segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Fuga para o Egipto, Boas festas e tremoços


Uma Fuga para o Egipto não é exactamente o tema certo para ilustrar um postal de boas-festas, mas como este episódio do Novo Testamento ainda faz parte do ciclo da Natividade, esta pequena estampa que vos apresento hoje servirá em todo o caso para desejar a todos um bom natal.


A gravura é muito ingénua e está de acordo com toda uma série de lendas e histórias populares que se criaram à volta deste episódio, em que Jesus, Maria e José fogem para o Egipto, para escapar a matança dos inocentes, ordenada por Herodes. Esta história é narrada de forma sumária no Evangelho de S. Mateus, mas é desenvolvida nos evangelhos apócrifos, onde se lêem toda uma série de pequenas historietas e incidentes à volta desta fuga, que a tradição popular aumentou ainda mais.


Os Evangelhos Apócrifos são aqueles textos antigos, que também contam episódios da Vida de Cristo, mas que a Igreja Católica, excluiu da Bíblia e não os considerou canónicos.


Esta gravura apresenta, uma iconografia típica da Fuga para o Egipto. Observamos S. José com o seu cajado decorado com açucenas e a Virgem com o Menino ao colo montados num burro. O grupo é conduzido por um anjo. Ao fundo, vemos uma Tamareira, que faz parte de um dos episódios anedócticos desta fuga. Segundo os tais textos apócrifos, a Sagrada Família teria passado fome e sede na viagem e ao passar por uma Tamareira, Jesus ordena a árvore que incline as suas ramas, de modo a que todos pudessem alcançar os seus frutos e com eles satisfazer a fome.


Mas o episódio mais delicioso que conheço desta fuga para o Egipto e que combina com a ingenuidade desta estampa, é uma tradição popular, contada por Moisés Espírito Santo nas Origens orientais da religião tradicional portuguesa. Segunda essa lenda, os tremoços porque chocalhavam e denunciaram a passagem da sagrada família, foram castigados e condenados a não matar a fome de ninguém, seja qual for a quantidade que deles se coma. Efectivamente, podemos comer sempre muitos tremoços, que temos sempre apetite, por mais, ainda mais tremoços.

12 comentários:

  1. Caro Luis:
    Muito bonitos e marcantes os seus útimos artigos.Talvez depois da fuga tenhamos de afrontar, sem tremores o nosso destino.
    Um abraÇo e Bom Natal

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    1. Fersal

      Muito obrigado. Esta época, em que os nossos dirigentes parecem querer afundar o País de vez é por vezes inspiradora.

      Um abraço

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  2. Olá,Luis
    Que estampas mais bonitas...
    E essa dos tremoços...não conhecia
    Bom Natal

    Um abraço

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  3. Cara Grace

    A lenda dos tremoços é uma delícia e achei que esta estampa tão naif era a ocasião ideal para a contar aqui no blog.
    Um abraço

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  4. Ola Luis,
    Passando para desejar um otimo natal.
    Abraços
    Ricardo

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  5. Muito obrigado, Caro Ricardo Ferreira, um bom Natal também para si

    um abraço

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  6. Obrigada pelos bonitos textos que acompanham as suas imagens, mais digo, também esclarecedoras das antiguidades que apresenta. Um Bom Natal para Si e para os Seus também. Quanto ás estampas tenho duas, que quando tiver oportunidade hei-de enviar uma cópia, e se fizer o favor esclarecer-me acerca delas. Obrigada pela divulgação da nossa cultura.
    São Alves

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  7. Cara São

    O meu endereço de e-mail está indicado no meu perfil, no lado direito do blog. Basta clicar em "Ver o Meu Perfil Completo". Pode enviar cópias das suas estampas. Se souber alguma coisa sobre elas terei muito gosto em informa-la.

    Tento sempre fazer textos claros e elucidativos. Sempre tive um certo horror aqueles textos fechados, cheios de gíria científica, escritos para meia duzia de entendidos.

    Um abraço

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  8. Jesus, Maria, José!!! – como diz a outra - LOL
    São um encanto estas ingénuas figurinhas da sua estampa! Parecem desenhadas para ilustrar um livro infantil... e daí, talvez fossem de um livro de devoção para crianças. Será que no século XVIII já se usava disso?
    Uma delícia!
    Beijos

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  9. Maria Andrade

    É verdade, aquela velha beata anda sempre com o Jesus, Maria José na boca!

    Não sei se esta estampa pertencia a um livro de devoções destinado a crianças. Parece-me que aqui a ingenuidade não é pretendida como nos actuais livros infantis.

    Mas, o seu comentário tem razão de ser. Os presépios do século XVIII, que só se abriam nesta quadra natalícia eram feitos para ser admirados por todos, mas também pelas noviças e pelas crianças. Era uma forma de ensinar o catecismo.

    Talvez alguns livros religiosos fossem mais destinados a crianças

    bjos

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  10. Olá
    Não consigo encontrar o seu endereço de mail, só consigo aceder ao "outlook", tem outro endereço mail que eu possa aceder? Peço desculpa pelo incomodo
    São Alves

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