sexta-feira, 8 de junho de 2012

Ó senhor barqueiro, deixai-me passar


A Linda falua é uma cantilena infantil, que toda a gente conhece, mas ao mesmo tempo é uma reminiscência de um ancestral culto dos mortos da antiga Grécia e Roma. Recordei-me dela e do seu significado numa destas últimas noites quando acompanhava a agonia da minha mãe. Nas suas derradeiras horas, na cama do hospital, quando a minha mãe já dormia aquele sono, que anuncia a terra do nada, lembrei-me que os antigos romanos colocavam uma moeda na boca do falecido, para que este pudesse pagar a Caronte, o barqueiro do Hades, o transporte através do rio dos infernos para o reino dos mortos. Eu que não tenho qualquer crença, encontrei algum consolo neste pensamento, imaginando a minha mãe deslizando numa barca em direcção ao repouso do eterno nada.


Ó senhor Barqueiro
deixai-me passar,
tenho filhos pequeninos
não os posso sustentar. 


Passará, passará ,
mas algum deixará,
se não for a mãe da frente
é o filho lá de trás.

31 comentários:

  1. Luís, foi muito bonita e tocante a forma como aqui falou da sua perda... que eu sei que foi gradual e dolorosa.
    Estamos todos na mesma roda em direção ao nada e hoje estou particularmente sensível à passagem do tempo.
    Um grande abraço

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  2. Caro Luís
    Quando vi a fotografia carregada de simbolismo percebi o que aconteceu.Nada se pode dizer nestas horas e cada um de nós, à sua maneira, tenta apaziguar a dor e a tristeza deste momento.
    Um grande abraço para si.

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  3. Um grande abraço solidário para si...
    CGonzález

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  4. Olá Luís. Tocante - o ADEUS à sua querida, linda e já saudosa mãe. Descansa finalmente em paz - tal a sua agonia dos últimos tempos e de todos os que a amavam.

    Soberbo o seu post - moldura lindíssima e não menos bonita e charmosa a sua mãe iluminada pelo candelabro de latão sob a toalha vermelha adamascada.
    A canção faz parte da minha infância...achei muito apropriada.

    Nada mais vai ser como dantes...é a vida que todos conhecemos...contudo acho que ao olhar todos os dias para o espelho a revê seja pela candura seja pela ternura - tal a sua parecença com ela e a sua filha igual. São os genes de uma beleza incomum que continuam.

    Os meus sentidos pêsames.
    Aquele abraço afectuoso extensivo ao seu pai.
    Isabel

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  5. Maria Andrade


    Há uns bons anos os Talking Heads cantavam Road To Nowhere e obviamente quando ouvia essa música com 20 anos tinha já uma percepção do significado da letra, mas quando nos morre algum ser querido as perguntas, "de onde viemos", "o que aqui fazemos" e "para onde vamos" voltam a colocar-se de uma forma pungente, apesar de já lhe termos arranjado respostas na literatura e nos manuais teóricos. Em todo o caso, já não conseguimos encontrar consolo nem respostas na religião. Restam-nos algumas imagens poéticas, com as que aqui escrevi.

    Bjos e obrigado

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  6. Maria Paula

    Muito obrigado pelas suas palavras tão simpáticas.

    Bjos

    Luís

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  7. Caro CGonzález

    Obrigado pela sua solidariedade. Nestas alturas é sempre simpático ouvir essas palavras.

    abraços

    Luís

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  8. Maria Isabel

    A moldura foi comprada na Feira-da-Ladra por tuta e meia. A palmatória foi adquirida há uns 25 anos num latoeiro que ainda existia na rua de S. Vicente, ali mesmo ao lado da feira. deve ter sido dos últimos em lisboa. Tentei com a fotografia uma certa montagem à maneira da Maria Madalena da Josefa de Óbidos. Tirei esta fotografia mais ou menos no momento em que a minha mãe morreu no Hospital e de facto tive imensa dificuldade em acender a vela.

    A minha mãe foi educadora de infância e ouvi-lhe muitas vezes cantar a linda falua quando era miúdo e a acompanhava nos colégios onde trabalhava.

    Bjos e muito obrigado

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  9. Gosto sempre de pensar que existe mais uma estrela no céu...
    Que bonita a sua mãe.
    O meu abraço solidário!
    Ana Silva

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  10. Caro Luís,

    Em primeiro lugar os meus sentimentos! Nas muitas linhas que li no seu blog, penso que muitas vezes prestas homenagens às pessoas de sua família ou da vossa história familiar. Penso que isto no fundo também acaba por ser uma espécie de crença ou culto ? Que por sinal, acaba por manter as pessoas vivas.

    Imaginava o barqueiro e fiquei lembrando como tos os povos acabam por lidar com a perda de uma maneira tão marcada, lembrei-me dos egipícios e também dos seus barcos.

    Não vivi a perda de minha de uma maneira próxima, mas acredito que os homens mantém os seus cordões umbilicais ligados com nossas mães. E tu que tem esta sensibilidade extraordinária irá manter viva a passagem da sua mãe...

    Deixa o tempo trazer-te a paz que teu coração deve estar (neste momento) a precisar.

    Um abraço,

    José Oliveira

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    1. Caro José Oliveira

      As velharias assumiram-se mais ou menos desde o inicio como um blog também de memórias, onde se tentava resgastar do esquecimento histórias vividas há muito. No fundo a morte estava sempre aqui presente. Aliás, a História é na sua essência um culto dos mortos.

      Um grande abraço

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  11. Olá,Luis
    Só lhe posso dar um abraço bem sentido e apertado,porque nestas horas,nem queremos que nos digam nada
    Quando perdi a minha mãe,não queria sequer ouvir uma palavra de pena
    Silencio e um carinho,sómente isso nos ajuda a aliviar a nossa perda.Nem uma palavra
    Não queremos ouvir ,nada
    Um forte abraço e tenha as melhores recordações da sua mãe
    Lembre-se sempre dela com muito carinho e ternura
    Grace

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  12. Concordando com a Grace – nestas alturas todas as palavras parecem supérfluas, não posso deixar de enviar um grande abraço, Luís.

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  13. Cara Grace

    Há muito que não contava com os seus comentários. Obrigado pelas palavras solidárias.

    Abraço

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  14. Caro MAFLS

    Obrigado pela sua simpatia!!!!!!

    Abraços

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  15. Caro Luis
    Meus sentidos pesames e um grande abraço nestes momentos de mágoa.A sua fotografía é um delicadíssimo presente á memoria de sua amada mae.
    Carlos Fernández

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    1. Obrigado, Caro Carlos.

      A fotografia foi tirada num momento de emoção e julgo que ficou conseguida

      Abraços e obrigado

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  16. Luís

    Um abraço de conforto pois, nestas horas, não há palavras que nos consolem.
    if

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  17. Caro Luís.

    Só agora, depois de termos chegado tomamos conhecimento.
    Os seus escritos tem algo de eterno e este seu último é maravilhosamente eterno.
    Neste momento um abraço muito grande de mim e da Ângela.

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  18. Joaquim

    Obrigado pelos seus sentimentos e pelo elogio.

    Talvez por este blog jogar tanto com as memórias, com o passado, haja algo de eterno no estilo adoptado, como se posse possível fazer reviver o passado em cada objecto ou fotografia.

    Abraços para si e a Ângela

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  19. Caro Luís,
    Para não fugir à regra este seu post surpreende pela singularidade e especial beleza como abordou a partida da sua mãe. Como nestes momentos é sempre difícil acertar nas palavras, sempre me parecem insuficientes, deixo-lhe um abraço de grande estima.
    CC

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  20. CC

    Muito obrigado pelas bonitas palavras. Fiquei emocionado.

    Abraços

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  21. Lamento muito a sua perda.
    Tal como a Ana Silva também gosto de pensar que existe mais uma estrela no céu, e todas as noites olho em busca das minhas... O tempo leva a dor fica a saudade.
    Abraço
    LM

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  22. Quando, há vários anos atrás, conheci a tua mãe, para além de ser uma alma de eleição, conservava ainda muita da beleza que a caracterizava. Traços de beleza que não desapareceu com ela, mas perdura na tua filha, pois olha-se para uma e vê-se a outra nas fotografias de infância e juventude. As coisas não desaparecem, antes se transmutam e perduram ao longo do tempo.
    Neste momento a senhora ocupa um espaço onde, creio, não precisará mais de sofrer, e isso é que importa.
    E a quantidade de pessoas que quiseram partilhar convosco a dor da perda atesta a quantidade de bons sentimentos que sempre deve ter espalhado em seu redor.
    Manel

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  23. RUI FARIA 28 DE MAIO 2013 MEU CARO VERIFIQUEI O SEU CONHECIMENTO POR TANTOS MONUMENTOS QUE ESTAO EM RUINAS CONHECE ALGUM QUE ESTEJA A VENDA DOS QUE VISITOU QUAL ME ACONSELHARIA GRATO POR TANTO CONHECIMENTO .TELEM.918792751

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  24. Na miha rua cantava-se assim (era mais as meninas, os rapazes era mais bola):
    Que linda falua que lá vem lá vem
    é uma falua que vem de Belém
    Pergunto ao senhor barqueiro
    se me deixa passar
    tnho filhos pequeninos
    não os posso sustentar
    Passará passará
    mas algum ficará
    se não for a mãe da frente
    é o filho lá de trás
    (e vai daí zás! toca a ficar com o último da fila que vinha a fingir de barca)
    Cumprimentos

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    1. José David

      Obrigado pelo seu contributo. Julgo que como esta canção é tão antiga e popular, que deverão existir muitas variantes.

      Um abraço

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  25. As faluas eram embarcações que levavam as pessoas de Lisboa à outra banda do Tejo (e vice-versa); ainda no século XX existiam faluas no rio Tejo

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    1. Caro desconhecido (a)

      Muito obrigado pelo seu comentário, que acrescentou uma informação nova a este post.

      Um abraço

      Luís

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