terça-feira, 30 de setembro de 2025

16º Aniversário do blog velharias do luís ou a atracção pelos ferragachos


Este ano para comemorar o 16º aniversário do blog velharias do Luís, apresento um ferragacho, comprado recentemente e que ilustra bem os meus interesses na vida, bibelots antigos fora de moda, pratos de faiança gatados, chávenas de chá desirmanadas, estampas de santinhos, velhas fotografias e documentos de família de há cem ou duzentos anos, tudo coisas com pouco ou nenhum valor comercial, mas profundamente sentimentais.

Sou irresistivelmente atraído por ferragachos e estou sempre à procura deles nas feiras de velharias naqueles panos que estendem no chão com parafusos, fechaduras, ferragens e puxadores. Este gosto é de tal ordem, que quando mudei de casa e encomendei móveis de cozinha novos, disse logo ao mestre-de-obras que não se preocupasse em colocar puxadores, pois eu já tinha uma colecção deles, provenientes de antigas cómodas, roupeiros ou mesinhas de cabeceira e quando o Senhor acabou de montar os armários e aparafusei essas velhas ferragens, consegui que a cozinha perdesse um pouco daquele ar asséptico e ganhasse, alguma graça e interesse.


Os puxadores dos armários de cozinha da minha casa são ferragens compradas em feiras de velharias

Quanto a este último ferragacho, que comprei, é uma peça pesada, em bronze dourado, uma figura qualquer da mitologia, que em tempos esteve aplicada numa cómoda, numa mesinha ou num armário de biblioteca, provavelmente nos cantos. Não sabia de que época era, o mais o mais provável é que seria coisa do século XIX, ao estilo Luís qualquer coisa, pois nesse período misturavam na mesma peça, relógio, mesa ou cadeira vários estilos do séculos passados em simultâneo.



É curioso que quando a tentei fotografar usei uma técnica habitual aqui no blog e que resulta em quase todas as peças, deitei-a sobre vários panos, uns de damasco, outros de veludo, azuis ou vermelhos para experimentar em qual ela ficaria melhor. Tenho até uma série de retalhos destinados para esse efeito e normalmente resulta sempre. Porém, com esta ferragem as fotografias ficavam mal, desfocadas ou então a peça parecia uma coisa tosca e pesada. Lembrei-me então que esta figura não foi concebida para ser vista deitada e que tinha que estar na posição vertical. Pendurei-a então no canto de dois móveis lá de casa, fiz vários instantâneos e então esta figura ganhou a fotogenia e charme merecidas, pois estava na posição original, para a qual nasceu algures na segunda metade do XIX. 



Muito características do mobiliário francês, estas ferragens são por vezes conhecidas pelo nome de espagnolette ou mais simplesmente chute en bronze. No século XVIII, os franceses fabricaram alguns destes bronzes decorativos de mobiliário de uma qualidade excepcional, como um exemplar que encontrei na net, no musée des Arts Décoratifs, de Paris, do mestre Charles Cressent.

Charles Cressent (1685-1768), Buste d’espagnolette bouclée. Musée des Arts Décoratifs, Paris, Inv. 9544 A-B

Mas a minha peça é muito mais modesta, feita já por um processo industrial e em tempos teve o seu par, que entretanto se perdeu e cada um deles e estaria no canto de um móvel. Aliás encontrei à venda no portal francês de antiquários, o Proantic.com, uma cómoda do século XIX com umas ferragens iguais a esta e com os dourados impecáveis. Como suspeitei desde o início a minha peça é da segunda metade desse século, destinada a um desses móveis do tempo de Napoleão III (1852-1870), inspirada no estilo Luís XIV.



Cómoda do século XIX com umas ferragens iguais a minha. Proantic.com

Curiosamente este móvel, que encontrei no portal francês de antiquários, proantic.com, está à venda numa casa de antiguidades na Polónia.

Nestas coisas entretenho-me eu, abstraindo de um quotidiano que por vezes é aborrecido e desgastante.

16 comentários:

  1. PARABÉNS DR.pela data comemorativa e pela história fantástica bj

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  2. Parabéns para o blog e para o seu autor.

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    1. Cara IF. Muito obrigado. Lá vou lutando contra ventos e marés para continuar a escrever aqui, mas acaba por ser compensatório e tenho conhecido pessoas tão interessantes através do blog!

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  3. Grande história, grande blogue! Grande como tu, Luís 😉

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    1. Maria Miguel. Obrigado pelos parabéns e tenho sempre muito gosto em partilhar estas histórias. Bjos

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  4. Muitos parabéns pelo 16 aniversário do blogue. Para continuar!

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    1. Muito obrigado. Tenho ainda tantos assuntos para publicar aqui, preciso é tempo para escrever!!

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  5. Primo, como sempre, gostei muito!
    Hoje aprendi um pouquinho mais sobre um tema que desconhecia completamente.
    Pena que na zona de Bragança não existem feiras de velharias.
    Espero que continue ,durante muitos anos, a presentear os seus leitores com tanto conhecimento e com a mesma paixão .
    Parabéns!

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    1. Prima.
      Já conhecia estes móveis franceses do século XVIII, decorados com bronzes dourados, que foram muito copiados ao longo do século XIX e mesmo do XX e imaginei logo que esta ferragem tivesse feito parte de um deles.
      A graça da coisa foi ter conseguido encontrar na net umas ferragens iguais no seu contexto original.
      As feiras de velharias tem aparecido um pouco por todo o lado, bem como as feiras das bagageiras, pois comprar em segunda mão está aos poucos a entrar nos hábitos de alguns portugueses.
      Realmente é uma pena que em Bragança não as façam. Recordo-me de um antiquário em Bragança, à entrada da cidade, perto do Continente, mas a últimas vez que lá fui já tinha fechado.

      Muito obrigado pelas felicitações e bjos

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  6. Parabéns pelo 16º aniversário. Sou apenas um habitual leitor do seu blog.

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    1. Caro Ricardo Figueiredo. Muito obrigado pelos seus parabéns e fico sempre satisfeito por saber que sou lido. Como muita gente, tenho necessidade de comunicar as minhas ideias e este blog é uma forma de chegar a outras pessoas, que estão do outro lado do monitor e com as quais partilho os mesmo gostos e interesses.

      Um abraço

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  7. Já vão 16 anos!!!!!! Incrível, nem fazia ideia que eram tantos, os anos.
    És de uma cadência e resiliência notáveis, e, mesmo depois de 16 anos, os temas sobre os quais escreves continuam cheios de interesse, pelo menos para mim, que aqui só podemos dar as nossas opiniões.
    Gosto sempre muito destas peças, que são testemunhos de um passado incompleto. Pertenceram e foram acessórios, durante ninguém sabe quantos anos, a uma peça maior, que lhes davam abrigo e, de repente, perderam-na e ficaram orfãs, resistindo, não obstante, no chão de feiras de velharias, na verdade ocas de significado, mas guardando para si uma história que só elas sabem contar.
    Oxalá continues, pois não é fácil
    Manel

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    1. Manel
      Muito obrigado pelas tuas palavras.
      Não sou homem com muitas qualidades, mas sou persistente e a obrigação de escrever aqui permite-me ir sistematizando conhecimentos sobre velharias e nos últimos tempos sobre história familiar. Eu próprio consulto muitas vezes este blog, para procurar uma data de nascimento, uma referência bibliográfica ou uma imagem.
      Como já aqui escrevi muitas vezes é um exercício espiritual e tenho tido a sorte que há um grupo de pessoas que o lê ou o consultar, o que realiza bastante.

      O teu apoio ao blog tem sido constante.

      Um abraço

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  8. Luís, Parabéns pelo aniversário do blog que eu tanto admiro, aprendo, me entretenho com suas histórias e imagens e decorações. Adoro.
    Uma pergunta, essa ferragem não seria parte daqueles móveis com decoração ormolu do século XVIII???
    Um abraço e continue sempre!

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    1. Caro Jorge

      Muito obrigado. Gosto sempre de ler os seus comentários e uma das vantagens deste blog tem sido conhecer pessoas, como o Jorge, que estão longe, mas ao mesmo tempo perto.

      Esta ferragem, bem como móvel a que pertenceu são cópias de coisas feitas em França no século XVIII. O ormolu era um técnica de douramento feita com mercúrio e era extremamente perigosa para os que a aplicavam.

      No período em que esta ferragem foi feita, algures pela segunda metade do século XIX, a técnica do ormulou já tinha caído em desuso e estas peças já eram produzidas industrialmente e o dourado feito por galvanoplastia.

      Um grande abraço

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