segunda-feira, 21 de maio de 2012

Pratos de faiança catalães: séries azuis

A cerâmica catalã em harmonia com a azulejaria portuguesa da minha casa

Hoje volto novamente à faiança, com um conjunto de 3 pratos comprados pelo Manel em Els Encants, o poético nome da feira-da-ladra de Barcelona. São de faiança catalã, pertencentes às séries azuis, um tipo decorativo de pratos, fabricados entre o séc. XVII e o XIX. Tal como os nossos ratinhos, as séries azuis não correspondem à produção de uma oficina específica de cerâmica, mas a uma moda decorativa seguida por vários oleiros de Barcelona, caracterizada pelo uso da cor azul sobre o branco. A designação foi-lhes atribuída pelos coleccionadores e antiquários catalães, que também inventaram um jargão para designar os diferentes tipos das séries azuis.

As séries azuis dos séculos XVII a XIX caracterizam-se pelo uso de medalhões centrais ocupados por figuras, paisagens e barcos, realizados segundo uma perspectiva ingénua e popular. Diferenciam-se pelos motivos ornamentais das orlas e dividem-se em 3 grupos, consoantes as influências:

1: A catalã, de que infelizmente, nem eu nem o Manel dispomos de exemplares para aqui mostrar.
A decoração de gravatas de influência genovesa

2- A Genovesa, de que o prato com o cão é bom exemplo. Está decorada nas orlas com o motivo que os antiquários e coleccionadores designam por gravatas.

O prato que me foi oferecido pelo Manel

3- A francesa. Nos finais do século XVIII, a moda italiana é esquecida e o modelo que é tomado por inspiração é a faiança francesa de Marselha ou de Moustiers e os pratos apresentam-se decorados com motivos geométricos e miúdos. Pertencem a este grupo o prato com a paisagem ao centro, que o Manuel me ofereceu e o prato decorado com o motivo conhecido pela cerejinha.
O padrão das cerejinhas

No site do Museo de Cerámica de Barcelona encontrei um prato muito semelhante ao meu datado de meados do século XVIII.

Prato do Museu de Cerâmica de Barcelona datado de meados do Século XVIII

Destes três pratos catalães, o mais antigo será o do cão, talvez da primeira metade do Século XVIII, o da paisagem com casario, de meados do mesmo século e o do das cerejinhas, talvez já do início do XIX, conforme as minhas pesquisas no Museu de Cerâmica de Barcelona.

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre este assunto poderá consultar a obra Cerâmica espanhola dos árabes a Miró nas colecções do Museu de Cerâmica de Barcelona . Lisboa: IPM, 1996

11 comentários:

  1. Estes pratos foram um golpe de sorte, doutra forma ser-me-ia impossível comprá-los.
    Calhou ter ido muito cedo para a feira de Barcelona (não consigo dormir quando estou naquela cidade, fico frenético), e reparei em duas pessoas que queriam vender estes pratos a qualquer custo e o mais rápido possível. Quase mos colocaram no saco sem que os tivesse pago.
    Se vieram de meliantes? Talvez. Se vieram da colheita da noite anterior, também não diria que não. Que sei eu?
    Se vieram de pessoas em dificuldades? não colocaria a hipótese de lado.
    Assim, não faço ideia de onde surgiram nem a sua história.
    Sabia que eram muito interessantes, e conhecia os motivos porque tinha, há bem pouco tempo, visitado o Museu de Artes Decorativas de Barcelona (que inclui no mesmo edifício o Museu de Cerâmica), onde estavam em exposição pratos aparentados.
    Se me parecem antigos? Realmente parecem-me, mas estão num estado de conservação tão perfeito, que não estou seguro que sejam de época.
    No entanto, a maioria dos pratos que se encontram no Museu também estão num estado impecável, salvo um ou outro.
    Numa das ruas do Bairro Gótico, onde se situam vários antiquários (Carrer de la Palla), vi à venda pratos muito semelhantes a estes marcados com preços astronómicos!
    Enfim, gosto muito deles e isso é que me importa na verdade. Conseguisse eu encontrar mais pratos destes à venda, pelo preço que me custaram, e não deixaria nenhum no sítio!
    Obrigado pela tua pesquisa. Também já tinha consultado a obra que referes, a qual é mesmo muito interessante e com texto muito claro.
    Um bem hajas!
    Manel

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  2. Olá Luís
    Muito obrigada por mais este post tão didático.
    Da faiança espanhola, conheço unicamente e muito mal a faiança de Talavera, onde, estive de passagem nas férias da Páscoa, movida pela curiosidade, mas tive azar, pois era Quinta-feira Santa e estava tudo fechado:(

    Está muito conseguida a analogia estabelecida entre a decoração do prato do cão e as gravatas. Parecem mesmo! :)
    Parabéns ao Manel e a si pelos belos exemplares. O meu preferido é o do padrão das cerejinhas. Lindo!
    Abraços

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  3. Boa Noite Luis / Manel

    Sabendo como apreciam o azul e branco, imagino que estes pratos fizeram que os olhos saltassem e ficassem com o coração aos saltos.

    Não sou um conhecedor da Faiança dos hermanos (exceção a Talavera e alguma azulejaria), mas realmente a estes olhares experientes nada escapa.

    Fico a olhar para os pratos e a mim lembra os azulejos ou pratos / vasos de Delft. Mesmo o castelo deste prato relembra um motivo no azulejo português de figura avulsa, onde é pintado um castelo com estas características.

    Parabéns pela aquisição / Um Abraço

    José Oliveira

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  4. Olá Luís.Um post soberbo com faiança espanhola.
    Reconheço Talavera de la Reina porque comprei a julgar ser faiança portuguesa debalde cheguei a essa triste conclusão - deixei-me enrolar...
    Não saberia identificar nenhum, diria que são Delf pelo desenho. Curiosamente esta terça na feira da ladra comprei um pequeno prato por 50 cêntimos assinado VC - Espanha que poderá ser Valência(?)com o motivo - flor do morangueiro em azul - quanto a mim muito bem desenhada.

    Estes pratos do Manel além do bom estado de conservação são inegavelmente belos. Parabéns pela aquisição.

    O prato em reservas de cerejas já vi num Museu algo muito parecido pintado no século XVI/II - que o seu bom amigo Manel gentilmente lhe ofereceu, é magnífico.
    O prato com o cão de influência genovesa para mim preenche-me completamente.

    Parabéns pelo post. Fiquei a saber mais.

    Beijos
    Isabel

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  5. Manel

    Pesquisei na base de dados do Museu de Ceâmica de Barcelona e encontrei pratos muitos semelhantes aos 3 apresentados e foi a partir desses resultados que datei as peças. Parecem-me originais, mas fica sempre uma porta aberta para a dúvida...

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  6. Luís, não sabia nada acerca das faianças catalãs, aliás sei muito pouco sobre faiança espanhola, mas esta compra do Manel e o seu esclarecedor texto e pesquisa lá nos vieram trazer mais conhecimento nesta área.
    A decoração do seu prato aponta nitidamente para o século XVIII e a mim faz-me lembrar não só os azulejos Delft com paisagens campestres, mas também alguma faiança de Estremoz com decoração central de paisagem e cercaduras vegetalistas à volta (já vi um prato assim decorado a azul e branco).
    Os pratos do Manel também são muito interessantes, o do cão é fabuloso, mas , tal como a Maria Paula, perdi-me de amores pelo das cerejinhas.
    Já fui visitar o Museu de Cerâmica de Barcelona, seguindo o seu link, mas não consegui aceder à maior parte da coleção. É questão de perder lá mais tempo, que é o que me tem faltado ultimamente...
    Obrigada aos dois pela partilha.
    Abraços

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  7. Maria Paula

    A Faiança espanhola é muito rica. Além de Talavera, existe a cerâmica de Manises, Paterna, a valenciana e ainda a a catalã. Algumas dessas faianças tem semelhanças com os ratinhos.

    Também não nos podemos esquecer que as primeiras faianças que chegaram a Portugal vieram da cidade espanhola de Málaga, o que deu origem a nossa faiança malegueira ou às malgas na qual tomamos a sopa. Enfim, a cerâmica espanhola é um mundo a descobrir com algumas ramificações aqui pela Ocidental Praia Lusitana.

    Beijos

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  8. Caro José Oliveira

    O prato com a paisagem de facto recorda Delft e os nossos azulejos de figura avulsa. Aliás, por causa dessa última semelhança resolvi fotografar o prato junto aos azulejos portugueses e parece que foram feitos uns para os outros.

    Em todo o caso, estas semelhanças todas explicam-se por uma simples razão. Todas estas oficinas tem por paradigma a cerâmica chinesa.

    A Maria Andrade uma vez explicou isso muito bem no seu blog. Os portugueses levaram porcelana chinesa para a Europa e a certa altura começaram a copia-la em faiança e a exporta-la para a Holanda. Neste país a louça portuguesa que copiava a chinesa foi muito apreciada e em Delft desataram a fabricar faiança semelhante à portuguesa, que posteriormente foi copiada em França e em Inglaterra. De seguida, como todos imitavam as modas francesas, catalães, portugueses e sevilhanos produzem louça à francesa. São cópias de cópias, mas o arquétipo é a porcelana chinesa.

    Abraços

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  9. Maria Andrade

    Não consegui fazer o link à base e fiquei chateado porque já sabia que a Maria Andrade quereria ir lá cuscar, pois conheço a sua curiosidade em saber semre mais.

    1 Abre o link http://www.museuceramica.bcn.es/colecc/frmcolecc02.htm

    2 Depois clica em Colecciones en linea

    3 Nos menus escolhe "cerca"

    4- Aparece um menu de pesquisa onde pode seleccionar a cidade de fabrico, Barcelona por exemplo, ou um autor ou fazer pesquisa por palavra.

    5. Clica no botão inferior, para buscar.

    Se não conseguir ligue-me para o tlm, que eu lhe explico passo a passo.

    A base está muito bem feita.

    Abraços

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    Respostas
    1. Muito obrigada por ter vindo em meu auxílio!
      Talvez acabasse por lá chegar depois de dar algumas voltas, mas assim foi muito mais fácil e rápido.
      Já fui "cercar" toda a coleção de Barcelona, com exemplares magníficos, e lá encontrei os pratos com motivos semelhantes a estes que o Manel comprou.
      É bom poder contar com os amigos...
      Um abraço

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  10. Maria Isabel

    Finalmente lhe consigo responder.

    Também me encanta o prato com o cão. Recorda-me um azulejo antigo que apanhei no lixo com a cabeça de um cão e encastrei na parede. Aliás se olhar para a minha direita lá está ele, de boca aberta mostrando os dentes e guardando a minha casa dos assaltos das criaturas, que nos governam e dos vizinhos que me aborrecem com as questões do condomínio, lolol.

    Beijos e muito obrigado pelas suas palavras

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