No Arquivo Distrital de Braga foram encontrados documentos, que permitem pela primeira vez esclarecer alguma coisa da cronologia da construção das várias partes do Solar dos Montalvões em Outeiro Seco.
Até ao momento presente conheciamos apenas três datas relativas à construção do Solar.
- A informação de José Timóteo Montalvão Machado, no livro os Montalvões, de que o solar tinha sido construído pelo Capitão de Cavalos José Alvares Ferreira (morto em 1738) como o atesta até o facto de ter várias e extensas cavalariças, onde ele podia manter os seus cavalos. Acrescento eu que as cavalariças só existem nos corpos Nascente e Norte da casa.
- A data da verga da Porta da sala de trabalho, 1782, que se reportará certamente à construção da escada do pátio interior, mandada edificar no tempo de Antónia Maria Montalvão Morais
- A Data do sino da capela, 1790, também do tempo de Antónia Maria Montalvão Morais (1732-1809).
No referido Arquivo Distrital de Braga localizaram-se três documentos, que permitem avançar significativamente os nossos conhecimentos e colmatar as falhas:
1- A ESCRITURA e mais requerimentos para a fabrica de uma capela de Sao Salvador do Mundo, que quer erigir Miguel Alves Ferreira da freguesia de Sao Miguel de Outeiro. Processo iniciado em 1761 e terminado em 1762
2 - PROVISAO a favor de D. Antonia Maria de Montalvao Morais, viuva, da freguesia de Sao Miguel do Outeiro Seco, comarca de Chaves, para erigir uma capela no dito lugar e freguesia. 24-04-1784
3 PROVISAO de licenca para se benzer a capela do Salvador do Mundo, da freguesia de Sao Miguel do Outeiro Seco, a favor de D. Antonia Maria de Montalvao Morais, viuva, da dita freguesia. 29-04-1784
O primeiro documento é muito extenso, cheio de fórmulas legais tal como as nossas escrituras de hoje, mas traz-nos os seguintes dados novos:
- A Capela foi mandada edificar por Miguel Alves Ferreira e Antónia Maria Montalvão Morais depois de 1762. O Miguel Álvares Ferreira foi cavaleiro professo da Ordem de Cristo, capitão do regimento de infantaria da praça de Chaves e mais tarde director do Presídio do Porto.
- A Capela foi construída sob invocação de São Salvador do Mundo e não S. Rita como chegámos a pensar
- Foi mandada edificar em cumprimento de um voto feito pela mãe de Miguel Alves Ferreira, Maria Sobrinho, que deixou um terço dos seus bens vinculados à construção de uma capela, onde se rezasse perpetuamente uma missa, todos os anos, no dia 15 de Agosto, a Nossa Senhora da Assunção.
- Todo o processo gira à volta dos bens, uma relação de terrenos com os respectivos rendimentos, que o casal Miguel Alves Ferreira e Antónia Maria Montalvão Morais prova possuir e dá como garantia para construir e manter a capela.
- O processo prova-nos ainda que quando este casal decide erguer o templo, parte do solar já está construído, pois ao longo de toda a escritura lê-se várias vezes que pretendem fazer a capela junto às casas em que vivem.
Mais, o documento prova-nos que em 1762, o corpo nobre do solar da fachada poente já estava construído, pois quando o paróco Domingos Pinheiro dá o parecer sobre a pretensão deste casal de erguer uma capela, descreve com pormenor o local escolhido, dando-nos assim uma informação preciosa sobre as construção já existentes e que passo a transcrever:
as cazas do doante …confinão e correm com duas ruas publicas ambas com cunaes, solio e frizio e cornija Huma pello norte, e outra que corre pello poente com estrada mais publica para o sul adonde tem hum arco bem feito e bastantemente alto, e no meyo remate huma pedra de armas das asendesias do doante e por este arco se entra para o patteo das cazas, e nesta parte que pega acima das ao patteo e he munto capaz, e corre para o Sul petende fazer a Cappella com porta para o poente
- O Documento fornece ainda a medidas exacta do templo, sendo a largura da Capella dezasseis palmos em disvão, e trinta, e dous de comprido.
Os segundos e terceiros documentos são basicamente requerimentos de 1784 feitos por Antónia Maria de Montalvão Morais, agora viúva (Miguel morreu em 1779) para benzer e consagrar a capela, a “qual se acha perfeitamente acabada”
Em suma, a construção da capela foi iniciada em 1762 e terminada em 1784.
Estes documentos permitem agora estabelecer uma cronologia provisória de construção do solar:
-Antes de 1738. O Capitão de Cavalos José Alvares Ferreira terá construído uma boa parte da casa“como o atesta o facto de ter várias e extensas cavalariças, onde ele podia manter os seus cavalos”. (José Timóteo Montalvão Machado) Acrescento eu que as cavalariças só existem nos corpos nascentes e Norte da casa.
-Antes de 1761 já está construída a fachada nobre a poente.
-1762 Início da construção da capela
-1782 Construção da escada do pátio interior (data da verga da porta da sala de trabalho virada para o pátio) mandada edificar no tempo de Antónia Maria Montalvão Morais ,
-1784 Terminada a construção da capela
-1790 É a data do sino da capela, também do tempo de Antónia Maria Montalvão Morais
-Depois de 1790 é construído corpo com 3 pisos, que existe entre a cozinha e a capela, já que o referido corpo aproveita a parede da capela.
Agradeço ao meu amigo Humberto a localização dos documentos no Arquivo Distrital de Braga, que com a sua persistência, conseguiria encontrar o paradeiro do célebre túmulo de Alexandre o Magno, se alguém houvesse por bem pedir-lho
Olá Luís
ResponderEliminarMuito pertinente esta cronologia que nos mostra do solar dos Montalvões de Outeiro Seco.
Impressionante no imediato a minha comparação. Imagine, neste tempo de crise económica, a prenda do meu marido para o Natal decidi fazê-la. Explico. Na casa rural que é dele tem uma grande janela na cozinha a lenha, pus mãos à obra, fazer uma cortina especial, rústica que me catapultasse para os "Lenços dos Namorados "tão típicos ainda no norte em Vila Verde,( bordados às cores com erros de ortografia).Quando fui à feira-da-ladra com a Marília encontrei a cortina em algodão com uma renda ao fundo, o tamanho a olho nu não me enganou, 2€. Há noite antes do jantar, bordo um bocadinho. Vai-me dizer que ainda não entendeu onde quero chegar...pois não!
É que ao ver a folha de papel selado que o Humberto encontrou no Arquivo Distrital de Braga com aquelas letras bestialmente desenhadas me fez lembrar as minhas...tortas , isto de bordar não é arte para qualquer uma...o que interessa é a intenção!
Que bom ter um amigo como o Humberto que não olha a meios para deslindar seja o que for. Homens como ele deveriam pertencer a quadros do pelouro da cultura, património,confrarias, teríamos todos a ganhar, sem dúvida alguma.
Pois, o post é interessante para os amantes como o Manel pelas artes de arquitectura, quiçá para os alunos do Porto que sentiram o chamamento maior de refazer a planta do solar. Bem hajam.
Para si e família, sobretudo o seu pai, é uma glória maior sentir que descendem de uma família nobre,culta, de saber e querer.
Felizmente com um bom continuador, o Luís.
Um dia ainda vai ter a sua casa de armas em Chaves, tem de esperar, esta semana "nientem"...
Prazer maior este em reviver cada pedra afeiçoada do solar dos Montalvões.
Escrevi um post à tempos sobre um passeio virtual em tempos de crise onde abordei ao longo da viagem os meus amigos aqui encontrados. Falo que fui ao solar e não consegui deixar de trazer um souvenir da capela...
Devaneios!
Muito bom fim de semana
Beijos
Isabel
O meu comentário será algo confuso para quem não conhece bem o solar, e peço desculpa por isso, mas para ti espero que seja menos hermético.
ResponderEliminarRealmente, a descoberta deste documento pelo competente, inestimável e incontornável Humberto (um bem haja ao Humberto pelo esforço, e pelas diligências, as quais, em abono da verdade, não me passariam pela cabeça), torna mais clara a datação da partes fundamentais da edificação.
Continuo a pensar que a data - 1782 - que surge na verga da porta (olha que esta data não está, como referes, na pedra de "soleira", que corresponderia à porção que está ao nível do chão, mas na da "verga" ou "padieira", a que se encontra no topo da porta, que é o caso) que dá acesso à sala de jantar - e não à cozinha, como igualmente referes - se reportará à data de construção do primeiro piso deste corpo e correspondente escadaria, assim como da sua ligação à cozinha pelo patamar desta mesma escadaria que dá acesso ao pátio (e que nunca se completou com o segundo lanço, que daria acesso ao corpo de aparato).
Julgo também que a cozinha terá sido o primeiro edifício a ser construído, seguido, talvez, pelas cavalariças que rodeiam o pátio pelo nascente e Norte, e, só posteriormente (por volta dos aos de 177../178..), um primeiro piso, construído, possivelmente, depois do edifício de aparato, para fazer a ligação entre os corpos todos e criar assim, ao centro, um pátio, o qual já deveria estar esquematizado inicialmente aquando da construção das cavalariças e do corpo da cozinha.
A capela terá sido das últimas edificações a ser erigida, a julgar pelo documento encontrado pelo Humberto.
Tinha julgado inicialmente que esta seria do mesmo período construtivo do edifício de aparato, pelos vistos, tal ideia não está correcta, pois deve ter-lhe sido posterior de pelo menos mais de uma dúza de anos.
Mas, finalmente, e com esta nova documentação (mais uma vez, um agradecimento ao Humberto que se não poupa a esforços), começa-se a esboçar um contorno mais preciso da construção, e que corresponde afinal ao teu objectivo, o de trazer um edifício da categoria de mausoléu tumular, para onde, inexoravelmente, parece estar a resvalar!
Gostei muito desta tua análise
Manel
Olá Luís,
ResponderEliminarAcho este tipo de investigação muito interessante, a leitura de documentos antigos, a montagem das várias peças do puzzle com os dados q se vão recolhendo, e eu própria já andei pelos Arquivos Distritais de Aveiro e de Coimbra a recolher dados. Graças a um documento do séc. XIX, parte de um caderno de encargos q encontrámos entre papéis velhos da casa dos meus sogros, consegui localizar e descrever uma casa da família onde funcionou um pequeno hotel q foi afinal o primeiro hotel das termas da Curia e esse trabalho foi publicado numa revista de história local.Por curiosidade, fui ontem ler as Memórias Paroquiais de 1758 relativas a Outeiro Seco, pensando poder encontrar alguma referência à casa da sua família ou aos seus moradores, mas não encontrei nada. Não é de estranhar porq nas respostas raramente se encontram esse tipo de referências e a capela ainda não estava construída,mas verifiquei q o pároco é o mesmo, Domingos Pinheiro.
Um abraço
Caro Manel
ResponderEliminarObrigado pelo teu comentário a este post, cujo conteúdo resultou da leitura dos documentos, mas também de muitas conversas que temos tido. Já fiz a correcção relativamente à localização da pedra com a data de 1782.
Realmente a si não lhe escapa nada. Reparou logo no nome do paróco. De facto, as memórias paroquiais n referenciam nada sobre a capela que ainda não existia. Nessa altura o Solar nem seria conhecido pelo nome da família Montalvão, mas nomeado como a casa dos Alves ou Álvares Ferreira. A Antónia Maria Montalvão que veio a transmitir o nome à família e à casa tinha casado ainda há pouco tempo com o Miguel Alves Ferreira(1746)
ResponderEliminarA investigação histórica é sempre apaixonante, e esse reconstituir do puzzle a partir de dados que se mencionam indirectamente aqui ou ali é fascinante.
Beijos