sábado, 17 de março de 2012

Bule e Açucareiro de Porcelana Vieux Paris


Este açucareiro e bule pertencem ao meu amigo Manel e certamente terão sido produzidos por um dos fabricantes de porcelana de Paris, provavelmente em meados do século XIX ou um pouco mais tarde. A porcelana produzida ou pintada por fábricas ou manufacturas sedeadas na capital francesa entre 1765 e 1870 é conhecida pelo nome Vieux Paris ou Porcelana de Paris.

As peças do Manel não estão propriamente marcadas. Apresentam uns traços incisos que serão mais uma identicação do operário e menos o selo de uma casa.

Aliás, era muito frequente a porcelana de Paris não ser marcada. Cerca de 70 % das peças não apresentam qualquer chancela. É pois muito difícil atribuir a produção não marcada a umas das muitas casas de que se conhece a existência através da documentação, além de que muitas delas compravam a porcelana por pintar em Limoges ou até mesmo a Sêvres. Portanto encontramos decorações diferentes em peças iguais.
Serviço Vieux Paris visto num site de leilões em França

Por outro lado, estas duas peças pertencentes ao Manel são também muito parecidas com a produção Vista Alegre no mesmo período. Veja-se o exemplo do serviço Vista Alegre do Museu Nacional de Arte Antiga. Talvez a única diferença, seja no brilho. A Porcelana de Paris apresenta uma pasta com um branco leitoso, brilhante e usa e abusa dos dourados.
Serviço Vista Alegre do Museu Nacional de Arte Antiga. As semelhanças com a Porcelana de Paris são evidentes
Muito embora nos manuais escritos sobre a fábrica de Ílhavo apenas sublinhem a influência de Sêvres, parece mais ou menos evidente que a Vista Alegre seguia de perto a produção dos fabricantes parisienses de porcelana. É certo que as casas de porcelana parisienses copiavam Sêvres, mas as semelhanças entre a Vista Alegre e a Porcelana de Paris são de facto óbvias, como já tivemos ocasião de ver em outros posts.

14 comentários:

  1. Lindas as peças do Manel. Acho que o ponto de diferenciação forte destas peças do Manel são os pegadores ou alças do açucareiro em fora de cabeça feminina, que você bem dastacou na última foto.
    Claro que eu conheço muito pouco da Vista Alegre, mas nunca vi este detalhe em peças da VA. Procurei até nas minhas fotos do Museu da VA, e não achei nada similar.
    Depois, tendo tempo, olharei os catálogos de leilões VA.
    abraços!
    ps: em 10 dias exatos chego em Lisboa! A sensação é que foi outro dia que estive aí com vocês.

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  2. Caro Luís,
    Em primeiro lugar, um muito obrigada pela delicadeza que teve em responder ao meu comentário.
    Pode contar comigo para continuar uma fiel leitora destas páginas!Nem outra coisa seria de esperar, já que neste local estamos sempre a aprender acerca do nosso passado, seja ele material, ou imaterial (objectos, memórias, odores, pessoas que por alguma razão nos marcaram).
    Mais uma vez fico maravilhada com estas peças com que nos presenteou. Se mas dessem à escolha ficaria em sérias dificuldades...
    Assim que me for possível, gostaria de trocar consigo algumas ideias acerca de umas peças que possuo(herança familiar), e das quais não sei de todo a proveniência...
    Receba um abraço desta leitora

    Alexandra Roldão

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  3. Olá Luís. Lindo post. Parabéns ao Manel por nos mostrar esta raridade.Não pude deixar de apreciar a beleza do mobiliário,das peças de cerâmica em cima do aparador, do castiçal alto, das cadeiras. Distingo um quadro(?) adamascado em vermelho que terá ao centro...pareceu-me um coração minhoto.Muito bom gosto!

    Na feira da ladra vi em tempos restos de um serviço destes, sem as "caras", tinha contudo as mesmas marcas e o formato das peças igual. Curiosamente na mesma feira encontrei um pote com tampa que tem as "caras" e a pega muito semelhante às apresentadas com grinaldas de flores. Em baixo diz France,em letras douradas, também um nome que não consigo decifrar,atribuo ao fabricante. Contudo a minha peça será já do inicio do século XX.
    Desejo ao Manel que goze e muito, a sua nova casa na província.O alto bom gosto é a tónica das escolhas com que a vai enchendo.
    Boa semana de trabalho para ambos.
    Este fim de semana disseram-me que havia feira medieval na Redinha. Mandei um e-mail à Junta para saber se havia feira de velharias...nem me responderam. Conclusão não fui.Fiquei com água na boca a pensar na chanfana no Valente em Soure.
    Beijos
    Isabel

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  4. Só pra deixar a Isabel com água na boca, eu voltei para contar que conheço o Palacete de Dom Manel! :-)
    É tudo de extremo bom gosto, uma arrumação impecável de dar inveja à muito salão de museu.
    abraços

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  5. Luís, é verdade que este modelo das peças do Manel foi usado por toda a Europa, até na República Checa e na Rússia, mas para mim aquelas cabeças femininas a servir de pegas no açucareiro, como o Fábio notou, são identificativas de Velho Paris. Tenho há anos uma taça ou açucareiro com esse tipo de pega e após alguma pesquisa, passei a tê-la como tal.
    Agora, pegando no termo do Fábio, permitam-me que fale do Palacete do Manel.
    É que, o que se consegue ver quase ofusca a beleza das porcelanas!
    Que belas mobílias! E que belas mangas e jarras de faiança sobre a mesa de bufete!
    Penso que também lá está poisado um magnífico oratório, forrado com um tecido amarelo adamascado...
    Enfim, do pouco que se pode ver, parabéns Manel, está bem aplicado o termo do Fábio...
    E já agora, seja bem aparecido Fábio, tem andado ausente da blogosfera, pelo menos no que diz respeito aos seus amigos portugueses!
    E bom regresso a Portugal!
    Abraços a todos

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  6. Caro Fábio

    Muito obrigado pelo teu comentário. De facto, a pega em forma de cabeça é um pormenor fascinante. Tirei não sei quantas fotografias até conseguir esta imagem.

    Aguardamos pela tua vinda

    Abraços

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  7. Cara Alexandra Roldão.

    Poderá sempre escrever para o meu e-mail, que se encontra indicado no perfil e terei o maior gosto em ajuda-la a identificar as peças que herdou, na medida dos meus conhecimentos de amador.

    Abraços

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  8. Isabel

    De facto, o Manel consegue sempre que as suas casas sejam especiais e nestas fotografias, tentei de alguma forma revelar um pouco, sem mostrar muito. A ideia foi criar um cenário à medida destas peças requintadas. Inclusive, a mesinha onde estão o açucareiro e o bule não está na sala. É uma mesinha de cabeceira, mas achei que combinava tão bem com a porcelana de Paris, que desloqueia-a do quarto.

    Beijos

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  9. Maria Andrade

    Fazer atribuições a peças sem marcas é sempre um risco e a porcelana de Paris foi copiada um pouco por toda a Europa, até porque era realmente muito bonita.

    A casa alentejana do Manel fez um belo cenário para estas peças parisienses.

    Beijos

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  10. Agradeço as amáveis palavras, e, na verdade, estas "estéticas" saem-me sempre com alguma dificuldade, pois parto para a disposição das peças sem conseguir perceber muito bem, de antemão, o efeito que pretendo produzir.
    É antes através da intuição, da qualidade das peças e das suas afinidades estilísticas que as coisas acabam por se compor.
    Apesar de gostar muito de todas as minhas faianças, pois escolhi-as a dedo, e porque me perco na sua contemplação, quero dizer-vos que as mangas de farmácia são réplicas compradas nas lojas do museus. Na fotografia, só há uma jarrinha de altar que é verdadeiramente antiga.
    O resto das peças é o resultado de muitos anos a escolher coisas, entre as muitas que se me depararam, e uma ou outra que me ficou da minha família, claro. Foi só encontrar-lhes o sítio mais adequado.
    A Maria Isabel, sempre muito observadora, lá descobriu um coração dentro do oratório, mas não é de Viana ... nem eu sei de onde é. É um pequeno registo da N. Sra. dos Remédios (aliás, toda a parede de trás do oratório está coberta com pequenas peças antigas, deste tipo, pois Cristos crucificados não é comigo, e custa-me ver a apologia e a recordação constante da dor e do sofrimento, ainda que disfarçados de arte religiosa; os únicos que tinha, apesar de não serem nada de especial, acabaram na casa do Luís, que, sei, os aprecia), enquadrado em seda, bordada duma forma muito rústica (acabei por o restaurar em parte).
    O resto do oratório está povoado com imagens religiosas em terracota, algumas, na verdade, bastante antigas.
    Cada peça de mobiliário tem uma história para contar, e é isso, mais do que outra coisa qualquer, que me dá prazer na posse. Têm o condão de me trazer as pessoas de volta ao meu convívio, acordam um mundo de sensações a elas associadas, e isso vale por tudo o resto.
    O Fábio está a exagerar nos seus adjetivos, que agradeço, claro; no entanto, ele ainda não conhece este meu canto ... pode acontecer que o venha a conhecer em breve, se a isso se dispuser.
    Quanto ao contacto que a Maria Isabel terá feito com os responsáveis da edilidade local, na Redinha, será uma sorte se der com alguém que saiba escrever de forma escorreita ... ou talvez saiba, mas talvez não esteja para se dar ao trabalho ... quiçá digam, quase de certeza pensam, que "escrever é para os peralvilhos e presunçosos da cidade"; uma percentagem considerável das camadas sociais ali, como aliás acontece numa grande quantidade de terras por esse Portugal fora, não têm o hábito de ler, muito menos de escrever.
    Quem vem é recebido de forma passável, quem não vem, pois ficou onde estava! É essa a mensagem.
    Por quem estas edilidades se perdiam de amores e bajulavam, é mesmo pelos emigrantes, sobretudo se trouxessem dinheiro fresco para lhes pagarem festarolas com muitos foguetes, vinho a rodos e música ensurdecedora, sobretudo se for "pimba", a mais apreciada, e estradas novas em vésperas de eleição! Só que estes também já não estão para estes "desparrames" e começaram a cortar os laços com as terras de origem, pois, muitos, já são a segunda ou terceira geração fora de Portugal.
    Assim, eles andam numa roda viva a perceber onde poderão ir buscar mais dinheirinho fresco para os seus desvarios económicos ... só que raro se lembram dos que estão cá dentro, e talvez tenham razão, pois estes estão "queimados" e pobres!
    Tudo o resto é-lhes igual! Não respeitam nem querem saber!
    Há exceções, estou certo, mas como, com a idade e a experiência negativa que fui acumulando, me tornei algo misantropo, já deixei de procurar, ou sequer, interessar-me!
    Deixo isso para as novas gerações e para quem tenha a paciência.
    Hoje vivo relativamente equilibrado no meu canto!
    Manel

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  11. Achei curioso este serviço da Vista Alegre, se eu o visse à venda, juraria ser porcelana de Paris, tenho um bule Vieux Paris com forma octogonal, exatamente como este, mas tem decoração bastante simples, somente com alguns frisos dourados e carmim e a pega da tampa tem forma de fruta. Lindas peças, adorei os masquerons nos pegadores do açucareiro.

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  12. Daniel Figueiredo

    Estas peças são realmente porcelana de Paris. O post apenas sublinha a semelhança entre esta porcelana francesa e as produções mais antigas da Vista Alegre.

    Um abraço e volte sempre

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  13. Luis
    Manel hai fatto un lavoro straordinario
    Ogni ninnolo,ogni dettaglio
    Rivela tutto il romanticismo che hai nella tua
    anima dolce e tutta casita
    Oltre alla bellezza suprema di ogni decoro
    Sei bravissimo in tutto
    Dai sempre un tocco romantico a tutto
    Molto bello
    Simplicemente adorabili
    La casa piu
    bella di conservare nel cuore
    Tutto bellissimo
    Ti Abbraccio

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