Quando viajo pelo interior do País e visito terras de província com centros históricos ainda bem conservados, apetece-me sempre ficar ali. Arranjar um emprego na Biblioteca pública local, abandonar Lisboa e comprar uma casa antiga bonita, cheia de história, com bonitas varandas de ferro forjado, com a desta casa que vi e fotografei em Fronteira no Alentejo.
Talvez este ensejo em me fixar numa terra antiga da província, seja um sentimento romântico de regressar às casas onde se criarem os meus pais e os meus avôs e fazer reviver esse passado familiar, aquela sensação única de estar num quarto e ver o sol entrar por uma janela de guilhotina, iluminando um soalho antigo, a cheirar a cera. Decididamente, num apartamento dos anos 60 ou 70 de Benfica não se consegue viver essa alma de uma casa antiga.
Esta casa em Fronteira, que parece conter dentro das suas janelas, toda uma sucessão de histórias familiares, atraiu-me pela beleza das cantarias, mas também pela elegância do trabalho de ferro forjado, em estilo D. Maria. Tentei encontrar alguma informação sobre a origem ou o fabrico destes gradeamentos artísticos, mas não consegui obter nada. Há uma obra, Grades de Lisboa, de 1947, do período da casa portuguesa, que tem bonitos desenhos, mas com um texto fraco, pois a obra pretendia apenas exortar os portugueses de então a fazer as varandas das suas moradias e casas, copiando os modelos do passado e enfim, não podemos criticar o autor por essa intenção. Li também na obra Ferros forjados do Porto de 1955, que o distrito de Portalegre tinha uma grande tradição no fabrico do ferro forjado e que este trabalho tanto era feito pelos serralheiros, como pelos ferreiros. Imagino que a seguir ao terramoto de 1755, muitas oficinas em Lisboa tenham crescido exponencialmente, para satisfazer a procura que a construção de casas novas suscitava e talvez esta varanda, tenha sido executada por uma dessas oficinas pombalinas, mas é uma grande interrogação.
Em todo o caso, seja lá qual for a oficina que fez esta bela obra, apetece viver numa casa destas.
Olá Luís,
ResponderEliminarMais uma coincidência, desde que vim viver para Lisboa, o que mais gostei na cidade foram as portas imponentes, as varandas e os portões em ferro forjado, por exemplo próximo ao jardim do Príncipe Real existem portões que impressionam, quer pela beleza, quer pela dimensão em altura. Lisboa e Portugal são recheados com estas obras primas.
Há cerca de uns 10 anos tentei dar os primeiros passos na construção de uma pequena casa com elementos, relacionados com o passado da aquitetura portuguesa e dos elementos decorativos que muito aprecio.
Meu Deus, onde fui me meter. Tentei comprar um portão antigo e usado que tivesse sido salvo de uma demolição (mercado pouco explorado em Portugal), mas era difícil, quando encontrava as medidas eram pouco adequadas, depois quando era visto meu interesse a coisa ficava pelos 10.000€ por um portão enferrujado, com faltas de elementos, enfim. Acabei por descobrir que em Espanha (que também tem trabalhos magníficos) vendiam peças das mais variadas formas.
Contratei um "Serralheiro" para ajudar a escolher as peças para montar o portão. Claro como não tive qualquer orientação, acabei por ecolher muitos elementos decorativos, o portão ficou o horrível, sem qualquer enquadramento, com um peso monstruoso pelo excesso de peças, teve de ser cortato a meio...uma Odisseia.
Para a cereja no topo do bolo, o Senhor não sabia trabalhar com a soldadura naquele tipo de material, assim as dobradiças que davam acesso a porta central não suportaram o peso, ficando o acesso limitado à abertura com rodízios, partiram peças decorativas, por que quando não são devidamente soldadas vão caindo aos poucos...
As vezes até apetece rir...um dia...alguns trabalhadores que estiveram aqui a fazer uma outra obra fecharam o portão com tanta força, os batentes não suportaram o impacto do peso e o portão caiu em cima deles, ficou todo torto, hoje parece um boomerang ou seja o meu portão não vai durar 300 anos....
Mas continuo apaixonado pelas cantarias ,portas, janelas, ferro forjado...Vá lá saber por que temos estas paixonetas estranhas.
P.S. Esta varanda é um espanto !
Um abraço - José Oliveira
Peço desculpa ao José Oliveira, mas não consegui deixar de me rir com as suas desventuras e, da sua má experiência, tiro eu as ilações necessárias para o meu futuro, pois já tinha pensado em adquirir algumas grades antigas para colocar nas janelas do Alentejo.
ResponderEliminarÉ verdade que mandei fazer a um serralheiro local as grades metálicas para colocar nas janelas, daquelas "de barriga", como são comuns por aquelas paragens, e não só.
Sempre nutri uma vontade louca de ter este tipo de gradeamentos quando me passeava pelo sul de Espanha. A agora, finalmente, também tenho os meus, mas ainda há algumas janelas que, apesar de não caber qualquer ser humano por elas, quero ver o vão revestido com um gradeamento antigo, que, necessariamente, terá de ser cortado ... fica o relato do José Oliveira para me recordar que as coisas não são assim tão fáceis!
Quanto ao que referes sobres as casas de Benfica, é perfeitamente verdade, pois vivi numa delas durante quase 30 anos da minha vida e sei como conseguem ser feias, desconfortáveis, com as suas horríveis e inevitáveis "marquises".
Aquele bairro, e não é o único, pois outros seguiram-se-lhe no modelo, dificilmente pode ser mais feio, e, passear por ele, é como ver desfilar perante nós o pior que a "arquitetura" (eu sei que é um pecado chamar-lhe de arquitetura!) de todos os "patos bravos" juntos conseguiu produzir ... é uma montra de horrores!
Claro que, quem lá mora, não tem muito mais opções, e, face ao mercado imobiliário de Lisboa, dá graças a Deus por ter ali uma casa, mas fico sempre admirado quando me dizem que as casas ali são mais caras que noutros locais ... nunca entendo.
Eu fico encantado por ter conseguido escapar a este atentado. Continuo a visitar este bairro, ainda que raras vezes, e nunca deixo de me admirar como, quando lá vivia, não conseguia ver tanto atentado junto ... eram os meus olhos que estavam condicionados e preferiam ferchar-se estrategicamente a todo o entorno.
Fronteira, por outro lado, tem sido uma caixinha de boas surpresas, lá isso tem!
Manel
Olá Luís
ResponderEliminarO trabalho em ferro encanta, quer pela delicadeza dos enrolamentos, quer pela força que emana do conjunto. Realmente, fomos exemplares em tantas artes, que se vão perdendo com o correr dos tempo. Já não há quem queira aprender e, pior, vai desaparecendo quem possa ensinar.
Todo o trabalho de ferro se harmoniza com a pedra (mármore, creio eu). As duas pilastras que ladeiam a janela, encimadas pelo arco onde se pode ver uma ave, que segura no bico as fitas de uma grinalda estabelecem uma ligação coerente com a pujança do ferro.
Também aprecio ver varandas, janelas, cantarias, às vezes em locais de que não estamos à espera. Existe um palacete em Lisboa, no Príncipe Real, onde está instalada a Liga dos Amigos dos Hospitais, que tem trabalhos em ferro fabulosos.
Muitas dessas peças em ferro que se podem ver e comprar nos ferros-velhos, podem ter outras aplicações, o que também a enriquece.
Cumprimentos.
if
Quem desejar comprar portões ou varandas antigas em ferro, pode experimentar a feira mensal do Cartaxo. Lembro-me que é à 2º Segunda feira de cada mês.
ResponderEliminarTem sempre pessoas dedicadas a esse negócio, apesar do maior de todos o sr. Minga já ter falecido...
Caro José Oliveira
ResponderEliminarO que eu me ri com as suas desventuras. Enfim, saber rir de si próprio e dos nossos fracassos é um mérito. Tenho também uma longa história de fracassos com as minhjas manias da originalidade. Em jovem mandava fazer roupa e um dia mandei o meu alfaiate fazer um casaco com um tecidso tão duro, tão duro, que o casaco se mantinha de pé sozinho.
A mania das roupas passou, outras vieram, mas procupar fazer coisas à medida dos nossos sonhos dá muitas vezes resultados ao lado, mas há que não desistir.
Sempre me interroguei sobre onde vão parar as varandas e portões de ferro forjados dos mulhares de prédios demolidos em Lisboa. Há uns anos vi na televisão o maestro Victorino de Almeida a falar junto a uma pilha de antigas varandas, que ultrapassavam um prédio de cinco andares. Segundo, o meu pai essa cena tinha sido filmada num depósito situado nos finais da av. do Brasil, quase junto ao aeroporto. Julgo que terá fechado entretanto.
Pessoalmente ando sempre a procura desses ferros forjados nos contentores das obras, para o manel por na sua casa do Alentejo. E apesar de já lá ter encontrado azulejos, frescos, tulipas antigas de candeeiros, baus e até uma flauta antiga no seu estojo original, nunca encontrei ferros forjados.
Um abraço
Manel
ResponderEliminarFui criado em Benfica, divorciei-me em Benfica e espero que o asilo de velhos onde eu irei morrer não seja em Benfica
Cara If
ResponderEliminarA pedra é m mármore. Fronteira está perto de Estremoz e as melhores casas tem a cantarias em mármore.
Também me encanto com os ferros forjados de Lisboa, mas o resto do País também está cheio de bonitos exemplares. Sempre tentei saber um pouco mais esta arte, quase perdida, mas a bibliografia não abunda.
Abraços
Caro Politikus
ResponderEliminarQue bela sugestão a sua. Registei a dica.
Um grande abraço
Caro Politikus
ResponderEliminarSegunda-feira é um raio de um dia para fazer uma feira. Lá terei que ir num dia de férias. E esses feirante não terão loja ou armazém aberto nalguma terra das redondezas?
Abraço
Boa noite a todos,
EliminarLuís e Manuel, se algum dia eu conseguisse manter um blog (com a qualidade), certamente seria para contar as desventuras que tenho tido com esta mania e este gosto pelas velharias, já fui tantas vezes enganado e já enganei-me tantas vezes, que acho que passou a fazer parte, é uma forma de estar na vida e fico encantado por saber que tanta gente tem gostos e vivências parecidas com as minhas.
Luís, também tenho um amigo que há muito tempo (talvez há + de 30 anos)conheceu este tal depósito, perto do Aeroporto ou talvez Camarate. Nunca o consegui encontrar, mas descobri algo muito próximo.
Eu vasculhei durante anos, descobri 3 locais que tem este tipo de material:
1 em Camarate, 1 no Pinhal Novo e outro perto do MARL, não me lembro agora o nome da Aldeia, mas é próximo de Loures. Ainda sobra aqui na região do Magoito / Santa Susana, uma Casa de Velharia que costuma ter peças em Ferro, Aliás já vi mesmo fontes, postes e outras peças muito interessantes.
Os trabalhos mais bonitos que vi foi no Pinhal Novo onde existe também muita cantaria, claro que não tem a qualidade, nem os elementos escultóricos, mas tem aquele tipo de cantaria com ferros presos na pedra, como se usava principalmente nas caves, ou seja...só vendo. Aliás da última vez que vi o Proprietário, estava a cortar varandas ou portões para fazer pés e/ou suporte de mesa de refeições, uma pena.
Em qualquer dos locais preços eram de loucos, mas hoje duvido que possam ter a mesma postura.
Abraços e boa semana.
Boa noite a todos,
EliminarCaro José Oliveira era capaz de me dizer como encontrar esses três locais? Adorava ir lá explorar
Luis:
ResponderEliminarDe facto segunda-feira é um dia que apenas serve quem tem tempo livre em abundância, que também não é o meu caso.
O único feirante com porta aberta era o tal sr. Minga que entretanto faleceu.
De qualquer forma passarei por lá no mês que vem, logo direi alguma coisa, nessa matéria.
Caro Zé Oliveira
ResponderEliminarRegistei as sugestões. Ver se combino com o Manel uma excursão a um desses sítios, embora a do Magoito, tenho ideia que já conheço. A do Pinhal Novo fica a caminho do Alentejo e talvez não seja um mau sítio para começar.
Abraços
Abraços
Realmente,Luís,as suas fotografias ficaram muito bem! Estas varandas são lindas e temos que prestar homenagem aos artistas do ferro de antigamente.
ResponderEliminarOs últimos que aprenderam a arte como aprendizes, com mestres cheios de saber e de experiência, tornando-se depois também mestres cheios de saber e de experiência, ou já desapareceram, ou estão agora em idade de reforma. Face ao desinteresse das camadas mais jovens - ou melhor, de todos - por estas artes, não devem ter deixado seguidores.
No entanto, em Coimbra ainda havia há poucos anos artistas de ferro forjado, alguns formados numa escola de artes e ofícios iniciada no fim do séc. XIX ou início do XX por António Augusto Gonçalves, também artista e o fundador do Museu Machado de Castro.
Foi muito interessante esta troca de informação que se gerou aqui.
Abraços
Maria Andrade
ResponderEliminarSentia já a sua ausência. Mencionou muito a propósito António Augusto Gonçalves, também artista e o fundador do Museu Machado de Castro. Esse Senhor fez parte de uma geração que tal como como José de Figueiredo ou Raul Lino acreditavam piamente na defesa do património, na história com factor de identificação de um povo e que o estudo da arte antiga permitiria que a arte contemporânea tivesse também um caracter nacional. Era uma posição nacionalista é certo, mas pessoalmente não vejo mal nenhum que a arquitectura se integre na tradição construtiva de uma cidade ou de uma região. Em França, onde as pessoas não são fascistas, continuam a construir na província casas em granito ou outras pedras, cobertas de telhados de xisto ou colmo e o resultado é muito agradável. Julgo quem Inglaterra fazem o mesmo, embora não conheça o campo inglês.
Sou melhor a cômpor as fotografia no computador que a tira-las. Talento fotográfico é com a Maria Paula.
Abraços