Pesquisar gavetas de antigas cómodas é sempre um trabalho gratificante, sobretudo quando encontramos os álbuns fotográficos, que antigamente as famílias compilavam com tanto cuidado. Estas imagens são importantes para a memória dos descendentes, mas muitas delas vão mais além dessa dimensão pessoal e constituem fontes importantes para a história da comunidade, porque de uma forma quase involuntária, quando tentavam retratar os seus familiares, os fotógrafos amadores gravaram instantâneos de edifícios, que caíram há muito ou aspectos de burgos medievais, ainda intocados pelo desenvolvimento selvagem dos últimos 40 anos.
Será o caso destas fotografias de Vinhais tiradas nos anos 40, que capturaram um pouco do que era o velho burgo medieval, ainda bastante visível neste período.
A fotografia que abre o blog é o de uma velha torre do castelo de Vinhais, que ruiu pouco tempo depois de esta fotografia ser tirada. Aliás já se vê uma grande racha, que preanuncia a queda iminente de parte da torre.
A mesma torre nos dias de hoje. Foto copiada de http://fotosvinhais-raulcoelho.blogspot.pt/ |
O Castelo de Vinhais é uma criação da primeira dinastia, destinada a assegurar um ponto de defesa e refúgio de várias povoações disseminadas pelo amplo vale de Vinhais. Na época, talvez nem se chamasse Vinhais, mas Póvoa Rica ou Crespos, mas o cerco amuralhado, destinado a albergar quer as populações em caso de ataque, quer uma autoridade administrativa tomou o nome de todo o território, que estava coberto de vinhas. Aliás, segundo o Abade Baçal, os montes do concelho ainda estariam cobertos de vinhas até à epidemia da Filoxera, que partir de 1865, atacou os vinhedos portugueses e alterou radicalmente o mapa da cultura vinícola na Europa.
Seja como for Vinhais teve foral com Afonso III a 20 de Maio de 1253 e por essa época já devia ter as suas muralhas mais ou menos definidas, até porque era um ponto importante de defesa da fronteira Norte do reino de Portugal, pois a Galiza e Leão estavam a uns escassos km acima. A antiga estrada romana que ligava Braga, Chaves e Astorga passava pelo Concelho e era ainda usada na Idade Média e havia que a proteger com um reduto fortificado no caso de uma invasão. Esse casco urbano era dominado por uma igreja paroquial, dedicada a Santa Maria, como quase todos os burgos medievais.
Durante as guerras da Restauração, o castelo voltou a ser usado para defender uma invasão espanhola comandada pelo general Pantoja, um tipo particularmente feroz, que queimou todas as casas fora do cerco.
Na última fotografia, do lado esquerdo do velho cerco medieval, podemos ver chamada rua nova, que sai da praça do arrabalde e onde se perfilam as casas mais nobres do burgo, como o imponente solar dos condes de Vinhais. Será já um eixo urbano de criação seiscentista ou setecentista. Talvez esta fotografia seja do início dos anos 30, pois não vejo do lado direito, Souto Covo, a casa da família materna construída em 1934.
Creio que os habitantes de Vinhais encontrarão algum interesse nestas velhas fotos e se alguém quiser cópias de melhor qualidade, enviá-las-ei com muito gosto.
Luís, só fui uma vez a Vinhais, ainda não há muito tempo, por isso por mais que tente, não consigo localizar nas fotografias a rua comprida que subi, nem os lugares onde estive.
ResponderEliminarNão admira, em 60 a 80 anos, muita coisa se deve ter alterado.
E é por isso que acho de todo o interesse a partilha destes testemunhos escondidos em velhas gavetas de família, contributos importantíssimos para quem se interessa pela história dos locais e das suas comunidades.
As pessoas da sua família que aqui posaram, algumas já desaparecidas, para além da importância que têm como seus familiares, fizeram parte daquela comunidade e deram vida àquela terra, fazem parte daquela história...
Ainda no último fim de semana estive a rever um album de fotografias mais antigas e a pedir aos meus pais para me identificarem algumas pessoas para eu escrever os nomes no verso. São memórias importantes que devemos procurar preservar e partilhar, como o Luís tão bem o tem feito.
Um abraço
Olá Luís. Muito a propósito este post no dia de Portugal - de Camões...no meu tempo era também da raça...mas que raça?
ResponderEliminarJulgo - engenho e arte do poeta!
Conheço Vinhais.Um dia vou voltar e ver tudo ao pormenor e falar de si a quem me acompanhar!
Lamento não me recordar das muralhas, foi há muitos, muitos anos.
Tenho contudo revisitado Vinhais com os seus posts .
Revelam eloquência.
Adoro ler as vivências sempre afectuosas, as saudades.
Terra onde julgo nasceu a sua querida mãe e onde ia a visita à casa da Mimi a sua não menos querida avó,onde se deleitava a comer um doce sua especialidade mais parecia - ovos estrelados...o nome foi-se - a minha memória anda fraca, há e, os famosos pastéis de massa tenra, que amavelmente deu a receita, não me esqueço...
Na minha mente criei a ilusão ou talvez não ...houve momentos que gostava de olhar através da vidraça Vinhais, segurando com a mãozita a cortina de renda - porque a casa toda ela um Museu com tantas recordações do Solar Montalvão do Outeiro Seco e não só... algumas hoje sua pertença.
Isto sim é história e não estórias.
Só gente de linhagem e sensível valoriza estes valores. Também gosto, apesar de pertencer a uma linhagem mais humilde.
O Museu de Vinhais possivelmente não terá fotos emblemáticas como as que mostra aqui e deveria ter.
Espero que a força o continue a acompanhar...a sua querida mãe onde quer que esteja fica feliz em saber que a relembra e à sua querida terra que a viu nascer - VINHAIS.
Bela homenagem, singela, sem protagonismo, mesmo ao seu estilo simples, afetuoso, lindo.
Beijos
Isabel
Maria Isabel
EliminarRealmente o dia da raça era uma coisa muito estúpida. Os Portugueses não são nenhuma raça específica. Pertencem ao grande grupo caucasiano, que vulgarmente se conhece por raça branca. E depois pode-se ser culturalmente português e ter a pele negra ou os olhos em bico. O sentido de pertença a uma nação tem não só a ver com o nascimento, mas com a cultura e a língua.
É mais simpático, o 10 de Junho ser o dia de Camões, assim podemos comemorar a cultura, a literatura e a língua ou mostrar fotografias de castelos que caiaram e terras que estragaram o seu património.
Bjos e obrigado
Maria Andrade
ResponderEliminarVinhais está uma terra muito estragada. A moradias dos anos 70, 80 e 90 irromperam por todo o lado e estagaram irremediavelmente a vila. Embora exista uma ou outra casa notável ou igreja interessante o conjunto está irremediavelmente estragado. Talvez por isso não se lembre da terra.
O que vale a Vinhais são as vistas, deslumbrantes, de cortar a respiração, sobre uma natureza muito bem conservada que anuncia que estamos a caminhar para o Norte da Europa.
Muitos dos meus posts mais não são do que legendas de velhas fotografias. Só me preocupo com a ideia que este blog irá um dia desaparecer, porque a google, um dia irá à falência e fechará todos estes sites ou por outra razão qualquer. No fundo andamos sempre a lutar contra o esquecimento e nem sempre com êxito garantido.
Bjos
A Vinhais que conheço, a de hoje, nada tem a ver com a que aqui apresentas, e que deverá ter sido a da juventude da tua mãe.
ResponderEliminarApesar de se encontrar num Trás-os-Montes interior, aconteceu-lhe o mesmo que a muitas e muitas terras que se estendem ao longo de uma extensa faixa litoral ... a urbanização selvagem, a falta de respeito por uma arquitetura aceitável e a não existência de uma capacidade de resposta por parte de uma população inculta, muda e amorfa.
A aparente falta de uma memória coletiva do construído anteriormente está ligada a um repúdio do que existia, o que, em parte, até se entende, pois a vida rural portuguesa esteve sempre eivada de pobreza e mau viver, de que, aliás, Salazar tirou proveito para controlar as populações.
Hoje, quando se constrói por esse Portugal rural fora, procuram-se arquétipos estranhos ao país, e aparecem as casa "amaisonadas" e amansardadas, o "chalet suiço alpino", o castelo piroso rodeado de ameias, e, não raro, de torres aos cantos, a célebre casa com fachada coberta de azulejo de casa de banho (dos piores que se fizeram) e, mais recentemente, as inevitáveis colunatas que rodeiam varandas inabitáveis (aliás, não é por acaso que nunca se veja ninguém nelas, a não ser uma impecavelmente limpa mobília de jardim estilo "Maria Cachucha"). Tudo aquilo que pior se revela para um país com história, como acontece ter sido o nosso.
O mesmo se pode ver em Pombal, que parece ter sido bombardeado algures na história recente, e tudo substituído pelo pior que foi possível encontrar.
E o mais estranho é que as populações, por falta de hábitos de intervenção, e de bases sólidas culturais e estéticas parecem não se incomodar e, estranhamente, até dão a ideia de terem algum orgulho naqueles mamarrachos, que costumam confundir com "progresso"!
A cidade perdeu os seus marcos e passou a um anonimato pardo e descaraterizado onde se entra por engano e se pretende fugir rapidamente.
Sobrevive alguma memória afetiva, mas até esta, por falta de estímulo, mirra e transforma-se em hábito (nada pior para estabelecer uma ligação a um local).
Alguns, como eu, fogem para outras paragens menos estragadas!
Manel
Manel
ResponderEliminarjá várias vezes conversámos sobre isto.
Quando observamos os estragos urbanísticos que se fizeram em Vinhais e em quase todo o País (honrosas excepções para o Alentejo e os Açores), pensamos sempre em Raul Lino e num modelo de casa portuguesa, adaptado a cada região do País. Merece a pena recuperar o conceito de casa portuguesa do Raul Lino. E claro, acudir ao pouco património que resta em Vinhais ou em outra qualquer terra portuguesa, inclusive Lisboa, pois este nosso António Costa, que é uma nódoa, todos os dias autoriza novas demolições. Sei que recuperar é complicado, mas por amor da Santa, acabem com as demolições!!!
Abraços
Luis,
ResponderEliminarViva!
Parece mesmo que para ver e perceber o verdadeiro Portugal urbano, mas sobretudo das nossas vilas e aldeias tenhamos de recorrer aos velhos álbuns de fotografias com mais de cinquenta anos. Depois disso temos um "novo" sentido estético, aquele tão bem abordado pelo Manel, texto de que podia partir para um grande tratado académico, desse prodigioso estilo "cachuchense", tão apreciado por esse país fora ! ! !
Abraço
C.
Caro C
ResponderEliminarGosto muito de o ver por aqui e de ler os seus comentários acutilantes.
Já é um lugar comum falar na destruição do património arquitectónico. No entanto estamos sempre a tropeçar nessa destruição, ela está em todo o lado e é difícil não voltar vezes sem conta ao mesmo assunto por mais esgotado que pareça.
O burgo de Vinhais deve ter sido particularmente bonito com as casas em xisto, ou caiadas de branco e com as varandas em madeira de castanho, conforme se pode ver ainda no centro de Chaves ou na vizinha povoação leonesa de Puebla de Sanabria. Ainda há por lá uma ou outra dessas casinhas, mas estão prestes a ruir.
Abraços
Muito bom dia
ResponderEliminarComeço por lhe desejar um Santo e Feliz Natal!
Gostei muito de ver o seu blog que, a partir de agora, irá fazer parte dos meus favoritos.
Sou o actual Chefe da família Mariz Sarmento e, nessa qualidade, o representante dos Alcaides Mor de Vinhais e dos Morgados de Santa Clara de Vinhais.
Estava no Google à procura de notícias dos meus avós durante a Guerra da Restauração (para além do que nos relata o Abade de Baçal) e dei com o seu blog.
Parabéns.
João de Mariz Sarmento Macieira
Caro João
ResponderEliminarÉ uma honra contar com a presença de um dos descendentes de umas das mais antigas famílias de Vinhais. O nome Mariz Sarmento mistura-se com a história da terra e encontramo-lo frequentemente em documentos de arquivo, em monografias regionais ou em lápides funerárias ou evocativas.
Vinhais ém tema recorrente neste blog. Faz parte de mim.
Um abraço e espero poder contar com os seus comentários de agora em diante.
Um abraço
carlosaugusto110219322@gmal.com
ResponderEliminaradorei o comentario que voçê fes de vinhais terra que eu amo sou da Quadra gostaria telo como meu amigo estu no brasil
carlosaugusto11021932@gmil.com
ResponderEliminarestou no brasil e sou da quadra e amo vinhais gostaria ter voçê como amigo a sua históra sobre Vinhais é linda abraço
Caro Carlos Augusto.
EliminarObrigado pelas suas palavras tão simpáticas. Curiosamente, o avô materno da minha mãe, também era natural da Quadra. O meu endereço de e-mail está nos dados do perfil. Um abraço e boas entradas
Boa tarde. Gostei, meu pai nasceu em agrochão, vinhais em 1879, nada sei dele ou família, por acaso tens algo sobre famílias dessa época? Hermes, meu pai Sebastião Vicente, também conhecido como Sebastião Vicente "Justo" ou "Verdelho".
ResponderEliminarGrande Abraço.
Hermes Justo
EliminarDesculpe só agora lhe responder, mas só agora voltei de férias. Eu não fui criado em Vinhais e já sei pouco sobre as pessoas da terra. Aliás, entre outras coisas, este blog serve para arrumar as memórias que tenho de Vinhais. Se quiser saber alguma coisa de genealogia pode consultar o site digitarq do Arquivo Distrital de Bragança e ver os registos de baptismo, que estão digitalizados. Um abraço
"...queda eminente de parte da torre."Iminente e não eminente
ResponderEliminarCaro(a) Anónimo (a)
EliminarMuito obrigado pela sua correcção. Já alterei o texto. Sou muito dado à gralhas, apesar de rever os textos vezes sem conta e agradeço sempre aos leitores atentos, que me apontem essas falhas.
Um abraço