quarta-feira, 12 de maio de 2010

O balcão alpendrado do Solar dos Montalvões

Há uns quatro anos ou cinco anos, quando voltei a visitar o Solar dos Montalvões, em Outeiro Seco, um dos sítios por onde tentamos entrar na casa foi por onde antigamente existia o jardim e um balcão alpendrado.
Penetrar no mato denso que ali se formou entretanto constituiu uma aventura. No entanto, fiquei quase comovido ao ver no meio dum silvedo uma hortênsia com uma grande flor azul, a lutar ainda pela vida. Fez-me recordar como foi aquele espaço há trinta anos atrás. Era formado por uma alameda, onde do lado da casa existiam hortênsias azuis e por um pequeno pátio, servido por uma bica, sempre com água a correr. Recordo-me bem da sensação frescura de lá meter a mão, pois claro, um garoto não resiste a brincar com água.

Segundo o meu pai, “todo o jardim era coberto por um dossel de videiras [bem visível na fotografia], que proporcionavam um espaço de sombra e frescura e ainda uma atmosfera de sombra verde. Havia encostado num dos muros do jardim, uma coluna de pedra trabalhada”. Ainda segundo o meu pai, esta coluna de pedra “deveria servir para uma das muitas obras que não foram completadas”.
Essa coluna foi hoje transferida para uma área, ajardinada junto à Igreja de Nossa senhora da Azinheira. Reproduzo aqui duas fotografias tiradas pelo nosso amigo Humberto.
Este jardim conduzia a uma escadaria em pedra, para onde se subia para um balcão alpendrado, mobilado com peças simples e rústicas. Uma delas, uma cadeira em tesoura ainda veio parar as minhas mãos, mas desfez-se em pedaços roída pelo caruncho, no tempo em que ainda vivia na Av. do Uruguai. As colunas do alpendre eram em granito e muito bonitas. Hoje, estão a partir-se pela pressão das raízes de uma hera.

Na primeira fotografia que aparece no post, encontram-se debaixo deste alpendre, a minha avô Mimi, o meu bisavô José Maria Ferreira Montalvão, uma menina, talvez a irmã do meu pai e ainda um fiel Piruças, de que a história não guardou registo. Nessa fotografia é Verão, conforme se pode ver pelas mangas curtas da minha avó e da menina. Com efeito, o jardim e este balcão eram zonas da casa muito frescas e procuradas por toda a família durante o Verão, que é uma estação muitíssimo quente em Outeiro Seco. Mesmo quando já só vivia uma velha criada perfeitamente só naquele velho casarão, na década de 70, continuavam-se a fazer reuniões familiares nestas duas áreas e é desse tempo que datam as minhas escassas memórias desta parte da casa.

3 comentários:

  1. Julgo que essa coluna avulso, juntamente com outras que acaso deveriam existir, mas que se devem ter perdido, talvez se destinassem a construir uma espécie de cobertura colunada destinada à escada do pátio de honra que nunca foi construída, e que levaria ao corpo nobre do solar. Faz sentido que assim fosse, como acontece noutros solares portugueses.
    Quanto a este espaço a que te referes, achei-o perfeitamente encantador, e, no seu tempo, deve ter sido um dos rincões mais agradáveis da casa.
    Quando ali estive, há 4 ou 5 anos atrás, já a casa estava uma ruína completa, ainda se podia ver como era agradável estar ali, pois ainda era Verão e dava gosto a frescura daquela selva; até me deixei ficar um largo bocado sentado nas pedras junto às colunas a gozar a vista que dali se tinha e a sentir a brisa que passava!
    Manel

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  2. Luís,
    agora é a minha vez de dizer-te o seguinte: essa prosa anda a perder-se por aqui. Mais do que o prazer voyeuristico de ler a tua memória, é o prazer do estilo da tua escrita que me faz voltar.

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  3. Manuel Braga Serrano!!!!!!!

    Que surpresa encontrar-te aqui. O teu comentário deixou-me satisfeitíssimo, pois como já te afirmei em anteriores ocasiões sempre tive muito em conta a tua opinião. No chat, de onde nos conhecemos, destacavas-te sempre pela tua maturidade intelectual, impressão que confirmei nos escritos dos teus blogs.

    Sabes? Nunca achei que tivesse jeito para escrever. Os meus professores de português davam-se sempre uns “dezes” e uns “dozes” e escreviam-me a sempre a vermelho nos testes umas coisas meias desagradáveis. A minha criatividade normalmente expandia-se através do desenho. Enchi cadernos e cadernos com centenas de desenhos. Só aqui neste blog, descobri o prazer de escrever, porque permite-me tal como o desenho, expressar ideias, criar coisas que não existiam.

    Um grande abraço e volta sempre

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