segunda-feira, 11 de agosto de 2025

À procura das origens nas terras frias de Bragança: a filha do fidalgo

Retrato de António da Purificação Ferreira, existente na Casa de Souto Covo, Vinhais. O passe-partout é em seda, as flores são casulos de bicho-da-seda cortados e o bordado a fio de prata. Certamente, um trabalho da minha avó Adelaide Maria.


No meu anterior post tentei traçar as origens do meu avô materno António da Purificação Ferreira (20.10.1886-12.2.1949), que tinham caído no esquecimento dos seus descendentes. O meu avô descendia de uma família de pequenos funcionários. O seu pai Manuel António Ferreira foi guarda da polícia civil, o avô, Francisco Paulino Cândido, professor primário e o bisavô, Manuel Paulino Ferreira foi assentista na praça-forte da cidade de Bragança. Assentista significa que era fornecedor de mantimentos para as tropas, mediante quantia assentada. Esta gente nasceu e viveu sobretudo em Bragança, mas alguns deles de aldeias das cercanias dessa cidade, como Fontes de Transbaceiro, Terroso e Vila Nova da Serra em Donai.

Genealogia da família ferreira simplificada



Desta gente sem relevância social, destacava-se pelo seu apelido sonante a minha trisavó, a mulher de Francisco Paulino Cândido, Maria Angelina Robalo Taborda, filha de um tal Francisco Xavier Robalo Taborda, natural de Freixo de Espada-a-Cinta. Estes Robalo Taborda eram gente de condição social alta e achei muito estranho, que uma das suas meninas casasse com um modesto professor primário.

Decidi então tirar estes assuntos a limpo. Nos assentos de baptismo dos seus filhos, pelo menos daqueles, que encontrei, o Manuel António (4-11-1854), o António José (27-12-1856) e Cândida Paulina (20-12-1858), referem sempre que são netos maternos de Francisco Xavier Robalo Taborda, natural de Freixo-de-Espada-à-Cinta e de Maria do Rosário Vieira, de Bragança. Em 25 de Novembro de 1853, no registo de casamento desta antepassada com Francisco Paulino Cândido, meu trisavô, o pároco não mencionou a sua filiação, mas foi nomeada como Maria Angelina Robalo. O Francisco Paulino Cândido, seu marido morreu em 1881 em Fontes de Transbaceiro, já viúvo, mas não encontrei o assento de óbito da Angelina, onde se indicaria a idade do falecido e a paróquia onde nasceu, o que me  permitiria, apurar como é esta família de condição, Robalo Taborda, se misturou com uma gente simples, os Ferreira.

Antes de casar com o meu trisavô, Francisco Paulino Cândido Ferreira, a Maria Angelina teve um primeiro casamento com Francisco Manuel de Carvalho, do qual teve uma filha, a Maria 



Mas tinha a informação que a minha trisavó, tinha casado anteriormente, com Francisco Manuel de Carvalho, tenente do exército, falecido em 27 de Fevereiro de 1848. Lembrei-me então procurar o assento de casamento destes dois e encontrei-o na freguesia da Sé em Bragança, a 12 de Fevereiro de 1846 e Maria Angelina Taborda foi referida como filha natural de Maria do Rosário e de pai incógnito e baptizada em Prada. Bem que podia eu procurar o seu registo de batismo nas centenas e centenas de nascimentos das duas freguesias de Bragança.


Assento de casamento de Maria Angelina Robalo Taborda com Francisco Francisco Manuel de Carvalho. 12 de Fevereiro de 1846, Sé, Bragança  



Maria Angelina Taborda foi referida como filha natural de Maria do Rosário e de pai incógnito e baptizada em Prada.


Estava descoberto o mistério, Maria Angelina era filha bastarda de um senhor de condição elevada e não era de Bragança, como registos posteriores indicavam, mas sim de Prada, uma aldeia já no Concelho de Vinhais, na freguesia de Vila Verde. Provavelmente, antes que, a gravidez fosse evidente, a sua mãe, Maria do Rosário Vieira, retirou-se para a sua aldeia de origem para dar à luz discretamente o fruto do seu pecado. Mas, estes filhos bastardos sabiam perfeitamente quem era o pai e como era de costume no século XIX usavam os apelidos deste como toda a naturalidade e foi o que a Maria Angelina fez sempre.

O mapa com as terras por onde esta gente nasceu, viveu e morreu.

Sobre o pai, o Francisco Robalo Taborda posso fazer algumas especulações. Na década de 20 do século XIX, quando é presumível o nascimento da Maria Angelina, andava por Bragança, um Francisco Taborda Robalo Ferreira de Azevedo, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Alferes de infantaria e que casou muito bem em 18 de Fevereiro de 1828 na paróquia de Santa Maria daquela cidade, com a Dona Francisca Inácia de Pimentel, mas este fidalgo era natural de Penamacor.

O mais provável é que o pai fosse oriundo um ramo transmontano dos Robalo Taborda, de Freixo-de-Espada-à-Cinta, talvez o Francisco Xavier Robalo Pinhateli Taborda Pinto da Gama, nascido nessa localidade em 29-12-1789. Mas, não tenho notícias de que desse Senhor tenha andado por Bragança por volta dos anos 20 do século XIX. Enfim, quem sabe a resposta a estas minhas dúvidas já morreu há mais de século meio.

1 comentário:

  1. Primo, mais uma vez fiquei deliciada com a leitura .
    A moldura da fotografia, da casa de Souto Covo é de uma singela beleza tocante…imagino a paciência para os detalhes, tão minuciosamente elaborado!
    Em relação à sua investigação euu já tinha visto e até lhe cheguei a enviar algo que tinha a ver com esses seus familiares.
    É pena não se conseguir ir mesmo ao fundo da questão mas por vezes não é possível chegar mais longe, pela falta de documentos.

    Um abraço

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