segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Palestine de William Adams & Sons ou votos de um Natal


O tema deste post era para ser diferente. Tinha já na cabeça um texto escrito sobre uma peça de Sacavém. Mas lembrei-me que era Natal e apesar de eu nunca ter andado muito a reboque das épocas festivas neste blog, achei que devia mudar de tema, apresentando antes uma travessa inglesa, do século XIX, decorada com o motivo Palestina, a terra onde nasceu Jesus Cristo e desejar assim um bom Natal aos meus seguidores. 
 
E depois esta louça inglesa do Século XIX é muito apropriada para a época Natalícia pois evoca sempre tempos passados, casas antigas, grandes refeições com muita gente sentada à volta de mesas postas com toalhas de linho, bandejas com assados feitos em forno de lenha e pudins caseiros. Enfim, esta travessa evoca um verdadeiro jantar de Natal, sem essas porcarias que se compram já feitas no Continente.

Encontrei a travessa na Feira de Estremoz e estava muito suja e cheia de cola, de modo que a tirei por um preço estupendo, dez euros. Os Americanos pagam trezentos e seiscentos dólares por peças semelhantes, mas por cá ninguém liva pevides à louça inglesa. Não está marcada, mas apresenta no verso o nome da decoração, Palestine.

 
 
Fiz umas pesquisas no Google imagens, combinando três termos, em english potteryXIX century e Palestine e ao fim de uns quatro ou cinco minutos consegui identificar o fabricante, William Adams & Sons e a data provável de execução desta travessa, cerca de 1830-1840, que deve ser sido a bandeja de uma terrina, ou seja aquilo que franceses designam como um présentoir.
 
 
Mostra uma imagem fantasiosa da Palestina, que naquele tempo estava sob domínio otomano. No primeiro plano, vemos uma pérgula, uns cavaleiros turcos, uns senhores sentados num tapete oriental, tendo por cenário um lago, talvez o mar da Galileia e lá mais ao fundo, descortina-se uma cidade numa ilha, que mais parece uma espécie de Constantinopla em miniatura. É uma Palestina imaginada, romântica, com flores e lagos que nada tem a ver com o que foi a terra santa no passado e muito menos com a terra santa dilacerada pelas guerras e pelo ódio dos dias de hoje. Talvez tenha sido esse contraste, que me levou a fechar o post com uma música, que um amigo da net, israelita, partilhou comigo e que mostra uma imagem antagónica à desta travessa romântica.

25 comentários:

  1. Adorei o vídeo musicalJá há muitos anos que aprecio a música israelita. São geralmente canções com melodias muito bonitas,muito tristes e cadenciadas e que apesar de não se perceber a língua ,nos comovem. Este povo nas suas danças e canções mostram-nos a sua força, apesar de séculos de sofrimento e perseguições.Comprovei isto em Telavive,onde em certas praças,à noite se juntam pessoas de todas as idades e dançam à roda sem se tocarem numa cadência tão linda que faz com que as pessoas que estão a ver ,entrem na roda e dancem também.Muito obrigado.Graciete

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    1. Cara Graciete

      Esta música, que evoca a guerra do Yom Kippur, não precisa de tradução para transmitir-nos toda uma série de informações fortes. Não é um elogio da guerra, bem pelo contrário, é uma canção triste que nos causa um profundo arrepio. Por estas razões achei-a muito adequada ao Natal. E depois afinal de contas, Jesus Cristo nasceu judeu.

      Também esta música nos faz pensar que é uma tolice toda a gente ter que cantar em inglês, a pretexto que é uma língua universal. Se a música for realmente boa, ela consegue provocar-nos toda uma série de informações intensas ainda que seja cantada em checo, russo ou hebreu.

      Um abraço e bom Natal.

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  2. Esta nação nascida de retalhos e que tem feito sérios esforços políticos e bélicos para se manter, à mistura com os desmandos que também não deixa de cometer, não deixa no entanto de nos admirar pela sua resistência ao longo do tempo.
    Vejo à minha volta, aqui em Portugal, rostos que se assemelham muito aos que aqui aparecem (o meu é um deles), o que demonstra a resiliência deste povo que sobreviveu a holocaustos, a Torquemadas e demais inquisições, que afinal nós também a tivemos.
    Ganharam com certeza, mas a que custo!
    E que fazer com os palestinianos que foram desalojados? Bem, neste campo já não me atrevo a entrar, pois se gente experiente nestes assuntos não dá conta do recado, eu só poderia especular, e de forma gratuita!

    A travessa é muito bonita, sendo de um período que, se encontrássemos algo contemporâneo dela na faiança portuguesa, ser-nos-ia vendido ao preço do ouro!
    A forma está ainda relacionada com o rocaille, denotando já o romantismo, com motivos alusivos às viagens exóticas que todos os ingleses bem nascidos faziam, como forma de complementar a sua educação.
    É verdade que na época em que esta peça foi produzida a Palestina pertencia ao Império otomano, mas, durante a 1ª Guerra Mundial, passou para as mãos da Grã-Bretanha, para de novo regressar a estados independentes após a 2ª Guerra Mundial.
    Os ciclos fecham-se e abrem-se ao sabor dos interesses das potências, sobretudo após o boom do petróleo.
    Não me lembro de ter alguma peça deste fabricante entre as que possuo.
    Manel

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    1. Manel

      Esta travessa é um bom exemplo da graça da faiança inglesa do Século XIX, com as suas imagens idealizadas de países longínquos, evocando o "grand tour".

      Esta Palestina tão fantasiosa é um contraste vivo com a realidade contemporânea de Israel, nação com a qual não conseguimos deixar de simpatizar, talvez porque tantos de nós descendamos de judeus. Apesar de evocar a guerra do Tom Kippur, a canção pela sua tristeza não deixa de ser um libelo contra a guerra e por isso apresentei-a aqui, nas vésperas de Natal. Há nesta música uma força e um significado religioso que ultrapassa as cançonetas de Natal, que se costumam ouvir nesta época.

      Um abraço

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  3. Luís,
    Que música fantástica! Excelente solista! Adorei!
    Claro que a sua travessa também é lindíssima, mas como já estou acostumada à qualidade das suas porcelanas, faianças, ilustrações, registos, desta feita fiquei completamente siderada com o tema musical. Não percebo uma única palavra da letra, excepção feita (julgo eu) ao nome próprio Jesus (iesú??). Presumo, pelas imagens que vão sendo passadas que o assunto principal seja a guerra, o que me entristece.
    Seja como for, os meus parabéns pela escolha!

    Beijinho, e mais uma vez um Santo Natal

    Alexandra Roldão

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    1. Alexandra

      Muito obrigado. Com efeito, procuro sempre publicar imagens com qualidade, que encantem e seduzam os visitantes deste blog. Pelo menos é esse o meu objectivo, claro, não sei se sempre o conseguirei. As fruição das boas peças, das velharias de qualidade anima-nos sempre e faz-nos esquecer por momentos a situação tão desagradável, que vivemos no nosso País.

      Também não percebo uma única palavra desta canção. Sei que evoca a guerra do Yom Kippur, ocorrida em 1973. Mas julgo que não é preciso uma tradução, para entendermos a profunda tristeza, que a lembrança desta e de outras guerras provocam quer nos nos interpretes desta canção, quer no estado de Israel, na Palestina ou em outra qualquer outra nação do mundo. A guerra é sempre triste e má e nunca heróica.

      Bjos e um bom Natal

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  4. O Natal do Senhor sempre inspirando o que há de mais belo, nobre e pacífico entre os homens e o seu Blog evocando de onde não se espera, até por uma louça "velha", tantas realidades vividas: dores e alegrias. Que a Alegria, a Beleza e a Vida vençam todos os males e feiuras... Obrigado. Paz e Bem para Vc e seus leitores.

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    1. Caro Amarildo

      Muito obrigado e um feliz Natal para si e os seus.

      Abraços

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  5. Boas festas caro Luís!
    Fez muito bem em evocar as ceias de Natal preparadas com mil desvelos. Também as aprecio assim, tal como descreve e quando me toca a mim organizá-las tento não deixar os meus créditos por mãos alheias :)
    Não conhecia o exótico motivo da travessa que é muito bonita e digna de uma mesa de festa.O azul completa a peça :)
    A música é fabulosa e acompanhada por estas imagens tão fortes consegue evocar um misto de pesar e alívio, por não sermos confrontados com a dura realidade de uma guerra.
    Um bom Ano de 2014.
    Um abraço

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    1. Maria Paula

      Na minha família, à medida que os mais velhos foram morrendo, os mais novos parecem ter esquecido a arte de preparar uma ceia de Natal.

      Esta travessa evoca os Natais de outrora...

      Bjos e boas entradas

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  6. Luís, a sua base de terrina enchei-me os olhos, bastante elaborada, como eram em geral estas peças de um certo aparato. Apenas serviam de complemento às terrinas, para lhes acrescentar beleza e impacto.
    E mais uma vez se verifica nesta peça de fabrico inglês que, mesmo sem marca de fabricante, é com relativa facilidade que se lá chega, dada a profusão de registos e os estudos realizados e publicados na internet. Por exemplo o site “thepotteries.org”, que ambos frequentamos, é um verdadeiro tesouro de informação.
    O motivo é cativante e mesmo sabendo nós que havia muito de idealizado nestas imagens a partir de gravuras, sempre deixavam no público uma certa impressão visual da região que retratavam, neste caso a Palestina da época colonial.
    Quanto ao resto, funciona quase como um murro no estômago, sobretudo para quem passa esta época meio anestesiado pelos festejos, celebrações e muito consumismo...
    Beijos

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  7. Maria Andrade

    Fico sempre surpreendido com a forma como a louça inglesa está estudada e sistematizada. Com uma ou duas tentativas no google o mistério está resolvido. E nós não estamos em Inglaterra ou nos EUA, porque se ali vivêssemos, teríamos acesso a boa e variada bibliografia sobre faiança.

    Por cá, teremos que ser nós aqui a ir desbravando caminho na faiança portuguesa e colocar as nossas fracas tentativas on-line.

    Terminar o post com esta música israelita, que evoca de uma forma profundamente triste guerra entre Israel, os palestinianos e os seus vizinhos árabes, teve realmente a intenção de provocar um choque. Não sendo um libelo a favor da guerra, bem pelo contrário, esta canção hebraica acabou por ser um bom tema Natalício, que rematou texto sobre a decoração Palestina da travessa de faiança inglesa.

    Bjos

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  8. Olha só que coincidência. Vai ser leiloado amanhã. Queria tanto uma para mim mas nestes dias de compras já está salgada...

    http://www.iarremate.com.br/paiva_frade_2/07/0077

    Desculpe-me se não puder postar links

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Luís,
    Obrigada pelos seus votos.
    A Travessa é um espanto e a história a ela associada também.
    Palestina é uma terra de mágica tristeza.
    Evocou o Natal de uma forma sublime, com o perfil do Velharias. Tenho aprendido muitíssimo, por isso, para mim, é um natal constante passar por aqui. Obrigada.
    Esta travessa de certeza serviu muitos natais e fez a alegria de muitas mesas. :))

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    1. Cara Ana

      Muito obrigado. A terra Santa, Israel ou Palestina provocam sempre sentimentos fortes, com os quais tentei jogar neste post. Um abraço e boas festas para si e os seus

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  11. Caro Amarildo

    Que curioso o link, que me enviou. Estes serviços são engraçados porque a decoração variava de travessa para travessa, ou da terrina para a molheira.

    Um abraço

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    1. Pois é...
      Acho que saiu por uns 700 Reais. Achei muita coincidência entre seu post e lote do leilão. Queria muito a travessa. Pena que não deu para pegar porque lancei na Imaculada baiana que estava sendo leiloada como mineira. Mas é linda e bem grande, 72 cm e com uma bela coroa de prata.
      Abraço

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  12. Caro Luís
    Subscrevo com tristeza as suas eloquentes palavras "Na minha família, à medida que os mais velhos foram morrendo, os mais novos parecem ter esquecido a arte de preparar uma ceia de Natal." Pois eu continuo a tradição ainda com mais eloquência que os meus no passado muito porque a minha mãe trabalhava nos correios até à meia noite, sendo que a consoada foi durante os meus anos de criança com ela passada ao calor da braseira, onde se comia o farnel da ceia aviado de casa e acredite nenhum assinante ligava para desejar bom natal...que até nem pagavam...
    Claro tínhamos o Cabaz de Natal comprado a prestações que vinha num grande caixote, o bolo rei que vinha na carreira de Coimbra, a maleta dos vinhos que vinha das Caves da Anadia, e os brinquedos no sapatinho no pial da lareira -, faltava contudo paz.

    Gosto em particular de apresentar a ceia e o almoço de Natal com fausto, pompa e circunstancia, nisso confesso sou vaidosa, valores que transmito à minha filha para lhe dar continuidade.

    Parabéns pela travessa é fabulosa.Adorei o vídeo musical.
    Votos de um bom ano com saúde e alegrias, extensivo ao seu amigo Manel.
    Bjo
    Maria Isabel

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  13. Maria Isabel

    Obrigado por partilhar as suas recordações de Natal.

    Infelizmente tenho uma casa demasiado pequena para receber a família no Natal, mas aprecio que se respeite uma certa tradição, em particular na doçaria, como as rabanadas e outras sobremesas bem portuguesas.

    Bjos e boas entradas para si

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    1. Peço desculpa ao Luís, mas aproveito para agradecer à Maria Isabel os votos e desejar-lhe igualmente um bom ano, pois é coisa que todos necessitaremos seguramente, sobretudo com o desGoverno que reina.
      Está sempre no seu melhor quando aqui deixa as suas recordações de tempos idos
      Manel

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  14. bonjour mes amis la video que vous avez la est en fait une priere de la lturgie de yom kippour le jour du grand pardon. le texte en fait colle tres fort a la periode de cette guerre dure et sanglante c en mm temps une priere qui demande la clemence,le pardon et se termine par un cri d'espoir. c bientot kippour 2014 dans qq jours mes pensees vont vers vous mes amis.

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    1. Cher Kobi

      Le presentóir représenté ci-dessus est une vision romantique et fantasiste de la Palestine. J'ai donc choisi de mettre fin à la poste avec vídeo qui tu m'a envoyé et que nous apporte une vue bien triste et réele de cette terre d'Israël. Bien que elle soit une chanson sur la guerre du Kippour, je l'a choisi pour souhaiter un Joyeux Noël, une fête chrétienne, car il ya un message dans cette chanson de tristesse et d'horreur pour guerre. Il y a des sentiments qui transcendent les differents religions.

      Je t'embrasse

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