Uma amiga, a Maria Miguel ofereceu-me esta chávena de chá, que me encantou logo pela sua simplicidade, tão característica da faiança portuguesa antiga. Como é hábito na faiança portuguesa, não apresenta qualquer marca, mas pela cor amarelada da pasta, pareceu-me desde logo uma produção da zona Centro de Portugal, talvez de Coimbra, mas faltam sempre mais estudos publicados sobre esta área, para fazer atribuições com alguma segurança. Talvez por essa razão tenha escrito tão pouco sobre faiança portuguesa nos últimos tempos, embora o verdadeiro motivo tenha a mais a ver com o facto de a minha casa ter esgotado a possibilidade de expor mais cacarecos, sobretudo depois da morte do meu pai, quando tive trazer algumas imagens de arte sacra, gravuras e quadrinhos e mais um ou outro bibelot, essenciais para manter viva a memória da família no meu dia-a-dia.
Mas voltando à chávena, mal olhei para ela com mais atenção, associei-a logo a uma terrina, que o meu amigo Manel, herdou da sua avó, que vivia precisamente na região Centro, ali perto da Redinha no Concelho de Pombal e resolvi fotografa-las juntas, para colocar em evidência um certo ar de família. Aliás, já tinha apresentado essa terrina em Fevereiro de 2020.
Esse ar de família resulta não só da pasta, mais grosseira e amarelada, mas sobretudo da decoração, que me parece inspirada nos bordados tradicionais portugueses.
o conezinho na base |
Esta chávena apresenta também característica, que não encontro na porcelana portuguesa ou na faiança inglesa da mesma época, isto é, na base da chávena, existe uma espécie de cone em relevo. Não sei exctamente a razão desta forma, creio que seria para dar mais solidez à peça, mas também encontrei também esse conezinho no tardoz de uma chávena do Norte, atribuída a Santo António do Vale da Piedade. Em todo o caso, a chávena de Santo António de Vale da Piedade será um fabrico de meados do século XIX e esta parece-me já coisa do início do século XX.
A chávena da direita está atribuída a Santo António de Vale da Piedade e apresenta o mesmo cone no tardoz |
Sei que com este exto não adiantei muitas informações novas sobre o assunto, mas como explico no texto que serve de introdução ao blog, estes posts servem-me como fichas sobre as peças, onde tento identificar semelhanças, arrumar conhecimentos, que mais tarde me poderão ser úteis e depois é o meu agradecimento à Maria Miguel, que me deu esta bonita xícara.
Tão bonita!!! Abraços.
ResponderEliminarJorge
EliminarMuito obrigado e peço desculpa pelo atraso da minha resposta. Esta chávena simples com uma decoração ao gosto popular é uma graça.
Um grande abraço
É a sua simplicidade que a faz tão apelativa.
ResponderEliminarEste tipo de motivos faz-me sempre associar à cerâmica desta área central de Portugal, mas sem qualquer fundamento plausível.
Como a minha casa de família está na zona centro de Portugal, e as peças de cerâmica que la encontrei, apresentam este tipo de motivos decorativos, sempre as associei à produção daquela região, numa área que vai de Caldas a Aveiro.
Não acredito que a minha família tivesse meios para viajar, e muito menos para comprar cerâmica, nas poucas deslocações que terão efectuado, que, possivelmente, terão feito por motivos de força maior.
Viajar por motivos de lazer, ou férias, são coisas que estão fora de questão, eram pessoas remediadas e sem meios de transporte próprio ou de pagar outros que os levassem para outras localidades.
E a comprarem cerâmica, seria em feiras ou romarias nas vizinhanças, ou a vendedores ambulantes que lhes passassem na localidade onde habitavam, e, mesmo assim, só quando era mesmo imprescindível.
Manel
Manel
EliminarTambém acredito que esta chávena e terrina saíram da mesma oficina, algures na zona centro. Já li alguns estudos sobre faiança e olaria mais sistemáticos, onde os autores conseguem reconstituir a área de distribuição de um centro de fabrico, como é o caso da Faiança de Estremoz. Pena, que para Coimbra e a sua região, o assunto não tenha sido tratado.
Um abraço
Caro Luis
ResponderEliminarSó uma paixão intrínseca, arrebatadora……mergulhada num mundo paralelo que foge ao comum das pessoas, se olha para uma chávena que tem de tão bela como popular e rústica e se molda um texto impregnado de respiração ofegante enlevando a supremo destaque uma chávena que irá ser colocada no mesmo ambiente das mais finas porcelanas da velha Paris da colecção.
Bom trabalho como sempre…….um blog único….
Abraço
Vitor Pires
Caro Vítor
EliminarTenho um gosto eclético e tanto aprecio esta faiança popular, com a sofisticação da porcelana de Paris. É como na alimentação, umas sardinhas assadas num restaurante da Nazaré podem saber tão bem ou melhor que o caviar.
Um grande abraço e obrigado pelo seu comentário, tão adequado à poesia popular, que esta chávena parece evocar.
Bem bonita. Bom dia!
ResponderEliminarMargarida. A xícara é muito bonita na sua simplicidade popular. Bjos
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