

No matriz, o inventário on-line das colecções dos Museus Nacionais encontrei um painel igual, pertencente ao Museu Nacional do Azulejo, com o inventário 711, que está sumariamente datado do século XVIII.

Este blogue há de servir para trocar impressões sobre faianças, velharias e antiguidades. Não sei se alguém o irá consultar, mas certamente servir-me-á para arrumar ideias sobre peças que vou comprando ou de que gosto muito.
No matriz, o inventário on-line das colecções dos Museus Nacionais encontrei um painel igual, pertencente ao Museu Nacional do Azulejo, com o inventário 711, que está sumariamente datado do século XVIII.
O pequeno registo, que não tem o nome e o local do impressor, deverá datar de finais do Século XVIII ou talvez inícios do XIX, pois apresenta uma moldura já ao gosto clássico, característico do reinado de D. Maria I. A representação do S. Sebastião da gravura é muito ingénua, mas obedece perfeitamente ao modelo iconográfico mais divulgado para este Santo. Vestido com uma túnica sumária, S. Sebastião está amarrado a uma árvore e tem o corpo perfurado por setas.
A formação do culto a este santo extremamente popular na cristandade é feito de histórias muito curiosas, que vale a pena aqui explorar um pouco.
Por volta do início do Século IV ou talvez finais do Século III, Sebastião nasceu na antiga Gália, na região de Narbonne e terá ido para Milão, onde se fez Cristão. Tornou-se oficial do exército pretoriano e caiu nas boas graças de Diocleciano, o imperador romano, que ficou na história como o responsável pela mais sanguinária perseguição aos cristãos de toda a história desta religião. Acontece que o nosso Sebastião desobedecia ao Imperador e incentivava os prisioneiros cristãos a conservarem a sua fé e ainda convertia mais uns quantos pelo caminho.
O inevitável aconteceu, Diocleciano descobriu tudo e ordenou aos seus soldados que o executassem, trespassando-o com flechas. Segundo a lenda, os arqueiros que o estimavam muito, evitaram atingir-lhe e o coração, de modo que Sebastião sobreviveu e foi recolhido e tratado por uma mulher, S. Irene, conforme se pode ver neste quadro de Georges La Tour, que está no Louvre.
A devoção ao Santo foi crescendo e como aconteceu muitas vezes no Cristianismo, associou-se e sobrepôs-se a um culto pagão já existente, neste caso o de Apolo, o Deus arqueiro e da Medicina, invocado contra a peste. Por outro lado, as pessoas associavam as flechas à peste negra e se o S. Sebastião tinha sobrevivido às setas, então a sua invocação poderia proteger as pessoas daquela terrível doença. E Assim, a principal função de S. Sebastião, sobretudo depois das grandes crises de peste bubónica, que vitimaram um terço dos europeus no Século XIV, será a de santo protector contra aquela epidemia, o que explica a enorme popularidade da sua devoção por toda a Europa.
De tal forma o tema do belo jovem quase se nu, se tornou popular entre os grandes escultores e pintores europeus, que modernamente S. Sebastião se tornou um ícone da cultura gay. Se nos abstrairmos da conotação religiosa de santo protector contra a peste, o que vemos é um jovem quase nu, contraindo-se lascivamente da dor e prazer provocada pela penetração das setas, imagem esta, que a cultura gay obviamente se apropriou, se vê na obra dos artistas franceses Pierre et Giles, os reis da arte kitch ou o fotografo Aleksandar Tomovic.