são apresentados cronologicamente.
Um abraço e obrigado pelo teu comentário