O dono de uma loja de velharias ofereceu ao meu amigo Manel estas duas antigas pegas de um vaso ou taça em terracota. São dois meninos, ou putti, como se diz em arte, em forma de caríatides, que em tempos foram as asas de uma taça ou vaso opulento. Certamente que essa peça seria meramente decorativa e estaria pousada em cima de uma pequena mesa, um guéridon, ou numa consola à entrada de uma casa burguesa, numa demonstração óbvia que a família proprietária era rica e poderia dar-se ao luxo de comprar objectos aparatosos, caros e inúteis. Porém, quando os senhores da casa morreram, os netos ou bisnetos venderam o recheio da casa e nas mudanças, a aparatosa taça partiu-se em mil pedaços e restaram estas asas. Talvez estes dois fragmentos sejam mais bonitos assim, com um certo ar de achados arqueológicos, do que quando a taça estava inteira, certamente uma coisa demasiado pretensiosa e burguesa.
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| Asas de uma taça ou vaso |
Não é que não tenha procurado na net como seria o objecto a que estas asas estavam adoçadas. Mas nas artes decorativas europeias, vasos e taças com asas em forma de caríatides são muito comuns na ourivesaria, no barro, na porcelana e ainda nos bronzes e em outras ligas metálicas e as pesquisas que fiz acabaram por ser inconclusivas. Coloquei a hipótese de se tratarem das asas de uma taça feita nas Caldas, mas naquele centro de fabrico cerâmico há sempre uma certa busca pelo insólito e seria mais natural que tivessem escolhido para as pegas a forma de um lagarto ou de um macaco. Outra suposição que faria sentido seria a Fábrica das Devesas, que produziu taças e vasos decorativos com decorações rebuscadas. Também poderá ser o caso ser um fabrico francês ou espanhol. Por uma questão de mera intuição creio que serão peças fabricadas nos finais do XIX ou na primeira metade do XX.
Em todo o caso, estes fragmentos assim soltos tem a capacidade de nos despertar a imaginação. Olhamos para eles e começamos a reconstituir mentalmente o vaso burguês e pomposo a que um dia pertenceram, ou pura e simplesmente deixamo-nos arrastar pelo romantismo e sonhamos que foram postos a descoberto numa jazida arqueológica na Sicília, em Chipre ou na Grécia.
Gosto dessas asas e realmente não imagino como seria o objecto inteiro. Fico a tentar imaginar como seria o vaso, pois nunca vi nada parecido. As assas, assim, parecem mesmo vestígios arqueológicos da Antiguidade Clássica. Bom dia!
ResponderEliminarMargarida
EliminarEstas antigas asas são intrigantes e talvez sejam até mais bonitas como fragmentos, do que a peça original de onde foram destacadas.
Bjos
Quando olho para estas duas peças, imagino (pois não consigo ver, na realidade, qual a peça a que terão pertencido) que talvez tenham pertencido a uma forma classicizante, como por exemplo uma cratera clássica, ou melhor, dada a sua curvatura, parecem-me ter pertencido a uma forma baixa, redonda, de bojo largo.
EliminarO cuidado colocado na escultura das caras e na grinalda que seguram, dá ideia de terem pertencido a uma peça dedicada ao vinho, pois as figuras parecem-se com as do Baco da antiguidade, ou então de um Zé Povinho bordaliano. Mas isto sou eu a sonhar, claro.
São insólitas, quando fora de contexto, e como as coloquei a ornamentar o bojo de uma fonte de água de parede, em faiança, fabricada pela Viúva Lamego, de cor branca e de formas arredondadas simples, acabam por chamar à atenção para uma peça que, doutra forma, passaria quase despercebida.
De vez em quando estas peças aparecem assim, solitárias, e estiveram semanas sobre uma cómoda num antiquário sem que ninguém pegasse nelas ou mostrasse sequer interesse por elas.
Aquilo que para uns é um pedaço de lixo, para outros são pequenos "tesouros". A imprevisibilidade do gosto!
Manel
Manel
EliminarEstas duas pegas foram um verdadeiro achado, que tu fizeste. Eu também não as deixaria escapar.
Tens razão. Provavelmente a taça ou vaso a que pertenceram seria decorada com um tema báquico, que era muito comum em todas as artes decorativas europeias. Já aqui mostrei uma varanda em Elvas com uma espécie de dança dionisíaca.
Talvez um dia por acaso, se descubra uma peça idêntica à taça de onde foram destacados estes putti. Na identificação das velharias há que esperar e ter paciência.
Creio que a arqueologia nos ensinou a amar os fragmentos.
Um abraço
Gostei muito do blogue! Aprecio velharias e antiguidades mas não compro quase nada pois o dinheiro nunca é muito e também não sou de acumular coisas embora seja um conflito! Nem é pelo valor, é mesmo pela história das peças, por se terem deixado de fabricar. Ando sempre a entrar em lojas e vou a feiras quando posso, pelo simples gosto de observar. Já agora convido a ler uma postagem de escrevi sobre vidro com urânio depois de ter encontrado uma dessas peças numa casa de antiguidades! Boa semana!
ResponderEliminarBelinha
EliminarMuito obrigado pelo comentário e pelas palavras tão simpáticas.
O prazer de descobrir nas feiras de velharias peças bonitas e curiosas por um bom preço pode tornar-se um vício. Depois da compra, há o prazer de descobrir qualquer coisa sobre as peças, a sua história os fabricantes e a época. Normalmente não compro coisas caras, mas o que é certo é que a minha casa parece uma coisa de loucos. Muitas das coisas que mostro aqui não minhas, mas de um amigo, o Manel, que compartilha comigo este hábito de comprar nas feiras.
Irei certamente espiar o seu blog.
Um abraço
Belinha
EliminarJá agora em qual dos seus blogs escreveu sobre vidro com urânio?
Obrigado e um abraço
Luís,
ResponderEliminarOs putti são lindos!
O Manuel está de parabéns com esta oferta. O vaso devia ser muito bonito, mas as peças assim são muito interessantes.
Eu talvez os pusesse sobre um veludo azul em destaque na parede com uma moldura digna.
Boa Páscoa!:))
Ana
EliminarFico sempre contente de a ver por aqui. Estas pegas são intrigantes e põe-nos a cabeça a trabalhar, imaginando como seria o vaso a que pertenceram. Talvez por isso a colocação destas peças ofereça tantas possibilidades.
O Manel colocou-as numa fonte de parede, presas por fios de pesca. Tentei tirar uma fotografia, mas como dentro de casa não há luz suficiente e ficou uma porcaria e eliminei-a. Gosto de apresentar boas fotos aqui no blog.
Um abraço