segunda-feira, 9 de junho de 2014

Garden Party, Gellé Frères, Paris


Julgo que todos nós sentimos sempre um grande fascínio pelos perfumes e águas de colónia. Não só o seu aroma nos agrada, como também os próprios frascos e as embalagens, que são sempre objecto de um desenho de uma manufactura requintados. Eu desde miúdo gostava de mexericar nos frascos de perfume da minha mãe. Parecia que ali se guardava um tesouro qualquer, volátil e efémero, mas mesmo assim muito precioso. Ainda hoje me lembro do frasco da Madame Rochas, que a minha mãe usava muito criteriosamente, colocando só um bocadinho, cada vez que tinha uma saída especial, uma visita, um jantar ou uma ida à Baixa. Aquele frasquinho deve ter durado anos.

Já mais raro é encontrar um perfume antigo, com o seu frasco e a sua embalagem. A maioria das vezes quando se acaba a essência, as pessoas deitam fora tudo e lá se acaba o precioso e misterioso tesouro.


Por isso mesmo fiquei tão contente quando me deram um frasquinho antigo, ainda com alguma essência e a embalagem original. Trata-se do Garden Party Bouquet, um cosmético fabricado pelos mestres perfumistas Gellé Frères, de Paris, no início do Século XX. Aliás, o desenho da embalagem denota o mais puro estilo arte nova. A ilustração da embalagem e do rótulo poderá ter sido concebida por Jules Chéret (1836-1932), célebre pelos seus cartazes publicitários na França da Belle époque e que desenhou um cartaz para a Gellé Frères, cujo estilo não anda muito longe da caixa deste perfume, conforme descobriu a Alexandra na Biblioteca Nacional de França.


A Gellé Frères foi umas das muitas casas francesas de perfumes que fizeram de Paris a  grande capital da indústria cosmética da Europa ao longo de dois séculos. Começaram a sua actividade em 1826, ao comprarem a oficina Fargeon le Jeune, descendente de uma dinastia, iniciada no século XVII e que no século XVIII chegarem a ser perfumistas oficiais da Rainha Maria Antonieta e da sua corte. Os irmãos Gellé continuaram esta brilhante tradição e produziram perfumes, dentífricos e sabonetes ininterruptamente, até aos dias de hoje, atravessando períodos terríveis da história de França, como a guerra franco-prussiana, em que viram a sua fábrica destruída, a primeira guerra mundial e ainda a ocupação alemã entre 1940 e 1944.


Na realidade, em França, o perfume nunca foi considerado um luxo do qual se pudesse prescindir. Talvez os franceses acreditassem naquilo que Coco Chanel repetia muitas vezes Une femme sans parfum est une femme sans avenir.

http://fr.wikipedia.org/wiki/Gell%C3%A9_fr%C3%A8res

http://gellefreres.com/histo.php

18 comentários:

  1. Luis,

    Desta vez, vou conseguir ser a primeira a comentar!
    Sabe que esta sua leitora e amiga, está aqui a morder-se de inveja por essa pequena maravilha! Não me canso de olhar, mirar e remirar as duas peças.
    Também eu sou uma apaixonada pelos perfumes e respectivos caixas. Vou acumulando caixinhas e frascos vazios...
    Depreendo que deva ter sido uma senhora a ofertar-lhe essas mimos...e penso que, para se ter desfeito dessa, deve ter milhentas outras, tão ou mais belas, ou então tem várias iguais a essa...
    E este seu post fez-me recuar para inúmeras situações,todas elas ligadas a perfumes,usados por pessoas que eu admirava, amava, ou detestava...esta nossa memória olfactiva é algo deveras interessante.
    Apesar de ter pena de não poder possuir um frasquinho e caixa iguais , fico contente por ter sido entregue a si. Ainda bem que assim aconteceu!

    Um beijinho

    Alexandra Roldão

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    1. Alexandra

      Imaginei desde logo que este post fosse do seu agrado. No fundo, as ilustrações desta embalagem poderiam perfeitamente ser um tema do seu blogue. Pena não ter conseguido descobrir nada acerca dos artistas que ilustraram esta caixa de papelão.

      Os aromas, os cheiros, os perfumes fazem parte das nossas memórias. Tenho em casa, um armário que era da minha avó, cujas prateleiras são feitas de uma madeira odorífica. Sempre que o abro, sinto que de alguma forma estou na casa da minha avó, em Chaves, há quarenta anos atrás. Também nunca me hei-de esquecer do perfume da minha primeira namorada, o Alliage da Atkinson. Não foi uma relação importante para mim, mas aquele aroma fresco ficará sempre ligado à descoberta da vida, a alegria do primeiro namoro. Enfim, os perfumes despertam em nós reacções muito instintivas.

      Bjos

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  2. Caro Luís,

    Meti-me em campo...a beleza da caixa e do frasco assim o justificaram.
    Cheguei à conclusão que esse miminho que lhe ofereceram tem um preço de mercado que rondará os 300€, que é dos anos de 1910, e poderá ter sido obra de um pintor de seu nome Jules Cheret,o qual nasceu em 1836. Este trabalhou na área dos posters e publicidade de então,justamente em Paris.
    Envio-lhe link para um leilão com um frasco exactamente igual ao seu:

    http://www.interencheres.com/fr/meubles-objets-art/flacons-de-parfum/gelle-freres-garden-party-annees-1910-en-excellent-ie_v32324/2467866/solr

    Posteriormente descobri uma tabela cronológica com inúmeros perfumes. Lá figura o seu Garden Party como tendo sido lançado em 1921.

    http://www.perfumeintelligence.co.uk/library/perfume/g/g2/g2p1.htm

    Para além disso fiz o download de um PDF com um belíssimo poster da autoria do pintor em causa, e justamente para a casa Gellé Frères. Deixo-lhe também o link respectivo:

    http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b9003750j

    Espero ter ajudado...

    Beijinho

    Alexandra Roldão

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    1. Alexandra

      Realmente o estilo do panfleto que Jules Chéret desenhou para a Gellé Frères é muito semelhante ao da ilustração desta embalagem de perfume. É bem possível que ele tenha sido seu autor.

      Quanto a 1921, também encontrei essa data, mas parece-me muito tardia. Fiquei com a ideia que o perfume foi descontinuado nesse ano. Em 1921, em Paris, já as formas começavam a tornar-se mais direitas, mais geométricas.

      Em todo o caso, agradeço as informações e vou actualizar o post.

      bjos

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  3. Luís
    Mais uma caixinha de surpresas! As peças são um encanto!
    A própria imagem das senhoras, nos seus trajes elegantes, de cintura bem marcada, sugerem uma cronologia de finais do século XIX.
    Vem-me à lembrança o dia em que completei nove anos. Uma das prendas foi, precisamente, um pequeno frasco de perfume, em vidro facetado cor-de-rosa. Lembro-me dele, como se fosse hoje. Pena é, que na minha imprevidência da idade, não lhe tenha dado o devido valor e guardado até hoje.
    Também gosto de procurar nas feiras de velharias embalagens originais de produtos da época. Há tempos, encontrei uma pequena caixa de pó de arroz Veloutine, marca muito conhecida e usada pelas senhoras. O pior foi o preço. Ficou onde a encontrei. Pode ser que tenha a sorte de alguém me oferecer uma...
    Um abraço
    if

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  4. If

    Tal como a IF também facilmente me seduzo por estas embalagens já sem conteúdo, que não tem qualquer valor intrínseco, mas tem um charme muito especial. Trazem com elas a imagem de senhoras na província, no início do século XX a abrirem o frasquinho do perfume de Paris e sentirem que ao colocar umas gotinhas aqui e acolá, transformar-se-iam de algum modo numas elegantes francesas.

    Bjos

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  5. É uma peça (conjunto) lindíssimo. Bom dia!

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  6. Luis, salve!
    Fico imaginado o perfume dentro do frasco. Escreveste que há um bocadinho ainda. Conseguistes sentir o odor?
    Ainda há algum perfume? Deve ser um deleite pra alma abrir o frasco, cerrar os olhos e deixar a fragrância nos transportar no tempo...
    Abraço
    Edwin Fickel

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    1. Edwin Fickel

      O cheiro perdeu já a sua intensidade original, mas é um aroma diferente daqueles que se usam hoje em dia. Ao longo da história tem havido modas nos perfumes. Há épocas que se preferem os perfumes florais, outras em que se gostam mais do cheiros de origem animal.

      Um abraço e obrigado

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  7. Tenho de confessar que, apesar de reconhecer a beleza da peça e do encanto que nos transporta para uma época passada, não sou muito atraído por este tipo de objetos.
    Os desenhos são bonitos e associo-os a um aroma que em tempos ofereci à minha mãe, "L'air du temps" de Nina Ricci, apesar deste vir num frasco totalmente diferente, por ser bem mais recente e por não estar mais em moda este tipo de decoração.
    Mas reconheço que é uma peça interessante
    Manel

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    1. Manel

      Obrigado pelo teu comentário.

      Este post serviu também para algumas experiências fotográficas, nomeadamente o uso de fundos pretos ou escuros como cenário. Há uns tempos folhei um catálogo alemão de vidros da Boémia, em que todos os vidros eram fotografados sobre um fundo preto e o resultado era espantoso. Aqui tentei reproduzir o mesmo efeito e julgo que consegui dar impacto a esta peça que é pequena e cuja graça e detalhe se poderiam perder facilmente num cenário graficamente mais confuso.

      Um abraço

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  8. Que peças encantadoras, Luís! Acho lindíssima a embalagem de cartão deste Garden Party Bouquet, certamente a tornar o conjunto apetecível para qualquer bom colecionador.
    Também sou das que guardam os bonitinhos frascos de perfume ou água de colónia depois de usados, muitos com a embalagem e alguns já antigos. Lembra-se do “Maderas de Oriente” naqueles belos frascos arte déco?
    Houve uma altura em que me perdia pelas miniaturas francesas, mesmo sem usar o conteúdo. Tenho até um livro sobre miniaturas de perfumes e fui lá procurar este da Gellée Fréres, mas não consta. Com certeza não o comercializaram em miniatura.
    Confesso que já comprei muitos perfumes pelo frasco, miniaturas ou não. Cheguei assim à marca Lalique de que tenho vários exemplares. São formas muito bonitas inspiradas pelas criações de René Lalique. Embora sejam já um produto industrial, são aquelas que me posso dar ao luxo de ter em casa e só aquele nome já me transporta a um mundo de arte e de beleza.
    Tenho dificuldade em encontrar aromas que consiga usar, mas curiosamente o que tenho usado mais é precisamente “L’air du temps “ que o Manel acabou de referir...e cheguei lá primeiramente pelo frasco, com aquela tampa lindíssima!
    Concluindo, muitos são os caminhos e os objetos que nos permitem chegar à beleza e ao prazer que nos dá a fruição dela.
    Gostei muito.
    Beijos

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    1. Maria Andrade

      Obrigado pelo seu comentário. Recordo-me perfeitamente das Maderas de Oriente da Myrurgia. Aliás esta fábrica tinha um bom mercado em Portugal. Julgo que os seus preços deveriam ser muito mais baratos que os dos perfumes franceses.

      Sei que há um grande coleccionismo de frascos e embalagens de perfumes e de facto com razão, porque as fábricas de cosméticos francesas contrataram desde sempre os melhores artistas para conceberem estas pequenas maravilhas do acessório e do fútil. Por exemplo, o frasco da Chanel nº 5 é hoje considerado uma obra prima do design mundial, mas há muitíssimos outros perfumes com frasquinhos absolutamente espantosos. Aliás, é curioso que os aromas não estão sujeitos a copyright, só as embalagens. Qualquer fábrica do mundo poderá teoricamente reproduzir o perfume Chanel nº 5, mas nunca um frasco igual.

      Gosto muito de perfumes e águas de colónia. Não saio de casa sem por umas gotinhas aqui e acolá, mas como sou um pobretanas, compro colónias espanholas para bebé, em frasco de litro. Enfim, é a crise. Lol.

      Bjos

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  9. Trotz der banalen und finden Sie heraus die große Kunst der Vergangenheit sind interessante Notizen.

    Andreas Vart

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  10. Gostei muito das peças e claro, são perdições estes frascos de perfume do final do século XIX.
    Boa noite!:))

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