Este ano para comemorar o 16º aniversário do blog velharias do Luís, apresento um ferragacho, comprado recentemente e que ilustra bem os meus interesses na vida, bibelots antigos fora de moda, pratos de faiança gatados, chávenas de chá desirmanadas, estampas de santinhos, velhas fotografias e documentos de família de há cem ou duzentos anos, tudo coisas com pouco ou nenhum valor comercial, mas profundamente sentimentais.
Sou irresistivelmente atraído por ferragachos e estou sempre à procura deles nas feiras de velharias naqueles panos que estendem no chão com parafusos, fechaduras, ferragens e puxadores. Este gosto é de tal ordem, que quando mudei de casa e encomendei móveis de cozinha novos, disse logo ao mestre-de-obras que não se preocupasse em colocar puxadores, pois eu já tinha uma colecção deles, provenientes de antigas cómodas, roupeiros ou mesinhas de cabeceira e quando o Senhor acabou de montar os armários e aparafusei essas velhas ferragens, consegui que a cozinha perdesse um pouco daquele ar asséptico e ganhasse, alguma graça e interesse.
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Os puxadores dos armários de cozinha da minha casa são ferragens compradas em feiras de velharias |
Quanto a este último ferragacho, que comprei, é uma peça pesada, em bronze dourado, uma figura qualquer da mitologia, que em tempos esteve aplicada numa cómoda, numa mesinha ou num armário de biblioteca, provavelmente nos cantos. Não sabia de que época era, o mais o mais provável é que seria coisa do século XIX, ao estilo Luís qualquer coisa, pois nesse período misturavam na mesma peça, relógio, mesa ou cadeira vários estilos do séculos passados em simultâneo.
É curioso que quando a tentei fotografar usei uma técnica habitual aqui no blog e que resulta em quase todas as peças, deitei-a sobre vários panos, uns de damasco, outros de veludo, azuis ou vermelhos para experimentar em qual ela ficaria melhor. Tenho até uma série de retalhos destinados para esse efeito e normalmente resulta sempre. Porém, com esta ferragem as fotografias ficavam mal, desfocadas ou então a peça parecia uma coisa tosca e pesada. Lembrei-me então que esta figura não foi concebida para ser vista deitada e que tinha que estar na posição vertical. Pendurei-a então no canto de dois móveis lá de casa, fiz vários instantâneos e então esta figura ganhou a fotogenia e charme merecidas, pois estava na posição original, para a qual nasceu algures na segunda metade do XIX.
Muito características do mobiliário francês, estas ferragens são por vezes conhecidas pelo nome de espagnolette ou mais simplesmente chute en bronze. No século XVIII, os franceses fabricaram alguns destes bronzes decorativos de mobiliário de uma qualidade excepcional, como um exemplar que encontrei na net, no musée des Arts Décoratifs, de Paris, do mestre Charles Cressent.
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Charles Cressent (1685-1768), Buste d’espagnolette bouclée. Musée des Arts Décoratifs, Paris, Inv. 9544 A-B |
Mas a minha peça é muito mais modesta, feita já por um processo industrial e em tempos teve o seu par, que entretanto se perdeu e cada um deles e estaria no canto de um móvel. Aliás encontrei à venda no portal francês de antiquários, o Proantic.com, uma cómoda do século XIX com umas ferragens iguais a esta e com os dourados impecáveis. Como suspeitei desde o início a minha peça é da segunda metade desse século, destinada a um desses móveis do tempo de Napoleão III (1852-1870), inspirada no estilo Luís XIV.
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Cómoda do século XIX com umas ferragens iguais a minha. Proantic.com |
Curiosamente este móvel, que encontrei no portal francês de antiquários, proantic.com, está à venda numa casa de antiguidades na Polónia.
Nestas coisas entretenho-me eu, abstraindo de um quotidiano que por vezes é aborrecido e desgastante.
PARABÉNS DR.pela data comemorativa e pela história fantástica bj
ResponderEliminarParabéns para o blog e para o seu autor.
ResponderEliminarGrande história, grande blogue! Grande como tu, Luís 😉
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