segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Adijo Kerida, uma história de Vinhais


A Tia Lalai e a Tia Francisca
Há fotografias antigas de família que exercem uma atracção especial sobre nós e muitas vezes temos dificuldade em explicar porquê. Uma delas, é esta fotografia que mostra uma menina, a irmã da minha mãe, a Tia Lalai, ao lado da sua tia Francisca. O primeiro sentimento que me provoca é de estranheza. No tempo em que as conheci com vida, a primeira era já uma mulher madura e a segunda, uma idosa. Vi-as depois envelhecer, definhar e morrer, mas estas caras na primavera da vida são me estranhas. Contudo, estas duas tias apresentam feições, um ar de família, que persiste em nós, os parentes que ainda estamos vivos.
Hannah Arendt

Há uns anos, quando trabalhava na Biblioteca da Universidade Católica, recebemos uma obra de Hannah Arendt, ou talvez fosse um estudo sobre ela, não me recordo já bem, e numa das guardas do livro vinha publicada uma fotografia desta célebre pensadora judia, que me fez estremecer, porque aquela senhora, nascida na Prússia Oriental, a milhares de quilómetros de Portugal, poderia ser muito bem uma qualquer das mulheres da minha família materna. Poderia ser talvez uma irmã da Tia Francisca, ou talvez ela própria, num momento diferente da sua vida. 
Hannah Arendt
Com efeito, há uma tradição na minha família materna, que diz que descendemos de judeus. É uma tradição sem fundamento que a sustente. Não há quaisquer provas documentais nem sequer uma memória um pouco mais precisa, que tivesse sido passada de pais para filhos, acerca de um qualquer costume judaizante, como por exemplo, acender uma lamparina de azeite com uma torcida de linho constituída por 7 fios, na noite de sexta-feira para iniciar o início do Sabbath, o dia de descanso judaico.

A velha casa da Quadra
Diz-se apenas que as origens judaicas proviriam de uma aldeia, no Concelho de Vinhais, a Quadra, na qual nasceram o avô da minha tia Lalai e a mãe da Tia Francisca, que eram irmãos. Nessa aldeia perdida no sopé da Serra da Coroa, a uns escassos 3 ou quatro quilómetros de Espanha, existe ainda uma velha casa, onde se criou essa irmandade. O meu pai fotografou-a no início dos anos 90, mas nada ali indica que viveram judeus. É uma casa antiga de pedra, semelhante a todas daquela região.

A cozinha da casa da Quadra
Aliás, a quase ausência de testemunhos escritos ou vestígios materiais deixados por estas antigas comunidades judaicas impossibilita praticamente qualquer tentativa de entroncar nela as nossas raízes. Perseguidos em Portugal desde o século XVI, os judeus foram forçados a baptizarem-se, viviam oficialmente como cristãos e procuram esconder tudo o que pudesse revelar a verdadeira fé que sentiam no seu interior. Não tinham por isso templos, destruíram os seus livros sagrados e não ostentavam nenhum símbolo nas suas casas que os pudesse distinguir dos restantes membros da comunidade. Iam à Igreja, baptizavam-se, casavam e morriam segundo o ritual católico. Este traço do secretismo é aliás uma característica específica das comunidades judaicas que ficaram em Portugal, depois de D. Manuel os ter obrigado em 1497 a converterem-se ao cristianismo, fenómeno que os historiadores designam por criptojudaísmo.

A seta indica a localização da Quadra
Para quem não saiba, em 1492, os Judeus foram expulsos de Espanha pelos reis Católicos e aos milhares, atravessaram a fronteira e fixaram-se em Portugal, muito deles nas terras raianas portuguesas, como Bragança ou Vinhais. Em 1497, foi a vez do Rei Português D. Manuel decidir também a sua expulsão, mas com algumas diferenças do caso espanhol. Podiam converter-se ao catolicismo ou partir. Contudo, como ao Rei não lhes interessava perder esse grupo de gente laboriosa e rica, dificultou-lhe ao máximo a sua partida. Só poderiam abandonar o país pelo porto de Lisboa. Se os Judeus que estavam na capital puderam fugir para a Holanda, França, Marrocos ou para o Império Otomano, os que viviam no interior viram-se presos numa armadilha. Por detrás tinham a Espanha, onde a perseguição já era feroz e à frente, tinham o litoral, onde só os deixavam saír a conta gotas. Foram ficando, até porque a Inquisição só veio mais tarde, em 1536. Para essas comunidades começou uma longa noite, em que praticam o Judaísmo em segredo e ao fim de muitas gerações, esqueceram o hebraico, queimaram os livros sagrados e praticaram em segredo um judaísmo estropiado, muitas vezes já misturado com o catolicismo. Uma dessas comunidades sobreviveu até aos nossos dias, em Belmonte, uma terra também na fronteira, que foi identificada em 1917, com surpresa de todos, por Samuel Schwarz, um judeu suiço, que descobriu um grupo de gente que não se misturava com os outros membros na comunidade, que praticam uma religião, que já nem sabiam nomear e rezavam umas ladaínhas num hebraico corrompido. 
Imagem de um Processo do Tribunal do Santo Ofício, referente a Pedro de Leão, comerciante de seda, natural de Outeiro Seco e morador no termo de Vinhais. Arquivo Nacional da Torre do Tombo,
Em Vinhais e Bragança, sabemos da existência destes judeus forçados à conversão pelas fontes cristãs. Existem 480 processos do Santo Ofício guardados na Torre do Tombo movidos contra habitantes das terras de Vinhais. Ainda pouco, na exposição Vinhaes - Fragmentos de História, que esteve patente ao público na Casa da Vila, em 2012, li que num dos livros de denúncia da Inquisição, em 1583, um tal Rodrigo Bernardes queixava-se que em Vinhais há dos muros para dentro, 50 moradores e desses só 3 ou 4 são cristãos velhos. Parece que enterravam os seus mortos, junto da Igreja de S. Facundo, junto de um velho Sardão (curiosamente, o actual cemitério foi construído precisamente em redor desta Igreja, como que a continuar uma tradição antiga).

Nos anos 20, ali ao lado, em Bragança, um grupo desses judeus reactivou o culto e durante alguns anos mantiveram uma sinagoga e uma escola, conforme li na obra de David Augusto Canelo, Os últimos Criptojudeus em Portugal. belmonte: Centro de Cultura Pedro Álvares Cabral, 1887.

Enfim, todas estas explicações servem para demonstrar que é plausível que este ramo da minha família, originária da longínqua Quadra descenda de Judeus. O meu pai ainda empreendeu alguns estudos genealógicos nos arquivos paroquiais para tentar chegar aos antepassados judeus. Foi um estudo complicado, pois os livros paroquiais estão repartidos entre o Arquivo Distrital de Bragança e o Arquivo Diocesano da mesma cidade. Conseguiu remontar até aos finais do Século XVIII, mas não encontrou nada que indicasse que aqueles homens e mulheres meus antepassados judaizassem. Aliás como poderia encontrar nesses registos de baptismo, casamento e morte mantidos pela Igreja uma confissão expressa de judaísmo? 

Naturalmente, que nesses momentos que iam à igreja paroquial, todos eles arvorariam o seu ar mais piedoso e beatífico.

Só talvez se cruzasse esses nomes com os processos da Inquisição movidos aos naturais do Concelho de Vinhais obtivesse alguns resultados, mas a doença da minha mãe impediu-o de realizar esse trabalho e eu como me devo reformar lá para os 70 anos, não sei se o conseguirei concluir.

Maria Adelaide Ferreira (1913-1997)
Não podendo comprovar uma tradição familiar de que descendemos de Judeus, o presente texto serve mais como um In Memoriam das minhas tias Francisca da Assunção Fernandes (1904-1992) e sobretudo de Maria Adelaide Ferreira (1913-1997), a menina da fotografia, que foi uma espécie de avó para mim e a quem eu não pude dizer adeus quando morreu. Para ela fica uma música em ladino, a velha língua dos judeus fugidos de Espanha, Adijo Kerida, cantada por Francoise Atlan



Alguma bibliografia:

Os últimos Criptojudeus em Portugal / David Augusto Canelo. Belmonte: Centro de Cultura Pedro Álvares Cabral, 1887.

Testemunhos do Judaísmo em Portugal : exposição bibliográfica e iconográfica = Signs of Judaísm in Portugal : a collection of books, and prints / Gabinete de Relações Internacionais do Ministério da Cultura ; coord. e realização técnica Maria Luísa Cabral. - Lisboa : Ministério da Cultura, 1999

Vinhaes - Fragmentos de História. Vinhais: CMV, 2012. ( Agradeço ao Roberto Afonso, Vereador da Cultura da C.M. de Vinhais o envio dos painéis desta exposição em formato digital


15 comentários:

  1. Luís
    Muito bom, como é usual, o seu texto. A imagem da sua tia Lalai é uma ternura. As raízes judaizantes devem estar presentes em muitas famílias da raia transmontana. O mesmo acontece com a minha família materna, originária de uma aldeia, com o nome sui generis de Vilarinho dos Galegos, onde os habitantes, porta sim, porta não, se dedicavam ao comércio.Ainda hoje, certas orações que se ouvem, reportam a hábitos religiosos judeus.
    if

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cara If.

      Ainda bem que gostou do texto. Com efeito, muitos de nós, das terras raianas, e Portugal mais não é do que uma comprida faixa fronteiriça, teremos antepassados judeus e todos passamos pela mesma dificuldade em comprovar esse passado através de documentos. Os que foram perseguidos procuraram não deixar vestígios do seu horrível crime, adorar com outro nome o mesmo Deus dos Cristãos.

      Um abraço

      Eliminar
  2. Caro Luís,

    Eram já altas horas da madrugada quando li o seu texto. Simplesmente fantástico, e com todos os ingredientes necessários para que um dia possa partir desse facto e escrever um romance.
    Apesar do adiantado da hora não consegui desgrudar, e ainda fui em busca de algo que sei existir, mas infelizmente não me recordo onde...
    Refiro-me a um ficheiro aonde constam os apelidos de todos os que foram alvo de processos da Inquisição em Portugal. Sei que em tempos o saquei de algures, e mais tarde o guardei noutro lado, mas pode ter sucedido que em limpezas de Pc o tenha deitado fora...
    Agora, e como costuma dizer o povo, esse ficheiro valer-lhe-ia um cavalo na guerra. Pode estar certo de que se o reencontrar lho farei chegar.
    Também eu tenho uma história familiar que daria um romance por demais camiliano. Aquando da morte dos meus avós paternos, tomei conhecimento de um facto ocorrido com uma trisavó, o qual despoletou toda uma investigação, a qual continua passados que foram 6 anos. Com efeito tenho levado a cabo inúmeras pesquisas de ordem genealógica no sentido de averiguar da veracidade da proveniência dessa trisavó, que foi exposta da Roda.
    Tenho feito buscas em arquivo histórico de câmara municipal, Torre do Tombo, arquivos distritais, registos paroquiais. Se um dia precisar de ajuda..estou mestra!!
    Bom, se começo a escrever acerca dessas minhas demandas nunca mais daqui saímos...
    Gostaria ainda de lhe dizer que o tema musical escolhido é lindíssimo!!!

    Beijinho

    Alexandra Roldão

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cara Alexandra.

      Temi que as pessoas se aborrecessem com o texto. Perdi-me demasiado na explicação do que foi a história dos marranos em Portugal, mas era a única forma de enquadrar a tradição familiar.

      Obrigado pelos link, que vou guardar e explorar.

      O meu pai consegui remontar até um antepassado no século XVIII, um tal Dionísio Gonçalves, morto em 20 de Novembro de 1792. Curiosamente estes Gonçalves, mudam de inexplicavelmente de nome para Morais no início do século XIX, que foi o apelido que persistiu até aos dias de hoje.

      A história dessa antepassada abandonada na Roda é fantástica. Conheço muito bem o catálogo de uma exposição feita na Santa Casa de Lisboa com objectos que os pais deixavam juntamente com as crianças, quando as expunham na roda e era uma coisa do mais comovente que há. Essa é uma boa história para o seu blog

      Bjos

      Eliminar
    2. Caro Luís,

      Sabe que com a minha família paterna também acontece o mesmo facto inexplicável - alteração do apelido. Na verdade, eu deveria ser Marques, mas por razões que actualmente me transcendem aparece em 1831 um menino que tem o apelido Roldão, sendo que o pai é Marques e a mãe chamava-se Anna dos Santos Roldoa...mas os pais desta não têm o Roldão.
      Quanto à minha trisavó, trata-se de um caso também ele bem bicudo. Contrariamente ao que à época costumava suceder, ela não trazia nenhum objecto que a pudesse vir a identificar mais tarde. Apenas se sabe que tinha um enxoval riquíssimo, e acompanhava-a um pequeno papel no qual foi escrito que àquela menina se haveria de dar o nome de Adelaide.
      Bom, daqui em diante existem inúmeros factos passíveis de serem investigados, e que me conduziram a uma família que na altura era dona e senhora de quase toda a Vila de Sardoal e seu termo...
      Relativamente à sua sugestão para artigo do meu blog, não sei até que ponto haverá interesse para esse tipo de leituras.
      Seja como for, há já algum tempo que comecei a escrever um romance que tem por base todos estes acontecimentos verídicos. Tem neste momento cerca de 100 páginas, é extremamente camiliano, vai crescendo à medida que encontro novos dados e, provavelmente, nunca sairá da gaveta...

      Abraço

      Alexandra Roldão

      P.S: Há alguns anos atrás adquiri o tal catálogo da exposição que refere.

      Eliminar
    3. Cara Alexandra

      O tema dos judeus marranos é fascinante. Acho que é dos assuntos mais interessantes da história de Portugal.

      Infelizmente também é dos mais difíceis, pois uma gente, que pratica uma fé em segredo não deixa documentos e apaga deliberadamente todas as provas, que pudesssem denunciar a sua crença. Se algum dia tiver mais tempo gostaria de investigar essa eventual ascedência judaica e se por acaso essa tradição corresponder a à verdade, sentir-me-hei muito orgulhoso.

      Quanto à história dessa sua antepassada, continuo convencido, que poderá explora-la no seu blog, em pequenos capítulos, para não maçar as pessoas. Até porque vai encontrar gente que lhe vai fornecer as peças soltas que faltam na sua reconstituição histórica. Comigo isso aconteceu à medida que fui escrevendo sobre o solar dos Montalvões. Muita gente me escreveu enviando-me documentos, fotografias e histórias que me faltavam e que completaram o meu conhecimento da história do solar e da família.

      Bjos e obrigado pelos links.

      Eliminar
  3. Luís,

    Volto aqui para lhe dar a conhecer o site Etombo, o qual disponibiliza dados existentes em registos paroquiais, podendo estes ser consultados online,

    Deixo-lhe o link para o Distrito de Bragança, mais precisamente Vinhais.

    http://www.etombo.com/concelho/vinhais.html


    Abraço

    Alexandra Roldão

    ResponderEliminar
  4. Ainda cá volto, e desta vez para lhe fornecer um outro link Que talvez lhe possa ser útil. Ali poderá consultar uma lista de sobrenomes frequentemente adoptados pelos judeus na conversão forçada à religião católica, quando tornavam-se "cristãos-novos".

    Abraço

    Alexandra Roldão

    ResponderEliminar
  5. Aqui fica o atrás referido...

    http://www.anussim.com.br/marranismo/sobrenomes-judaico-portugueses.php

    ResponderEliminar
  6. Estas pequenas histórias de família são histórias que poderiam pertencer a um sem número de portugueses, pois os nossos antecedentes não são lineares, e, como muitas dessas pessoas não estavam de acordo com a ortodoxia aprovada, o seu registo era feito de uma forma atabalhoada.
    As pessoas existiam, e a prova é que ali estavam, mas a forma de os incluir nos grupos socialmente previstos, aceites e desejáveis nas leis do estado é que se desenvolviam por caminhos dúbios, como se esse mesmo estado se envergonhasse daqueles cidadãos que lhe pertenciam, à força, porque teimavam em não querer desaparecer.
    Todos temos destas situações na qual a minha família também não é exceção.
    As práticas feitas às escuras, fazendo de conta que é uma coisa, sendo outra, a vergonha por que passavam as famílias pelos antecedentes não socialmente aprovados, de tudo isto foi feito este país.
    Aqui, Hitler, se tivesse tido tempo, teria encontrado um "oásis" minado de candidatos ao preenchimento de vagas em vários campos de concentração!
    A pequena história que aqui se desenrola é muito bonita e sensível, como só tu a sabes contar.

    A fotografia daquele espaço da cozinha da casa da Quadra é absolutamente fantástica.
    Creio que a cozinha do solar de Outeiro Seco, que vi e fotografei aquando da minha visita ali, deveria ter havido um espaço debaixo da monumental chaminé com caraterísticas semelhantes.
    No entanto, e numa qualquer data posterior, devem-lhe ter sido feitas obras que lhe alteraram radicalmente o uso, pois parece-me que inicialmente, debaixo daquela chaminé monumental da cozinha deveria ter havido uma recanto de bancos, como o que aqui, na casa da Quadra, o teu pai fotografou, e o qual me fascina; aliás, este tipo de recanto parece-me ter sido definidor de uma tipologia arquitetural desta região.
    O clima de uma região condiciona o espaço da cozinha, como é lógico que assim aconteça, transformando-o igualmente num espaço social, como não acontece nos países com clima mais quente, onde a cozinha é um local de onde se foge devido ao calor que ali se vive, entre tachos e panelas.
    Na casa da minha família, na região rural nos arredores de Pombal, que datava inicialmente do século XIX, havia igualmente um recanto de lareira com bancos situados no perímetro da grande chaminé e que enquadravam o recanto onde se fazia o fogo, o qual dava igualmente acesso a um forno de pão, só que numa escala menos monumental; no entanto, os princípios são os mesmos
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Manel

      Encantei-me com a fotografia da cozinha da Quadra. A minha ideia inicial era só publicar uma vista geral da casa, mas achei a cozinha tão bonita e dava uma ideia tão boa da vida familiar do passado, que resolvi coloca-la no post.

      Como tu escreves este tipo de cozinhas é uma tipologia comum na região. O solar de Vilartão, a cerca de uns 25 km da Quadra, propriedade do nosso amigo Joaquim Malvar tem uma cozinha muito semelhante, que ele conservou. Numa casa de uma prima minha em Vinhais, também existe uma cozinha semelhante.

      Quanto ao solar de Outeiro Seco não sei como era. Chaves é uma região menos fria que Vinhais. Mas tenho umas fotografias do início dos 90, com algum do mobiliário original, que hei-de olhar com mais atenção. Também irei falar com o meu pai perguntando-lhe se a cozinha foi também assim.

      Quanto aos antepassados judaicos de muitas familías portuguesas, recordo-me de um programa na televisão de José Hermano Saraiva sobre Bragança, a propósito dos marranos naquela cidade. Aquele grande divulgador da história afirmava, que durante três séculos, a Inquisição ao forçar as pessoas a aparentar uma religião que no seu intímo não sentiam como sua, tornou os portugueses hipócritas. Durante gerações aprendemos de pais para filhos a esconder os nossos sentimentos íntimos e a aparentar uma falsa normalidade, para não sermos acusados a dedo pela sociedade. Claro, é sempre complicado, definir a psicologia de um povo assim numa assentada, mas acho sábias as palavras do José Hermano Saraiva.

      Um abraço

      Eliminar
  7. Luís a micro-história na qual se inserirá a história da sua família é interessante e necessária para compreender a estruturas sociais, os costumes e tradições de uma época.
    Gostei muito deste testemunho e do suporte bibliográfico.
    Quanto ao espaço doméstico da casa da Quadra, é fantástico.
    A música só poderei ouvir mais tarde.
    Este seu registo é importante pois aproxima-se o dia Internacional das Vítimas do Holocausto, 27 de Janeiro.
    A perseguição religiosa, a intolerância e a guerra Santa ainda não ultrapassadas são uma triste realidade do século XXI.
    A Inquisição nasceu para dar resposta a um tempo e a factos que transcendem a nossa racionalidade.
    Devo ser de origem judaica, pelo nome do meu apelido, porque o meu avô era próximo de Espanha... etc.
    Curioso este seu registo.
    Boa tarde!:))

    ResponderEliminar
  8. Ana

    Muitos de nós teremos antepassados hebraicos. Este post é precisamente uma interrogação de como comprovar cientificamente essa tradição, de que muitos de nós descendemos de judeus.

    O post foi a oportunidade para revisitar uma casa onde o meu bisavô materno foi criado e de quem já sabemos tão pouco.

    Enfim, temos necessidade de reconstruir a memória, que com o passar das gerações se vai esboroando.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  9. Luís,
    Gostei muito da história, como sempre muito bem contado e o enquadramento bem fundamentado. Muitas massagens levei no nariz, em criança, dadas pela nossa Mãe, para não ficar com o nariz de cavelete..mas não resultaram completamente ;)) ainda ficaram alguns restícios...

    beijinhos
    a tua irmã amiga

    Teresa

    ResponderEliminar
  10. Talvez essa intenção da mãe, que o teu nariz não se tornasse grande, fosse uma reminiscência do desejo de esconder a origem hebraica sentido pela família ao longo de muitas gerações. Quem sabe?

    Bjos

    ResponderEliminar