Já aqui tinha mostrado este boião em faiança, que continha um creme de beleza da antiga fábrica de cosméticos Thaber. Na altura pouco ou nada consegui apurar sobre esta Thaber, para além de que era uma casa portuguesa de cosméticos, ainda activa nos anos 60 e 70 do século XX.
A encomenda terá sido feita entre Fevereiro/Março e Abril de 1945. |
Recentemente fui contactado pelo Museu de Cerâmica de Sacavém, pedindo-me emprestado o boião para uma exposição temporária. Com efeito, naquele Museu, descobriram através de um dos antigos livros de encomendas da Fábrica, que a Thaber encarregou Sacavém do fabrico dos boiões dos seus produtos de beleza. O registo da encomenda é tão preciso que nele está impresso o monograma da Thaber, um cesto com um laço, a legenda que deveria figurar em cada um dos boiões, a cor e ainda as quantidades pedidas. No referido registo, encontra-se a descrição do boião igual ao meu, o creme, nº 2, vidrado a azul e a preto. Também por por lá está identificado, o boião que a minha irmã recebeu da minha avó, pintado a rosa com o fundo preto.
No acervo do Museu existe também um boião com um formato exactamente igual, mas sem qualquer tipo de decoração, mas sabe-se que se trata de um boião THABER, conforme vem referido num dos catálogos de 1950 da fábrica, cuja cópia tiveram a gentileza de me fornecer por e-mail.
Mas voltando à encomenda de Boiões pela Thaber, ficámos também a saber que a proprietária dessa Fábrica de produtos de beleza era nada menos nada mais do que a célebre Bertha Rosa Limpo (1894-1981), a autora do O livro de Pantagruel. Para todos aqueles que alimentar-se significa comer um hamburguer no Macdonald's ou encomendar uma pizza pelo telefone, há que explicar que O livro de Pantagruel é o mais conhecido manual de cozinha português. Desde que saiu em 1945, já teve duzias de reedições e pode-se afirmar que está para a culinária nacional, como os Lusíadas estão para a literatura portuguesa. Aliás, este ano de 1945, deve ter sido particularmente produtivo para a Sra. D Bertha Rosa Limpo, pois além de ter publicado o Pantagruel, encomendou também estes boiões a Sacavém. Em 1945, além de iniciar uma carreira como autora de livros de cozinha, a Sra. Dª. Bertha Rosa Limpo tornava-se também uma empresária de sucesso .
Berta Rosa Limpo terá aproveitado o receituário seu pai, dono de uma farmácia, para pôr em prática esta fábrica de cosméticos. A Thaber, que é o anagrama de Bertha, tinha também um salão de beleza, que funcionava no mesmo local da sede da firma, a Av. António Serpa, nº 22.
Em suma, o meu boião Thaber foi fabricado por Savavém, talvez entre 1945 e os anos 50 e pode ser visto na exposição IMAGENS DE MARCA(S) - SACAVÉM É OUTRA LOIÇA, que está patente no Museu de Cerâmica de Sacavém, de Segunda a Sábado, das 10h às 13h e das 14h às 18h, pelo ano de 2014 fora.
Que empréstimo valioso que foi esse, pois assim você ficou a saber tanto sobre a peça, que agora torna-se ainda mais interessantes (e importante, já que chegou a ser requisitada pelo museu).
ResponderEliminarMesmo sem toda esta documentação que vocë conseguiu, já achava a peça muito interessante.
parabéns e abraços
Fábio
Fábio
ResponderEliminarFiquei muito contente pelo facto de o Museu de Sacavém ter desvendado o mistério do fabricante deste boião. Eu não fazia a menor ideia que fosse Sacavém.
Depois também teve piada descobrir que a fundadora da Thaber foi Berta Rosa Limpo, uma figura mítica na vida portuguesa. Não se o livro de Pantagruel foi comercializado no Brasil, mas aqui foi é é uma autêntica Bíblia da culinária.
Um abraço
Lu'is , hoje passo para lhe desejar um BOm Ano Novo
ResponderEliminarUm abraço
Quina
Cara Quina
EliminarMuito obrigado e boas entradas para si e os seus!
Um abraço
Olá Luís,
ResponderEliminarespero que o teu Ano Novo seja culturalmente tão interessante como 2013. Bjs,
Luísa
Luísa
EliminarObrigado. Talvez a cultura seja a única forma de evitarmos um modo de vida medíocre, que os nossos nos governantes parecem apostados em fazer-nos viver.
Bjos
Luís,
ResponderEliminarQue maravilhoso boião de louça, gostaria de o possuir.
Como partilhar traz conhecimento...
É uma das razões porque o visito, gosto do que leio, do que aprendo e da forma como descreve as peças fazendo (mini) micro-histórias.
Ou seja é tudo maravilhoso. Assim, desejo um Feliz Ano Novo! :))
Ana
Ana
EliminarDesejo-lhe também umas boas entradas. Na internet, as pessoas não tem paciência para ler grandes textos. Este formato das pequenas histórias é bom para quem chega a casa cansado e se quer distrair, mas com coisas bonitas, com um bocadinho de arte e história.
Um abraço
Olá,Luis
ResponderEliminarMuito bonito o boião,mas eu passo aqui para lhe desejar um Feliz Ano Novo e que lhe traga muitas e muitas peças de sonho para poder partilhar com os seus fieis leitores
Também se estende ao nosso muito querido Manel
Grace
Cara Grace
EliminarMuito obrigado pelas suas palavras tão simpáticas. Espero poder continuar a contar consigo como leitora deste blog, neste ano de 2014.
Bjos
Muito obrigado pelos seus votos Grace, e pode estar certa que lhe desejo seguramente os melhores tempos que possíveis forem, e que este ano lhe traga a realização de muitos projetos
EliminarManel
Caro Luís,
ResponderEliminarQue boiãozinho famoso!
Se calhar ainda lhe propõem a compra do mesmo...
Desconhecia em absoluto que a autora do tão famoso livro de culinária tinha sido a proprietária dessa fábrica de cremes.
Recordo-me que a minha avó usava esse mesmo creme, e eu, pequenita, gostava imenso de brincar com a caixinha, mas era de imediato repreendida, porque não se mexia nos objectos dos adultos.
Quem diria na época, que ainda haveria de vir a testemunhar a existência dessas caixinhas num Museu?!
Aproveito para lhe desejar um 2014 repleto de alegrias.
Que este seu blog continue a brindar-nos com deliciosos posts. Neste espaço por si criado, conseguimos evadir-nos e aprender, o que nem sempre é fácil perante os inúmeros atropelos à cultura que diariamente acontecem em Portugal.
Um sincero abraço desta sua leitora, o qual é extensível ao seu amigo Manel.
Alexandra Roldão
Deixo-lhe ainda um miminho de fim de ano:
http://www.jacquielawson.com/preview.asp?cont=1&hdn=0&pv=3365927&path=98301
Alexandra
ResponderEliminarTambém foi uma surpresa para mim saber que este Boião foi fabricado por Sacavém e que a Thaber foi propriedade de Berta Rosa Limpo. A graça das velharias é que estamos sempre a descobrir mais coisas sobre as nossas peças. Podemos experimentar de forma amadora as sensações dos arqueólogos ou historiadores quando fazem uma descoberta importante.
Em todo o caso, os seguidores como a Alexandra, fazem parte integrante deste blog e estimulam-me a descobrir mais coisas e a apresentar mais peças.
Bjos e obrigado pelo bonito postal de Natal
Muito obrigado Alexandra. É sempre com prazer que a leio.
EliminarNão quero deixar passar a oportunidade de lhe desejar um bom ano, apesar das dificuldades que se avizinham, mas não custa nada ter esperança
Manel
Caro Luis, já agora também quero dar um pequeno contributo: esta senhora teve dois filhos sendo um deles Jorge Brum do Canto artista e gastrónomo e que apresentou curiosos programas de Televisão.
ResponderEliminarabraço Maria
Cara Maria
EliminarObrigado pela achega. De facto, ainda me recordo vagamente dos programas na televisão de Jorge Brum do Canto, era eu um miúdo. A filha ainda há pouco tempo estava viva, conforme li num artigo da Visão http://visao.sapo.pt/a-historia-deliciosa-da-familia-pantagruel=f673693#ixzz2ou2sb3X8.
De facto, esta Berta Rosa Limpo deve ter sido uma senhora excepcional, sobretudo se atendermos à época em que viveu, em que as mulheres tinham um papel normalmente apagado na sociedade.
um abraço
Luís, lembro-me bem de ter postado aqui este boião que foi da sua avó Mimi. Mas agora estas descobertas acerca do fabrico vêm trazer ainda mais interesse à peça! E pela descrição, o boião da sua irmã a rosa e preto deve também ser um pequeno mimo!
ResponderEliminarJá tinha conhecimento da realização dessa exposição no Museu de Sacavém e agora fiquei ainda com mais vontade de a ir ver, ao longo deste ano.
Feliz Ano Novo!
Maria Andrade
EliminarEu deixei escapar a inauguração da exposição. Troquei as horas e quando estudava no google maps o melhor caminho para chegar ao museu, já eram cinco da tarde, momento em que a exposição abria.
Vou tentar ir este fim-de-semana ver a exposição.
Ainda telefonei à minha sobrinha para fotografar o boião em rosa e preto, mas a minha irmã deve-o ter guardado de tal maneira, que não o encontra...
Bjos e bom ano novo
Olá e Bom Ano para todos.
ResponderEliminarSó quero chamar a vossa atenção para o seguinte pormenor:
THABER --> THA BER --> BERTHA
O nome da marca é o nome da sua fundadora, mas com as sílabas trocadas!
Deixo este link de um velho anúncio que mostra que a Thaber era mais do que uma fábrica de cosméticos, mas também um instituto de beleza com tratamentos e vários serviços:
http://enciclopediadecromos.blogspot.pt/2012/07/consultorio-thaber-1969.html
Até à próxima.
Joka.
Caro Joka
EliminarMuito obrigado pelas suas indicações. Já actualizei o post. A vantagem dos blogues é esta interacção, em que todos juntos vamos somando conhecimentos e aos poucos vai-se fazendo luz sobre aspectos do passado, cuja memória se perde tão rapidamente.
Um abraço e volte sempre
É bem verdade que o nome do creme é um anagrama do nome da fundadora da empresa! Não tinha pensado nisso.
ResponderEliminarBem visto!
Fiquei a admirar esta senhora pelo empreendedorismo numa altura que a sociedade portuguesa não estava muito virada para deixar a ribalta dos negócios às mulheres. E as tarefas empresariais a que se deitou, pelos vistos, tiveram sucesso e parecem ter sido bem conduzidas.
O livro de Pantagruel não entrou em minha casa, pois a minha mãe dizia que era muito caro, mas creio que ela sempre lhe deitava um olharzinho de cobiça sempre que lhe aparecia à frente no escaparate da livraria!
Como tenho uma certa forma de olhar os livros de cozinha como uma arte esquecida de bem receber e conviver à volta de uma mesa, acabei, ao longo da vida, de os colecionar e hoje este exemplar já lá consta.
Que bom que estes exemplos de empreendedorismo existiram; hoje a situação parece alterada, e ainda bem, pois são sempre iniciativas bem vindas.
Ainda bem que descobriste mais este dado para esta tua peça, que parecia condenada a ficar num anonimato de uma vitrine da tua casa.
Congratulo-me com esta descoberta que partiu da própria Sacavém.
Terei de ir visitar o Museu da Sacavém mais uma vez (a esperança é a última a morrer, como diz o ditado) para ver se agora não fico com a má impressão que tive da primeira vez que ali me desloquei, e que me pareceu ser uma entidade mal gerida e conduzida.
Não havia uma coleção permanente, e não deveria ser pela falta de peças, que, estou certo, devem abarrotar as reservas, como é lógico que assim seja, tanto mais que foi uma fábrica com uma grande longevidade, e não deve haver casa portuguesa onde não pontue esta marca.
A literatura que tinham à venda sobre algumas peças de produção da fábrica era pobre e com uma informação perfeitamente anacrónica, sem quaisquer dados históricos, ou de pesquisa, limitando-se a descrever as peças, que, ao lado, estavam "escarrapachadas" ... para quê descrever uma coisa que está perfeitamente documentada por um elemento fotográfico ao lado???? (já lá vão os tempos em que esta informação era importante, quando as fotografias das peças não acompanhavam a obra, devido ao preço incomportável que a caraterizaria, se assim acontecesse!)
Quando há uns anos adquiri a casa no Alentejo, dei com uma quantidade de loiça ainda guardada nos armários, que os anteriores donos não quiseram ... ainda estava com esperança que se encontrasse ali algum "ratinho", mas ... debalde, quando as virei, lá estavam as marcas da Sacavém ... até mesmo nos confins do Alentejo, num sítio ermo e esquecido, existiam pratos e bacias da Sacavém!
Manel
Manel
EliminarFiquei também muito surpreendido com a indicação do Joka. De facto faz todo o sentido que Thaber seja o anagrama de Bertha.
Irei ver a exposição ao Museu de Sacavém. Tenho esperanças de que o Museu entre no caminho certo, pois tem tudo para ser um museu extremamente popular. O edifício é bonito, moderno, o antigo forno é espectacular, e alberga uma colecção com a qual todos os portugueses se identificam. Em todas as casas deste País, pobres ou ricas, existe sempre uma peça de Sacavém.
Tenho a plena convicção, de que para cumprir a sua missão cultural, o Museu de Sacavém deverá ter obrigatoriamente uma exposição permanente, que mostre a evolução da produção da fábrica, a par das peças de faiança inglesa ou francesa que foram usando como modelos.
Tenho esperança.
um abraço
Parabéns ao Museu da Fábrica de Loiça de Sacavém.
ResponderEliminarLulu e Zezé
EliminarMuito obrigado pelo simpático comentário.
Um abraço
Para os amantes do livro de pantagruel de 1946 deixo aqui a oportunidade de o adquirirem
ResponderEliminarhttp://m.ebay.com/sch/sis.html?_nkw=Hertha+Rosa+Limpo+O+Livro+de+Pantagruel+1946&_trksid=p2056116.m4100