Bem, nesta altura do ano, as caixas de correio electrónico estão atafulhadas de postais de boas festas, com pais natais a dançarem quizomba, pinheiros de natal a piscar com muita luzinha e muitas outras coisas do mesmo calibre. Para evitar essa poluição nas vossas caixas do correio e para desejar as boas festas aos seguidores deste blog, mostro-vos hoje a jóia da coroa das minhas faianças, uma pia de água-benta atribuída a Viana, provavelmente fabricada nas últimas décadas do século XVIII.
A cruz e os instrumentos da Paixão de Cristo |
Demorei algum tempo a identificar esta pia de água-benta. Houve muitas fábricas de faiança na segunda metade do século XIX e no início do XIX a manufacturarem pias muito semelhantes a esta, como por exemplo Miragaia, no Porto.
Pia de água-benta Miragaia do Museu Nacional de Soares dos Reis |
Num catálogo de uma leiloeira, vi uma exactamente igual a minha, atribuída ao Rato, mas infelizmente perdi o rasto da publicação e não me lembro do número ou data. A Bica do Sapato e o Juncal também fizeram pias idênticas a esta.
Pia de água-benta da fábrica da Bica do Sapato. Museu Nacional de Arqueologia |
Enfim, estas pias seriam peças que as fábricas faziam sair com grande êxito, nos finais do século XVIII, princípios do XIX, para satisfazer uma sociedade profundamente religiosa, que usava estes objectos em casa, colocando-os em pequenos oratórios ou maquinetas para as suas devoções domésticas. Aliás esta pia tanto foi usada, tirada e posta da parede, para ser enchida com água benta da Igreja, que acabou por cair e estilhaçar-se em dezenas de pedaços. Foi posteriormente toda colada usando um papel por detrás para dar solidez ao trabalho, mas que tapou a marca, se é que existiu alguma vez.
Um detalhe da decoração da minha pia |
A decoração desta pia, é do tipo ruanesco, que foi um motivo usado por todas as fábricas de faiança desta época sem excepção. Portanto, não seria pela decoração que eu conseguiria identificar a minha peça.
Estampa 7 da Exposição de cerâmica das fábricas do distrito: duzentos anos de labor artístico. – Câmara Municipal de Viana do Castelo, 1970 |
Acabei por identifica-la por mero acaso, ao folhear o catálogo Exposição de cerâmica das fábricas do distrito: duzentos anos de labor artístico. – Câmara Municipal de Viana do Castelo, 1970. Na estampa sete, no conjunto de uma série de pias de água benta lá estava uma igualzinha á minha, atribuída a célebre Fábrica de Darque. A acreditar nesse livrinho, esta pia teria sido executada no 1º Período de laboração de Viana, 1774-1790/95, em que as peças apresentam uma grande influência da Louça de Ruão.