segunda-feira, 10 de maio de 2010

A escadaria do patio interior do Solar dos Montalvões

No álbum de fotografias do meu pai, descobri mais uma fotografia do pátio interior do Solar dos Montalvões em Outeiro Seco, datada da década de 30. Mostra o meu bisavô José Maria Ferreira Montalvão, o meu avô paterno Silvino da Cunha e a criança será a irmã do meu pai, Maria Helena que ainda está viva. Mas, talvez o melhor da fotografia, seja o pormenor com que se pode ver a voluta final da escadaria.
Na porta do topo da escadaria, está uma data, 1782, que conforme eu referi no post 23 de Outubro de 2009 deve referir-se à data de construção da escadaria. Tal como o sino, esta obra terá sido feita no tempo Antónia Maria de Montalvão Morais (1732-1809)(n.20 do livro Os Montalvões), que na altura já se encontrava viúva do seu marido, Miguel Alvares Ferreira, falecido em 1779, ou talvez ainda por algum dos seus filhos mais velhos.

Segundo J. T. Montalvão afirma na sua obra, Os Montalvões, terá sido o sogro desta Senhora, o Capitão José Alvares Ferreira o principal construtor da casa, ou conforme interpreto eu, foi o responsável pela fachada nobre do edifício, que dá para o lado sul. O único brazão da casa, que se encontra nessa fachada é dos Álvares Ferreira. Os Montalvões aparecem nesta casa por via do casamento em 1746 desta Senhora, Antónia Maria de Montalvão Morais com Miguel Alvares Ferreira, filho do tal capitão de cavalos, José Alvares Ferreira. A Antónia Maria morava ali numa povoação ao lado, Vila de Frade, os dois pertenciam mais ou menos ao mesmo meio, fidalguia rural e o casamento entre os dois deve ter sido combinado espontaneamente entre os pais. A pequena Antónia Maria casou com 14 anos, acto que hoje seria considerado pura pedofilia, mas na época era comum casarem as raparigas um ou dois anos depois da primeira menstruação.

Todos os descendentes deste matrimónio, inclusive eu, deviam chamar-se Álvares Ferreira, em vez de Montalvão, mas na época, em que aquele casal viveu e gerou os seus filhos, pelo menos na zona de Chaves, transmitia-se o nome à espanhola, isto é, o nome ou nomes do pai eram colocados logo a seguir ao nome próprio. Mais tarde, julgo eu, que já no início do Século XIX, passaram a usar a regra portuguesa, em que o último nome é o principal e os meus antepassados passaram aos filhos Montalvão, o nome feminino, que já estava tão a jeito colocado no final, em vez de Álvares Ferreira.

4 comentários:

  1. Será que no canto inferior esquerdo vejo uma galinha? E no topo da escadaria está uma infusa, creio eu! Instrumentos que nos lembram que a vida, ainda que numa grande casa, era feita de pequenos nadas, como, afinal, todas as outras!
    Mas são impressionantes os monólitos em granito nú, aparelhado, que constituem as paredes. Fazem-me lembrar as muralhas de uma qualquer cidade micénica!
    A rudeza da pedra a contrastar com a delicadeza da voluta trabalhada. A beleza a brotar dos contrastes!
    Interessante o facto de cruzares os habitantes/donos da casa com os diversos ciclos construtivos, que, creio, serem pelo menos três, a julgar pelas diferenças de cota dos pavimentos, da qualidade das edificações e do próprio arranjo dos espaços.
    Manel

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  2. Olá Luís,
    Quero apenas dizer que a foto da escadaria é fantástica. Eu ainda a conheci assim quando levava o crucifixo na Benção Pascal e lá vivia ainda o Dr. João e a Laurinda.
    Um abraço,
    Berto

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  3. Olá Luís
    Afinal há qualquer coisa que nos liga...
    O apelido que deveria ter tido...
    Ferreira!
    Por parte de minha mãe, também ela uma Ferreira
    Então e onde está o Brasão?
    E, o anel?
    Não vale dizer que nada ou pouco sabe sobre estes temas
    Vamos lá por a "mexer" os cordelinhos e tentar saber mais...
    Estou curiosíssima!
    Tanto brasões como anéis de burguesia,fazem as minhas delícias
    Um dia, estive para comprar um em segunda mão ali na Rua Augusta, para por no dedo mendinho
    Coisa de vaidades!
    Mas que fazer, se tal prazer me encanta?
    Também tenho direito a devaneios
    Beijos
    Isabel

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  4. Cara Isabel

    Sempre associei a heráldica e a genealogia a um certo pretensiosismo, a gente com algum nome, sem dinheiro, que vive num triste três assoalhadas, algures nos subúrbios de Lisboa e que através dessas duas disciplinas tenta parecer mais do que é realmente. Talvez por também não ter dinheiro e viver num t1 e descender duma velha família, nutra uma certa antipatia por essa gente.

    Por outro lado, não me interessa nada saber se sou 4º neto deste ou 5º neto daquele, nem que os Souza se cruzaram com os Mello, com dois “LL”, no século-do-troca-o passo. Interessa-me é perceber ou pressentir para lá das árvores genealógicas ou dos brazões a vida, os sentimentos e os dramas de quem já morreu há muito.

    Nas suas memórias, a Yourcenar escrevia mais ou menos isto, que se começava a fazer genealogia por vaidade, mas quando iniciávamos o desfolhar e desfolhar das gerações e gerações de gente morta, que nos antecedeu, se chegava rapidamente ao abismo, isto é, ao precipício que antecede a morte.

    No entanto como me propus a mim divulgar e avançar com a compilação feita pelo meu pai acerca do solar da família Montalvão, vou tentar perceber um bocadinho mais esta história dos brazões de família e prometo falar nisso com algum pormenor

    Abraço

    Luís

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