Já aqui apresentei alguns registos de santos preciosamente encaixilhados, a que antigamente se davam o nome de verónicas. Desta vez apresento, mais uma dessas peças, particularmente rica e trabalhada. Não irei aqui descreve-la, porque as imagens falam por si e mostram bem o virtuosismo e o bom gosto da Senhora, que fabricou este objecto de devoção com restos de passamanaria, que sobrou da confecção de alguma paramentaria religiosa ou quem sabe de um vestido luxuoso. A Senhora, que recortou pedacinhos de lata dourada, que formam uma ornamentação complicada no centro da Verónica, certamente foi educada numa casa religiosa e seria proveniente de uma família burguesa abastada ou fidalga.
No centro da Verónica há uma imagem em pano de Nossa Senhora do Carmo toda bordada a prata. Não é muito antiga. Talvez dos últimos anos do Século XIX ou mais provavelmente do início do Século XX. Neste período vulgarizaram-se os registos em pano, que serviam de base à construção destas verónicas. Eram comercializados em folhas com vinte ou trintas imagens e depois vendidos à unidade em retrosarias ou casas de artigos religiosos e comprados por senhoras devotas, como aquela que fez esta bela Verónica pertencente ao meu amigo Manel.
O meu amigo Humberto fez o favor de me oferecer umas quantas dessas folhas, que nunca se chegaram a vender, cheias destes santinhos, fabricados por uma sociedade francesa, que os Senhores Ouvry e Beraudy criaram em 1908, na cidade de Ambert. Esta firma que ainda hoje existe e continua a dedicar-se ao comércio de artigos religiosos, confeccionava estes registos com legendas em italiano, neerlandês, francês e espanhol, destinados a serem vendidos em todo o mundo católico, inclusive Portugal.
Era um tempo em que estes objectos não eram só decorativos, mas pequenos símbolos, cuja presença assegurava às pessoas devotas, como à Senhora que executou esta Verónica, a existência de seres poderosos no céu, que protegiam a sua existência e lhe garantiam que depois da morte não havia um eterno nada. Aliás, esta senhora nem conceberia a ideia de um nada depois da morte e enfim não a podemos condenar por isso.
Olá Luís. Uma bela Verónica ou Registo como agora se chama. Parabéns ao Manel - um afortunado por a ter.
ResponderEliminarNa última feia de Algés vi um colega comprar uma em latão, chamar-lhe - verónica - para mim seria um medalhão - mas ele teimava como o amigo como era. Na feira de Montemor o Sr Custódio o organizador da feira - um homem espetacular faz artesanato de Registos de Santos...em caso de necessidade julgo ser importante nos dias que correm saber quem continua tal arte.Durante a minha infância e adolescência na minha casa não existiam Verónicas - apenas Souvenirs em latinha trazidos dos Santuários de todo o País. Tenho uma pequena coleção numa prateleira comprida e estreita acima do meu oratório onde as exponho assim como Cristos na cruz talhados em pequenos ramos, ainda ícones estrangeiros que a minha irmã me trás das suas viagens.
Beijos
Isabel
Olá Luís,
ResponderEliminarBonita peça.
Cada vez gosto mais deste trabalho e ando a tentar adquirir alguma peça que esteja danificada (tarefa difícil, pois são raras e com um preço astronómico, quanto mais mal tratada, mais cara será ??), para perceber as técnicas que usavam para construi-las.
Pelo que percebi é que além de não usarem cola "silicone" (rsss) tinham imensa paciência. Espero que (já reformado talvez) com algum tempo seja capaz de construir ou reconstruir um objeto tão bonito quanto o que apresentas.
Um abraço
J.
A peça está muito bem executada, reconheço.
ResponderEliminarQuando a olho só admiro a paciência necessária e quantidade de horas que alguém deve ter gasto a executá-la!
Não me parece muito adequada às casas de hoje, com móveis IKEA ou das lojas dos indianos da Almirante Reis.
Mas como sou de ontem e gosto de coisas mais tradicionais, acabo por ir perdendo a cabeça por estas pequenas peças que, qualquer dia, acabarão no lixo ou, na melhor das hipóteses, atiradas para um qualquer recanto poeirento e cheio de teias de aranha.
Esta, para além do facto de ser bonita, fez-me lembrar o nome da tua filha, o qual acho lindíssimo. Um nome bonito adequado a uma rapariga igualmente linda!
Manel
Maria Isabel
ResponderEliminarTenho visto a vender esses novos registos ou Verónicas e muitos deles apresentam bonitos trabalhos de decoração cheios de minúcia. Só é pena usarem estampas muito feias, normalmente uns santinhos um bocado pirosos do séc. XX, que estragam tudo.
Já mandei fazer uma destas verónicas, mas para uma gravurazinha do século XVIII e até resultou muito.
beijos
Caro José Oliveira
ResponderEliminarHá casas como a Vencedora, na rua de S. Lazaro, ao Socorro, que já vendem a caixa com o vidro, já tudo montado, para que qualquer pessoa possa fazer a sua Verónica em casa. Eu tentei uma vez fazer uma, com uma dessas caixas, uma gravura antiga, restos de damasco e passamanaria, mas ficou feiota, pois já não tenho boa vista nem a mão segura. Mas também os bons trabalhos nunca se conseguem só com uma tentativa.
abraços
Muito agradecido pela dica da loja. Realmente ainda não tinha descoberto que as caixas eram vendidas prontas, pensava que eram cortadas por vidraceiros.
EliminarMais uma vez o meu agradecimento
José Oliveira
Caro Zé Oliveira.
EliminarSão vendidas prontas e em vários formatos, circulares, rectagulares, em losangulo e de todos os tamanhos e nem são muito caras.
A questão é arranjar um bonito tecido para o fundo, comprar passamanaria para disfarçar as junções dos vidros, florinhas em papel para decorar e uns óculos de aumentar. Ou seja, depois de ir à Vencedora, na Rua de S. Lazaro ao pé do Hospital de S. José, vai directo para os retroseiros da Rua da Conceição.
abraços e boa sorte
Manel
ResponderEliminarNossa Senhora do Carmo foi uma devoção muito popular. Salvava as alminhas do Purgatório com o seu escapulário. É o nome de uma das minhas melhores amigas, que é natural do Alentejo e nasceu perto de uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Carmo, célebre pelos seus ex-votos. O nome da minha filha transporta essa história e representa essa amizade
Luís, acho esta verónica do Manel uma pequena obra de arte!
ResponderEliminarPara além das latinhas tem um bordado muito bonito e trabalhoso, com fio dourado em ponto de canotilho a formar as folhas em relevo; e a passamanaria em volta é de muito bom gosto!
Não fazia a mínima ideia que existiram imagens em pano e muito menos que se vendiam assim em folhas cheias delas. Foi uma verdadeira relíquia que o seu amigo Humberto lhe ofereceu!
Tenho andado muito preguiçosa para trabalhos de mãos porque tenho uns “santinhos” para arranjar, já tenho até molduras que me parecem adequadas e não há maneira de me dispor a pôr mãos à obra. A habilidade também não é muita, diga-se em abono da verdade, :) mas só vou mesmo arranjar um fundo e emoldurar.
Pode ser que agora me inspire...
bjs.
Maria Andrade
ResponderEliminarJá conhecia as imagens em pano. Tenho até umas duas ou três, já há bastante tempo e sem saber muito bem que fazer delas. Agora a minha supresa foi descobrir que eram fabricadas em folhas cheias delas. o Humberto comprou-as num alfarrabista, ficou com umas quantas para si e como sabe que gosto de arte sacra, enviou-me umas quantas. Talvez quando tiver uma casa maior decida emoldurar uma das folhas. Pode ser que o efeito seja interessante.
Mas é curioso que aos poucos, vamos percebendo as diferenças e os vários tipos de imagens religiosas, os registos em papel e em pano, as pagelas, as verónicas, os escapulários e ainda as estampas cortadas dos livros.
Boa sorte nos seus trabalhos. Experimente restos de damasco que vão bem com a arte sacra.
Bjos
Passando a publicidade, deixo aqui um blog que encontrei há pouquíssimo tempo, de alguém que ainda sabe fazer registos!
ResponderEliminarCaso estejam interessados em ver alguns dos trabalhos dela, o endereço é:
http://registosconventuais.blogspot.pt/
Caro ou cara Blackye
ResponderEliminarMuito obrigado pela sugestão, já lá fui espreitar
Um abraço
linda! sou devoto de n sra do carmo.
ResponderEliminarCaro Jorge
EliminarEmbora não seja crente, também tenho uma predilecção especial pelas imagens de Nossa senhora do Carmo, afinal de contas a minha filha chama-se Maria do Carmo.
Um abraço