Através deste blog, fui encontrando pessoas que estão atrás de outros computadores, em outras partes do País, de Trás-os-Montes ao Algarve e até mesmo no Brasil. Aos poucos fui conhecendo-os e abriram-me as portas das suas casas, algumas delas cheias de história, mostraram-me as suas colecções, os seus interesses e ainda me deram dormida e de comer, sem nunca me terem visto antes. Um desses conhecimentos foi o Zé Júlio, que me convidou para o Algarve para me mostrar os seus tesouros, que são as ruínas de casas abandonadas, as alfarrobeiras centenárias, as praias desertas, as plantas selvagens e os jardins que vai criando para outras pessoas, transplantando para esses espaços a natureza do Algarve que ele tão bem entende.
Desse passeio pelo Algarve, onde contornámos os resorts turísticos, o que talvez me tenha mais impressionado foi o interior de uma casa dos anos 20 ou 30, abandonada e cujas paredes interiores mostravam uma pintura escaiolada, uma técnica, muito típica da região. O efeito desta pintura de escaiola transmite de uma forma imediata toda a luz e alegria do Sul e ao mesmo tempo lembra-nos as pinturas dos palácios de Creta, que são o expoente máximo dessa luminosidade mediterrânica.
Desse passeio pelo Algarve, onde contornámos os resorts turísticos, o que talvez me tenha mais impressionado foi o interior de uma casa dos anos 20 ou 30, abandonada e cujas paredes interiores mostravam uma pintura escaiolada, uma técnica, muito típica da região. O efeito desta pintura de escaiola transmite de uma forma imediata toda a luz e alegria do Sul e ao mesmo tempo lembra-nos as pinturas dos palácios de Creta, que são o expoente máximo dessa luminosidade mediterrânica.
Enfim, falo em alegria do Sul, não porque julgue que os seus habitantes sejam mais alegres que no Norte ou Centro, mas, antes, porque acredito, que nós, os que chegamos dos climas chuvosos e mais frios experimentamos uma espécie de euforia com a luz do Sul reflectida pelo mar, que nos faz acreditar por momentos, que algum Deus grego nos devolveu a juventude.
Todas estas sensações que esta pintura consegue provocar são conseguidas através de uma técnica muito económica, que usa como matéria-prima, a cal, a argila e pigmentos de cor naturais, tudo produtos abundantes na região. A pintura a escaiola pretende imitar os materiais mais caros como o mármore ou a pedra ou a madeira. É uma arte de fingimento e talvez por isso seu impacto nos nossos sentidos seja tão grande.
Olá Luís
ResponderEliminarNão tenho palavras para descrever a sensação de encanto, serenidade e tristeza por ver as condições em que se encontra a casa que mostra nas imagens.A parede pintada, circundada por duas molduras, nas cores quentes dos ocres,lembra os desertos africanos.
Parabéns para si e para o seu amigo.
if
Cara If
ResponderEliminarTambém fiquei estarrecido com esta casa que o Zé Júlio descobriu e fotografou. Senti-me também transportado para Creta, o Sahara ou paras as pinturas de algumas casas romanas.
Obrigado pelo seu comentário
Olá Luís
ResponderEliminarGostei imenso deste post proporcionado pelo seu amigo Zé Júlio aqui neste meio encontrado.
É como diz "abriram-me portas, mostraram coleções, deram dormida e comida"...
Em Julho vou visitar uma escavação arqueológica na margem do Sabor...pela qual o meu bom amigo Arnaldo aqui conhecido também, ainda virtual me endereçou convite para visitar com a família, já tem a autorização necessária e avisa o calor pode chegar aos 40 graus.Estou em pulgas.
Já conhecia este tipo de pintura - não tão exuberante. Via-a em S. Cucufate na Vidigueira e em casas ditas normais. A da minha mãe tinha o corredor assim - tipo marmoreado e perto da minha casa rural vi uma outra abandonada com a sala em cores tijolo mais parecida com a que mostra.
Beijos
Isabel
Maria Isabel
ResponderEliminarEsta casa que o Zé Júlio que me mostrou não é modo nenhum uma casa fidalga ou sequer a habitação urbana de um burguês rico. Pelo que percebi, foi em tempos a residência aldeã de algum lavrador com uma certa abastança. Mas o encanto da pintura está precisamente numa certa simplicidade rural.
Também uma vez visitei uma casa na zona de Tomar, que tinha a cozinha pintada segundo esta técnica, mas não era de modo nenhum uma coisa tão grande e assombrosa como esta casa algarvia.
Desejo-lhe uma boa viagem à Terra Quente transmontana, que também conheço. Mas as minhas origens estão na terra fria de Trás-os-Montes, a zona Norte do Distrito de Bragança, grande parte ocupada pelo Parque Natural de Montesinho.
O isolamento de trasmontano é algo muito forte e que nos seduz, mas sou suspeito para falar com insenção.
Beijos
Luís,
ResponderEliminarLindos os tons terra destas pinturas!
A mim também fazem lembrar os interiores nas civilizações antigas mediterrânicas.
A pintura do teto é magnífica e quantos tetos e paredes estes artistas não terão pintado nessa zona do Algarve.
Por aqui, em casa de lavradores abastados do século XIX, usava-se muito a pintura marmoreada, em retângulos a imitar placas de mármore, mas os tetos, tanto quanto eu conheço, não tinham pintura, antes florões ou outros enfeites de estuque.
Será que essa casa não tem recuperação possível?
Ficam ao menos as belas fotografias do Zé Júlio, enfim...
Obrigada aos dois por nos mostrarem a beleza do que é/foi autenticamente nosso.
Abraços
Essa casa faz-me lembrar a casa do meu avô materno na Cachofarra (uma das duas únicas casas da terra com 1º andar), O meu avô era um comerciante e agricultor algarvio (Loulé. Nas escadas para o 1º andar e no corredor do mesmo as paredes eram pintadas a imitar mármore dentro de molduras. Já não me lembro bem mas parece-me que tinham uns frisos junto ao tecto com flores... O chão era em tábua de madeira corrida e os tectos eram em caixote. Essa tem um chão também manufacturado pois trata-se de mosaicos hidráulicos que são feitos com pigmentos e uma mistura de argila e cimento manualmente com moldes.Espreitem aqui:
ResponderEliminarhttp://aervilhacorderosa.com/2008/03/mosaico-hidraulico/
Bom fim de semana e obrigado pelas recordações que me fizeram reviver.
Ana Silva
Maria andrade
ResponderEliminarEsta casa não tem safa. Tinha também uma linda chaminé algarvia, prestes a cair. Ninguém liga a estas coisas. Convencionou-se que casas velhas só dão prejuízo e toda a quente quer apartamentos por estrear.
A pintura escaiolada não é exclusiva do Algarve e deve haver vestígios pelo resto do País, mas é daqueles assuntos cujo estudo parece que não ter despertado curiosidade de ninguém.
Bjos e obrigado pelo seu comentário
Boa tarde, gostaria de saber a localização desta habitação pois ando a fazer um levantamento de trabalhos em escaiola, marmoreados a sobre a cor na arqyuitectura do Algarve. Ficaria muito grato.
Eliminarfilipedapalma@gmail.com
Cara Ana Silva.
ResponderEliminarQue pena n ter guardado fotografias do interior da casa do seu avô! Em todpo o caso, reveja os albúns de fotos familiares e pode ser que apareça algum pormenor dessa pintura no fundo de uma fotografia de um almoço de família.
Curioso ter mencionados os mosaicos hidraúlicos, que passaram completamente de moda, muito embora ainda os façam em Estremoz.
Beijos
As fotos valem por mil palavras, apesar das tuas estarem muito adequadas e até com alguma poesia, sobretudo na comparação com a pintura dos interiores dos palácios cretenses, pelas quais nutro o maior dos prazeres contemplativos, apesar de saber que nada do que está hoje em Cnossos corresponde ao original, antes são traduções algo "romanceadas" por Evans, ainda que baseadas nos originais que se guardam no Museu Arqueológico de Heraklion.
ResponderEliminarE nos outros palácios minóicos não existem quaisquer frescos, pois as equipas de escavação preferiram manter o local o mais próximo do que encontraram, depois de feitas as escavações.
Mas as pinturas que aqui aparecem, são muito ingénuas, traduzidas por algum artesão local que tentou recrear de uma forma muito sua os "trompe l'oeil" que ornamentavam as grandes residências palacianas, e isso fez a diferença, pois tornaram-se muito espontâneas, conferindo ao espaço uma estética original e um conforto visual fantástico.
Claro que ao Zé Júlio, e à sua sensibilidade, não passaria despercebida toda esta beleza, como, afinal, não passou mesmo. Um bem haja por partilhá-la.
Tenho de agradecer a ambos esta beleza toda.
Manel
Manel
ResponderEliminarTalvez as pinturas de Cnossos simbolizem a beleza de toda a pintura mural da antiguidade e quando entrei neste casa só me lembrei de Creta. A If lembrou-se das cores do deserto. Há nestas imagens o apelo do Sul.
O Zé Júlio tem um olho especial para descobrir estas coisas. Eu limitei a alinhar uns paragráfos inspirados.
Obrigado LuisY pelos belos apontamentos que sempre nos proporciona! De facto, este é mais um desses casos que apetece lá ir e sentir as vivências que se adivinham por detrás dessa "arte de fingimento"!... Um estímulo à nossa imaginação!...
ResponderEliminarObrigado mais uma vez!
CGonzález
Caro CGonzález
ResponderEliminarObrigado pelas palavras simpáticas.
Com efeito, a beleza destas paredes tinha que ser divulgada e partilhada. Um dia destes, esta arte da pintura de escaiola desaparecerá, estas casas serão demolidas e ficarão apenas as fotografias como testemunho desta arte de fingimento.
um abraço
ou, agradeço o contacto do zé júlio que o não consigo descobrir em parte alguma
ResponderEliminar