quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Azulejos Miragaia na R. Miguel Bombarda do Porto


Nunca me canso de desfolhar o catálogo da exposição Fábrica de Louça de Miragaia, editado pelo IMC, em 2008. Um dos aspectos mais interessantes de todo este projecto de estudo da antiga companhia de faiança portuense (1775-1850), foi a realização de uma sondagem arqueológica no local da antiga fábrica, em Miragaia.

O trabalho foi executado em 2004 por técnicos da Câmara Municipal do Porto e os resultados revelaram fragmentos de azulejos, certamente desperdícios de peças inutilizadas, mas suficientemente claros, para se neles reconhecer um dos padrões mais vulgar dos prédios do Porto. Isto foi uma coisa extraordinária, porque identificou-se com toda a certeza um padrão de azulejos fabricado por Miragaia. Até esse momento, embora se soubesse que Miragaia tivesse fabricado azulejos e até exportado para o Brasil, não se conhecia nenhuma peça marcada, nem se tinha a certeza acerca de nenhum padrão, que era tradição atribuir-lhe.

O padrão de azulejos em causa é muito bonito, apresenta os azuis incomparáveis com que aquela fábrica se tornou conhecida e ainda um friso encantador, que representa uma roseira trepadora.

Ora no fim-de-semana passado fui à “Imbicta” e como de costume o Manel e eu vagueamos pelas ruas, encantados, a descobrir cantarias em granito, prédios fin-de-siècle cheios de dignidade, janelas com caixilharia fantástica e claro azulejos, que são tão diferentes dos lisboetas.
No meio da Miguel Bombarda, que é aquela rua onde estão todas as galerias de arte do Porto, descobri um padrão exactamente igual ao Miragaia, refrenciado no catálogo da exposição, só que em cores diferentes.

Não só o azulejo base é igual, como a própria cercadura com a roseira trepadeira. Julgo que se poderá atribuir com alguma segurança este padrão a Miragaia.

14 comentários:

  1. Então Luís, não é que andamos a vaguear pelos mesmo sítios este fim de semana :)?No sábado,andei precisamente pela Miguel Bombarda, Cedofeita, detive-me algum tempo numa feirinha de velharias e artesanato na Praça Carlos Alberto,desci os Clérigos etc, etc.
    Quanto aos azulejos que fotografou são lindos.Encanto-me especialmente com as bordaduras.
    Ia jurar que já vi aqui em Braga uns iguais, ao conjunto todo azul que aqui mostra.
    Um abraço,
    Maria Paula

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  2. Pois é, essa também é uma das minhas zonas preferidas do Porto, rua de Cedofeita, rua da Torrinha, com muitos e bons antiquários só para arregalar a vista, e rua Miguel Bombarda com as galerias, as lojas vintage, o museu do estuque... às vezes faço uma visita ao Soares dos Reis q não fica longe pela rua do Rosário. Também já tenho ido à feirinha de q fala a Maria Paula, ao Sábado de tarde, chamam-lhe Porto Belo por analogia com a de Londres, mas a minha preferida é a da Vandoma, tipo Feira da Ladra, ao Sábado de manhã, junto à Ponte do Infante.
    Quanto aos azulejos, são aquela maravilha de q já temos falado. Tenho um painel de 12 azul e branco mas infelizmente sem cercadura q é o q lhe dá mais graça. A marca não é Miragaia, são as iniciais F C da fábrica do Carvalhinho.
    Os coloridos da rua Miguel Bombarda também são lindíssimos, mas no Porto encontram-se destas belezas a cada passo.
    Ainda bem q tiveram um fim de semana em cheio por terras do Norte.
    Abraços
    Maria A.

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  3. Maria Paula, foi por um triz! Mais um dia e teríamos encontro! O que teria sido um prazer.
    Esta cidade é um nunca acabar de beleza, mas ... helás! com o centro totalmente desabitado, como afinal Lisboa, e muitas outras cidades, o que, confesso, me corta o coração.
    Tanto mais porque a zona onde se refugia a burguesia da cidade é perfeitamente incaracterística, sem graça nem interesse em termos de arquitectura ... lá terá os seus encantos e as suas comodidades, mas diluem-se perante a banalidade do construído.
    Não conheço os bairros limítrofes onde, desconfio, se deve refugiar a maioria dos portuenses, mas creio que não devem ser muito diferentes dos que circundam Lisboa como um anel de aço!
    Com a agravante que, em Lisboa, esses bairros limítrofes ocupados pela maioria da população conheço-os e o que conheço faz-me querer estar o mais longe deles possível, e onde faço questão de não me perder nunca! Para fealdade basta o dia-a-dia!
    Claro que nos centros urbanos a edilidade não preveniu a falta de estacionamento - eu e tu bem o sabemos, que o sentimos no quotidiano - (facto que, em algumas cidades europeias, se ulrapassou e contornou, lançando-se mão de outros métodos bem mais práticos), e as leis urbanísticas não tornam prática a sua ocupação para quem quiser habitá-lo.
    Muitos edíficios devem estar embrulhados em questiúnculas de herdeiros, outros caem, porque o que pagam os inquilinos não permite que os proprietários façam obras, e noutros ainda os proprietários devem rezar todas as noites para que eles venham abaixo para ali poderem construir um arranha-céus, feio e bruto, que vai contra todas as normas instituídas pela Câmara ... nada que uma boa jogada por baixo da mesa não ultrapasse (claro que, posteriormente, por vezes, poucas, sabem-se estes escândalos, mas depois de construídos quem vai lá deitá-los a baixo???)!!!
    Enfim, já estou como a Maria Isabel, vou-me perdendo no meu labirinto de paixões, mas até que sabe bem, para desanuviar!
    Manel

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  4. Maria Paula

    De facto o padrão azul e branco de Miragaia parece ser muito comum no Porto e nas cidades vizinhas.

    Diga-me a que dias é essa Feira de velharias da Praça Carlos Alberto?

    Abraço Luís

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  5. Cara Maria Andrade

    Fiquei de olhos arregalados. Afinal onde são as ruas com antiquários no Porto? Por favor, indique onde estão, mas, dos baratos, pois para coisas caras temos os de Lisboa, onde basta entrar na loja para começarem logo a pedir pazadas de Euros.

    Quanto à Feira da Vendoma, confesso-lhe que não gostei. Aquela calçada é um perigo mortal. Estava sempre a ver, quando tropeçava nalgum traste e ia parar lá baixo ao Douro, que como toda a gente sabe, não é um rio para brincadeiras, sobretudo para os alfacinhas. Lol

    abraço

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  6. Caro Manel,

    obrigado pelas tuas bonitas palavras e reflexões

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  7. Caro Luís,
    Mas quem é q o mandou meter-se nas calçadas quase a pique a dar para o Douro? Eu nunca lá vou e tenho feito as minhas compras todas na zona plana. O meu marido às xs vai lá abaixo mas também acho q nunca comprou nada naqueles verdadeiros escorregas....A verdade é q há dias em q não se encontra nada de jeito, mas depois de se ir algumas xs já se conhecem os sítios e os vendedores q nos podem interessar e já tenho encontrado verdadeiras pechinchas.
    Quanto às ruas das velharias, a q eu conheço melhor é a rua da Torrinha, q sai da rua de Cedofeita e é paralela à Miguel Bombarda, não lhe garanto é q encontre coisas baratas, eu geralmente vou só visitar...
    Há outra rua de q não sei o nome (talvez 31 de Janeiro) q desce da Estação de S.Bento em direcção à Ribeira, passando pelo Mercado Ferreira Borges, e aí há uma loja com coisas boas q não é careira, "Galerias da Vendoma" e uma outra mais fraquita.
    De resto não sei mais nada.
    Abraços
    Maria A.

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  8. Essas perto do mercado Ferreira Borges já lá met o nariz.

    Quanto a Rua da Torrinha registei a morada.

    OBrigado

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  9. Viva Luís,

    Realmente é impressionante a beleza conseguida pelo engenho português em termos arquitectónicos e decorativos com a utilização de um material, relativamente barato, como é o azulejo. Por outra lado é de notar a própria evolução técnica aplicada a este material ao longo do tempo a par da adaptação de padrões, formas, temas e cores à estética dominante em cada época. Daí conseguir-se uma riqueza tão grande em termos de património.

    Quanto à concorrência na "caça" nos contentores das obras, não serei eu que ando a fazê-la nos últimos tempos!!! Porque também não tenho conseguido nada, ou andam por aí mais "caçadores" ou estamos mesmo fora da "época" dos ajulejos, utilizando linguagem cinegética!!!!! Mas a procura continua......

    O que mais me custa mesmo, mais do que serem outros "caçadores" a recolherem e ficarem com os azulejos, chegando mesmo a horrorizar e magoar, é a forma como o património é destruido, deixado ao abandono, vandalizado, deitado em contentores de entulho...... E isto não só em relação a azulejos mas um pouco por toda a parte, desde o património construido até importantes peças que acabam por se perder ou sair do país de forma ilegítima. E penso que partilha deste sentimento, até pela forma como fala do Outeiro Seco, as imagens que coloca, até porque aqui há uma ligação emocional áquele local onde estão as memórias familiares. É revoltante o estado a que se deixa chegar o nosso património, e simultaneamente um sentimento de impotência por nada poder fazer. Sei o que isso é, porque quando há algum tempo fui pela última vez à igreja onde repousam os ossos de antepassados meus, e que esteve durante muito tempo ligada à minha família, e horrorizar-me com paredes esventradas, altares destruidos, imagens e alfaias religiosas sabe-se lá já onde..... Até doeu....

    Mas voltando ainda à imagem de Nossa Senhora da Conceição, da qual apresentou as fotografias, não quis de forma nenhuma dizer que o restauro foi uma má opção. Como refere, a luz talvez não tenha favorecido em nada o trabalho feito, nem apresente na sua totalidade a beleza com que a peça ficou, que acredito que ficou. O fotógrafo que me perdoe, mas até ficou com um certo ar de "loja de chinês"...... Mas percebe-se bem a qualidade da peça.
    E como referi também eu neste caso teria optado pelo restauro de forma a devolver as mãos, que se tinham perdido, à imagem. Tal, como aliás foi feito, implicaria tratar toda a peça em termos cromáticos. Obviamente que esta questão do restauro depende sempre muito da peça em questão, tal como o destino que se lhe pretende dar em termos de disposição num espaço e depende também da sensibilidade e factores emotivos (por vezes difíceis de explicar) de cada um. Tenho peças em que optei pelo restauro integral devolvendo-lhe o brilho original, outras em que prefiro que o restauro fique assinalavél (claro que sem destruir a sua beleza), outras ainda em que opto por deixá-las tal como o tempo as marcou.
    Claro que quando se tem uma imagem construida relativamente ao que é antigo, é dificil dimensionar essa mesma peça nova, como saiu das mãos do artíficie ou do artista, em todo o seu esplendor, as cores vivas, os brilhos, a suavidade, a perfeição, antes do tempo deixar as suas marcas. Falou do Pórtico da Glória da Catedral de Santiago, originalmente colorido, que hoje marca pela imponência do granito, e não consegui deixar de me lembrar do Partenón ou das estátuas de Apolo que os gregos conheceram em cores vivas de azul, verde, encarnado, amarelo, mas que hoje não se consegue imaginar toda a arquitectura e estatuaria da Antiguidade a não ser num imaculado mármore! Ou ainda o escândalo que foi, quando depois do restauro se apresentou o tecto da Capela Sistina, limpa de séculos de fumo de velas e outras tantas décadas do fumo do trânsito de Roma!

    Boas "caçadas"!!!

    Abraço
    C.

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  10. Caro C

    Gostei imenso do comentário. Até reli alguns paragráfos.

    Relativamente aos contentores das obras, partilho o seu sentimento de mâgoa. Além dos azulejos, aparecem tijoleiras antigas, que fizeram parte do chão de cozinhas ou caves, e que aproveitadas dariam coisas lindas. Também nos contentores se encontram fragmentos de estuque com pinturas de grinaldas à maneira de Pillement, o que nos parte verdadeiramente o coração, pois se os azulejos e as tijoleiras ainda poderão ser reaproveitados por excêntricos como nós, os frescos perdem-se para sempre.

    Sinto-me impotente para parar a destruição do património, que por estas terras se continua a fazer. Talvez por essa razão, tenha feito o blog muito à volta da velha casa familiar, pois desta maneira consigo preservar pelos menos as memórias e partilha-lhas com gente que tal como o eu e o “C se emocionam com o património arquitectónico português e já tenho tido aqui resultados espectaculares, pois mediante os contactos do blog, consegui arranjar fotografias da capela do Sólar antes de ser pilhada e reconstituir todos os santos que lá se encontravam.

    Quanta à Imaculada do António, achei que gerou uma discussão interessante no blog e repito-lhe o que escrevi à Maria Isabel. O António terá que deixar passar uns 3 ou 4 anos, convidar uns quantos fumadores para a casa e nessa altura a sua imagem terá o tom certo.

    Abraços e espero continua-lo a vê-lo por cá com os seus comentários bem escritos e oportunos

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  11. Caro Luís
    Fui ter a esta feira por mero acaso, tinha ouvido falar nela vagamente, portanto a informação que lhe vou dar poderá não ser exacta, uma vez que a obtive através de uma cunhada minha que acha que...é todos os sábados,só da parte da tarde, e baseia-se e no famoso Portobello londrino, onde se podem comprar discos de vinil, roupa vintage, antiguidades, livros e revistas e produtos biológicos.
    Bom fim de semana
    Maria Paula

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  12. Caro Fábio

    Nada que exista sobre faiança ou azulejos te escapa na net. Só ontem fui espreitar o link e de facto já conhecia o texto, que foi publicado no catálogo da exposição sobre Miragaia, que se fez no Porto. Mas para aqueles que não puderam comprar o catálogo a tua sugestão é estupenda.

    Um abraço

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