domingo, 9 de dezembro de 2012

Nossa Senhora em Espuma de Mar




Recentemente, cometi mais uma pequena loucura e comprei uma Nossa Senhora em espuma do mar. É literalmente uma pequena loucura pois mede apenas 11,5 x 9,5 cm, aliás a minha casa é tão cochichosa e está tão sobrecarregada, que só lá consigo pôr peças com estas dimensões.


Encantei-me com o trabalho minucioso da Nossa Senhora, com as flores em pano, que a rodeiam e a moldura oval muito oitocentista e lá consegui arranca-la às mãos da vendedora por um bom preço, depois de algum regateio. Também estava um frio de rachar e a feirante queria era ir-se embora o mais depressa possível e com algum dinheiro nos bolsos. Não há nada como os dias muito frios ou de chuvisco para comprar pechinchas nas feiras de velharias. Pelo contrário, os dias de Sol, quando a turistada invade às feiras, são os piores. Qualquer tareco velho é apresentado como muito antigo, pombalino, marca Miragaia ou Companhia das Índias e vale muito dinheiro.


Mas, voltando a Minha Nossa senhora, ela irá fazer companhia a uma Santa Ana Mestra, que já tenho em casa, feita no mesmo material, espuma de mar.


A espuma de mar é o nome vulgar que se dá a um mineral chamado Hidrogenosilicato de magnésio, que é comum na Turquia. É um material muito leve e de cor clara, que costuma aparecer a boiar nas águas do Mar Negro e por isso ficou conhecido pelo nome espuma do mar, que os ingleses e alemães designam por meerschaum e os franceses écume de mer. Como é um mineral muito suave presta-se a trabalhos de escultura muito delicados e as peças mais famosas em espuma de mar são sem dúvida nenhuma os cachimbos, mas não só.
 
Cachimbo em Espuma de Mar
 
Em França, na segunda metade do século XIX, desenvolveu-se uma pequena indústria de objectos devotos feitos em espuma de mar, normalmente encaixilhados nestas molduras ovais pretas e vendidas nos centros de peregrinação, como Lourdes.


Fiz umas quantas pesquisas na internet sobre estas imagens devotas em espuma de mar e curiosamente em França não lhe ligam muito. Nos antiquários franceses pedem em média 50 euros por elas e imagino, que nas feiras se venderão mais baratas. Pelo contrário, nos Estados Unidos são muito caras vendem-se a cento e cinquenta e duzentos dólares. Julgo que que os franceses terão tão boas antiguidades, que não ligarão muito as estas esculturas devotas em espumas de mar.



Eu pessoalmente encanto-me com estas molduras ovais e as suas imagens piedosas muito oitocentistas, que devem ter decorado muitas casas portuguesas no passado. Talvez as senhoras mais ricas as trouxessem de França, quando iam visitar os lugares onde a pobre Bernadette Soubirous viu a Virgem ou talvez fossem importadas por casas de artigos religiosos, em Braga, Porto ou Lisboa.

15 comentários:

  1. Olá,Luis
    Como sempre,mais uma pequena maravilha na sua colecção
    Essa nossa Senhora em espuma do mar e muito bonita
    Aliás como todas as suas antiguidades
    O Luis tem muito bom gosto e olho para antiguidades :)
    Um abraço
    Como sempre outro para o Manel

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  2. A Grace tem um gosto muito clássico. começo a conhecer as preferências dos meus seguidores.

    Beijos

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  3. Olá Luís,

    Como a arte Sacra me deixa maravilhado em qualquer das suas expressões, escultura, talha, pintura, gravura, etc...fico sempre curioso com as novidades, penso nunca ter visto um trabalho neste material e olha que sou bastante interessado por escultura, materiais é técnicas.

    Um abraço, boa semana !

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  4. O Luís lá descobriu mais uma destas raridades que eu nunca vi nas feiras de velharias (acho que tenho a visão mais formatada para outras coisas... :))
    Sabe que encontrei no Trocadero uma peça com figura muito semelhante a esta e mostram também a parte de trás, que o Luís pode comparar com a sua. Foi em: http://www.trocadero.com/cgi-bin/search1.cgi, pesquisando por "meerschaum"
    E veja só o preço!
    Beijos

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  5. Como sempre, estas peças exercem um grande fascínio, talvez pela sua fragilidade e a brancura do material, que, tenho reparado, sobressai dos negros/azuis com que, de costume, a rodeiam.
    E como o material é muito frágil e fácil de trabalhar, permite um pormenor difícil de encontrar a não ser nos marfins, com tonalidades igualmente esbranquiçadas.
    As superfícies deste material é que não adquire a patine que o marfim possui após muitos anos: um tom amarelado acastanhado, por vezes com laivos avermelhados, que me colocam em êxtase.
    Nem tão pouco o brilho deste material é tão profundo como o do marfim, quando este é trabalhado com virtuosidade.
    Mas a cada material as suas caraterísticas! É isso que os diferencia e que lhes confere a sua beleza individual.
    A peça que apresentas é de facto muito bela e o nome do material vai lindamente com a poética da peça.
    Manel

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    1. Obrigado pelo cumprimento da Grace e retribuo sempre, pois esta tua comentadora é uma simpatia.
      Manel

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  6. Caro José Oliveira

    De facto estas imagens de devoção em espuma de mar não aparecem muito nas Feiras de Velharias. Também são tão pequenas, que não dão muito nas vistas. Mas o trabalho é tão delicado que quando as encontramos nos seduzem à primeira

    Um abraço

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  7. Maria Andrade

    Como eu disse ao José Oliveira, estas peças em espuma de mar aparecem pouco e mal damos por elas de tão pequenas que são.

    Espreitei a peça do Trocadero e claro que fiquei espantado com o preço, 225 dólares, e não é de modo nenhum tão bonita como esta que aqui apresentei . Os americanos valorizam muito este tipo de pequena antiguidade, estes objectos piedosos do Séc. 19, que nós por cá na Europa não ligamos nada.

    Comparei o verso da peça do Trocadero com a minha Santa, mas a parte de trás da minha peça foi toda refeita em papelão. Nalgum momento da sua história, deve ter caído e alguém colocou-lhe um cartão no reverso.

    Bjos e obrigado pelo seu comentário

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  8. Manel

    Claro, a espuma do mar não é o marfim. É um material mais barato e a estas imagens de devoção feitas em França na segunda metade do séc. 19 falta-lhes o virtuosimo e a beleza dos marfins indo-portugueses. Contudo, o trabalho é muito perfeito. Esta, em particular recorda-me uma "rafaela" de um portal da Renascença, espreitando como que para fora da moldura.
    s

    Julgo que a fotografias que fiz resultaram bem. Também tirei mais de 30 para escolher duas. O damasco no fundo reconstitui as paredes forradas de tecido, muito típicas dos interiores finais do século XIX, período em que esta Nossa Senhora foi executada.

    Um abraço

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  9. Descobri consigo o encanto destas pequenas peças.
    Anda uma à venda,num site de leilões, por um preço que não faço a mais pequena ideia se será caro ou barato. Vou-lhe enviar o link para poder comparar com a sua.

    As fotografias estão uma maravilha. A primeira e última especialmente.Para além do adamascado vermelho ligar na perfeição com o preto da moldura e com o tema religioso,as fotos estão muito nítidas, o que é ótimo para quem não puder ver com as mãos:)

    Com estes cachimbos é que eu não consigo simpatizar! :)
    Bjs e bom fim de semana

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  10. Maria Paula

    Obrigado pelo seu comentário.

    De facto os cachimbos não me dizem muito. Mas quando se fala em espuma de mar, toda a gente pensa imediatamente nos cachimbos e achei que colocando uma imagem era uma forma de os leitores visualisarem de imediato esse tipo de peças. Enfim, no fundo uma das funções deste blog, é ajudar os amadores de velharias a identificar as peças que tem lá por casa.

    Beijos

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  11. Confesso que não sou grande apreciadora de arte sacra, mas fiquei encantada com as imagens feitas em espuma de mar! Que maravilha!!Obrigada por me "apresentar" estas pequenas maravilhas!

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  12. Cara Isabel (Miquinhas)

    A arte sacra é um vício, quando para além do significado religioso começamos a ver o valor artístico da peça. Até aos finais do século XVIII, a maioria da arte é religiosa e como tal, muitas vezes os artistas aproveitavam os temas sacros para representarem um nu sensual, como nas imagens de S. Sebastião ou a mais pura lascívia, como em algunas imagens e Madalena a pecadora (veja o post http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2012/01/alguns-pensamentos-acerca-da-pecadora.html).

    Muitas vezes ainda os artistas combinavam o nu e a fé de uma forma admirável como o fez o grande Miguel Ângelo na capela Sixtina.

    Enfim, esta Nossa Senhora em espuma do mar não é uma obra-prima, mas é um trabalho delicado e sedutor.

    um abraço

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  13. Cheguei aqui vinda de Memórias e Imagens. Atraiu-me o nome do seu blogue.
    A Nossa Senhora é lindíssima. Aprecio velharias.
    Como gostava de ter uma parecida.
    Boa noite!

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  14. Cara Ana

    Obrigado pelo seu comentário e espero poder contar mais vezes consigo neste blog.

    Um abraço

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