domingo, 29 de junho de 2014

Mais uma travessa de faiança inglesa "well-and-tree"



Volto hoje a apresentar mais uma travessa de faiança inglesa, usada para servir para servir carne assada, dita de well-and-tree.  Traduzida à letra esta expressão inglesa, quer dizer poço e árvore, ou seja, ao longo da travessa correm uns sulcos, formando o desenho de uma árvore, que terminam numa concavidade, o poço. Este desenho muito curioso destinava-se a que o molho da carne escorresse para a concavidade onde era muito mais fácil recolhe-lo com o auxílio de uma colher.

A travessa esta marcada no verso,  T. Fell & Cº,  marca que foi usada pela companhia Thomas Fell entre 1830-1890. Esta firma estava sediada em Newcastle e fornecia com os seus serviços de jantar e de chá o Nordeste inglês, bem como o mercado báltico e pelos vistos também o Sul da Europa, pois o meu amigo Manel, comprou-a por cá, na Ocidental Praia Lusitana. Esta companhia fabricou os padrões que estavam na moda no século XIX, como o Wild Rose, o Willow e o Asiatic Pheasants, sendo estes dois últimos, também por cá produzidos, nomeadamente  por Sacávem, entre outras fábricas e ficaram conhecidos pelos nomes, padrão do salgueiro e faisão, respectivamente.

A Tomas Fell fabricou também outros padrões menos vulgares, como o padrão desta travessa, o Bosphorus, embora também não tenha sido inteiramente original nesta escolha,  pois a firma britânica Ralph Hall & Co também produziu o Bosphorus, entre, 1841-1849, numa versão muitíssimo semelhante. 
Travessa Bosphorus da Ralph Hall & Co. 1841 - 1849. Propriedade da Connecticut Historical Society


Este padrão Bosphorus, tal como o nome indica, inspira-se no estreito do Bosfóro, que liga o mar Negro ao mar de Mármara e marca o limite dos continentes asiático e europeu na Turquia. Mas é uma visão fantasiosa, povoada por jovens casais galantes, passeando em barcarolas românticas com edifícios exóticos ao fundo, que pouco terá a ver com aquele estreito, que separa a Europa da Ásia. Portanto, quem foi o responsável pelo desenho desta travessa nunca pôs certamente os pés em Istambul, mas talvez tenha tido acesso às estampas de Thomas Allom, publicadas  na Constantinople and the scenery of the seven churches of Asia Minor, em 1838, as quais poderá ter interpretado livremente, usando elementos daqui e dali, sem grandes preocupações de rigor.
Estampas que poderão ter servido de inspiração longínqua para o padrão desta travessa. Foram extraídas da obra Constantinople and the scenery of the seven churches of Asia Minor.  London:  Fisher, Son in London, 1839
Este Tomas Allom (1804-1872) foi um arquitecto inglês que se distinguiu sobretudo pelos desenhos de paisagens, executados ao longo do seu percurso de viajante incansável e que serviram para ilustrar livros de viagens,  que estavam muito na moda no início do século XX. Este Senhor viajou intensamente pelo seu próprio pelo seu próprio País, do qual deixou inúmeros desenhos publicados na obra A topographical history of Surrey, da qual já reproduzi no blogue uma estampa, e ainda viajou pela Europa e pelo Oriente e um dos seus álbuns mais conhecidos é precisamente publicado com desenhos executados em Istambul e no Império Otomano.
Uma imagem da obra Constantinople and the scenery of the seven churches of Asia Minor.  London:  Fisher, Son in London
Esse livro intitulado Constantinople and the scenery of the seven churches of Asia Minor.  London:  Fisher, Son in London, 1839 saiu em dois volumes e creio que algumas das suas estampas foram a inspiração longínqua desta travessa.


16 comentários:

  1. Caro Luís
    Gosto muito destas travessas e, até há pouco tempo, desconhecia por completo estas peças com este sistema de "recolha do molho":) Muito bem pensado! Assim, evitava-se o uso da molheira ou o inclinar da travessa, o que, convenhamos, não é muito elegante :)
    Esta travessa do Manel, a quem desde já lhe dou os parabéns por mais esta bela peça, tem uma cercadura fora de vulgar.Parece-me não ser muito frequente o uso de espigas na decoração da louça inglesa e muito menos, ver esta decoração entrar covo dentro.
    O motivo central, com o casal europeu na paisagem oriental, esperando a exótica embarcação parece querer contar uma história:) Divagações de quem se prepara para mais uma semana de trabalho…
    Bjs

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    1. Maria Paula

      Talvez um dos encantos desta louça inglesa do transfer way seja precisamente despertar a nossa imaginação e fantasiarmos sobre as figuras e paisagens nelas representadas enquanto jantamos ou almoçamos ou simplesmente as admiramos penduradas na parede. Julgo então que para as crianças estas faianças deveriam ser particularmente atraentes. Durante a infância, o meu pai acreditava piamente que a a louça cavalinho representava o D. Fuas Roupinho.

      Bjos e obrigado pelo seu comentário

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  2. Muito interessante. Tenho uma taça antiga que gostava de perceber melhor. Tenho de investigar e talvez lhe peça ajuda. Bom dia!

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  3. Esta foi a primeira peça com estas caraterísticas que adquiri, já lá vão quase 10 anos. Sabia para que servia, mas não conhecia a designação de "well and tree", termo que aprendi com a Maria Andrade, quando apresentou uma peça semelhante, há cerca de 3 anos, no seu blog.
    Viver e aprender.
    E contigo aprendi um pouco mais, pois não sabia a origem deste tipo de desenho, nem tão pouco que existiu um autor que publicou desenhos só com este tema.
    Boa pesquisa! Não há nada que não descubras!
    Obrigado pela informação e agradeço também o comentário tão simpático que a Maria Paula me dirigiu.
    Manel

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  4. Margarida Elias

    Obrigado pelo seu comentário. Terei muito gosto em ajuda-la, se obviamente tiver conhecimentos para tal. O meu endereço de e-mail está no meu perfil.

    Um abraço

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  5. Manel

    De facto parece-me que as estampas de Tomas Allon publicadas na obra "Constantinople and the scenery of the seven churches of Asia Minor" poderão ter sido uma longínqua fonte de inspiração para esta decoração. Claro, sem certezas, até porque houve muito artistas, não só ingleses, mas também franceses, na mesma época atraídos por Istambul, pelo Bósforo e pelos Dardanelos e que deixaram muitos desenhos destas paisagens, que foram sendo publicados e que poderiam ter sido igualmente a fonte de inspiração do motivo decorativo da tua travessa.

    Um abraço

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  6. Desconhecia esta peça com uma faceta tão prática no auxílio de servir bem o prato a todos os convivas.
    Além de bonita tem esta peculiaridade.
    Parabéns pela compra e pelo post.
    Um abraço!:))

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    1. Ana

      É bem verdade. Além de bonitas estas peças tem um design funcional espantoso. Pessoalmente, quando sirvo carne assada aos meus filhos num banal e triste pyrex, faço sempre malabarismos, inclinando a travessa para tentar recolher o molho, sem fazer muita porcaria e nem sempre sou bem sucedido.

      Pessoalmente acho que seria interessante voltar a fabricar peças destas para as pormos a uso corrente.

      Um abraço

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  7. Caro Luís
    Como já deve calcular, esta é uma peça que me enche as medidas e me deixa bem roidinha de inveja. É que para além do formato “well and tree”, tem uma bonita cena central com o nome bem identificado, que nos leva logo para míticos cenários do extremo oriental da Europa.
    (Sinto uma atração tremenda por Istambul e andamos há anos para fazer a visita - com cruzeiro no Bósforo!!! - mas até agora nada...)
    Quanto à cercadura, tal como a Maria Paula, também a achei muito bonita e invulgar.
    Mas para além de tudo isto, admiro muito a sua capacidade de encontrar livros e gravuras que poderão ter servido de modelo para a bonita paisagem do motivo central. Adorei ler sobre esse Thomas Allom e as obras que publicou em resultado das suas viagens.
    Enriqueceu assim muito o poste, sem dúvida!
    E sem dúvida o Manel é um homem de bom gosto!
    Abraços

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    1. Maria Andrade

      Também eu tenho um fascínio por Istambul e um desejo enorme de conhecer a cidade. Desde jovem que fantasio com a antiga Constantinopla. Recentemente li o Istambul de Orhan Pamuk, uma obra belíssima, que me deixou com mais vontade de conhecer a cidade, mas com esta crise toda é uma sorte se conseguir dar um salto a qualquer terra espanhola, junto à fronteira.

      Como já me apercebi que uma boa parte desta loiça inglesa do século XIX se inspirou em gravuras, fiz no google pesquisas por Bosphorus, old prints ou engravings e rapidamente fui ter a um site alemão que vendia uma colecção fantástica de gravuras inglesas e francesas do século XIX sobre Istambul e arredores. As que podiam inspirar esta travessa eram do Thomas Allom.

      Como sei por longa prática que a maioria das estampas antigas vendidas no mercado foram cortadas de livros, rapidamente parti para a minha área profissional, as bibliotecas e em pouco tempo descobri o livro onde saíram publicadas estas estampas, que por sinal se encontra integralmente digitalizado.

      um abraço e obrigado pelas suas palavras

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  8. Maria Andrade, também lhe quero agradecer as suas simpáticas palavras, mas, no que toca à minha peça, não valerá a pena ter inveja, pois é bem certo que é bonita, ou não a teria adquirido, mas está longe daquelas peças fantásticas, que nos fazem ficar encantados, como é o caso de tantas as peças que possui e que eu conheço.
    A sua coleção é extensa e tem peças de se ficar em contemplação, e desejo que tenha muitos e bons anos para a ir completando e, em simultâneo, anseio, que vá publicando textos sobre elas.
    Porque, se não forem os seus textos, a par dos do Luís e da Ivete, que vêm com a chacela de qualidade que os carateriza, ficamos reduzidos a tristes e pobres escritos que mais parecem da "venda da banha da cobra", que, se acertam em alguma coisa, terá sido erro
    Manel

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    1. Manel

      É bem verdade. Todos sentimos falta da presença da Maria Andrade

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    2. Ola Manel,

      Gostaria de falar consigo se possivel sobre esta peça, haverá possibilidade?
      tinha todo o gosto, eu tenho o serviço que herdei e faltam me algumas peças uma é essa e o prato da molheira.
      gostaria que visse o serviço!
      cumprimentos

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    3. Boa noite
      poderá contactar com o Luís para o email dele, que, a partir daí, contactá-lo-ei eu mesmo.
      Cumprimentos
      Manel

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    4. Ola Manel,
      já enviei email ao sr Luis como me tinha dito, mas por algum motivo não me respondeu!se for mais fácil e o Manel fica o meu mail binogois@gmail.com
      obrigado.
      e desculpe o incomodo.
      cumprimentos

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  9. bom dia

    gostaria se possivel entrar em contacto com o Manel pois eu tenho o serviço quase completo desta travessa e gostaria de te lo completo haverá alguma possibilidade de pelo menos trocar mos informações sobre esta peça.
    obrigado

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