No meu anterior post tentei traçar as origens do meu avô materno António da Purificação Ferreira (20.10.1886-12.2.1949), que tinham caído no esquecimento dos seus descendentes. O meu avô descendia de uma família de pequenos funcionários. O seu pai Manuel António Ferreira foi guarda da polícia civil, o avô, Francisco Paulino Cândido, professor primário e o bisavô, Manuel Paulino Ferreira foi assentista na praça-forte da cidade de Bragança. Assentista significa que era fornecedor de mantimentos para as tropas, mediante quantia assentada. Esta gente nasceu e viveu sobretudo em Bragança, mas alguns deles de aldeias das cercanias dessa cidade, como Fontes de Transbaceiro, Terroso e Vila Nova da Serra em Donai.
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Genealogia da família ferreira simplificada |
Desta gente sem relevância social, destacava-se pelo seu apelido sonante a minha trisavó, a mulher de Francisco Paulino Cândido, Maria Angelina Robalo Taborda, filha de um tal Francisco Xavier Robalo Taborda, natural de Freixo de Espada-a-Cinta. Estes Robalo Taborda eram gente de condição social alta e achei muito estranho, que uma das suas meninas casasse com um modesto professor primário.
Decidi então tirar estes assuntos a limpo. Nos assentos de baptismo dos seus filhos, pelo menos daqueles, que encontrei, o Manuel António (4-11-1854), o António José (27-12-1856) e Cândida Paulina (20-12-1858), referem sempre que são netos maternos de Francisco Xavier Robalo Taborda, natural de Freixo-de-Espada-à-Cinta e de Maria do Rosário Vieira, de Bragança. Em 25 de Novembro de 1853, no registo de casamento desta antepassada com Francisco Paulino Cândido, meu trisavô, o pároco não mencionou a sua filiação, mas foi nomeada como Maria Angelina Robalo. O Francisco Paulino Cândido, seu marido morreu em 1881 em Fontes de Transbaceiro, já viúvo, mas não encontrei o assento de óbito da Angelina, onde se indicaria a idade do falecido e a paróquia onde nasceu, o que me permitiria, apurar como é esta família de condição, Robalo Taborda, se misturou com uma gente simples, os Ferreira.
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Antes de casar com o meu trisavô, Francisco Paulino Cândido Ferreira, a Maria Angelina teve um primeiro casamento com Francisco Manuel de Carvalho, do qual teve uma filha, a Maria |
Mas tinha a informação que a minha trisavó, tinha casado anteriormente, com Francisco Manuel de Carvalho, tenente do exército, falecido em 27 de Fevereiro de 1848. Lembrei-me então procurar o assento de casamento destes dois e encontrei-o na freguesia da Sé em Bragança, a 12 de Fevereiro de 1846 e Maria Angelina Taborda foi referida como filha natural de Maria do Rosário e de pai incógnito e baptizada em Prada. Bem que podia eu procurar o seu registo de batismo nas centenas e centenas de nascimentos das duas freguesias de Bragança.
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Assento de casamento de Maria Angelina Robalo Taborda com Francisco Francisco Manuel de Carvalho. 12 de Fevereiro de 1846, Sé, Bragança |
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Maria Angelina Taborda foi referida como filha natural de Maria do Rosário e de pai incógnito e baptizada em Prada. |
Sobre o pai, o Francisco Robalo Taborda posso fazer algumas especulações. Na década de 20 do século XIX, quando é presumível o nascimento da Maria Angelina, andava por Bragança, um Francisco Taborda Robalo Ferreira de Azevedo, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Alferes de infantaria e que casou muito bem em 18 de Fevereiro de 1828 na paróquia de Santa Maria daquela cidade, com a Dona Francisca Inácia de Pimentel, mas este fidalgo era natural de Penamacor.
O mais provável é que o pai fosse oriundo um ramo transmontano dos Robalo Taborda, de Freixo-de-Espada-à-Cinta, talvez o Francisco Xavier Robalo Pinhateli Taborda Pinto da Gama, nascido nessa localidade em 29-12-1789. Mas, não tenho notícias de que desse Senhor tenha andado por Bragança por volta dos anos 20 do século XIX. Enfim, quem sabe a resposta a estas minhas dúvidas já morreu há mais de século meio.
Primo, mais uma vez fiquei deliciada com a leitura .
ResponderEliminarA moldura da fotografia, da casa de Souto Covo é de uma singela beleza tocante…imagino a paciência para os detalhes, tão minuciosamente elaborado!
Em relação à sua investigação euu já tinha visto e até lhe cheguei a enviar algo que tinha a ver com esses seus familiares.
É pena não se conseguir ir mesmo ao fundo da questão mas por vezes não é possível chegar mais longe, pela falta de documentos.
Um abraço
Prima
EliminarEste trabalho da moldura é lindo. Estava muito na moda na época para encaixilhar os retratos dos entes queridos. Estes tem a particularidade de terem sido feitos numa região onde se fazia ainda seda e as florinhas são feitas com casulos cortados ao meio. Existe o par com o retrato da minha avô, também com um trabalho semelhante. São de um tempo onde as senhoras se dedicavam a estes lavores domésticos e se dizia, que uma senhora nunca devia ter as mãos desocupadas.
Estre trabalho de reconstituição da família do meu avô paterno tem sido um sarilho e há quase que dois meses que ocupo parte dos meus tempos livres nisto. Mas comecei do zero, pois de todos os os outros lados familiares, ou já disponha de uma genealogia publicada, como para a família, Montalvão, ou muito então já muito trabalhadas pelo meu pai, como no caso dos Morais ou nos outros ramos, conhecia pelos menos até aos trisavós.
Também deste lado não tenho um espólio familiar para me apoiar, como é o caso dos ramos de Chaves. Estes Ferreira era uma gente simples, sem relevância social, que deixaram poucos ou nenhum traços escritos. E depois há o problema dos livros paroquiais. Uns desapareceram, outros não estão ainda digitalizados. mais ainda, por vezes os párocos eram desmazelados, não lavravam os assentos sistematicamente e nós ficamos com buracos nestes trabalhos.
Por exemplo, não encontrei óbito da Maria Angelina e era suposto ter morrido na mesma paróquia do marido. Mas também é verdade, que vida é mais complicada do que nós sempre julgamos e a referida Maria Angelina, ao sentir a morte aproximar-se poderá ter-se deslocado para a terra natal, ou outra localidade, para ficar sepultada ao lado da mãe, ou do primeiro marido. Quem sabe...
Sabe que andei a verificar o muito que teve a amabilidade de me enviar e não apanhei nada deste lado.
Um bjo e muito obrigado pela leitura atenta que faz destes documentos
Gosto especialmente da toponímia dos locais. São nomes aos quais não estou habituado, como se de uma terra estrangeira se tratasse.
ResponderEliminarDou conta que estes teus ramos da família são mais difíceis de localizar, o que não admira. E muito vais encontrando, fruto da paciência que vais tendo nesta procura.
Manel
Manel
EliminarHá mais de dois meses que ando nisto e comecei quase do zero e o problema é que quando os nascimentos, casamentos ou óbitos estão em Bragança, é um sarilho, pois já havia duas paróquias e um livro para uma dúzia de anos tem 500 folhas. No período que tratei bragança já era cidade, sede de diocese, capital de Distrito e tinha quartel e modo que o universo é muito grande.
A toponímia nesta região tem um sabor muito próprio. Por aqui a influência islâmica foi quase nula, pois por volta de 850, os mouros já daqui tinham saído. Não sei a origem destes nomes e gostaria de conhecer mais de linguística para os entender.
Curiosamente, a Maria Angelina nasceu numa aldeia, que conheci bem. Uma terra muito bonita rodeada de castanheiros, pela qual passávamos a caminho de uma praia fluvial, em Fresulfe, outro nome com uma sonoridade estranha. Talvez por esta razão eu me identificasse tanto com aquela estrada.
Um abraço
Fantástica pesquisa DR
ResponderEliminarAdoro estes seus textos
Teresa. Muito obrigado!!!! Os seus comentários são um incentivo para escrever mais!! bjo
EliminarCaro Luis.....viagem ao passado familiar...a iluminação peregrina de alguém que embora esteja no presente, tem a capacidade em viajar no tempo através de documentos, fotos,objectos, pedras, castanheiros, parando nos objectos mais simples, como bordados, vestimentas, dando um colorido aos antepassados como se eles estivessem numa grande sala de convivio o contemplando orgulhosamente. Aprende-se muito com o passado, e quando já somos mais passado e futuro incerto, o dia de hoje torna-se real, contemplativo, emocionante e mais leve nos desafios entre a hora em que acordamos e nos deitamos. Sempre um trabalho de pesquisa muito autentico, cuidadoso na fixação da verdade....acima de tudo feito com entusiasmo e carinho. abraço
ResponderEliminarVítor
EliminarCom efeito, tenho um amor muito grande pela casa familiar onde está este retrato do meu avó, primorosamente encaixilhado e pelas terras de Vinhais e cada vez que escrevo sobre o assunto, é como se estivesse a regressar novamente.
À medida que escrevo vou também simpatizando com alguns personagens, como estes trisavôs, Francisco Paulino Cândido, professor primário e sua mulher, a Maria Angelina, filha bastarda de um fidalgo e natural de uma terra, ao lado da qual passei tantas vezes, numa estrada fabulosa, em pleno Parque Natural de Montesinho. Não me admira que tanto me identificasse com as paisagens desse caminho, pois uma parte da família tem ali origem.
Um grande abraço
Lindo o fundo do porta retrato!
ResponderEliminarAbraços, Luís.