Já há muito tempo que apresentei este grande prato de faiança aqui no blog. Nesse post aventei a hipótese de se tratar de uma peça saída da Fábrica Rocha Soares em Miragaia. No catálogo da exposição Fábrica de Louça de Miragaia. Lisboa: IMC, 2008 são mostrados alguns fragmentos de faiança achados nas escavações realizadas no local onde era a antiga Fábrica de Miragaia, e entre eles encontrava-se um caco com umas florinhas iguais às do meu prato e foi isso que, me levou a achar que poderia ser uma manufactura de Miragaia. Esta crença era também reforçada pela origem do prato, que tinha sido trazido do Norte de Portugal.
Fragmentos achados no solo da Fábrica de Miragaia. No canto superior direito está um fragmento com uma decoração idêntica ao meu prato |
E assim fiquei por um período de quase dois anos, nesta mediana convicção de que se poderia tratar de um prato da Fábrica de Rocha Soares no Porto.
Pormenor do meu prato |
Há cerca de 15 dias, estava a desfolhar um catálogo da leiloeira Aqueduto (21 de Março de 2007), a imaginar tudo aquilo que compraria se tivesse uma casa maior e se fosse rico, quando vejo um par de jarras de altar, com uma decoração idêntica à minha, só que com o fundo em azul. Fui ler a legenda e lá estava a confirmação das minhas suspeitas: as jarras da fotografia estão marcadas com o característico R da Fábrica Rocha Soares de Miragaia. O R é a é obviamente a inicial do nome Rocha.
Extracto do catálogo de 21 de Março de 2007 da Aqueduto |
Na faiança e nas antiguidades em geral é preciso ter paciência, ver muita coisa, muitos livros, muitos catálogos, pois de repente a chave do mistério aparece de repente à frente dos nossos olhos
Imagino a excitação e felicidade ao ter se deparado com a foto do catálogo. Eu conheço a sensação, e é muito prazerosa.
ResponderEliminarTambém já passei por isso aqui, ter que esperar alguns anos até poder finalmente confirmar uma suspeita de identificação, ir colecionando aos poucos pequenas evidências, até finalmente chegar à conclusão certeira.
Parabéns!
abraços
Pensava que o meu comentário já cá estava e afinal tinha desaparecido, não sei como...
ResponderEliminarJá conhecia este seu prato e nunca duvidei que fosse Miragaia já que o Luís mostrou esta foto do catálogo com o fragmento igual.
Acho que a probabilidade de se encontrar nas escavações do sítio da Fábrica de Miragaia faiança de outras origens é muito diminuta. Lembrando a sua piada no primeiro post, a mulher do patrão não teria o descaramento de ir comprar loiça à concorrência...
De qualquer forma, este prato com uma pasta fina e muito regular vê-se que teve um fabrico esmerado, de qualidade reconhecida.
Estive a folhear de novo o catálogo da exposição de Miragaia e há lá pratos parecidos com este, com o fundo assim liso e a aba estreita, só que com outras decorações.
Este é um belo exemplar, até pela grande dimensão.
Também não me importava nada de o ter comigo... :)
Abraços
Olá Maria Andrade,
ResponderEliminarAchei engraçado o que você disse em "a mulher do patrão não teria o descaramento de ir comprar loiça à concorrência", repetindo o que o Luis disse antes.
Isto me faz lembrar que as famílias proprietárias das fábricas de faiança e porcelana aqui no Brasil, ou descendentes destas, quase nunca possuem peças da sua própria fábrica!
É um absurdo! É como afirmar que o que fabricam não é bom suficiente, não acha?
abraços
Luis, revendo as fotos, me fez lembrar que esqueci de dizer em meu comentários anterior o quanto acho bonito este padrão de florzinhas feitas apenas com pontinhos.
ResponderEliminarE no seu prato, o que mais gosto é perceber que o pintor provavelmente começou pelas bordas, e foi se dirigindo ao centro do prato, e quando lá chegou, teve que dar uma "acochambrada" (como dizemos por aqui) pois o espaço era pouco para manter as distâncias regulares, e acabou por formar um "cruzeiro do sul" no miolo do prato.
abraços!
Caro Fábio
ResponderEliminarÉ verdade dá um gozo desgraçado decifrar estes mistérios, que encerram os nossos pequenos tesouros. Por vezes ando meses e anos à espera para encontrar a chave do mistério. Tenho por exemplo uma gravura muito curiosa, talvez do século XVII, com um monge a ser tentado pelo diabo e ainda não a apresentei aqui, pois não consegui descobrir nada sobre ela.
Mas voltando à faiança, o Fábio tem toda a razão. A distribuição das flores não é uniforme, o que só evidencia o caracter ainda artesanal destas fábricas do início do séc. XIX e mais, torma cada peça produzida uma coisa única.
Abraços
Maria Andtrade
ResponderEliminarPor vezes o acaso prega partidas terríveis na história, por isso citei essa hipótese de a mulher do patrão ter trazido um prato feito pela concorrência para a fábrica e azar dos azares, partiu-o por lá. Recordo-me sempre do meu primeiro emprego na cultura, quando tratei um gigantesco arquivo histórico, de quase 7 km de extensão, que reunia documentação produzida pelo Estado ao longo do Séc. XIX. Pois, nesse arquivo de proporções desmesuradas, o meu chefe na altura, perdeu um anel de ouro, provavelmente, enquanto consultava um maço de documentação. Quando daqui a 200 anos, na Torre do Tombo, um investigador abrir uma daquelas caixas de documentação e achar o anel de ouro irá fazer as conjecturas mais incríveis para explicar um facto, fruto do acaso....
Mas desviei-me do assunto. Pareço a nossa Maria Isabel.
De facto o prato deve ser certamente Miragaia. aliás o Manel tem outro também com este tipo de pasta e a aba estreita, que suspeitamos ser daquela fábrica, mas nesse caso não há provas. Em todo o caso ainda lhe pedirei autorização para apresentar esse prato aqui no blog.
abraços e obrigado
Ontem estava para comentar este teu prato, mas ... hélas! Adormeci no sofá, como vai sendo hábito :)
ResponderEliminarJá quando apresentaste este prato, no ínicio, eu tinha a sensação, devido à fotografia proveniente do catálogo da exposição de Miaragaia, que se tratava de uma peça desta fábrica.
A qualidade da pasta (o prato é muito leve para as dimensões que possui - aliás, poderias colocar aqui a dimensão do teu prato), paredes relativamente finas, um bom acabado com um vidrado excelente, só a decoração me era estranha.
Mas aparecendo um caco com uma decoração em tudo semelhante, e ainda por cima encontrado em escavações no sítio da própria fábrica, havia toda a probabilidade de ser mesmo dali.
E a tua família era do Norte, por isso, mais uma razão de peso para a peça ser desta região.
Hoje em dia estou convencido que esta tua peça é mesmo Miragaia genuína.
O meu prato que referes, possui dimensões e forma semelhantes a este teu, é igualmente leve, possui a mesma faixa circundante cor de óxido de ferro que este teu possui, a par de um vidrado de boa qualidade igualmente com uma tonalidade algo azulada, mas a decoração deixa-me um pouco estranho, pois as cores estão mais relacionadas com Fervença ou Bandeira, mas uma pessoa sabe lá.
Elas copiavam-se umas às outras, e, apesar de darem preferência a uma paleta de cores algo própria, por vezes também acabavam por utilizar coloridos que a extravasavam.
Nunca se consegue ter a certeza de nada quando a peça não está marcada (suspiro de desalento).
Pode-se, com alguma certeza, colocar o fabrico de uma peça no Norte ou Centro, e, mediante comparação, aproximar a produção desta ou daquela fábrica, mas nunca há certezas!
Apesar do que interessa ser a contemplação e prazer que se tira em ver a harmonia de um conjunto de peças pacientemente coleccionadas ao longo de anos, fica-se igualmente algo frustrado pela ignorância da sua proveniência.
Muito bem observado pelo Fábio é o facto dos motivos decorativos terem sido pintados a partir da aba, todos muito certinhos e espaçados, mas quando se aproxima do centro a coisa começa a "descambar" e colocam-se as florinhas onde há espaço e onde parece que elas fazem falta ... mas é afinal isto que confere a qualidade única à peça, e, de certa forma, a sua beleza.
Quanto à mulher do patrão ir comprar à concorrência, há sempre o ditado "em casa de ferreiro, espeto de pau", ou ainda, "santos de casa não fazem milagres" (poderia encontrar ainda mais dois ou três com este cariz)... estamos cheios de ditados da mulher do patrão ir comprar à concorrência ... (risos).
E, tal como refere a Maria Andrade, também não me importaria nada tê-lo a inundar as minhas paredes que andam tão nuazinhas (lolol), que isto de ter um pé direito de 4 metros tem que se lhe diga!
Manel
Caro Luís
ResponderEliminarFez muito bem em colocar uma fotografia com o prato mais próximo da objetiva e também uma foto com um pormenor.Vê-se muito melhor!
O prato, que eu também já conhecia é lindo e fora do vulgar. Estas florinhas,parecem-me, não ser uma decoração muito frequente, num prato grande como este. Será que é assim? Espero não ser "chata" ao ir colocando algumas dúvidas e constatações nos comentário que vou fazendo:)
Fico feliz, por ter a confirmação da suspeita que já vinha tendo sobre a origem do prato.
Um abraço
Maria Paula
Cara Maria Paula
ResponderEliminarSabemos pouco ainda sobre faiança. Só encontrei estas jarras com umas florinhas semelhantes à minha.
O melhor é ir registando as nossas perguntas e aos poucos tentar encontrar respostas na observação de muitas peças e na consulta de livros, mas sem a pretensão de encontrar verdades absolutas, pois agora passados duzentos anos é muito dificil identicar peças não marcadas.
Abraços
manel
ResponderEliminarVamos tentar juntar as fotografias dos dois pratos juntos e tentar tirar algumas ilações. Se não conseguirmos concluir nada, que é o mais certo, faremos algum prazer aos nossos amigos virtuais, mostrando um prato bonito.