Os que acompanham este blog sabem, que tenho publicado regularmente retratos de um velho álbum de fotografias carte-de-visite, formado pelo meu trisavô José Rodrigues Liberal Sampaio. São mulheres e homens das relações do meu trisavô, bem como antepassados meus da família Montalvão e as fotografias estão datadas mais ou menos entre 1865-1900. Alguns desses retratos, sobretudo das mulheres são impossíveis de identificar e outros apresentam uma anotação manuscrita do meu trisavô, com o nome, mas é quase impossível perceber quem foram eles realmente. Nem todos os que morreram há mais de 150 anos fazem parte das famílias com genealogia escrita pelos descendentes e noutros ainda, o traço das suas existências foi apagado pelo tempo.
Um desses personagens, é um tal António José Machado, um jovem com ar bonito e distinto, que em 29 de Outubro de 1876, dedicou o seu retrato carte-de-viste ao meu trisavô, o padre José Rodrigues Liberal Sampaio (1846-1935), tratando-o familiarmente por José, o que pressupõe que eram próximos um do outro. A fotografia é da Antiga Caza Fritz, do Emílio Biel. Como em 1876 a fotografia era cara e o jovem apresenta um ar elegante e fino, presumi que fosse um homem abastado, mas não consegui apurar mais nada, se era um fidalgo, um burguês rico ou um advogado. O meu amigo Humberto Ferreira, a quem mostrei a fotografia referiu-me uma família Machado em Chaves, que tinham uma quinta entre a antiga rua do Olival e as Longras, mas não conseguimos concluir nada. Pesquisei no site geneall pelo seu nome, mas António José Machado é nome demasiado comum para dar resultados.
A fotografia é da Antiga Caza Fritz, do Emílio Biel e está dedicada ao meu trisavô, com a data de 29 de Outubro de 1876. |
Ainda que nada soubesse deste António José Machado, gostei tanto do retrato, que o publiquei no blog a 11 de Outubro de 2018, pois tenho sempre a esperança, que do outro dado do monitor, alguém me escreva, anunciando Olhe, tenho uma fotografia igual em casa e fulano ou beltrano é meu antepassado. E com efeito, a semana passada uma senhora enviou-me um e-mail, informando-me, que na posse da sua família existia um retrato exactamente igual a este e anotado pela sua bisavô Josefina, indicando, que se tratava do seu tio e padrinho António José Machado. Esta senhora informou-me também que estes Machados eram de facto a família proprietária da quinta situada entre a antiga rua do Olival e as Longras e eram uma família de comerciantes, cujo estabelecimento se situava no largo do Arrabalde, em Chaves, onde hoje é uma óptica.
Fotografia de António José Machado, que está na posse da família Machado. A anotação manuscrita é da sua sobrinha e afilhada. |
A partir destes dados e da data de nascimento da bisavô desta Senhora, cheguei ao assento de baptismo da sua antepassada Josefina e consegui identificar alguma coisa da existência do António José Machado, esse jovem que em 1876 tinha tão bom ar.
A bisavô desta seguidora do meu blog, a Josefina Adelaide Machado, nasceu a 10 de Novembro de 1883, em Chaves e foi baptizada no dia 18 do mesmo mês. Era filha de Daniel da Silva Machado, negociante, natural de Samões, Concelho de Vila Flor e de Adelaide da Silva Bento Machado, natural de Chaves e moradores no arrabalde. O seu padrinho foi o nosso António José Machado, também negociante e naquele ano permanecia ainda solteiro. Tentei consultar os registos paroquiais de Samões, Vila Flor, para saber em que anos nasceram estes irmãos, mas infelizmente não se encontram digitalizados. Embora, sendo ainda uma vila neste 3º quartel do século XIX, Chaves era uma terra próspera, situada num vale rico e com muito comércio derivado quer da proximidade com Espanha, quer da presença de quarteis e atraia muita gente dos concelhos vizinhos. Portanto, era natural, que estes Machados de deslocassem de Vila Flor para Chaves em busca de melhores oportunidades.
A bisavô desta seguidora do meu blog, a Josefina Adelaide Machado, nasceu a 10 de Novembro de 1883, em Chaves e foi baptizada no dia 18 do mesmo mês. Era filha de Daniel da Silva Machado, negociante, natural de Samões, Concelho de Vila Flor e de Adelaide da Silva Bento Machado, natural de Chaves e moradores no arrabalde. O seu padrinho foi o nosso António José Machado, também negociante e naquele ano permanecia ainda solteiro. Tentei consultar os registos paroquiais de Samões, Vila Flor, para saber em que anos nasceram estes irmãos, mas infelizmente não se encontram digitalizados. Embora, sendo ainda uma vila neste 3º quartel do século XIX, Chaves era uma terra próspera, situada num vale rico e com muito comércio derivado quer da proximidade com Espanha, quer da presença de quarteis e atraia muita gente dos concelhos vizinhos. Portanto, era natural, que estes Machados de deslocassem de Vila Flor para Chaves em busca de melhores oportunidades.
Através da consulta da obra História moderna e contemporânea da Vila de Chaves através das actas e jornais da época / Júlio Montalvão Machado. – Chaves: Grupo Cultural Aquae Flaviae, 2012 consegui aperceber-me que estes irmãos Machados desempenharam um papel activo na vida pública de Chaves e que o seu estabelecimento comercial já existia na década de 70 do século XIX., conforme passo a descrever.
A 13 de Junho de 1876, o Jornal A Voz de Chaves publicou um anúncio da Machado & Irmão, no largo do Arrabalde, agentes da Mala Real Inglesa e paquetes a vapor. Logo em 1877, Daniel da Silva Machado foi um dos 14 membros eleitos para instalar um asilo de infância desvalida em Chaves e entre 1890 e 1892 foi vereador da Câmara Municipal de Chaves. Em 1895, a 27 de Outubro, novamente A Voz de Chaves enuncia uma lista de homens com qualidades para serem eleitos para nova vereação. Entre eles está António José Machado, proprietário e negociante em Chaves. Em 1900, nas actas da Câmara Municipal de Chaves, registou-se proposta da nomeação de uns quantos cidadãos ligados ao meio industrial para estabelecer as contribuições respeitantes às contas gerais do Estado, entre os quais, António José Machado. Em 1906, aquando da visita do Rei do D. Carlos a Chaves, a Câmara Municipal daquela vila, convidou uma série de cidadãos proeminentes e empresas para dar uma contribuição financeira, de forma cobrirem o déficit dos cofres do município, resultante daquela real visita . Uma das firmas foi precisamente a Machado & Irmão.
Machado & Irmãos, fazendas, miudezas. Largo do Arrabalde Chaves. Foto de Fernando Ribeiro, publicada no blog https://chaves.blogs.sapo.pt/79138.html |
Em suma estes irmãos Machado, o Daniel e o António José eram comerciantes abastados, negociantes e que participaram na vida pública de Chaves no último quartel do século XIX e o seu estabelecimento, que sobreviveu quase até aos dias de hoje, era dos mais antigos em Chaves.
Por último, esta é também a história do reencontro de uma sobrinha trineta e de um trineto, descendentes desses dois homens, que em 1876 trocaram fotografias entre si, António José Machado e José Rodrigues Liberal Sampaio.
António José Machado |
Muito interessante e uma investigação fabulosa. O augusto Machado teria alguma coisa a ver com esta família? Bom dia!
ResponderEliminarMargarida
EliminarÉ verdade, este post deu-me algum trabalho, mas não teria conseguido nada sem a os dados fornecidos por esta família Machado, de Chaves.
Desculpe-me a minha ignorância, mas que é esse Augusto Machado?
Machado é um nome relativamente comum de Norte a Sul de Portugal. Enquanto que certos apelidos são característicos de uma região e mesmo sem sabermos nada das pessoas em causa, conseguimos logo adivinhar se são de origem açoriana, transmontana ou alentejana, Machado pode ser usado em qualquer parte do País. Por isso, demorei tanto tempo a identificar o senhor da fotografia.
Bjos
Talvez seja eu a ver demasiado, mas, logo de início, a fotografia deste senhor me pareceu a de alguém com um ar dinâmico e cheio de iniciativa, para lá do que facto de haver fortes probabilidades de ter sido uma pessoa interessante.
ResponderEliminarAfinal, talvez tenha sido isso mesmo, visto a casa comercial destes irmãos ter sobrevivido décadas e décadas. Terá ultrapassado a vida de ambos e entrado na dos herdeiros.
Hoje em dia, as casas comerciais têm uma vida limitadíssima, pois passam a obsoletas enquanto "o Diabo esfrega um olho", como soe dizer-se.
Tenho saudade das casas comerciais que se mantinham, passavam de geração para geração, e podíamos contar com elas durante toda a vida.
A evolução acelerada dos tempos passam atestado de óbito à maioria deste comércio familiar.
Dá-nos a todos uma sensação de insegurança tremenda.
Nada é fiável, tudo se altera constantemente, hoje há, amanhã ... sabe-se lá!
Fico nostálgico.
Quantas casas familiares destas desapareceram nesta última década, e, quando as conheci, pareciam feitas para a vida!
Muito boa história, esta a que contaste aqui.
A pouco e pouco vai-se deslindando o fio à meada.
Manel
Manel
EliminarÉ verdade, este retrato destacou-se logo entre as várias fotografias do álbum formado pelo meu trisavô. É uma boa fotografia da casa do Emílio Biel e o jovem é de facto distinto, e o seu olhar tem aquele não sei o quê, que o torna especial.
Estes Machados eram com efeito comerciantes abastados, com uma vida pública activa em Chaves, durante o século XIX e primeira referência que encontrei ao seu estabelecimento é de 1876.
Segundo a descrição que encontrei no blog https://chaves.blogs.sapo.pt/79138.html, por dentro a casa era muito bonita e tinha um mezanino. Por todo o País, estas antigas casas comerciais foram desaparecendo e nem sempre os seus interiores foram preservados. Quando voltar a Chaves este Verão vou visitar esta loja, que é hoje uma óptica e tentar perceber se ficou alguma coisa do passado.
Um abraço
Boa tarde, estes Machados tiveram várias propriedades em Outeiro Seco, o meu falecido pai nos anos 60 era o lavrador desta família, lavrou a quinta toda . Relativamente ao Machado o último era solteirão e ainda era proprietário, da casa Machado cegou. Eu sou de Outeiro Seco meu nome é Isaac.
ResponderEliminarCaro Isaac
EliminarMuito obrigado pelo seu contributo a este post. Realmente a Senhora que contactou comigo, bem que tinha razão, dizendo que as terras dos Machados eram vizinhas ou muito próximas das dos Montalvões.
Um abraço
Este estabelecimento acabou por ser adquirido por um funcionário que trabalhou nessa casa desde os 11 anos. Luís Rodrigues Pinto, meu avó, falecido este ano.
ResponderEliminarCara Maria Costa
EliminarMuito obrigado pelo seu comentário, que juntou mais uma peça a esta evocação. Parece que aos poucos, com os testemunhos dos descendentes, se vai formando a história deste estabelecimento comercial, tão emblemático de Chaves.
A história é feita de memórias cheias de sentimentos.
Um bem haja
O meu tataravo Francisco José Machado casado com Ana Rosa veio de Chaves para os acores onde tiveram um rapaz em 16 de Maio 1831,deram o nome de António Jose Machado, o meu trizavo. Será que são familiares?
ResponderEliminarAcho que esse armazém era da minha família ❤️ mas sei pouco sobre a história. A minha avó Vitória Isabel Ramos Sil Machado de Carvalho contava-me que a família dela em Chaves tinha uma casa brasonada e um armazém de texteis com esse nome. O filho dela mais velho, meu tio, também é António José Machado (Dr.).
ResponderEliminarE a minha avó também tinha casa em Samoes, Vila Flor. Vou tentar. Descobrir mais coisas.
ResponderEliminarCaro Amigo ou amiga
EliminarOs registos paroquiais de Chaves, isto é baptismo, morte e casamento estão digitalizados e acessíveis on-line no Arquivo Distrital de Vila Real. Tendo alguma paciência para folhear aqueles registos consegue estabelecer essas relações.
Um grande abraço