segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Até ao fim do Mundo: os azulejos pombalinos de Lisboa


A propósito do meu recente post sobre azulejaria Viúva Lamego nas casas do Rio de Janeiro, o Fábio Carvalho comentou, que um dia gostaria que eu lhe fizesse um roteiro dos azulejos em Lisboa, para ele visitar na sua próxima viagem a Lisboa.

É difícil traçar um percurso dos principais painéis ou colecções de azulejos em Lisboa. Há-os por toda a parte, de todas as épocas e feitios. Nem é preciso entrar em Palácios ou visitar a colecção riquíssima do Museu Nacional do Azulejo, basta abrir os olhos e espreitar para dentro das velhas casas do centro, das igrejas ou estar atento às fachadas dos prédios.
Recordei-me a propósito desse desejo do Fábio Carvalho de dois filmes do realizador alemão Wim Wenders, que tomaram Lisboa por cenário. No primeiro, Até ao fim do mundo (Bis ans Ende der Welt, 1991) há uma máquina de ver sonhos, gravar visões e passa-las ao cérbero dos outros, que um cientista concebeu, para que a sua mulher (a sempre linda Jeanne Moreau), agora cega, possa ver os sítios, por onde viveram na juventude e claro um desses cenários é Lisboa. Na película Lisbon Story, Wim Wenders retoma o mesmo tema e é agora um sonoplasta que se encarrega de captar os sons de Lisboa para um amigo que está fora.
À maneira dos filmes do Wim Wenders, poderei por um instante ser os olhos do Fábio em Lisboa e entrar ao acaso nalguns prédios pombalinos, subir alguns degraus e ver painéis de azulejos pombalinos, que brilham nas escadarias de pedra sem luz. Puderei ver pelo Fábio a extraordinária capacidade de adaptação dos azulejos de padrão portugueses aos espaços arquitectónicos mais complicados e difíceis como as escadas e talvez ao fundo se ouça a lindíssima voz da Teresa Salgueiro dos Madre de Deus a cantar no filme Lisbon Story.





7 comentários:

  1. Olá Luís,
    Embora este seu post tenha como primeiro destinatário o nosso amigo Fábio Carvalho, não resisti a vir aqui deixar um primeiro comentário, tal foi o impacto q ele me causou... É um verdadeiro post multimédia, com texto, fotografia, cinema e música, tudo isto para ilustrar uma área nobre das nossas artes decorativas - os azulejos. A voz da Teresa Salgueiro a rematar tudo isto é um assombro!
    Também se vê no trailer o Rodrigo Leão e os outros músicos q a acompanhavam nos Madredeus, q eu lamento imenso terem acabado como grupo. Continuo grande fã da música de Rodrigo Leão, mas acho q a Teresa Salgueiro perdeu muito do carisma com a sua carreira a solo.
    Bem, tudo isto para dizer q gostei muito, muitíssimo!!!
    Abraços

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  2. Ola Luis, tenho a certeza que o Fabio vai adorar este post, pelo menos tanto quanto eu....e certeza tenho tambem que muitos comentarios surgirão no intuito de o saudar pelo maravilhoso "roteiro" apresentado desde já, da "nossa" cidade de Lisboa.

    Beijinho

    Marília Marques

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  3. Pois Marília acertou, ADOREI o post, pois é exatamente isso que eu gostaria de ver em uma próxima viagem à Lisboa - os lugares comuns, os azulejos que outrora alegraram famílias comuns, e não palacetes, igrejas e museus, pois estes eu já vi (e é um acervo riquíssimo, certamente).
    E ainda por cima, Luís citou o filme que no Brasil ganhou o título de "Sob o céu de Lisboa", filme que eu amo, pela idéia do filme, pela cidade, pelo Madredeus, e também porque eu estava em Lisbo quando o filme estava sendo rodado! Então o que se vê no filme, a Lisboa toda em obras, se transformando para a exposição de 1998, é a Lisboa que eu tenho na memória e no coração!
    Obrigado pelo post!
    abraços
    Fábio

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  4. Perfeitamente de acordo com este post e com o que o Fábio refere, pois os azulejos destinados à arquitectura palaciana ou religiosa são todos eles fabulosos, decerto, mas longe da vista do dia-a-dia do cidadão comum, pois a vida deste faz-se de pormenores que lhe estão ao alcance dos olhos e estes é que acabam por ter mais hipótese em formar-lhe o gosto, se é que isso de formação do gosto existe em algumas camadas populacionais (não pretendo com isto seguir por qualquer via elitista, limito-me a constatar um facto), mas não custa nada tentar, pode ser que algum milagre aconteça! Se não se tentar então é que nem por milagre se lá irá!
    O post é muito feliz pois congrega vários media o que o torna mais apelativo, sobretudo com a voz inconfundível da belíssima Teresa Salgueiro, a qual, infelizmente, perdeu muito do seu carisma com a carreira a solo, como a Maria Andrade refere, e julgo que com razão!
    Manel

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  5. Olá Luís
    Grande presente de Ano Novo!
    E não foi só para o Fábio....quem é capaz de passar despercebido neste tema elaborado, com requinte, subtileza, apaixonante cantado num eléctrico da nossa Lisboa na voz doce e melodiosa da Teresa Salgueiro? Ninguém!
    Corroboro inteiramente as palavras sábias da Maria Andrade e do Manel .
    Sobre os azulejos, a panóplia feliz do post e ainda da perda que sentimos com o fim do grupo Madredeus.
    Novas apostas na amostragem abrangente, por certo outras virão no decorrer deste ano, assim espero.

    Beijos
    Isabel

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  6. Caros amigos

    Muito obrigado pelos vossos simpáticos comentários

    De facto, quando o Fábio me escreveu sobre um possível roteiro de azulejos em Lisboa, lembrei-me logo destas fotografias, que vou faço clandestinamente por Lisboa fora, metendo o bedelho dentro dos prédios e na propriedade alheia. Depois, recordei-me dos filmes do Wim Wenders rodados integral ou parcialmente em Lisboa, que mais não são do que road movies feitos por um intelectual europeu e consequentemente a música dos Madre de Deus surgiu de forma natural. Sabem, naquela rua por onde passa o Eléctrico 28, mostrado no trailer, ficava a minha primeira casa, e vivi ali os meus primeiros três anos de casado dos quais guardo recordações estupendas. Azulejos, velha Lisboa, Madre de Deus são coisas que estão entrelaçadas na minha vida.

    Os Madre de Deus trilharam na música portuguesa um caminho muito original e o resultado foi qualquer coisa muito pura e de grande qualidade.

    Beijos e abraços a todos

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  7. Vim parar aqui novamente, e foi engraçado reler, e pensar que quando você fez o post, eu JAMAIS podia imaginar que 10 mêses depois, o que parecia tão distante, voltar à Lisboa, ACONTECEU!
    E mais 6 meses depois... NOVO RETORNO!
    E penso que agora sou um viciado em azulejos, seja em Portugal, ou no Brasil, e como das últimas 2 vezes em que estive em Lisboa, segui seus passos, de certa forma, e fiquei a me meter clandestinamente em portarias de prédios, fotografando os azulejos, a ponto até de uma vez me sentar na escada para poder fotografar quase um a um azulejo de figuira avulsa.
    E é bem provável que em mais 6 meses, estarei novamente por aí. Isso me enche de muita felicidade!
    abraços

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