Este conjunto de chávena e pires foram a minha mais recente aquisição na feira de Estremoz. O preço era de tal forma irrecusável, que era pecado deixa-lo na banca.
Embora as peças não estejam marcadas, quando comprei o conjunto estava convencido que era Companhia das Índias, termo com que vulgarmente é conhecida a porcelana de chinesa realizada especialmente para o mercado europeu, nos séculos XVIII e inícios do séc. XIX. Pela sua decoração neoclássica, achei que fosse coisa do reinado Jiaqing (1796-1820). Procurei na net, em livros e em catálogos de leilões encontrar loiça idêntica, que pudesse fundamentar a minha opinião, mas as pesquisas foram inconclusivas. Além disso, percebo muito pouco de porcelana oriental.
Embora as peças não estejam marcadas, quando comprei o conjunto estava convencido que era Companhia das Índias, termo com que vulgarmente é conhecida a porcelana de chinesa realizada especialmente para o mercado europeu, nos séculos XVIII e inícios do séc. XIX. Pela sua decoração neoclássica, achei que fosse coisa do reinado Jiaqing (1796-1820). Procurei na net, em livros e em catálogos de leilões encontrar loiça idêntica, que pudesse fundamentar a minha opinião, mas as pesquisas foram inconclusivas. Além disso, percebo muito pouco de porcelana oriental.
Outro factor intrigante neste conjunto é que na reserva, onde deveria estar um brasão, um monograma do nome de quem encomendou o serviço, ou simplesmente um motivo decorativo qualquer, como uma paisagem ou um pássaro, encontram-se números. Na reserva da chávena está pintado o nº 20 e na do pires o nº 35. Mais nas outras peças iguais que eu deixei na banca, casa, cada uma tinha o seu número diferente. Fiquei a matutar neste assunto. Será que em tempos o serviço foi encomendado com uma numeração sequencial por algum burguês rico ou por um aristocrata, com o objectivo de controlar eventuais roubos por parte da criadagem?
Pedi ajuda a um amigo, conservador de cerâmica, o Rui Trindade, que através das fotografias foi de opinião, que esta chávena e pires são porcelana europeia, provavelmente francesa, dos últimos anos do século XVIII ou dos primeiros anos do XIX. Chamou-me até a atenção para o formato da asa, com uma ligeira saliência interior para melhor aderência do dedo, igual a uma chávena da colecção do Museu Nacional de Arte Antiga.
Conjunto do Museu Nacional de Arte Antiga, inv.4699 e 467o. Foto Matriznet |
Depois destas explicações pesquisei na net pela expressão tasse litron et soucoupe porcelaine française e encontrei muitas chávenas de porcelana francesa com o mesmo formato e com uma decoração, que não anda muito longe desta, com as grinaldas e outros elementos emprestados dos têxteis, muito típicos da produção francesa da época. Relativamente aos números, o Rui Trindade crê que se trate de peças de mostruário, em que há uma pequena variante para cada uma delas. Fiquei com pena de não ter comprado as restantes peças do serviço para poder comprovar melhor esta teoria.
Claro não há certezas, até porque nem o pires nem a chávena estão marcados, mas cinco euros por uma peça que poderá bem ser um conjunto dos finais do XVIII, ou inícios do XIX, vale bem a toda a incerteza.
E nas peças que ficaram na banca, os números eram todos diferentes? Sem repetição? Se chávena e pires tivessem o mesmo número, acaso poderia ser um indicador do conjunto? Eu não entendo nada de antiguidades mas essa numeração é intrigante. :)
ResponderEliminarLuisa
EliminarHoje estou arrependido de não ter comprado tudo, que o senhor vendia-me o conjunto por tuta e meia, mas já não tenho mesmo mais espaço em casa. Tenho ideia de cada peça tinha o seu nº diferente, mas na altura estava mais preocupado em escolher a chávena e o pires menos danificados. Pergunto-me agora se seriam todas rigorosamente iguais.
Também coloquei a hipótese de se tratar dos restos de um serviço de alguma messe de oficiais, pois como toda a gente sabe os militares gostam de ordem e tudo numerado.
Passo vida em feiras de velharias e trabalho num museu e nunca tinha visto nada assim. Enfim, talvez um dia por acaso, descubra um caso semelhante volto ao tema aqui no blog.
Em todo o caso, esta é uma peça de muito boa qualidade muito bem pintada.
bjos
Muito interessante. Aprende-se muito por aqui. Bjs!
ResponderEliminarMargarida
EliminarObrigado pelo seu comentário. Este conjunto é de facto uma coisa intrigante. Bjos e boa semana
Como vi o mesmo conjunto de peças à venda contigo, posso assegurar que cada peça tinha um número diferente. Os números não se repetiam.
ResponderEliminarA mim, sempre preocupado com números, não me escaparia tal coisa.
Eu fiquei com a impressão que seria um conjunto de peças encomendadas para uma coletividade qualquer, e que a cada chávena numerada deveria corresponder o respetivo pires com o mesmo número. Essa é a minha impressão.
Quando vi estas peças em venda pareceu-me que poderiam ser catalogadas como Companhia das Índias, afinal enganei-me.
Tenho um par de chávenas monogramadas, com formato que não difere muito, e sempre as tinha identificado como Companhia das Índias.
É verdade que a pega das minhas chávenas é totalmente diferente, e que a decoração é muito exuberante e rica, toda em azul e ouro, mas dela constam grinaldas, florões e ornamentação de frisos com contas e flores; fiquei agora na dúvida se não será igualmente porcelana europeia.
Enfim, é realmente necessário conhecer melhor as coisas Não que vá gostar menos ou mais das minhas chávenas, mas é sempre importante manter um certo rigor na classificação.
Mas estas chávenas são muito bonitas
Manel
Manel
EliminarPercebo pouco de porcelana oriental e neste período, última década do Séc. XVIII e primeira década do séc. XIX, o assunto ainda é mais confuso. Há por exemplo fábricas europeias que encomendam porcelana da China em branco, que depois pintam. Outras ainda começam a produzir porcelana na Europa com um certo ar de Companhia das Índias.
Ainda há bem pouco tempo apresentei aqui no blog uma chávena, que acreditava ser Companhia das Índias e a Maria Clara comentou de imediato que era inglesa e tinha razão.
Enfim, estes números são um mistério.
Um abraço
Curiosamente, a primeira coisa que pensei quando vi a foto 1, antes de ler qualquer coisa, é que seria uma peça comercial, de mostruário.
ResponderEliminarUma coisa que adorei aprender é que esta saliência interior da alça não é apenas um frufru decorativo, mas algo de ergonomia! Isso JAMAIS iria me ocorrer sem a dica de seu amigo expert!
Uma das melhores coisas de seu blog, além de fotos de belas peças, e matar um tiquinho da saudade do amigo, é o tanto que se aprende por aqui.
Abraços!
Fábio.
EliminarO blog é sempre uma oportunidade para o encontro de amigos com interesses comuns, ainda que haja tanto mar a separa-los.
A pega da chávena é uma graça e ao mesmo tempo muito ergonómica.
O Rui Trindade também acredita que sejam peças de mostruário, mas é um mistério. Por vezes estas coisas só resolvem passados uns anos, quando ao folhear um livro da especialidade, se encontra um caso semelhante.
Um abraço
KKKK roubaram a xícara n. 35!
ResponderEliminarConcordo que deva ser peça de mostruário. Nunca vi nada assim, numerado, fica até moderno como decoração...
Um abraço.
Jorge
EliminarEsta numeração é um mistério. sábado, na feira de velharias comprei mais duas chávenas e um pires e todos tem números diferentes, mas a decoração é igual. Será que pertenceram à messe de oficiais de algum quartel?
Enfim, creio que ainda voltarei a este assunto.
Um abraço para essa terra, que ainda vai cumprir seu ideal e transformar-se num imenso Portugal