quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Os portos de mar segundo Claude Joseph Vernet

A entrada do Porto do Quebec segundo Vernet

O Manel comprou esta gravura muito barata na feira de Estremoz, que representa a entrada do porto do Quebec, a célebre cidade do Canadá, onde se fala orgulhosamente o francês, apesar de dois séculos de dominação britânica. É certamente uma gravura do século XVIII e conforme se pode ler na legenda foi feita a partir de um quadro de Claude Joseph Vernet (1714-178) pintor, desenhador e gravador Francês.


Não consegui descortinar se foi próprio Vernet quem a gravou, já que ele exerceu também essa profissão, ou se foi o filho ou neto que mantiveram a mesma profissão do pai. O site oficial das dos Arquivos e Biliotecas do Governo do Canadá assinala esta estampa, e data-a de 1792, relacionando-a com o filho de Vernet, Antoine Charles Horace Vernet, que terá mandado executar a estampa a partir da obra do pai. Mas o registo não apresenta nenhuma imagem e não é claro na atribuição da obra.

Vue d'un port. museu do Louvre

Claude Joseph Vernet adorava pintar portos de mar e paisagens marítimas ao entardecer, à noite, ou em manhãs cobertas de neblina. O céu e todos os efeitos de luz e cor ocupavam sempre dois terços dos seus quadros. Havia sempre também personagens pitorescas aqui e ali.

La nuit ou le clair de la lune. Museu do Louvre

A gravura do Manel apresenta todas as características da obra de Claude Joseph Vernet. É uma paisagem marítima, captada em um dia enublado, com o céu em destaque e umas personagens pitorescas no cais. Julgo que uma delas é um turco, que ali está para dar a ideia do cosmopolitismo do porto.

O céu enublado típico de Vernet na gravura do Manel
O turco

Claude Joseph Vernet notabilizou-se sobretudo por ter executado uma encomenda de 24 telas dos principais portos de França para o Rei de França, Luís XV. Só se realizaram 15 telas que encontram-se no Louvre e no Museu da Marinha em França, mas a partir delas foram feitas muitas gravuras, que são hoje muito disputadas pelos coleccionadores. Algumas delas estiveram expostas na Gulbenkian, na mostra sobre artes decorativas francesas, O gosto à grega.


O Porto de Bordéus.

A encomenda real para pintar os principais portos de França foi feita pela pessoa de Abel-François Poisson de Vandières, o irmão da amante oficial de Luís XV, a célebre Madame de Pompadour. Nesta altura, esse homem já tinha uma influência enorme na corte francesa, conseguida através da sua irmã, a Maitresse en titre do monarca. Tal como Madame de Pompadour, Abel-François tinha um apurado sentido estético e é juntamente com a irmã um dos responsáveis pela definição do chamado estilo Luís XV.


O Marquês de Marigny, irmão de Madame de Pompadour. Aqui acompanhado pela mulher. Museu do Louvre

O nosso Claude Joseph Vernet, que casou com uma senhora inglesa, era muito apreciado pelo público britânico, que sempre gostou de paisagens marítimas enevoadas e também tem a ver com o nosso País. Com efeito, pintou em parceria com Louis-Michel van Loo, um retrato do marquês de Pombal, que é uma das imagens mais conhecidas de toda história de Portugal e se encontra no Museu da Cidade. Julgo que o Vernet terá pintado o porto e o Michel van Loo o retrato.

O Marquês de Pombal.  Pintura de Vernet feita em parceria com Louis-Michel van Loo

Começámos no Quebec e acabámos em Lisboa.

12 comentários:

  1. Gostei muito do teu post, o qual tem uma pesquisa muito bem feita e completa, e, mais importante ainda, bem enquadrada na época, como, aliás, sempre nos habituaste.
    No entanto, face ao interesse que a gravura desperta nas pessoas, prevejo uma participação muito reduzida. As pessoas preferem outro tipo de peças ... lol
    No entanto fizeste o meu trabalho, quanto à pesquisa, pois ainda não tinha tido tempo para a fazer.
    Fiquei mesmo muito surpreendido pelos dados que revelaste, pois ainda não tinha dado conta que era do Vernet verdadeiro. Julguei que fosse doutro qualquer Vernet. Resultado do preço irrisório que paguei por ela, já com moldura. Só a moldura valia bem mais.
    Esta gravura não a adquiri em Estremoz, mas sim na antiquária, minha vizinha, e como ninguém a queria, ela tinha-a nas peças para vender ao desbarato ... aproveitei!
    Assim continue eu a encontrá-las, pois é a forma mais barata e interessante de decorar as minhas paredes.
    Um bem hajas
    Manel

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  2. Pois é Luís, estas coisas deixam-me roída de inveja, ainda mais quando o Manel vem aqui dizer que comprou a gravura ao desbarato.
    Eu não tenho essa sorte por aqui; no que toca a gravuras antigas, aparece muito pouca coisa. :(
    Agora com toda a história associada que o Luís conseguiu desvendar, além do nome do pintor das cenas a referência a outras telas da sua autoria, tudo bem enquadrado no contexto histórico, passa a ser uma peça com muito mais valor, pelo menos para mim estas coisas contam muito.
    As paisagens são lindíssimas, aqueles céus enevoados até me fazem lembrar Turner.
    A dobra que a gravura tem e mesmo a marca mais escura podem ser facilmente retiradas, o papel pode ser lavado e passado (segundo o que eu vou aprendendo nas aulas de conservação e restauro de livros), mas isso o Manel já deve saber.
    Abraços e bom fim de semana

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  3. Manel

    Fazer este trabalho de pesquisa dá-me um enorme gozo e depois parece que tudo nos conduz a personagens já nossas conhecidas, como a Pompadour e as porcelanas de Sêvres, o Marigny, o Luís XV ou as exposições que vimos em conjunto.

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  4. Maria Andrade

    Tem que descer mais vezes cá em baixo- por aqui compram-se realmente gravuras por preços muito em conta. julgo que a maioria das pessoas acham-nas tristes e a cheirar a mofo.

    a comparação com o Turner está bem vista. Aliás o público ingês apreciava muito este pintor.

    Maria Andrade. Embora já tenha trabalhado com livro antigo, pouco ou nada percebo de restauro de papel e os seus conselhos para limpar o papel ou tirar dobras são muito bem vindos e se quiser partilha-los aqui ficaria encantado.

    Abraços

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  5. Maria Andrade, não conheço quase nada sobre a limpeza do papel, e tenho um medo pavoroso de lhe tocar e estragar tudo. Por isso prefiro não lhe mexer. A limpeza do papel não é o meu campo ... :-(
    No entanto, já experimentei algumas técnicas com gravuras sem grande valor, como a limpeza do papel com água destilada, ou com uma borracha muito mole, daquelas que se usam no desenho a carvão.
    No entanto não me atrevi a mais nada, apesar de saber que se pode estabilizar a acidez do papel com químicos, mas, decididamente, sou um medroso, no que respeita ao papel.
    Manel

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  6. Luis,

    E as gravuras que resultaram da encomenda das telas, enquadrada pelas armas reais da França dos Bournons, apresenta a legenda:
    "La Ville et La Rade de ........
    Gravé après la Tableau Original, appartenent au Roy, et faisant partie de la Collection des Ports de France, ordennée par M.rle le Marquis de Marigny Conseiller du Roy en ses Conseils, Commandeur de ses Ordres, Directeur et Ordonnateur général de ses Bâtimens. Jardins, Arts, Academies et Manufactures Royales.
    Peint Par J.Vernet de l'Academie Royale de Peinture et Sculpture."

    Tenho algumas das gravuras dos portos, apesar de o tema do mar não ser um dos meus preferidos, para além da qualidade do traço, estas têm a particularidade de tratarem outros temas. Algumas das gravuras, não fosse a legenda mal se percebia que a temática principal é a do porto marítimo, por exemmplo a gravura do Porto de Toulon.

    Abraço
    C.

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  7. Caros Luís e Manel,
    Penso que os produtos usados na lavagem do papel não são agressivos, foi esse o processo usado para limpar o meu livro antigo "Thesouro de Prudentes", mas concordo que com as gravuras todo o cuidado é pouco.
    Vou procurar informar-me melhor sobre o assunto.
    Também já usei a borracha para limpeza, mas acho que será mais eficaz usar as aparas de borracha, dependendo claro do tipo de sujidade. O processo consiste em ralar um pouco de borracha (com um ralador de cozinha) sobre a superfície do papel e depois com uma bola de algodão esfregar em círculos sobre a mancha, sempre com o cuidado de verificar se não está a sair côr.
    Os vincos das dobras são muito difíceis de sair totalmente, mas mesmo assim vale a pena endireitar um pouco mais com uma passagem a ferro quente (em temperatura média e protegido por um pano de algodão sem químicos)pelo verso do papel.
    Ainda sei muito pouco sobre estas técnicas; por enquanto, grande parte dos processos limito-me a ver fazer, mas vou percebendo o que é que pode ser feito, por isso é que me atrevi a mandar aqui palpites... ;)
    Abraços

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  8. Caro C

    É um felizardo. Vi algumas dessas estampas dos portos de França, na exposição o "Gosto à grega" e fiquei fascinado. Enfim, gosto muito de gravuras e essas com paisagens, casas, portos, fascinam-me. É um gosto que o meu pai me passou.

    Abraços

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  9. Maria Andrade

    Já vou experimentar o conselho de engomar uma estampa, um S. Sebastião que comprei na Feira de Estremoz.

    Experimentei limpar gravuras com um algodãozinho e água destilada, mas o suporte começou a esfarelar. Talvez esse método da borracha desfeita resulte melhor e seja menos agressivo para o papel.

    Abraços e obrigado pelpos conselhos

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  10. Maria Andrade
    muito obrigado pelos seus palpites, irei tentar algums das técnicas em gravuras menos importantes que possuo, para ver se consigo alguma coisa. Se conseguir, as outras que me aguardem ...lololol, irá de barrela para cima! Não é verdade, que até medo tenho de tocar nas gravuras com mãos nuas!
    Manel

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  11. COMO POSSO SABER SE O QUADRO DE JOSEPH VERNET INTITULADO A ESTRADA É AUTENTICO.

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  12. Meu caro amigo

    Terá que consultar os vários livros escritos sobre o autor, para tentar perceber se o seu quadro é uma cópia ou não, tentaria virar o quadro para perceber se é antigo e estaria atento para observar se a superficie apresenta o craquelê típico das pintura com muitas dezenas de anos. Enfim, eu não sou perito em pintura, mas tentaria saber tudo sobre Vernet

    Um abraço

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