O Manel conseguiu a proeza de comprar uma pequena terrina de Sacavém, dos primórdios da fábrica, mais exactamente entre 1856 e 1861. O conjunto está num óptimo estado de conservação e ainda para mais completo. É composto pela terrina propriamente dita, pela travessa e pela concha, o que é muito raro, pois esta é sempre a primeira coisa a partir-se.
A marca de Sacavém, do período de Manuel Joaquim Afonso, 1856-1861 |
A peça está marcada, com um monograma, que apresenta as iniciais MJA e as palavras Fábrica de Sacavém. Segundo a obra Porta aberta às memórias. 2 ed. . Museu de Cerâmica de Sacavém, 2009 esta marca corresponde ao período de 1856-1861, ou seja à época mais antiga da Fábrica, anterior aos patrões ingleses, que dominaram praticamente toda a existência de Sacavém. Esta encantadora terrina foi feita no tempo em que o industrial Manuel Joaquim Afonso fundou a fábrica na Quinta dos Coruchéus com licença para produzir cal hidráulica, cimento e porcelanas artificiais. Este Senhor não era um amador qualquer. Era um industrial conceituado, tinha estado na Vidraria da Marinha Grande e quando fundou Sacavém já era proprietário de uma fábrica de vidros e cerâmica em Lisboa.
Sacavém, ainda antes de ser comprada pelos ingleses, arrancou logo com um fabrico de grande qualidade |
Em suma e também a julgar pela qualidade desta terrina, que se não fosse a marca, qualquer um de nós diria que era inglesa, Manuel Joaquim Afonso (1807-1871) começou a produção desde logo de uma forma moderna, para os padrões da época, que nada a tinha a ver com o ar artesanal dos pratos estampilhados ou pintados à mão de uma Fábrica da Fervença ou Bandeira.
Sacavém e o azulejos do padrão bicha-da-praça, uma combinação feliz |
Apesar da evidente qualidade da cerâmica produzida por esta unidade industrial, os negócios não correram bem a Manuel Joaquim Afonso, houve um incêndio, terá sido roubado pelos sócios e enfrentou ainda uma crise económica, de modo que, em 1861, passou a Fábrica para as mãos do inglês John Scott Howorth e desde essa altura até ao seu fecho, Sacavém manteve-se propriedade de patrões ingleses.
A raridade de um conjunto completo, onde nem a concha falta |
Para saber mais sobre este período recomendo a obra História da Fábrica de Loiça de Sacavém. Museu de Cerâmica de Sacavém, 2000 ou o blog do nosso amigo Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém
Luís
ResponderEliminarBoa noite
Mas o Manel tem uma sorte
Lindissíma essa terrina
Uma peça maravilhosa
Os meus parabéns ao Manel
Um abraço para os dois
Cara Grace
ResponderEliminarAgradeço sempre os seus comentários tão simpáticos.
Abraços
Quando, há muitas semanas atrás, vi esta terrina na banca tinha a certeza que era inglesa! Não poderia ser doutra forma, virei-a e ... esbugalhei os olhos e vi que afinal era dos inícios da fábrica de Sacavém! Não queria acreditar.
ResponderEliminarUma peça com 150 anos e, coisa rara, completa com concha e tudo, e, o que foi mais incrível foi o facto de estar à venda por quase nada.
Aliás, se estivesse à venda pelo preço com que normalmente se deveria vender, com certeza não a poderia pagar e deixá-la-ia no lugar para que outro a comprasse.
Mas, pelo preço, era irrecusável!
Claro que, logo a seguir a mim, reparei, outro a cobiçava de longe e já fazia sinal ao vendedor que a iria comprar ele.
Fiz de conta que não percebi nada e, claro, já não saiu da minha mão ... nem deixei o vendedor embrulhar nem nada, não fosse a peça escapar-me!
Enfim, corridas contra-relógio!
Mas a peça valia a pena!
Agradeço as palavras sempre amáveis da Grace e retribuo-lhe o cumprimento
Manel
Gostei muito das fotografias.
EliminarEstão com um claro escuro muito apelativo.
Estás a tornar-te um pro!
Manel
Olá Luís,
ResponderEliminarMais uma peça de exceção que o Manel desencantaou com um golpe de sorte e que o Luís apresentou aqui com um texto bem informativo e com reflexões muito a propósito.
Eu nunca vi nada à venda com esta marca do período MJA, mas se visse, nestas feiras por aqui, seria certamente a um preço proibitivo.
Até porque há pormenores muito apelativos, não só a encantadora concha, mas também o botão da tampa e a inserção das pegas.
Eu também teria tomado este conjunto por inglês, mas acho que saltaria de excitação ao reconhecer a marca :)
Parabéns e obrigada ao Manel por ter partilhado estas belíssimas peças de Sacavém e a história da compra.
E concordo com ele, Luís, as fotos estão muito boas!
Um abraço para os dois
Maria Andrade
EliminarTem razão. Não só esta pequena terrina é encantadora, como os pormenores são também muito cuidados. Seria interessante tentar averiguar o motivo inglês ou estrangeiro, que lhe serviu de inspiração, mas essas coisas muitas vezes descobrem-se por acaso, quando se navega nos sites de antiguidades americanos ou ingleses.
Bjos e obrigado pelo seu simpático comentário
Manel
ResponderEliminarA compra desta peça foi um autêntico golpe de sorte.
O que mais me espantou nela, foi perceber que que Sacavém, ainda antes dos patrões ingleses, arrancou logo com uma produção moderna para os padrões da época, com uma qualidade idêntica aos dos fabricantes da Grã-Bretanha.
Quanto à primeira fotografia foi conseguida por acaso. E como gostei tanto dela, tentei desenvolver a ideia na última fotografia, procurando o efeito das antigas pinturas a óleo, em particular das naturezas mortas, em que no primeiro plano aparecem os objectos iluminados, em grande contraste com o fundo escuro.
Abraços
Luís,
ResponderEliminarjunto-me aos apreciadores das fotos, em particular da última, que me lembrou precisamente uma natureza morta (só faltam os produtos hortícolas!). Essa inspiração resultou muito bem!
Bjs,
Luísa
Luisa
EliminarDe facto, já há uns tempos que ando com ideias de fotografar umas destas faianças como uma natureza morta, mas faltam-se sempre os legumes, as flores ou os objectos para fazer uma composição ao gosto do séc. XVII. Mas lá chegarei
Caro Luís,
ResponderEliminarEste conjunto numa das minhas vitrinas ficaria 5 estrelas! Foi um autêntico achado e um golpe de sorte. Ando pelas feiras e nunca me saiu esta lotaria! Dou os parabéns pela compra. Pelo menos foi adquirida por alguém que a vai estimar. Tenho apenas um prato com esta marca.
Cumprimentos,
Hector
Caro Hector
ResponderEliminarTem toda a razão. Fui um achado, daqueles que acontecem dois em dois anos. Também é verdade, que o meu amigo Manuel anda muito pela feiras e tem muitas oportunidades para encontrar estes pequenos tesouros. Já tem também o olho muito treinado para numa banca cheia de trastes descobrir uma peça muito boa, que anda ali perdida.
Um abraço