O cabo está decorado num estilo vagamente Luís XVI |
Este talher de servir que apresento foi comprado em conjunto com mais outros cinco talheres, todos em prata francesa, por um preço muitíssimo convidativo na Feira de Estremoz. É uma faca de manteiga muito bonita, num estilo vagamente Luís XVI e corresponde a um hábito muito requintado do passado. Se hoje em dia, nos apetece barrar um pãozinho com manteiga logo pela manhã, usamos uma faca qualquer e andor que se faz tarde, pois é preciso sair de casa a correr, para apanhar um comboio, o metro, ou um autocarro para chegar ao emprego. Mas antigamente havia estes hábitos refinados. Lembro-me que em casa dos meus pais, quando se ofereciam lanches ajantarados colocavam a uso uma faquinha antiga de manteiga em madrepérola, que era um mimo.
Punção de garantia oficial da França, a cabeça de Minerva, usada entre 1838 e 1973 |
A faca apresenta no cabo o punção de garantia oficial da França, a cabeça de Minerva, usada entre 1838 e 1973. É uma prata de boa qualidade, pois tem o nº 1 à direita da cabeça. Na lâmina, há uma segunda marca, talvez do ourives. Contudo na época, em que este talher foi produzido, finais do século XIX, inícios do XX, os ourives franceses assinavam a prata de lei com um punção em forma de losango, contendo as suas iniciais ou um símbolo da casa e esta marquinha é rectangular, forma normalmente reservada às ligas com uma quantidade baixa de prata, ou metal prateado. Na prática, isto quer dizer que o cabo é em prata de Lei, de boa qualidade e a lâmina é de uma liga com baixa quantidade de prata, mas também certamente mais sólida e resistente.
Marca de Robert Louis, com estabelecimento, na rue du Temple, nº 7, em Paris, activo em 1917 |
No site https://www.silvercollection.it/ descobri que esta marca em forma rectangular, contendo as iniciais LR, uma asa, uma palma, três estrelas em cima e quatro em baixo foi usada pelo ourives Robert Louis, com estabelecimento, na rue du Temple, nº 7, em Paris, activo em 1917. Esta Rue do Temple, fica no bairro do Marais onde no passado se encontravam muitas oficinas e estabelecimentos de ourives.
Em suma, esta faca de manteiga é francesa, feita por volta de 1917, mas não consegui apurar se o ourives parisiense Robert Louis produziu só a lâmina, se também o cabo.
É certo que não sirvo pequenos almoços de categoria a ninguém, nem sequer lanches ajantarados para usar esta faca de barrar a manteiga no pão, mas quando os meus filhos aparecem para jantar, utilizo-a para cortar o queijo e é um prazer toca-la. Depois de lavar a loiça, não a arrumo logo, deixo-a um dia ou dois na mesa, ao lado do computador, para admira-la e agora percebo muito melhor o fascínio que a prata sempre exerceu na história da humanidade.
A faca mede 21 cm de comprimento |
Ligações consultadas:
Que maravilhosa descrição, Luís! És um esteta, sem dúvida! 😊
ResponderEliminarMaria
EliminarMuito obrigado. Estas peças francesas de prata são sempre bonitas e inspiradoras. Realmente, a França desde o século XVII que se especializou nestas indústria de luxo,
Bjos
Estás a tornar-te um especialista na identificação da prataria.
ResponderEliminarAinda bem, pois assim ficas a saber o que te interessa comprar, e os preços até são convidativos.
Eu também reconheço o fascínio que a prata exerce sobre as pessoas, pois a mim também acontece.
Manel
Manel
EliminarSó agora comecei a olhar com mais atenção as pratas. Sempre as achei bonitas, mas nunca me tinha dedicado ao assunto. Começo agora a entender um pouco a lógica das marcas e a redescobrir a enorme variedade de peças, que um faqueiro antigo tinha. Por exemplo, existem umas faquinhas não muito diferentes destas para cortar gelado, que se vendiam ao par com uma colher especial e ainda umas maiores para servir o peixe.
Um abraço