quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sta. Catarina de Alexandria: gravura dos finais do século XVIII

Já aqui escrevi sobre Sta. Catarina de Alexandria, figura lendária cuja existência se confunde com a mítica Hipácia, a mulher filosofa, que defendia os ideiais do conhecimento helénico face a um Cristianismo cada vez mais asfixiante e que por essa razão terá sido assassinada por uma turba enfurecida, em 415 da nossa era.


Mas, desta vez, poupo-vos aos pormenores da vida da santa e o mote deste post é autor do registo que vos apresento, provavelmente datado dos finais do século XVIII. Apresenta Santa Catarina com a iconografia tradicional, a palma e o instrumento do seu martírio, a roda. Ao fundo há um pormenor delicioso, que representa a Santa quebrando a roda, com a força da sua fé.



Tirando o pormenor anedótico da Santa quebrando a roda, o desenho da estampa é mais académico e clássico do que o da maioria dos registos da época e iremos perceber porquê.



Como poderemos ver, no rodapé do lado esquerdo, a estampa está assinada por Godinho. O “F” no final, é abreviatura da palavra latina fecit, que quer dizer obviamente “fez”. O Senhor que a fez trata-se provavelmente de Manuel da Silva Godinho, um gravador do século XVIII, discípulo de J. Carneiro da Silva, sobre quem já aqui escrevemos. Segundo Luís Chaves, na obra Subsídios para a História da gravura em Portugal. Coimbra, Imp. Da Universidade. 1927 este Manuel da Silva Godinho destacou-se como grande produtor de estampas devotas.

Talvez em virtude de ter sido aluno de J. Carneiro da Silva na aula de gravura da Imprensa Régia, a futura Imprensa Nacional, que ainda hoje existe, da Silva Godinho deixou um trabalho artístico mais clássico que os outros gravador de estampas religiosas.

Biblioteca Nacional possui no seu acervo umas quantas estampas, que estão on-line, deste gravador, datadas entre 1790 e 1800. Gostei particularmente do retrato de Bento Joze Labre, que roubei no site da referida Biblioteca e que aqui reproduzo.
 
 
Impresso numa cor azulada, o meu registo reporta-se à devoção praticada na ermida de Santa Catarina, em Lisboa, que se situava no alto de Santa Catarina, onde hoje é o palacete da Associação Nacional das Farmácias. A ermida era propriedade da Irmandade dos Livreiros, o que fazia todo o sentido, pois estava localizada muito perto dos bairros onde se distribuiam as  lojas destes comerciantes (Calçada do Combro, Bairro Alto, Chiado) e Santa Catarina,  famosa pela sua erudição e cuja figura se confundia com a filosofa Hipácia, era naturalmente sua patrona.

2 comentários:

  1. Olá Luís,
    Como já sabe, gosto também muito de gravuras, mas na altura em que publicou esta o tempo não me dava para nada e entretanto não voltei cá porque percebi que estaria de férias.
    A gravura é lindíssima com aquela moldura tão elaborada com grinaldas de flores e a extensa legenda que a acompanha.
    Gosto também da forma como apresenta os pormenores e os interpreta, para já não falar de toda a informação que fornece sobre o gravador e sobre a desaparecida ermida de Santa Catarina.
    Tenho vários posts pensados sobre gravuras, mas dão-me mais trabalho a preparar do que os das porcelanas e faianças, por isso, por preguiça mas sobretudo por falta de tempo, tenho vindo a adiar... Mas vou falar dum livro com uma bela gravura ainda hoje :)
    Abraços

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  2. Caro Luis

    Aqui lhe remeto outra versão do mesmo registo da minha coleção...

    http://tinypic.com/r/nnuoag/6

    E uma outra versão:

    http://tinypic.com/r/28uhie0/6

    Cump.

    ET

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